Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 23 de abril de 2025

A Arte Pode Salvar

 



EU ACREDITO MESMO nessa frase, de que a arte pode salvar. Quem faz arte não tem tempo pra fazer arte, se é que você me entende. A banda materna da minha família é toda mergulhada na música. Meu avô era compositor e maestro. Compôs a que até hoje é considerada a música que mais representa a cidade de Natal, RN(conto esse caso depois). 

Todos meus tios, incluindo minha mãe, eram envolvidos com música. Um tio, Vivaldo Medeiros, tinha um estúdio aqui no Rio onde ensinava violão clássico, popular e cavaquinho. Acompanhou  muitos cantores, apareceu até em filme da velha Atlântida. Quando menino, contava minha mãe, solou o Hino Nacional no cavaquinho diante da escola toda formada. 

Minha mãe Valda cantava muito bem, muito afinada. Como era evangélica, só cantava na igreja. Teve uma época que meu pai cogitou levá-la a uma gravadora cristã. Ela declinou e agradeceu. Era extremamente humilde e dizia que não saberia se portar na igreja tendo um disco gravado. Uma prima minha, filha da minha tia Valdenise, esta sim, chegou a gravar um disco por uma conhecida gravadora cristã aqui do Rio, a MK Publicitá. Porém, a prima Elisabethe sofria do mesmo problema da minha mãe: muito humilde e sem nenhuma pretensão para ser artista contratada. Foi dispensada pela gravadora depois do primeiro disco gravado  porque lhe faltava-lhe o glamour...hoje, continua cantando nas igrejas mas sem vínculo artístico com nenhuma gravadora. A arte verdadeira deve ser livre...

Minha mãe, além da música, gostava muito de literatura. Escrevia muito bem e lia de forma ávida tudo  o que podia, até bula de remédio e classificados de jornal e só tendo cursado a antiga quarta série que talvez hoje, pela decadência do nosso ensino, deva se igualar à nona série do Ensino Fundamental...O livro que mais lia era a Bíblia. Se não me falha a memória, leu a Bíblia toda 12 vezes.  Herdei dela o gosto pela leitura, escrita e pela música. Aos 13 anos eu tinha uma obsessão: aprender a tocar violão. Na ausência do instrumento em casa, fiz umas gambiarras para aprender as posições das notas no braço do violão, mas isso eu conto outro dia. Na falta do violão, me embrenhei nos livros, gibis, na escrita de histórias em cadernos e nos desenhos de histórias em quadrinhos que eu fazia em papel de pão (uma folha grande, ótima para desenhar onde as padarias da época embrulhavam os pães). Minha mãe era a minha única e entusiasmada leitora.

A ARTE PODE SALVAR! Ao dizer isso, fico lembrando de todos os trabalhos socias que muitos grupos fazem em comunidades carentes levando música, teatro e literatura para o povo. Enquanto o menino está aprendendo a tocar um instrumento, enquanto estiver com um livro na mão, enquanto estiver envolvido em qualquer outra arte, a sedução do banditismo que está ali, tão perto dele, será menor. Nos anos 90, tive um grupo de teatro amador e fazíamos apresentações em igrejas, escolas e  também ações sociais e festivais culturais. Via como a arte seduzia os jovens.

Que nossas escolas ensinem português e matemática mas busquem também, inundar a cabeça da garotada com arte. E toda arte vale a pena. (menos a arte progressista pós moderna...).  


Vivaldo Medeiros. Fobó na Roça . 1956


canal youtube: https://www.youtube.com/watch?v=jLIumhK-_24


A PRIMA BETH gravou esse disco gospel no começo dos anos 2000. Não consegui extrair nenhuma música, por isso vou deixar pra quem quiser ouvir um pouquinho, o link no youtube:  https://www.youtube.com/watch?v=d7ipi9SQsso




AH, JÁ IA ESQUECENDO....o baneer que ilustra o texto, lá no início, eu criei para um dos meus antigos blogues, e ele ilustrava bem os meus interesses: cultura e arte.

AH, E QUEM SABE, um dia posto eu dando um tostão da minha voz ao som do meu violão para vocês...(sim, porque pagar mico também é uma arte)


* * * * * *




sábado, 19 de abril de 2025

Vai, Nazareno

 

HÁ MUITO ESCREVI um poema sobre Jesus e a páscoa cristã que se perdeu na multidão de meus arquivos digitais. Sei que tinha publicado no Face mas achar uma postagem de tanto tempo por lá é uma "Via-Crúsis"... Então, decidi rememorar e reescrever o poema. Era como se fosse a ressureição do poema...ideia bem propícia à época. 

Ficou assim: 


Vai, Nazareno

Olha esse povo como te segue

Como ovelhas desgarradas

Em busca de um pastor


Vai, Nazareno

Proclama  palavras de esperança

Fala outra vez de um novo reino

Que está prestes a chegar

Fala com o  Samaritano

Fala com o romano

Fala com o fariseu 

Fala até comigo,

Um pobre ateu


Vai, Nazareno

vai cumprir tua sina

vai de peito aberto

potestades não te calarão


Vai, Nazareno

Tua manjedoura foi pobre mas  alegre, 

Teve bichos e magos e estrela no céu

Mas teu derradeiro ato, Nazareno, 

Será de sofrimento, angústia, dúvidas e fel


Vai, Nazareno 

Cumprir tua sina

Vai nos ensinar o que é ter coragem, 

O que é superar dor e aflição 

E de peito aberto, dizer "missão cumprida"

Render teu espírito

Para que nasça a ressurreição.



Eduardo Medeiros,

Páscoa de 2025

* * * * * * *

Não sei se consegui captar a essência do original mas tá aí.

E só pra esclarecer quanto ao "pobre ateu", não me considero como tal

mas certamente minha forma de entender Deus para os cristãos devotos

seria uma forma de ateísmo.


Tudo bem, tudo certo, ficou como frase de efeito

Considero-me um cristão do meu jeito.


* * * * * * * 

Pra completar a obra,

pedi para a compositora IA Suno

colocar uma música no poema. 


FICOU ASSIM.




terça-feira, 15 de abril de 2025

Procópio, o Retardatário

 


ERA TÃO SEM PRESA, MAS TANTO, TANTO, que levou mais de vinte e quatro horas para nascer. Ficava no vai não vai ou vem não vem. A mãe já  prostrada, exausta, sem forças para fazer força quando a médica lhe dizia "Forçaaaaaa!!!" Quando a médica já ponderava fazer uma cesária pra arrancar o menino lá de dentro,  depois de muitos "Aiiinn", "Ughhhh", "Sai, seu filho da puta..." berrados pela mãe, viram que por baixo ele não sairia mesmo, confirmando as ponderações da médica. "Ele subiu, o danadinho tá se escondendo.." disse a médica à uma enfermeira. Cesária feita, eis que ele vem ao mundo contrariado. Levou 5 minutos para chorar. De raiva. 

Aos 5 anos ele perguntou ao pai:

- Pai, porque meu nome é Procópio? 

- Procópio era o nome do seu bisavô, um importante empresário do ramo de calçados, seu nome é uma homenagem a ele. Sem falar que Procópio também era o nome de um grande ator brasileiro, o Procópio Ferreira...

-Mas pai, meus colegas de escola se  chamam Lucas, Ricardo, Maria... 

- Nomes comuns, meu filho, seu nome é especial. Um nome forte: Pro-có-pio!

Ficou pensando que quando fizesse 18 mudaria seu nome para Enzo.

Procópio apesar de lerdo, era inteligente, foi o primeiro da classe em todo o Ensino Fundamental, o que era extraordinário, já que nunca estudava e sempre chegava atrasado nas aulas. 

- Procópio, onde você estava? A aula já começou faz vinte minutos!

- Eu esqueci que tinha aula agora, professora. 

- Mas como assim, esqueceu? Onde você estava? É proibido ficar no pátio depois do recreio!

- Eu estava trancado no banheiro, professora, estava pensando como a vida é corrida...! 

- E ontem, você chegou com meia hora de atraso. 

- Vi um gato dormindo em cima  de uma moto e fiquei olhando para ele...

Gatos eram animais inteligentes. Calmos. Dormiam muito e não tinham presa pra nada, a não ser para subir no telhado pra pegar gatas. Não faziam festas estripuliosas quando viam o dono chegar como os cachorros, bichos estressados e agitados que babam com a língua pra fora. Ponderou que a melhor vida a ser vivida era a vida de um gato. Os cachorros pensam que os donos são deuses pois lhe dão abrigo, comida e carinho. Gatos não, gatos pensam que eles são os deuses, já que não fazem nada e os donos lhe dão abrigo, comida e carinho...

Recado da professa para os pais que ele entregou à mãe com uma cara de fastio: "O Procópio, apesar de ser um bom aluno, é muito displicente, está sempre se atrasando, se desliga da realidade, seria bom levá-lo a um psicólogo". A mãe nem comentou com o pai, e mandou outro recado para a professora dizendo que o filho não tinha nenhum problema, que só era um pouco desligado e desacelerado. Era um menino zen, que vibrava em uma frequência diferente do resto das pessoas apressadinhas e estressadas.

No Exército, ficou vários dias detidos por deixar de cumprir ordens do sargento. "Depois eu faço, Sargento, tem que ser agora...?" No dia do juramento à bandeira, depois de cumprir seu serviço militar obrigatório, acordou já eram sete da manhã e todos os demais soldados já estavam fardados prontos para a cerimônia. O sargento responsável pelo seu pelotão relevava a lerdeza de Procópio pois admirava como ele aprendia tudo muito rápido. Na aula de desmontar e montar um fuzil foi capaz de repetir o passo a passo sem errar nada, enquanto os demais se enrolavam sem saber onde enfiava cada peça. Aquela dicotomia entre a rapidez de aprendizado e lerdeza de ação era um causo interessante. 

Procópio tinha abandonado os estudos depois do Ensino Médio porque achava tudo chato. "Mas não vai cursar uma faculdade? O que quer fazer da vida"? perguntava o pai. Ele só ficava olhando o pai de forma serena e tranquila e depois de um tempo pensando, dizia que iria resolver depois, só precisava de um tempo maior, porque tinha que resolver aos 22 anos o que iria fazer da vida? O pai replicava que na idade dele já pegava no batente ao lado do avô na loja de sapatos da família. 

Vender sapato é tão chato, pensava Procópio observando uma fila de formigas que subia pela parede da cozinha. 


* * *

E nem te conto agora como Procópio resolveu ser marceneiro e o que aconteceu no dia do seu casamento.




A Arte Pode Salvar

  EU ACREDITO MESMO nessa frase, de que a arte pode salvar. Quem faz arte não tem tempo pra fazer arte , se é que você me entende. A banda ...