Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Naquela Mesa (Crônica de Pai, Filho e Avô)



ANO PASSADO eu e meu filho conversávamos sobre o avô Diogo, meu pai. Como não teve uma relação muito extensa de neto-avô, já que meu pai faleceu quando ele tinha apenas 8 anos, eu contava  para ele como era a minha relação com o meu pai. Acho que a maior lembrança que ele tem foi quando sem querer, o avô o trancou do lado de fora do apartamento quando estavam sozinhos em casa e levou um bom tempo para perceber que o neto tinha sumido...(depois eu conto esse caso).

Eu contava para meu filho os defeitos e as virtudes do avô.  Lembranças eternas e tocantes para mim. Meu pai era um leão quando o caso era nos defender  e fazer tudo o que pudesse para nos ajudar em qualquer situação. Um pai presente. Rígido em alguns aspectos e extremamente flexível em outros. Irritantemente, gostava de repetir para nós sua máxima: "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Ou então, "coma o que sua mãe colocar no prato pois menino não tem gosto".  Contava histórias à mesa ou na sala com a família ao seu redor. Eu adorava esses momentos. Tanto das histórias folclóricas que ele conhecia quanto histórias da sua infância ou de suas viagens pelo Brasil.  E eu contava ao meu filho que tinha uma música que sempre que eu ouvia eu chorava pois me fazia lembrar dele e a saudade batia forte. 

Ele me perguntou que música era e eu abri o Youtube...

A música "Naquela Mesa" foi composta por Sérgio Bittencourt  em homenagem ao seu pai, o grande compositor Jacob do Bandolim, que havia falecido em 1969 aos 51 anos nos braços da esposa. Sérgio Bittencourt escreveu a canção movido pela dor e pela saudade; no entanto, Sérgio e o pai nunca se deram bem, tinham uma relação conturbada, ambos de personalidade  forte e gênio difícil. Sérgio nasceu hemofílico, doença que escondia do público, o que o levou a ser superprotegido pela família, o que o tornou  inseguro e arrogante. Era amado ou odiado. Sérgio faleceu aos 38 anos de infarto, igualmente ao pai em 1979. Um ano antes de falecer fez a seguinte declaração que demonstrava que apesar da difícil convivência, ele admirava o pai.

"Tenho certeza e assumo: não sou nada porque de fato, não preciso ser, me basta ter a certeza inabalável que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de um gênio".

Compôs outras músicas de sucesso, como Modinha, que foi defendida e se saiu vencedora em um festival na voz de Taiguara. Consta(mas há controvérsias) que Sérgio compôs Naquela Mesa no dia da morte do pai, no velório, escrita em um guardanapo. A mesa virou um símbolo da convivência e da perda para todos que perderam o pai ou ente querido. A canção ficou famosa na voz de Elizeth Cardoso, que era muito amiga de Jacob do Bandolim. Sérgio a entregou diretamente a ela, pedindo que fosse a intérprete da canção, o que deu ainda mais peso emocional à obra.

Naquela Mesa foi gravada por grandes cantores e cantoras da MPB como Agnaldo Timóteo, Ângela Maria, Miltinho, Cauby Peixoto, Chico Buarque e outros, mas a versão que me marcou desde criança quando a ouvi pela primeira vez, foi na voz de Nelson Gonçalves. Meu pai era fã do Nelson e também da música, pois reputava ter sido o pai dele (o avô que eu não conheci) um "cabra macho bom e trabalhador". 

Abro o Youtube, procuro a música e mostro para ele. Começamos a ouvir juntos. "Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim..." Quando a música terminou, olhei e vi meu filho com os olhos marejados. Não segurei a emoção e chorei... Nos abraçamos e ficamos ali, parados, sentindo aquela emoção da falta de um e ao mesmo tempo da presença de nós dois. Para mim, até aqui, esse foi o momento mais marcante que tivemos juntos.


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                                                                Nelson Gonçalves. Naquela Mesa




Sérgio e Elizeth Cardoso



Jacob do Bandolim



Eduardos. Eu, Carlos Eduardo; ele, só Eduardo (porque na família tem um monte de Eduardos por tradição e depois eu conto porquê)




Eu, talvez com uns 5 anos com meu pai. 








sexta-feira, 4 de abril de 2025

Love Story

 







Maria Tereza e Maria da Glória passeavam  pela calçada à beira-mar. O sol já se ia longe num belo entardecer. João Vicente vinha em sentido oposto. Logo viu Maria Tereza, apaixonou-se. Aquelas paixões imediatas, impositivas, quase perturbadoras, mas foi Maria da Glória que antes, por ele se apaixonou.  Aquelas paixões imediatas, impositivas, quase perturbadoras. O sorriso que João Vicente endereçou aos lindos olhos de Maria Tereza foram recebidos com desprezo. Não sabia (como poderia saber?) que o coração de Maria Tereza era terreno árido, impenetrável e  o olhar mavioso e receptivo que Maria da Glória endereçava ao olhar de João Vicente, da mesma forma ignorado foi. Os olhos que o moço queria eram os olhos de Maria Tereza, não os olhos de Maria da Glória. Em angustiante desconexão do acaso, os três por si passaram, João Vicente de chapéu na mão, estatuado em uma reverência decorosa para Maria Tereza que semblante fechado, o  ignorou mais uma vez. O rapaz sofreu a indiferença daquela que tinha certeza, poderia ser sua grande paixão, sem perceber que talvez a outra, essa paixão pudesse vir a ser. João Vicente quedou-se conformado, a olhar as duas se distanciando, angustiado que o amor o tinha recusado. 

O mesmo pensou Maria da Glória.

E foram infelizes para sempre.


Eduardo Medeiros.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Meu Pet Bebê

 VOCÊS TÃO LIGADOS  nessa onda atual mas que vem de longe, de considerar animais domésticos como "Bebê". Meu bebê pra lá, meu bebê pra cá. Não sei se Freud explica mas acho que deve haver uma boa explicação psicanalista para essa dependência emocional que muita gente hoje tem com bichos e em muitos casos, em oposição ao convívio com gente. Sempre convivi e gostei de animais, principalmente cachorros. Na minha vida sempre houve um Totó em casa, desde a infância. Ah, alguém que tem "Pet Bebê" deve ficar ofendido de eu generalizar os bichos com o nome "Totó", nome genérico muito usado na antiguidade para todo tipo de cachorros. Nome de bicho hoje é outro nível. Conheci uma dona cujo nome da cachorrinha era "Stefanny" - assim mesmo, com dois enes e ipsolon no final. Chique pra caramba. No meu tempo de criança cachorro era Totó ou Rex, em sua maioria. Meu pai teve um pastor alemão misturado (vou contar sobre ele brevemente) que se chamava "Leão" e o nome condizia com o tamanho e atitudes. 

Houve tempo de eu ter cinco cachorros aqui em casa. Era uma zona cachorral incrível...meu sogro, aquele que me chamava de "Edualdo" não era chegado aos bichos. Contava que um cachorro tinha lhe mordido e seu destino foi o cemitério. No caso, um rio que passava perto da casa. Falando nisso, hoje tem hotel pra Pet, plano de saúde pra Pet, cemitério pra Pet, roupas para Pet, festas de aniversário para Pet. Tem muita gente por aí querendo levar uma vida de cão...Eu brinco e dou atenção aos meus três cachorros, dois viralatas (ops, olha o politicamente correto!!!! O nome agora é Raça Não Definida) e um labrador babão mas eles não são "meus filhos", eles são meus cachorros. Aliás, não pode mais dizer "eu sou dono de cachorro", não é politicamente correto, e sim, "eu sou tutor de cachorro" - mas o cachorro tá cagando e andando se tu é dono ou tutor. Os três não se dão. Se matam em rosnadas, patadas e mordidas se ficarem juntos. Assim, um fica no quintal de baixo e os outros dois ficam na varanda de cima. 

Quase não me contive quando vi na rua uma mulher levando um cachorrinho que usava sapatinhos...Ahh gente, que bonitinho...!!! Coisa nenhuma! Estão mudando a natureza canina com toda essa baboseira capitalista, no final das contas. Sim, olha quanto se gasta pra deixar o Pet bem tratado e alimentado! E como se não bastasse, dá beijo na boca do bicho e chamá-lo de "meu bebê"? Não dá, né? Desculpe-me se você é pai/mãe de Pet, não quero ofender mas talvez, já ofendendo...E pior, sempre que vejo esses Pets mais bem tratados do que muita criança pobre por aí, sempre me vêm à memória a debochada e crítica canção de Eduardo Dusek, "Rock da Cachorra" já lá nos idos de 1982.


E pro deleite de vocês, consegui tirar uma foto ruim do Simba e do Loki (olha os nomes...). Estavam ferrados no sono já que na madrugada ficam me acordando latindo pra qualquer barulho que ouvem. Não fotografei o Tor porque eu tinha que descer e procurá-lo lá no quintal e estou com preguiça. Tô pensando seriamente de trocar os três por uma tartaruga que dá menos despesas.






quarta-feira, 26 de março de 2025

SITUAÇÃO CRÔNICA!

 

O BRASIL está fadado a andar sempre pra trás. O bom no Brasil é que não tem marasmo, tem sempre alguma coisa interessante acontecendo. Brasil, país do futuro! O futuro tá correndo rápido demais e nós atrás...A política brasileira então, é sempre dinâmica, alvissareira, criativa, retumbante. Tal qual o brado do Hino.

A mídia alvoroçada. Julgamento do Bolsonaro e sua trupe. Advogados de defesa e um dos ministros julgadores, apontando falhas técnicas no processo. As mesmas falhas que levaram a anular a condenação do atual presidente. Descondenado é como chamam por ai. Que está no Japão junto com uma penca de políticos e com Janja-Sacode-As- Cadeiras-E-Manda-Elon-Se-Fuder. 

Ele precisa agradar, popularidade em queda, ano que vem, eleição. E tome dinheiro pra bolsa aquilo, bolsa isso, bolsa bolsa bolsa bolsa bolsonaro...cadê a bolsa pra cronista amador desenvolver seus talentos? Olha a cultura, presidente, olha a cultura...!!!

Quem lembra da festança da Zélia bloqueando a poupança de todo mundo e o Caçador de Marajás gritando com punho em riste que só tinha uma bala para matar o tigre da inflação?  E toma alta de juros! Mas o problema era o Campos Neto, que jogava contra o governo? 

Ah, Brasil, meu Brasil brasileiro...meu mulato inzoneiro..vixe Maria e José e Sandy e Júnior, que não pode mais falar hoje em dia "mulato" senão alguma ONG antirracista vem me cagoetar pro  Moraes. Guardião da nossa democracia relativa. Aliás, a palavra inzoneiro significa  enganador, trapaceiro, ardiloso...

Brasil, mostra tua cara! Brasileiras, pintai de baton nossas estátuas! Brasileiros de camisa amarela rezemos pra Deus e Malafaia, cadê o golpe que não veio? Faiô? 

O legado do Capitão foi isentar jet ski de imposto. Eu comprei dois e uso muito no rio aqui perto de casa! Do Barba foi a tomada de três pinos. Rá rá rá rá. Piada livremente inspirada no Ciro-Veja-Bem.

O legado de Figueiredo foi inflação alta. Sarney, hiperinflação. Itamar, se deixar fotografar ao lado de um mulher sem calcinha no carnaval. Atrás do Trio Elétrico só não vai quem já morreu...NOTA DEZ! NOTA DEZ! FHC, a compra de votos no Congresso. Lulinha inaugurou o Paz e Amor e depois seguindo FHC, comprou todo mundo, fez mensalão petrolão no Brasil é assim tudo ÃO ÃO ÃO.  Sítio de Atibaia deixa que a empreiteira de um amigo meu faz as reformas. Eu não sou coveiro, deixa de ser maricas, tem que enfrentar de cara aberta o Corona vírus! Tomara que chova três dias sem parar... o sol estava quente e queimou a nossa cara...alalá Ô Ô Ô...O CARNAVAL NINGUÉM NOS TIRA!!!!

Pois sim, 

Inspirado pelas emanações celestiais de Paulo Cézar Farias e Dorival Caymmi, compus gentis versos:


O Brasil é a esquizofrenia da repimboca da parafuseta

Descontrolada e magnânima.

O Brasil é um surto. É um furto. É um luto.

O Brasil é uma roupa tosca que não combina

E pra cerejar o bolo, perdeu de quatro ontem para a Argentina!

Nem falei da Caçadora de Ventos presidentA do banco dos BRICS que já tem tanto membro entrando (sem dupla intenção, por favor) que vai ter que virar sigla LGBTRFDETUYVXXX mais mais mais. Será que fui fóbico? Vou deixar como está. Valha-me patriota agarrado no para-choque do caminhão!!!!

NÃO NÃO NÃO NÃO NÃOOOOOO!!!!!!

Valha-me meu bom Senhor dos Aflitos e desanimados!! Valha-me meu Bom Senhor dos Patriotas Incansáveis, porque estou maldizendo este país tão lindo quando visto de cima?




sexta-feira, 21 de março de 2025

Fazer 80 anos

 


(crônica de RAQUEL DE QUEIROZ de 17/11/1990)


O QUE ME DIZEM com mais frequência é: "oitenta anos, quem me dera, com tanta vitalidade!". E a verdade é que não estou com essa bola toda, tenho lá meus achaques, vários. Em todo caso é mesmo um milagre de durabilidade este nosso corpo humano. Uma combinação aparentemente precária de músculos, ossos, nervos, vísceras, pele, que tinha tudo para não dar certo, e no entanto funciona ininterruptamente durante 80, 90, e às vezes passando dos 100 anos! As pernas, ainda serviçais, 80 anos cada uma! O sofrido coração, quantas vezes terá batido - milhões, bilhões de vezes? - nestas oito décadas sem interrupções, sem fadiga, tum-tum, tum-tum, consciencioso, fiel? E os pulmões, tocando os seus foles, na batida do coração, querendo competir com ele. E a cabeça meio louca, coitada, fazendo o que pode.

Um aparelho de TV é cem mil vezes menos complicado e vive dando prego. Mas o corpo da gente não. Trasteja, bate pino, se fere, enfrenta micróbio, fratura, desgaste, mas vai em frente. É mesmo um prodígio. Mas como dói" Aliás, a dor é o seu melhor sinal de vida. Só não dói depois de morto. Dói por dentro, dói por fora, emite invisíveis antenas por todo ele, procurando captar a dor - ou as dores.

E a alma? Embora muitos não acreditemos que ele seja movido a alma, como dói, ah, como dói também essa controvertida essência do corpo! 

Pois todo esse inventário de obstinações e misérias somos nós, com os nossos 80 anos de vida. Se empurrando, se medindo, lutando acordado ou dormindo para não parar de repente, pra não perder o famoso lugar ao sol. Gritando pra ser notado. Pente fiel de rebanho  ao mesmo tempo fazendo coisas incríveis para marcar uma identidade pessoal, um destaque. Uma superioridade! 

Quem quiser que goste. Eu não. Nunca fui fanática por esse ciclo de prantos e lutas que começa num grito de choro e termina num suspiro. O temido último suspiro. Embora a gente se iluda, pensando que monitora o próprio destino e comanda as suas ambições, na verdade somos um engenhoso, um resistente robô que Deus cria e apaga não se sabe por quê. Nem pra quê. A gente nasce sem ter ideia disso e em geral morre quando não espera ou quando não deseja. Se vinga das partidas do destino gerando filhos que perpetuem a nossa passagem, com um nome, memórias, amor e saudade. Tudo absolutamente ilusório, mas já é um lugar-comum dizer que a vida, suas glórias, suas conquistas, sua bravura e miséria, é tudo uma ilusão.

A gente vive um sonho de carne e osso que acaba no acordar que é a morte.

É isso aí.

Aos que me festejaram, abraçaram, felicitaram, telefonaram, escreveram, telegrafaram, agradeço de coração as palavras de carinho e de solidariedade. E, principalmente, peço perdão por este desabafo meio incoerente.

Mas, eu tinha o direito a ele. Afinal, fui eu que fiz 80 anos!


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A escritora Rachel de Queiroz morreu em 4 de novembro de 2003, aos 92 anos, no Rio de Janeiro. Ela é considerada uma das vozes mais importantes da literatura brasileira do século XX e uma das maiores autoras da segunda geração modernista no Brasil. Autora de destaque na ficção social nordestina, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977.

A trajetória de Rachel de Queiroz na literatura começou cedo, quando ainda era adolescente, com a publicação de seu primeiro romance, "O Quinze", em 1930. O livro trata da seca no Nordeste brasileiro e suas consequências sociais, e é um retrato contundente das condições de vida na região. Com essa obra, Rachel ficou nacionalmente conhecida, conquistando um lugar de destaque na literatura brasileira.

Sou muito fã de tudo que Raquel escreveu, suas crônicas e romances. E para mim, seu romance Memorial de Maria Moura é uma obra-prima. 


domingo, 16 de março de 2025

Às Margens do Ipiranga

 


TENHO uma relação de amor e (quase) ódio com o nosso Hino Nacional. Junto com a Bandeira, o Selo e as Armas Nacionais, são os "símbolos da pátria". Fazer qualquer tipo de alteração nesses símbolos é uma contravenção, algo menor que um crime mas passível de multa que pode variar de quatro a oito mil reais. Vocês lembram de um evento do candidato Boulos à prefeito de São Paulo nas últimas eleições, em que alguém cantou um verso do Hino trocando partes da letra para a famigerada  "linguagem neutra"?  "verás que es filhes teus não fogem à luta"… sim, mandaram essa...coisa mais linda de inclusão e representatividade... SQN. (pra quem não sabe, "SQN" quer dizer "Só Que Não", meu filho me explicou há um tempo...). Houve protestos dos patriotas de direita e o próprio candidato apagou o vídeo das suas redes, e pôs a culpa na empresa contratada para fazer o evento. Sei, confia. Mas a verdade é que essa lei, criada em 1973, em plena Ditadura Militar, já não é tão levada em conta mas ainda está em vigor.  Por exemplo, não se pode aplaudir depois que o Hino é executado, e isso é o que mais acontece em eventos esportivos.

Já na pré-adolescência, eu achava o Hino uma coisa linda, maravilhosa, uma canção contagiante. A letra eu não entendia muita coisa, aliás, eu diria que 99% dos brasileiros não saberiam interpretar todos os versos do Hino.  Nas escolas, cantávamos o Hino antes do começo  das aulas. Ouviram do Ipiranga às margens plácidas...Não entendíamos o que cantávamos mas era lindo! Um evento me fez  ser obrigado a descobrir o significado de várias palavras do Hino por livre e espontânea pressão, fato que quase me leva a odiá-lo... De um povo o heróico brado retumbante...

Estávamos em horário de recreio. Aquele burburinho. Toca o sinal para o recomeço das aulas. fazia-se uma fila para subirmos as escadas para o segundo andar. Aquele empurra-empurra, eu ali no meio sendo vítima da balbúrdia alheia, já que eu era bem comportado até que...passa o diretor na hora e me puxa para fora da fila. Me pegou pra Cristo como se dizia antigamente. Levou-me até sua sala. O estranhamento de adentrar na sala do diretor da escola era indescritível. Tensão e suor. Quase lágrimas. Depois de ouvir um sermão de que eu tinha que me comportar na fila de entrada (meus protestos de inocência não lhe comoveram), ele me deu uma tarefa a ser cumprida em uma semana: Eu teria que escrever dez vezes a letra do Hino e procurar o significado das palavras desconhecidas (que para mim eram quase todas). Castigo desgraçado...castigo sem jeito, como diria o Chicó...munheca quase caiu....mamãe ajudou o diretor: É pra você aprender a não fazer bagunça! Mas mãe...nem mais nem menos!

Cumpri a tarefa em uma semana. Dedos quase tortos de calos. Levei o trabalho para o diretor conferir. Ele ainda criticou minha letra...mas a tarefa estava paga. Sim, eu poderia a partir de então, ter odiado o Hino; de fato o odiei enquanto o escrevia e escrevia e escrevia e procurava o significado daquelas estranhas palavras, mas como dizia minha mãe, não há males que não tragam bens, e depois de tanta labuta escriturística, eu podia me gabar de ser o único aluno da escola a saber o significado de ...O lábaro que ostentas estrelado...


* * * * * *

Bem, eu ainda não sei se vou manter o recém-criado InusitadoZ, mas deixei lá um resumo meio inusitado de como se construiu o Hino Nacional. Espia aqui.


quinta-feira, 13 de março de 2025

Deu Pricopó na Urucubaca Tecnológica!

 A TECNOLOGIA é uma coisa incrível. Já disseram,  não lembro quem foi, que para qualquer povo mais primitivo, nossa tecnologia atual seria "magia" - concordo. Sei que o termo "povo primitivo" parece não ser mais "politicamente correto" e eu não sei qual é o termo que seria então "correto". Talvez, "povo atrasado tecnologicamente"? Essas questões hoje em dia são bem complexas. Qual seja, fica "povo primitivo" mesmo. Eu, que vivo hoje neste século 21, tenho certeza que algumas coisas são magia mesmo, tipo a Inteligência Artificial. Vi um cientista baixando a bola da IA ao dizer que ela não é "inteligência" e nem é "artificial". Não vou entrar em detalhes, eu não entendi direito.

Isso posto, quase me vi outra vez perdendo esta minha conta do Blogger como já tinha acontecido antes. De repente, não sei bem porquê e nem sei bem como , minha conta sumiu! Eu não conseguia acessar este meu e-mail que está vinculado a este blog, logo, nada de poder entrar nas configurações do blogue. Ou seja, eu não estava mais podendo postar. Pelo menos continuava acessando o blog no navegador e podia ir aos blogues que costumo visitar e comentar (sem nenhuma obrigação cartorial) já que eles estão listados aqui.

Tentei mudar a senha do meu e-mail e não conseguia. Dava erro. Fiz isso por 4 dias. Já estava me achando fadado a não conseguir mais escrever por aqui e teria que deixar o Crônicas parado, flutuando por aí na blogosfera para logo, logo, ser relegado ao esquecimento total. Iria para o cemitério de blogues - tem milhares por lá. Quando pedi ajuda ao meu filho e nem ele conseguiu me ajudar, me convenci de que era um caso perdido. Perguntei ao GPT. O que ele me informou eu já tinha tentado e não tinha dado em nada - ou eu estava fazendo algo errado que não conseguia identificar. 

Bem, como não tenho lá muitos sentimentos pelos blogues que crio (como já disse por aqui, criei alguns e os mandei para o cemitério dos blogues sem constrangimento... não, isso não pode ser de todo verdade, algum sentimento eu devo ter sim por eles, me sugeriu um psiquiatra), já estava pensando em fazer outro blogue com uma outra conta de e-mail do google que eu tenho. E o fiz!! Já estava pronto para convidar os amigos blogueiros mais chegados que se inscrevessem lá para continuar lendo as inutilidades essenciais e necessárias que eu escrevo.

Mas eis que em uma epifania luminosa de algum Deus dos Logoritmos Sagrados do Perpétuo Socorro, consegui acessar meu e-mail sumido pelo tablet, entrou direto sem pedir senha!  Não sei qual foi o milagre. Ou magia. Pois veja, pelo navegador eu não conseguia entrar com a senha - dava erro - e nem conseguia mudar a senha - dava mais erro. Juro que não sei o que fiz, apenas fiquei clicando aqui , ali, acolá, alhures e....PAM!!! consegui mandar um link para o e-mail sumido pelo tablet para redefinir a senha pelo tablet... e pura magia, tudo voltou ao normal. Não entendeu direito o que aconteceu? Fique tranquilo, nem eu também. 

E agora não sei o que faço com o outro blog que criei na minha outra conta de e-mail. Achei o nome criativo: "INUSITADOZ". É, isso mesmo, um inusitado com Z no final. Por quê? Por nada, só achei que escrever a palavra "inusitados" com Z no final era muito criativo... 

Pra não disserem que estou inventando coisa, olha o link dele: https://inusitadoz.blogspot.com/

Até deixei lá uma postagem sobre MEMES. Ah, não vou deletá-lo (contradizendo-me). Deixa lá. De repente eu crio uma linha editorial totalmente diversa deste daqui já que meu estoque de inutilidades necessárias é grande. NÃO! QUEM ESTÁ LENDO AQUI NÃO PRECISA SEGUIR ESSE INUSITADOZ COM Z. Deixa ele lá para quem sabe, seja encontrado por pessoas outras. 

E como diria o filósofo, "Não sei, só sei que foi assim".

sábado, 8 de março de 2025

Anjo da Guarda

 



OUTRO DIA eu estava sentado em minha poltrona lendo um livro quando o meu anjo da guarda (que eu nem sabia que tinha) me apareceu. Parecia contrariado.

- E então, tá boa a leitura?

- Sim, o livro é muito bom.

- Pretende ficar sentado aí até quando?

- Uma meia hora pelo menos.

- Ótimo. E depois?

- Depois?

- É, homem, o que pretende fazer depois de tirar a bunda dessa poltrona?

Espantou-me o linguajar do anjo mas se confirmou sua contrariedade para com minha pessoa. 

- Bem, devo ir para o sofá, ligar a TV e  terminar uma série que estou acompanhando.

Percebi um revirar de olhos do Anjo demonstrando impaciência.

- E essa série aí, vai durar quanto tempo?

- Faltam dois episódios de quarenta minutos pra eu acabar de ver.

- Pretende ficar oitenta minutos no sofá depois de ter ficado meia hora na poltrona?

- Algum problema com isso, seu anjo?

- Não, seu anjo. Eu sou o seu anjo da guarda.

- Entendi. Você me parece contrariado...

- Como eu não estaria? Você não sai de casa. Você não anda de trem, de metrô. Você não sobe uma montanha, não entra em área de risco (e nessa tua cidade é o que não falta), não discute ou ameaça vizinhos...

Matutei.

- Mas por que eu deveria fazer tais coisas? 

- Ora, não é óbvio? Pra que eu tenha um pouco de trabalho! Ser seu anjo da guarda está sendo a coisa mais chata da minha vida de anjo da guarda. Você não se arrisca! Não se põe em situações perigosas! Você não se aventura! Você nunca quebrou um braço!

- Mas eu não gosto de me envolver em coisas perigosas...

- Percebi isso logo quando você nasceu.

- Você é meu anjo desde que nasci? Há quase sessenta anos? E por que só agora me aparece para bater papo...?

- Não estou batendo papo. Nem temos permissão para isso. Tomei uma medida desesperada pois não aguento mais o marasmo que é a sua vida. Quase nunca eu tenho que te salvar de uma situação perigosa. E você entende que o que dá sentido à minha vida de Anjo da Guarda é guardar? 

- Você não deveria ficar assim. Não é bom receber sem trabalhar?

- Receber?  O que Anjo da Guarda recebe é  pontuação por salvamentos. E minha pontuação até agora não chega a dez! No máximo eu te salvei de ficar engasgado com uma bala soft quando você era criança e na adolescência, não deixei você ser atropelado por aquele motorista de ônibus irritado por você ter invadido a contramão de bicicleta.

- Eu lembro disso...Foi você então? Valeu...

- Pois é, mas isso foram as coisas mais perigosas que você fez na vida! 

- Dez pontos é pouco? Pra quê você quer pontuar mais?

- Preciso chegar a mil pontos para ser  promovido a Arcanjo e então, ficarei só em trabalhos internos e não vou precisar ficar te acompanhando 24 horas por dia sem nada pra fazer. E as pontuações são baixas. Te salvar da bala soft e do atropelamento me renderam míseros 3 pontos...

Não sabia bem como resolver o problema do meu Anjo da Guarda que eu nunca soube que tinha, mas sua história me comoveu. Diante da aflição daquele ser angelical, aflição essa provocada pelo marasmo que era minha vida, como ele dissera, tocado por um senso de solidariedade celestial, envergonhado por deixar meu anjo coçando o saco o dia todo (não sei se blasfemei), resolvi entrar deliberadamente em uma situação de alto risco, que talvez lhe rendesse uns 100 pontos. Pedi para o anjo me acompanhar (nem precisava, ele era minha sombra). Fui até a cozinha onde minha mulher preparava o almoço e lhe falei, bravamente e sem medo:

- Eu não queria lhe  dizer isso, mas sinceramente, você está mesmo muito gorda...! 





Eduardo Medeiros, 

aos oito de março de 2025,

saído do fevereiro mais seco e quente das última décadas no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Comentando o "Sem Comentários"

 




BEM QUE SE QUIS...lembrei Marisa Monte. Eu quis escrever uma crônica onde não houvesse a possibilidade de se comentar o que escrevi, como fiz no texto passado. Falei dos tempos áureos dos blogues e das regras que  todo mundo convencionou seguir. Como diz o imaginário político brasileiro, frase dita (ou não dita) por Jânio Quadros, "fi-lo porque qui-lo". Como sugeri, nós blogueiros, ficamos muito condicionados a comentar textos de autores que seguimos somente na intenção que o autor do texto também venha comentar os nossos próprios textos. Ou comentamos porque criou-se um elo de amizade virtual com alguém. Mesmo que você tenha detestado o texto do amiguinho. Aliás, vi poucas vezes alguém criticar negativamente um post de um amigo... Mas como assim não tem como comentar, agora ele não vai saber que eu vim aqui e ele não irá me visitar...como eu disse, deprimente. Voltam os comentários. Confesso que é triste ficar sem visualizar os mais de mil comentários feitos por leitores do meu blogue ainda em sua fase infantil. Mas me pergunto: foram comentários espontâneos? Continua o dito: Não comente se não quiser comentar, não visite se a intenção for apenas a retribuição de visitas e comentários.  Não gostou do texto? Diga que ele está ruim.  Ou ignore-o. Comentando ou não, não será isso que fará eu ir ou não ir ao seu blogue se eu gostar dele (e tenho a pretensão de convencer alguns). Se você retribuir um não comentário com outro não comentário, tudo bem, você está no fluxo da Regra. Que coisa deprimente - outra vez - ser obrigado a fazer uma coisa apenas porque todo mundo faz obedecendo a uma regra que ninguém sabe quem impôs. Eu gosto muitíssimo de pelo menos, 7 blogues onde sempre leio coisas interessantes e sempre comento pelo prazer de trocar ideias, apesar que essa troca raramente acontece. Outros leio e quase não comento. Se não for assim, a coisa fica xoxa. Não confundir com "a coisa fica xuxa". Pode parecer que estou me comportando como se fosse o centro da blogosfera. Não é isso, entenda minhas reflexões. Discorda delas? Acha todas essas questões irrelevantes? Beleza, quem disse que todo mundo tem que pensar igual?

Impôs me lembra "imposto". E nem me fale sobre. Luís Inácio disse que vai isentar todo mundo que ganha 5 mil reais de pagar imposto de renda. Eu acho justo. Só não sei se quem ganha cinco mil e um também vai achar...Lá rá rá lá. 



terça-feira, 4 de março de 2025

Sem Comentários

 




QUEM É BLOGUEIRO ANTIGO sabe. 

Quando os blogues eram febre (como são hoje essas outras redes sociais) e todo mundo queria ter seu "diário virtual", o modo de interação entre blogueiros foi sendo construído a partir de algumas regras que ninguém nunca soube quem criou. Elas foram brotando e todos aceitaram. A regra mais básica era: Eu te sigo, logo, você deve me seguir também. Eu comento no seu blogue, logo, você deve comentar no meu também. Durante um bom tempo achei a regra satisfatória. O pessoal levava tão à sério a Regra, que acontecia de blogueiros de sua rede de contatos virem se desculpar por não ter tido tempo de comentar aquela postagem da semana passada e você respondia, "ah, tudo bem" mas no fundo sentindo-se  chateado por ele não ter batido o ponto no seu espaço.

ACONTECE QUE com o passar do tempo eu seguia algumas boas dezenas e dezenas de blogues e nem todas as postagens me aguçavam o interesse de comentar nada. Mas a regra era clara, como dizia Arnaldo: Tem que comentar! É deselegante não comentar! Se não comentar no blogue do amiguinho, o amiguinho não irá comentar no seu blogue e você não queria que a frequência de comentários no seu blogue caísse. Ter muitos comentário em seu blogue era motivo de ostentação blogueira muito mais que o número de visualizações. Aconteceu de eu começar a não mais comentar todas as postagens de alguns blogues que eu lia e então, tive a paga devida: Esses blogueiros deixavam de comentar meus textos. Tudo certo, tudo justo, era a regra. Mas aí ficou a questão: As pessoas me leem e comentam só para serem lidas e comentadas? Achei aquilo chato e deprimente.

UMA OUTRA QUESTÃO blogueira é mais nebulosa e não há regra clara: É obrigatório e elegante você comentar o comentário feito no seu texto? Parece-me que não, apesar de soar estranho o autor ignorar por completo o seu comentário e você também ignorar algum possível comentário do autor ao seu comentário... Mas se fosse obrigatório comentários e contracomentários, isso geraria uma cadeia de respostas e contrarrespostas que iriam ao infinito e além! Seria meio impraticável e cansativo. Então parece-me que ficou subtendido que o autor do texto não tem nenhuma obrigação de te responder. Mas você tem de comentar!!

DURANTE  bom tempo  joguei dentro das "quatro linhas" , como gosta de repetir um certo Capitão. Foi então que meu blogue foi acometido de uma virose braba. Nada funcionava, e eu, já um pouco cansado da vida blogueira, principalmente com a obrigação de comentar tudo o que eu lia e irritado com o problema viral, deletei meu blogue. Coloquei minha viola no saco e me mudei para o Facebook que se impunha como o novo obrigatório. Detestei o Face pois não tinha o mesmo charme dos blogues para textos mais longos. Aliás, esta é A Regra do Face: Ninguém vai dar a mínima importância para o seu texto com mais de 5 linhas...

VOLTEI A TER um blogue em janeiro do ano passado porque a vontade de escrever crônicas tinha voltado e no Face era/é impossível. E agora, quero fazer um tipo de "experimento social bloguerístico": tirei os comentários deste Crônicas. Sim, você que está lendo agora, não é obrigado a comentar nada, e fique tranquilo, se você faz parte daqueles blogues que eu costumo visitar, continuarei a fazê-lo com todo prazer, porém, quero me dar o direito de um dia ler o seu texto e não comentar nada, e isso só vai querer significar que eu não quis comentar nada mesmo e  não necessariamente, devido à qualidade da sua postagem ou outro motivo qualquer. Só a sensação de liberdade de te ler (ou não ler tudo) e não ser obrigado a comentar e você, a liberdade de não precisar ficar magoado por causa disso e querer retaliar.

ESSA REGRA que ainda hoje impera no blogger (comente o meu que eu comento o seu) deve ser revogada! Quero começar a revolução do "Sem Comentários Obrigatórios" , porque às vezes o melhor é não dizer nada...Continue lendo as maravilhosas crônicas do Edu mas não perca seu tempo se sentindo obrigado a comentar. Apenas leia e só. Se realmente quiser dizer alguma coisa inadiável, impreterível e improrrogável sobre o meu texto, mande-me uma mensagem no box pertinente que certamente lhe responderei. Quero que você leia minhas crônicas só por lê-las, e se quiser lê-las, e não porque eu bati o ponto no seu blogue.  

Creio que isso deixará a vida blogueira mais leve, sem obrigatoriedades.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Amor, Platônico Amor.

 

Gostei muito dos comentários sobre o texto anterior que resolvi continuar com  o tema. Tenho lido textos sobre sentimentos e emoções bem interessantes. Lembrei de um amor platônico que tive aos onze anos. E o que que Platão tem a ver com o assunto?

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LÁ PELOS IDOS de 1975 nos mudamos para Paripi, Salvador, BA. Fomos morar em um enorme condomínio de casas e apartamentos da Marinha. Para um menino de 11 anos, aquilo era um mundo fantástico, um paraíso. Rodeado por uma enorme floresta,  o condomínio proporcionava para as crianças muitas brincadeiras e o privilégio de ter liberdade com segurança. Afastada das casas e prédios, havia uma antiga barragem desativada que quando chovia forte criava um grande lago onde os mais afoitos iam nadar. Por ter morrido um menino afogado, minha mãe me proibia de ir até lá. Eu obedecia. Por conta disso, até hoje o condomínio é conhecido como "Barragem".

As casas eram construídas de duas em duas, uma ligada à outra por uma mesma parede principal. Sem cercas, sem muros, com grandes quintais gramados. Quando chegamos de mudança, a casa ao lado estava vazia. Ali morava uma família já conhecida do meu pai que estavam viajando de férias. O casal se chamava Alonso e Regina. Tinham dois filhos: o mais novo que todo mundo chamava pelo apelido de  Uílio,  e tinha ela...Maria, a filha mais velha. Uílio deveria ter a minha idade mas Maria era mais velha. 


Corte para a Grécia, época clássica

Platão foi um dos grandes filósofos gregos, que junto com Sócrates e Aristóteles - a trindade sagrada da filosofia grega -  praticamente esgotaram tudo o que se podia pensar ou discutir. Até hoje costuma-se repetir uma frase: "Tá tudo lá em Platão..." (não é bem assim mas a frase é legal).

Os gregos da era mitológica divinizaram  fenômenos naturais e sociais. Cada área da existência tinha um deus que reinava sobre ela. Nos mares, Poseidon. Nas profundezas, Hades. Comunicações e viagens, Hermes. Das leis, Temis era soberana (tal qual um certo senhor de Capa Preta do nosso Supremo). E no amor, Eros, muito ligado a Afrodite, também ela deusa do amor e da beleza. 

Platão, porém, argumentou que Eros não poderia ser um deus, e sim, um ser intermediário. E por quê?

 Para Platão, o amor era uma CARÊNCIA. O homem ama aquilo que não tem. O amor seria uma potência intermediária entre o divino e o humano, um elo de comunicação. Do conceito de CARÊNCIA, criou-se  o termo AMOR PLATÔNICO - ou seja - o amor não correspondido ou inalcançável. Ou a ideia de amor espiritual e transcendental.

Carência e desejo formam juntos um coquetel molotov de emoções. Amamos o que desejamos e não temos, o que nos provoca carência. Mas quando conseguimos o desejado, o amor arrefece, o entusiasmo da conquista se acalma, e o desejo e a carência partem para o próximo item desejado - e o círculo carência/desejo-conquista-nova carência/desejo se perpetua.

Corte de volta para a Barragem.

Inspecionando meu novo habitat onde morei por belos e longos 5 anos, percebi que uma das paredes da varanda da casa vizinha estava toda rabiscada de carvão. Algum menino  deve ter aproveitado a casa vazia para deixar sua arte registrada. 

Quando a família voltou de viagem, minha mãe, que sempre teve uma capacidade incrível de fazer novas amizades, lá estava junto com dona Regina conversando como se fossem velhas amigas sobre a parede rabiscada e o vandalismo inconsequente dos jovens. 

Os irmãos se tornaram meus melhores amigos. Eu e Uílio , todos os dias saíamos em busca de aventuras naquele mundaréu de morros, florestas, barragem, montanhas. À noite, ficávamos brincando de vários jogos de tabuleiros e de cartas na varanda de Maria sob um céu espetacularmente estrelado. Jamais vi céu igual.

E Maria era meu céu...linda e maravilhosa no alto dos seus 14 anos, grande para a idade, corpo de menina se transformando em corpo de mulher; alegre, divertida, e minha amiga!!! Muitas vezes passamos horas só conversando sobre tudo o que adolescentes podiam conversar naqueles anos 70. 

Jamais pedi um beijo. Jamais deixei aparentar aquela amor que me devorava. Aquela carência. Eu, apesar de ser bem conversador e extrovertido, em matéria de mulheres era tímido igual uma pedra. Quando seu Alonso foi transferido para o Rio, meu mundo caiu. 

Durante muito tempo, a figura de Maria povoou meus pensamentos, lembranças e saudades. Um beijo, pelo menos um beijo! Para deixar tudo mais dramático, creio que Maria também tinha uma certa quedinha por mim, mas também jamais tocou no assunto. 

Maria foi embora e só voltamos a nos reencontrar  mais de uma década depois quando voltamos para o Rio e fomos visitá-los. Relembramos os velhos tempos. A paixão/carência/falta já não existiam, somente a nostalgia dos sentimentos de outrora, ainda mais por saber que ela tinha se casado.

 PARECE que Cronos, o deus do tempo, consegue debelar Eros com o passar das horas, dos dias, dos anos e anos...




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

AH, O AMOR...

 


 VALORIZAMOS MUITO O AMOR mas a verdade é que não sabemos bem defini-lo.  A palavra e o sentimento podem ser direcionados aos mais diversos objetos. Eu amo aquela mulher; eu amo aquele homem; eu amo meu carro; eu amo meus filhos; eu amo viajar; eu amo ler. Eu amo teatro, cinema, arte. Eu amo a Deus. Eu amo, eu amo...E afinal de contas, o que é o amor? O amor ao seu time de coração é o mesmo amor ao seu carro do ano? Ao seu cachorro? À sua sogra?

Os gregos foram bem analíticos e inventaram quatro palavras para explicar o amor, cada uma com um significado: Philos,  amor fraternal;  Eros,  o amor erótico; Storge, amor por familiares; Agape, o amor incondicional, sacrificial, frequentemente identificado na cultura cristã como o amor de Deus, e eu diria, ao amor das mães.

No Ocidente se valorizou muito o amor romântico, mas vários pesquisadores dizem que o amor romântico foi uma invenção de certa época. Afinal, todos os amores não são inventados? Não vou discorrer agora sobre isso pela extensão que iria produzir. Provocador dos provocadores, deixo apenas um texto do maior dos libertinos. Sem dúvida, uma provocação, mas toda provocação gera reflexão ou uma ação violenta ao provocador...

Marques de Sade, francês que viveu à época da Revolução Francesa e foi um nobre, militar, escritor, filósofo e político e também um escritor maldito, preso, censurado, condenado por seus livros abertamente libertários e libertinos, onde narrava cenas de violência sexual, estupros, necrofilia, canibalismo, torturas, incestos, mas também escreveu sobre política, religião, moral e ética. Em 1801 ele foi preso por causa de suas obras, consideradas depravadas, e passou o resto da sua vida em um manicômio.

Sade escreveu sobre o amor em um dos seus livros*: 

"FALAI-ME DOS LAÇOS  de amor, Eugénie; que jamais venhais a conhecê-los! Ah, que um sentimento como esse, pelo bem que vos desejo, jamais se aproxime de vosso coração! O que é o amor? Só podemos considerá-lo, creio, como o efeito que nos causam as qualidades de um belo objeto. Estes efeitos nos transportam, nos inflamam. Se possuímos este objeto, ficamos contentes; mas se nos é impossível tê-lo, nos desesperamos. Qual a base desse sentimento?...o desejo. Quais as suas consequências?...a loucura. Atenhamo-nos, pois, ao motivo, e garantiremos os efeitos. O motivo é possuir o objeto? Ora, tentemos então consegui-lo, mas com sabedoria; gozemos dele, assim que o tivermos; consolemo-nos em caso contrário: mil outros objetos semelhantes, e quase sempre melhores, consolar-nos-ão da perda deste. Todos os homens e mulheres se parecem: não há amor que resista aos efeitos de uma reflexão sadia. Oh, que embriaguez enganosa essa que, nos absorvendo o resultado dos sentidos, coloca-nos em tal estado que não mais enxergamos e só passamos a existir para esse objeto loucamente adorado! Isso é viver?

O amor, o que é o que é? Sade estava absolutamente errado? Os gregos estavam certos? Dá pra fatiar o amor? Dá para morrer de amor? O amor mata? O amor cura? O amor fere? O amor é uma ilusão?

O que é o que é?


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* A Filosofia na Alcova, ou Os preceptores Imorais: Diálogos destinados 

à educação das jovens damas



domingo, 16 de fevereiro de 2025

Filho, seja apenas um Simples Homem

 


"Simple Man" é uma das músicas mais emblemáticas da banda de rock americana Lynyrd Skynyrd. Foi lançada em 1973 como parte do álbum de estreia da banda, intitulado (Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd). A música foi escrita por Ronnie Van Zant e Gary Rossington e é conhecida por sua melodia marcante e letras profundas.

A inspiração para "Simple Man" veio de uma conversa que Ronnie Van Zant teve com sua mãe. Ele contou que, em um momento de reflexão, sua mãe lhe deu conselhos sobre como levar uma vida boa e simples, sem se deixar levar pelas superficialidades e preocupações materiais. Esse diálogo foi a base para a letra da música, que fala sobre os valores de humildade, honestidade e busca de paz interior.




A música foi uma das poucas que a banda escreveu em um curto período de tempo; de acordo com os membros da banda, a composição e a gravação foram concluídas em apenas um dia.

A faixa se tornou especialmente significativa após a morte de Ronnie Van Zant, em 1977, e é frequentemente vista como um tributo a ele e aos outros membros da banda que faleceram no acidente de avião que ocorreu naquele ano.

"Simple Man" é uma música que transcende gerações, com sua mensagem de vida simples e autêntica. É um lembrete atemporal dos valores essenciais que muitas vezes são esquecidos em meio à complexidade da vida moderna.

* * * * * 

Eu faço um programinha vez em quando com meu filho. A gente senta pra ouvir música antiga "do meu tempo" e em contrapartida, também sento para ouvir as músicas que ele gosta de ouvir hoje (graças aos deuses da música, ele não gosta de funk...)

Outro dia sentamos para ouvir essa bela canção do Lynyrd Skynyrd e aproveitei para conversar sobre a letra da música. Foi um momento bonito, já que essa música me toca muito e me emociona (sim, eu sou um macho sensível no bom sentido da palavra...). Ele entendeu no final da música e da conversa, que para ser um bom homem, ele só precisava ser um simples homem.


Além de Rickey e Johnny Van Zant, a formação atual do Lynyrd Skynyrd conta com Michael Cartellone (bateria), Peter Keys (teclados), Keith Christopher (baixo), Mark Matejka e Damon Johnson (ambos guitarra) – este último efetivado após os últimos problemas de saúde de Gary, que levaram a seu falecimento. Ainda há a participação das backing vocals Dale Krantz-Rossington (viúva de Gary) e Carol Chase.


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Informações sobre a banda: Vitrola Bar

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Sou um machista clássico (ou, Mulher Annita)

 


Pago conta

Abro tampas difíceis

Mato baratas (só não mato ratos, não insista)

Mando flores,

Digo "você é uma princesa",

Arrumo a casa

Troca até fraldas

E faço o jantar.

 você não gosta

Você é empoderada,

Você é  Annita.

Você dá pra todo mundo,

Você despreza flores,

Você coleciona picas.


* * * *

Brincadeiras à parte, eu sou um liberal e concordo totalmente com a emancipação feminina em todas as áreas, inclusive a sexual. O tempo de dizer que homem que pegava geral era "garanhão" e mulher que que fazia o mesmo era "puta e vaca" já passou. Mas me incomoda que essa liberação feminina, venha junto, através de um feminismo radical, com a castração masculina. São elas, as feministas, que agora dizem como um "homem aceitável" deve ser: frágil, bem sensível, obediente, domesticado, que nunca levanta a voz, de quem ela nunca precisa da ajuda, enfim, um submisso ao poderia vaginal. Os grandes símbolos de masculinidade do cinema do passado como John Wayne, Charles Bronson, Clint Eastwood, foram "cancelados", e agora, como símbolos de masculinidade para os adolescentes atuais, temos atores pálidos descontruídos de cabelos pintados de  rosa. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Pais e Filhos: Parece Que o País Perdeu Um Programador (ou não)

 


MEU FILHO TEM 14 ANOS. Muito inteligente. Um dos melhores da turma desde a pré-escola. Começou a ler muito cedo. Começou a falar pelos cotovelos muito cedo - característica que hoje, na adolescência, arrefeceu bastante mas a inteligência continua afiada. Há três anos estava certo que queria ser um programador de jogos. Já estava estudando por si mesmo e até já programando alguns jogos mais simples, até descobrir que nas escolas militares de formação de oficiais, te pagam para estudar. Quer dizer, pai, que você não precisa pagar a escola e a escola vai me pagar para eu estudar? perguntou admirado. Sim, é isso mesmo...o governo investe na formação dos seus militares. A partir daí, desistiu de ser programador e quer ser oficial da Marinha ou da Aeronáutica, mas do Exército, não. Diz não gostar do Exército. Não sei se um certo Capitão tem a ver com a rejeição, pois mais novinho ele dizia que gostava do Lula e que Lula tinha sido enganado. Prova cabal que eu não doutrino meu filho politicamente...(mas a turma do Lula adora fazer isso).

Se vai conseguir passar no concurso, que é um dos mais concorridos do país eu não sei. Juro que até tentei fazê-lo continuar na programação, dizendo que ele é muito inteligente para ser oficial da Marinha...Mas eles vão me pagar para estudar...! O que vou dizer? Vai lá. Seu pai entrou para a Marinha para ser sargento, no máximo, suboficial, mas nunca quis ser tenente, capitão...sempre achei que esse pessoal trabalhava muito, apesar de ganhar bem. Sim, sou um preguiçoso que me contento com o suficiente, desde que minha paz e tranquilidade estejam asseguradas. 

De qualquer forma, se ele for para o Colégio Naval, que fica na cidade de Angra dos Reis(RJ) ou para a EPCAR, que fica na cidade de Barbacena (MG), será uma grande experiência de vida para ele. Ficar longe de casa por três longos anos te faz amadurecer na marra. E se não for, ele continua com seu plano B. Me disse isso com uma tranquilidade desconcertante.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

AS FALAS DO BRASIL

 


UMA COISA  RICA DA NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA BRASILEIRA são os sotaques e termos específicos de cada região desse brasilzão continental. Esses maneirismos regionais sempre despertaram meu interesse de pesquisador linguístico ortográfico sintaxestista verbalista...eu sei, eu inventei agora.

VEJAM SÓ. ESPIEM ISSO.

REGIÃO NORTE 

1- Moleque doido – Entre as expressões populares mais faladas está a gíria moleque doido, que significa pessoa maluca.

2- Moscô – ou moscar, quer dizer que a pessoa foi pega em flagrante.

3- Ixi – muito usado como exclamação. (essa eu uso muito!)

4- Égua – é usada para indicar espanto ou admiração.

5- Vou pro casão – os nortistas costumam usar essa expressão popular quando vão ao presídio de Rondônia, chamado de Urso Branco.

6- Borogodó – é uma pessoa que entende ou é especialista sobre determinado assunto.(daí a expressão, "ele tem borogodó...)

7- Pai d´égua – é o mesmo que bom sujeito, pessoa boa.

8- Morena Bela – é a maneira como a garota que acompanha o levantador de toadas do Boi Garantido é chamada.(O Boi Garantido, cuja razão social é Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, é uma associação cultural e popular conhecida como boi folclórico, que participa do Festival Folclórico de Parintins. Se caracteriza por ter como cores principais o vermelho e o branco, sendo esta última cor representada na pelagem do touro que identifica a agremiação, este apresentando um símbolo de coração vermelho na testa, sendo este o seu maior símbolo)

9- Asa dura – essa expressão popular se refere ao avião.

10- Arraial – é o nome dado ao comércio de comidas típica da região Norte.

11- Curumim – já essa gíria regional significa menino ou garoto.

12- Carapanã – é o nome dado aos mosquitos, por exemplo, muriçoca.

13- Tubão – significa soco na cara

14- Broca – é como a comida é chamada.

15- Brocado – já essa expressão popular é usada para dizer que está com fome.

etc...

Exemplo de uma frase que eu pensei aqui comigo mesmo, essencialmente nortista: "Égua, tô muito brocado, me traz logo essa broca, senão sobra tubão pra todo mundo, tô muito hoje moleque doido..."


NORDESTE

1 - Abestado/Abestalhado - Forma de chamar alguém de bobo, trouxa, tonto.

2 - Afeiçoado - Elogio sobre a aparência de alguém. Serve para dizer que a pessoa é bonita ou está bem arrumada.

3 - Afolozado - Algo estragado, que não dá mais para usar, que está danificado

4 - Ai dento - Pode ser usada do mesmo modo que o “sai fora” ou “vá se danar”. É usada em quase vários estados do Nordeste.

5 - Amancebado - Viver junto sem ser casado oficialmente, amigado.

6 - Aperreado - É o mesmo que estar aborrecido, chateado.

7 - Apombaiado - Pessoa distraída, que nunca entende nada.

8 - A pulso (ou apuço) - Algo que tem que fazer contra sua vontade, a força, obrigado.

9 - Caçar conversa - É o mesmo que arrumar briga, provocar, procurar confusão.

10 - Cacunda - Sinônimo de ombro, parte de cima das costas.

11 - Cambito - É o mesmo que perna fina. (esse aí meu pai dizia pra mim: "Vem cá, cambito..")

12 - Danou-se -  expressão expressa espanto, susto ou até mesmo entusiasmo. Mas também pode ser usada para dizer que alguém se deu mal, se machucou.

13 - Desembestado - Desorientado, sem rumo. Mas também pode ser usado como sinônimo para apressado.

Uma frase típica nordestina seria alguma coisa tipo " O abestalhado do Sebastião tá aperreado com Gracinha, que apesar dos cambitos é bem afeiçoada mas se  emancebou com Joaquim, deixando Tião desembestado caçando conversa com todo mundo".

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Os do sudeste e sulitas virão em ocasião própria.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Sonhos Recorrentes

 



TODO MUNDO  já teve algum sonho recorrente, aquele que sempre volta e você não sabe bem porquê. Você até busca explicações no Google. Lê até a Interpretação dos Sonhos de Freud. Quiça, faz análise.  Esses Recorrentes podem ser perturbadores mas eles são muito comuns: Estar perdido, estar nu no meio da rua, seus dentes caindo, não encontrar um banheiro quando se está muito apertado...são vários. Destes que citei, já tive todos. O de procurar um banheiro e não achar é desesperador...

Tenho alguns Recorrentes de estimação. Um deles, quando mais novo, era Sonhar que estava voando ou andando em algum lugar muito alto, e isso era bizarro porque eu sentia muito medo de altura. A origem do medo, em uma altoanálise , entendi que vinha de um evento ainda criança: Eu brincando em um balanço, e aí algum amiguinho incorporado pelo Satanás começa a me balançar cada vez mais forte...mais alto...mais forte...mais alto...senti medo da altura onde o balanço estava indo. Pedi  que ele parasse, mas ele continuava empurrando cada vez mais forte...mais alto...mais forte....outra escolha não tive a não ser me jogar do balanço e me estabacar no chão. Engraçado que tive coragem de me jogar do balanço quando ele estava no alto e a sensação de estar no alto, mas agarrado ao balanço, me apavorou...Pelo menos o chão era terra batida e não asfalto. O joelho ralado não foi grave. A partir daí (se minha memória não me trai) comecei a ter esses sonhos em que eu, em desespero, estava voando ou andando em algum lugar muito alto e com medo de cair. 

Jovem adulto, comecei a ter recorrentes em que eu procuro alguma coisa ou tento chegar em algum lugar mas nunca acho e nunca chego. Os temas variam. Enfrento verdadeiras odisseias nesses sonhos, entrando em ônibus, saindo de ônibus, entrando em prédios, saindo de prédios, mas para nunca chegar onde eu quero ou nunca encontrar o que procuro.  Não consegui identificar em minhas altoanálises a origem desses recorrentes. Minha esposa fez o diagnóstico e decretou: "Você é um homem perdido e precisa encontrar Deus..." Não existe explicação definitiva para tais sonhos recorrentes. Colo aqui uma parte de um texto que gostei de ler: 

Uma teoria sugere que os sonhos recorrentes podem refletir questões não resolvidas ou traumas emocionais que precisam ser enfrentados. Outra interpretação é que esses sonhos podem estar relacionados a padrões de comportamento ou pensamentos recorrentes em nossa vida diária. Alguns especialistas acreditam que os sonhos recorrentes podem ser um sinal de estresse ou ansiedade excessiva. Além disso, os sonhos recorrentes também podem estar ligados a desejos não realizados ou medos profundos. É importante lembrar que cada pessoa é única e o significado dos sonhos pode variar de acordo com suas experiências e emoções individuais. Se os sonhos recorrentes estão causando desconforto ou afetando negativamente sua vida, pode ser útil procurar a orientação de um profissional, como um psicólogo ou terapeuta. Explorar os sonhos recorrentes pode ajudar a trazer clareza e compreensão sobre nós mesmos e nossas emoções mais profundas(1)

Ou seja: estresse, ansiedade excessiva, desejos não realizados, medos profundos... O que será que será?

Não duvido que eu tenha questões mal resolvidas da infância e da adolescência(alguém não tem?), inclusive em minhas autoanálises, creio ter identificado algumas, com a ajuda dos meus amigos Freud e Jung. 

E então, qual seu Recorrente e o que ele significa para você? Que será?


Eduardo Medeiros

cinco de fevereiro de 2025. Acabei de ter um pesadelo perturbador: Lula se reelegia com Bolsonaro de vice.


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(1) https://psicanaliseblog

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

BÉNÇA, VÓ

 


UMA FRASE COMUM  dita pelas crianças antigamente era "bénça, vó", "bença, vô", "bénça pai", "bença mãe". Não tenho estatísticas, mas creio que o hábito de se pedir "benção" aos mais velhos vem caindo de uso a cada década, principalmente nas grandes cidades. Não tínhamos a mínima ideia do real significado de se pedir uma benção. 

Lá em casa meus pais não nos ensinaram tal costume, imagino porque minha mãe deveria achar que era coisa de católico. Minha mãe, protestante, não queria nada com o catolicismo. Mas eis que ao nos mudarmos para Salvador BA e irmos morar no mesmo terreno da minha vó paterna, um amplo espaço onde havia casas de três tios e suas famílias (sim, muitos primos), tive que aprender a petição. Todos meus primos logo de manhã, ao verem pela primeira vez qualquer adulto já iam pedindo:

- Bénça, vô.

- Bénça, tio.

- Bénça, tia.

Tive dificuldades em incorporar ao meu vocabulário a tal petição. Meus pais não se opuseram, acho que minha mãe não queria causar uma discussão em família. Aos poucos fui me acostumando a pedir benção pra todo mundo. Se eu sabia do que se tratava? Se eu sabia do porquê ter que pedir benção? Se eu sabia o que significava? Nada nadica de coisa nenhuma. Nunca ninguém me explicou, só disseram que eu tinha que pedir a benção para os mais velhos. Eu apenas pedia, assim como meus primos. Como se diz, eu ia na onda. 

Tinha mais, o pedido completo da benção, incluia beijar a mão do adulto que nos brindava muitas vezes, com um carrancudo "Deus te abençoe" - acho que até mesmo alguns deles não gostavam muito da tradição...

Sou meio laico na criação do meu filho, jamais lhe ensinei tal tradição. Aqui em casa o hábito é o bom e velho "bom dia, pai", seguido por um abraço, um beijo e um cheiro. (Essas três coisas são obrigatórias).  Minha sogra trouxe o costume da sua mãe católica. Todos os filhos, filhas e netos lhe pedem benção, porém, sem o beijo, abraço e cheiro porque ela é daquelas que gostam de manter distância física. Os filhos lhe beijam quase à força. E meu filho, claro, se acomodou ao ritual sem nenhum problema. Ele com seus dois ou três aninhos, viu a vó lhe decretando: "cadê a bénça da vó?, tem que pedir a bénça..." Nunca me opus. 

Todos os meus cunhados mantiveram a tradição que aprenderam com a mãe, e seus filhos,  também fazem a petição da benção. Meus  sobrinhos porém,  já desistiram de me pedir, pois eu nunca dei a mínima importância a ela. Quando me pediam benção eu, brincando, respondia:

- Alá, te abençoe.

- Oxumaré esteja contigo.

- Tupã ilumine sua vida.

Claro, a estranheza pela quebra do protocolo os deixava sem saber  o que dizer. Alguns riam e diziam "que isso, tio..."; outros mais carolas, me repreendiam com um "o sangue de Jesus tem poder" ou "Eduardo, para de dizer isso para meu filho!"

Ué, me pedem benção mas não especificam de qual deus querem a benção. Eu apenas escolho um, gosto de diversidade. 


* * * *


Preciso esclarecer que não sou um intolerante contra a religião de ninguém e me dou muito bem com todos meus cunhados e cunhadas e seus filhos,  mas meu espírito meio irônico e gaiato, me levaram à tal brincadeira com meus pobres sobrinhos. Mas todos gostam muito de mim e a maioria já aprendeu: comigo é no "oi, tio", beijinho e abraço.


sábado, 25 de janeiro de 2025

O Envelhecimento do Japão

 



ONTEM LI UMA matéria que me fez pensar: Como um país como o Japão, um gigante tecnológico, uma economia forte, um país rico, que eu sempre  soube que tratava com muito respeito e até honrarias os mais velhos, pode estar passando por isso? "Isso", no caso, é o envelhecimento acelerado dos japoneses que está provocando uma situação no mínimo, bizarra. Segundo dados, um em cada 10 japoneses têm 80 anos ou mais. Ou seja, as mulheres jovens não querem mais ter filhos, e isso é um problema também na Europa.(não vou aqui me deter nesse assunto pois ele é bem extenso e complexo).

Muitos idosos japoneses sofrem com a solidão e privação econômica, e estão preferindo cometer algum pequeno crime para serem presos, principalmente mulheres. Isso indica uma crise social grave no país do sol nascente. Cito abaixo, um trecho da reportagem:

Nos últimos anos, os crimes cometidos por pessoas acima de 60 anos no Japão cresceram drasticamente. Em 1990, eles representavam menos de 5% do total; hoje, ultrapassam 20%. A maioria dessas infrações são pequenos furtos, como roubo de alimentos, frequentemente motivados pela precariedade econômica. Para muitos idosos, a prisão se tornou uma forma de garantir moradia, refeições regulares e cuidados médicos, vantagens que a vida fora dos muros da prisão não oferece.

Deveras curiosa essa situação. Os presos japoneses estão sendo bem mais tratados do que seus idosos. Ainda bem que aqui no Brasil não temos isso, somos isonômicos: tratamos MAL tanto nossos idosos quanto nossos presos.


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li em IGN Brasil

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Cinco Dias Off




CINCO dias off. Sem rede social e sem blog. Senti falta? Só um pouquinho...Partimos quarta-feira passada para uma viagem de 6 horas de carro do Rio para São João da Barra, terra do famoso conhaque alcatrão, o "conhaque do milagre". Destino: O SESC de Grussaí, um lugar que eu adoro visitar e desta vez levei minha irmã e meu cunhado junto. Inaugurado em 1979 pelo Sesc Minas Gerais, a Unidade passou a ser administrada pelo Sesc RJ em 2022. Em sua grande área(um milhão e oitocentos mil metros quadrados) encontram-se diversos equipamentos de lazer, as famosas réplicas do Taj Mahal, Pagode Chines e Casa de Chá japonesa. Sem falar nas três piscinas, várias quadras esportivas, biblioteca e espaço quase infinito para crianças brincarem. Há programações diárias como caminhadas, passeio de bicicleta, hidroginástica, aula de danças, shows musicais...uma verdadeira terapia mental. Eu estava devendo um passeio desses à minha esposa que por conta de mudanças de empregos, já estava sem férias e sem viajar há dois anos. olhem aí algumas fotos. 


Réplica da Agora grega.


Pagado chinês (templo)


Refeitório


Réplica do Taj Mahal 


Réplica da Esfinge egípcia



Réplica das pirâmides do Egito.


Igreja histórica em São João da Barra


A turma toda (a sorridente da frente é minha esposa)


A turma toda 2 (Lá atrás minha irmã e meu cunhado)


Beira do rio Paraíba que corta a cidade de São João da Barra


Réplica do Taj Mahal


Dentro da réplica da Agora



Mandei um beijinho pra macaca. Acho que ela gamou. (Exposição de carnavais em São João)


Eu e Ela




Eu e o outro eu, fazendo exposição libidinosa em uma das praias de São João.



Um menino muito reflexivo, gosta de tirar fotos olhando pro nada.


Nós três


Ela.






Meus amores





Pra não perder o pique, uma corridinha ao som dos passarinhos...



Horas depois,  uma aulinha de hidroginástica. 



É isso aí.


Naquela Mesa (Crônica de Pai, Filho e Avô)

ANO PASSADO eu e meu filho conversávamos sobre o avô Diogo, meu pai. Como não teve uma relação muito extensa de neto-avô, já que meu pai fal...