Chegou aqui e se deparou com essa coisa de cobra parte 2? Então leia a primeira parte logo abaixo desta e vamos ao causo.
...Mamãe deu um gritinho "Ai, meu Deus, é uma cobra mesmo, e agora...?"
E agora reinava na cozinha aquele clima de terror. Papai não estava em casa pra matar a cobra porque matar cobra era com ele mesmo (depois conto mais sobre isso). Com o burburinho a bicha deu uma mexida, levantou a cabeça e deu uma olhada ao redor... Mais interjeições de medo da minha mãe, minha e dos meus irmãos menores. "Ela tá se mexendo, ela tá se mexendo...!!!" Naquela hora dei graças a Deus por cobra não voar...
Minha mãe fez a coisa mais óbvia: Foi chamar seu Zezinho, vizinho e companheiro de caçada do meu pai. Bateu à sua porta, Zezinho veio ver. "Seu Zezinho tem uma cobra no armário da minha cozinha, pode ir lá vê por favor", pediu aflita. Prontamente Zezinho vestiu uma camisa e veio ao nosso socorro.
"Ela está numa posição bem ruim", ponderou Zezinho ao analisar o cenário do problema. "Vai ser difícil matar sozinho, vou precisar de ajuda. Vou chamar Juvenal". Saiu e voltou não só com Juvenal, nosso outro vizinho mas com mais três homens que ouviram o caso e quiseram também ajudar.
Agora o cenário era esse: A cobra lá enrolada no armário; minha mãe, eu e meus irmãos bem afastados e cinco homens confabulando o melhor jeito de matar a bicha. Sim, naqueles tempos não tinha isso de "chamar o IBAMA nem bombeiros". O plano foi exposto por Zezinho: "Vamos pegar dois paus grandes. Um prende a cobra com um pau e o outro esmaga a cabeça dela com o outro". O plano foi aceito. Não foi difícil encontrar no nosso quintal dois paus grandes.
Juvenal com um pau, Zezinho com o outro. Os outros três ficariam na "comissão de apoio".
Lentamente os dois se aproximaram do armário. A bicha lá com a cabeça levantada querendo compreender o que estava rolando...Agradeci de novo a Deus de não ter dado asas a cobras... Não sei como, Juvenal conseguiu prender a cobra com o pau no fundo do armário. A bicha se revoltou com aquela agressão gratuita e começou a se mexer freneticamente. "Segura, Juvenal, segura firme, não larga, não larga!" gritou Zezinho que na mesma hora começou a espetar o pau na cabeça da bicha.
Foi uma batalha épica na visão do Eduardo menino. Ao final de não sei quanto tempo, enfim, a cobra estava morta; certamente morreu não entendendo aquela falta de hospitalidade...Eu cá, idólatra que era do meu pai, falei para os vizinhos: "Se meu pai tivesse aqui tinha matado a cobra mais rápido..." os homens riram e minha mão me deu um beslicão pela minha falta de reconhecimento do trabalho dos vizinhos.
Cobra morta, cobra tirada do armário, cobra levada não sei pra onde. E aí Zezinho vem com uma informação que voltou a deixar todo mundo tenso: "Vizinha, toma cuidado. Esse tipo de cobra sempre anda em duas, a companheira dela deve estar por aí". Pronto, minha mãe quase teve outro colapso. Junto com Zezinho e os outros vizinhos, foram revistar cada cantinho da casa para certificar que a outra cobra não estaria por lá. Depois de muito procura, Zezinho deu o ultimato: "fique tranquilo, dona Valda, aqui dentro ela não está mas amanhã quando Diogo chegar certamente deve procurar pelo quintal...".
Dormir naquela noite foi tenso. Acho que sonhei com cobras voadoras...E a outra cobra? Bom, esse vai ser um causo para outro dia, como eu disse, minha família tem uma relação tensa com cobras.