Clube de Detetives Pão de Queijo

sexta-feira, 3 de maio de 2024

OLHAR O TEMPO

 



DORA


Tinha a mania de olhar o mundo, de olhar o tempo enquanto estava sendo conduzido pelo tempo. Desde muito jovem evitava se abrir muito para o mundo. O mundo lhe causava certa apreensão. Não sabia porquê estava no mundo e nem sabia porquê deveria estar no mundo e nem sabia qual sua função no mundo. Um passageiro observador do tempo. Quando jovem gostava dos livros, das revistas e evitava as festas. Tinha poucos amigos mas até estes o viam como um "cara meio esquisito". Havia nele, porém, algo que atraia. Talvez seu rosto contemplativo de quem está sempre "olhando para cima" ou talvez seu falar manso que contrastava com a algazarra vocal dos poucos amigos. Mais velho apaixonou-se por Dora. Dora era como uma estrela, pensava ele. Brilhante, atraente mas distante...muito distante. Não tinha jeito com mulheres mas Dora tinha curiosidade de tecer conversas com aquele rapaz tão diferente que ela conhecera em uma livraria. Era até bonito, pensava ela. Dizem que o acaso não existe,  o que existe é "sincronicidade". E foi em uma dessas tais sincronicidades que a vida do Observador do Tempo mudou totalmente de rumo.

continua. 

domingo, 28 de abril de 2024

Olha a Cobra! parte 2






Chegou aqui e se deparou com essa coisa de cobra parte 2? Então leia a primeira parte logo abaixo desta e vamos ao causo.


...Mamãe deu um gritinho "Ai, meu Deus, é uma cobra mesmo, e agora...?"


E agora reinava na cozinha aquele clima de terror. Papai não estava em casa pra matar a cobra porque matar cobra era com ele mesmo (depois conto mais sobre isso). Com o burburinho a bicha deu uma mexida, levantou a cabeça e deu uma olhada ao redor... Mais interjeições de medo da minha mãe, minha e dos meus irmãos menores. "Ela tá se mexendo, ela tá se mexendo...!!!" Naquela hora dei graças a Deus por cobra não voar...

Minha mãe fez a coisa mais óbvia: Foi chamar seu Zezinho, vizinho e companheiro de caçada do meu pai. Bateu à sua porta, Zezinho veio ver. "Seu Zezinho tem uma cobra no armário da minha cozinha, pode ir lá vê por favor", pediu aflita. Prontamente Zezinho vestiu uma camisa e veio ao nosso socorro.

"Ela está numa posição bem ruim", ponderou Zezinho ao analisar o cenário do problema. "Vai ser difícil matar sozinho, vou precisar de ajuda. Vou chamar Juvenal". Saiu e voltou não só com Juvenal, nosso outro vizinho mas com mais três homens que ouviram o caso e quiseram também ajudar.

Agora o cenário era esse: A cobra lá enrolada no armário; minha mãe, eu e meus irmãos bem afastados e cinco homens confabulando o melhor jeito de matar a bicha. Sim, naqueles tempos não tinha isso de "chamar o IBAMA nem bombeiros". O plano foi exposto por Zezinho: "Vamos pegar dois paus grandes. Um prende a cobra com um pau e o outro esmaga a cabeça dela com o outro". O plano foi aceito. Não foi difícil encontrar no nosso quintal dois paus grandes.

Juvenal com um pau, Zezinho com o outro. Os outros três ficariam na "comissão de apoio".

Lentamente os dois se aproximaram do armário. A bicha lá com a cabeça levantada querendo compreender  o que estava rolando...Agradeci de novo a Deus de não ter dado asas a cobras... Não sei como, Juvenal conseguiu prender a cobra com o pau no fundo do armário. A bicha se revoltou com aquela agressão gratuita e começou a se mexer freneticamente. "Segura, Juvenal, segura firme, não larga, não larga!" gritou Zezinho que na mesma hora começou a espetar o pau na cabeça da bicha. 

Foi uma batalha épica na visão do Eduardo menino. Ao final de não sei quanto tempo, enfim, a cobra estava morta; certamente morreu não entendendo aquela  falta de hospitalidade...Eu cá, idólatra que era do meu pai, falei para os vizinhos: "Se meu pai tivesse aqui tinha matado a cobra mais rápido..." os homens riram e minha mão me deu um beslicão pela minha falta de reconhecimento do trabalho dos vizinhos.

Cobra morta, cobra tirada do armário, cobra levada não sei pra onde. E aí Zezinho vem com uma informação que voltou a deixar todo mundo tenso: "Vizinha, toma cuidado. Esse tipo de cobra sempre anda em duas, a companheira dela deve estar por aí". Pronto, minha mãe quase teve outro colapso. Junto com Zezinho e os outros vizinhos, foram revistar cada cantinho da casa para certificar que a outra cobra não estaria por lá. Depois de muito procura, Zezinho deu o ultimato: "fique tranquilo, dona Valda, aqui dentro ela não está mas amanhã quando Diogo chegar certamente deve procurar pelo quintal...".

Dormir naquela noite foi tenso. Acho que sonhei com cobras voadoras...E a outra cobra? Bom, esse vai ser um causo para outro dia, como eu disse, minha família tem uma relação tensa com cobras.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

OLHA A COBRA!

 



Desde pequeno tenho uma relação não desejada com cobras. A primeira que me deixou abalado foi a "serpente do paraíso" quando eu lia o Gênesis aos 11 anos de idade. Estava tudo tão perfeito lá no jardim que Deus tinha plantado mas...tinha que ter um serpente astuta pra (piiiiiiii) f*der com tudo. 

Morávamos em Angra dos Reis(RJ) no início dos anos 70. Uma casa grande mas velha que quando chovia a cozinha virava uma piscina. Meu pai, tadinho, tantas vezes subiu no telhado pra consertar as telhas  mas as goteiras sempre voltavam. Era começar a chover e lá ia minha mãe espalhar panelas pelo chão.  

O bom era que meu quintal dava para uma grande floresta. Era  sair pelos fundos da casa, subir por espécie de porão e chegar no meio da mata. Brinquei muito de Tarzan...Meu pai, que gostava de caçar, tinha na floresta um lugar perfeito. Estava sempre se embrenhando pela mata nas madrugadas junto com o vizinho também caçador. Tanto que quando criança eu comi coisas que as crianças de hoje nem sabe o que são: Tatu, paca, lagarto, gavião, gambá...é, gambá era prato especial lá em casa quando meu pai trazia um. Aliás, certo dia ele matou uma gambá que estava pra parir. Foi meio traumático ver os gambazinhos mortos.

Mas deixa eu voltar para o eixo: cobras. Por morar à beira de uma floresta, cobras eram bichos corriqueiros lá em casa. Muitas desciam do morro e iam passear lá em casa. 

Uma noite quente de verão, estávamos eu, minha mãe e meus dois irmãos em casa jantando. Meu pai, que era militar, estava trabalhando nesse dia (aliás, meu pai sim tem um histórico com cobras nível hard, depois eu conto).

Alguém deixou cair suco na mesa e minha mãe pediu: "Eduardo, pega aquele pano que está em cima da prateleira no armário".  Era um armário de parede e eu, pequeno, tinha que subir em uma cadeira para alcançar o tal pano. Fiz como minha mãe pediu. Mesmo em cima da cadeira, precisei esticar o pescoço para ver o pano e meti a mão pra pegá-lo.

Toquei uma coisa macia e esticando o pescoço, vi não o pano...mas uma cobra toda enrolada no cantinho do armário.

O susto me fez dar um pinote da cadeira e já cai no chão meio pálido e gritando: "Mãe, é uma cobra, uma cobra, não é pano não!!!!" 

Minha mãe, que era um poço de nervoso me olhou incrédula. "Menino, o que foi isso"? "Tô falando, mãe, é uma cobra!!"

Ainda sem acreditar, ela foi chegando devagarinho perto do armário para olhar melhor. Aí a bichinha levantou a cabeça e disse: "Achô, sou eu mesmo...."

Mamãe deu um gritinho "Ai, meu Deus, é uma cobra mesmo, e agora...?"

Bem, o que se seguiu foi um pandemônio que eu escrevo na próxima crônica. 



OLHAR O TEMPO

  DORA Tinha a mania de olhar o mundo , de olhar o tempo enquanto estava sendo conduzido pelo tempo. Desde muito jovem evitava se abrir muit...