A Montanha Mágica, de Thomas Mann é um grande livro (tanto em tamanho quanto em conteúdo) e é uma das principais obras da literatura alemã do século XX. Nele se misturam filosofia, medicina, política e espiritualidade. O protagonista, Hans Castorp, jovem engenheiro alemão visita seu primo em um sanatório para tuberculosos nos Alpes suiços. Castorp pretendia uma visita de três semanas, mas acaba ficando sete anos no sanatório à medida que é diagnosticado com sintomas da doença, o que leva Castorp a se lançar em uma jornada de autoconhecimento.
Em um dos trechos, um personagem diz:
"Com efeito a mossa morte é assunto dos sobreviventes mais do que de nós próprios. Quer a conheçamos, quer não, conserva pleno valor para a alma aquela sentença de um sábio espirituoso que reza: enquanto existimos, não existe a morte e se ela existe, nós já deixamos de existir; por conseguinte, não há entre nós e a morte nenhuma relação real, e ela é uma coisa que para nós absolutamente não tem interesse e que, quando muito, afeta ao mundo e à natureza, motivo porque todas as criaturas a contemplam com grande calma, com indiferença, com certa ingenuidade egoísta, e sem assumir responsabilidades..."
Isso parece racional, certo, lógico. Porém, porque durante toda nossa vida, jamais conseguimos aceitar tal lógica facilmente?
Por que vemos a morte como perda se nela estando, já não podemos ver que perdemos alguma coisa?
A grande benção e a grande maldição do ser humano é a consciência de estar vivo no mundo e a consciência que um dia ele já não estará.
Mas se não há consciência no "não-estar", então por quê?
Por que isso de forma alguma consegue chegar à nossa razão?
Creio que há poucos sábios que possam pensar como o sábio citado no trecho do livro.
Talvez por isso criamos a ideia de uma "vida após a morte"? Porque queremos ter consciência de que morremos mas ainda estamos vivos em outro plano seja ele qual for?
A verdade é que a nossa razão não consegue se conformar com a não existência, e esse é o fardo que temos que carregar por termos consciência de estarmos no mundo de forma provisória.
* * * * * * * *
Em 2016 eu escrevi um poema que tinha estes versos finais:
ResponderExcluir“Sendo criados à Vossa imagem e semelhança,
Estamos mais distantes de Ti que o boi e o leão,
Pois eles não sabem a terrível verdade que sabemos,
(e Vós deixastes que soubéssemos!)
Que todos - homem, boi, leão -, morreremos um dia.
Tenho medo, Senhor,
Tenho muito medo”.