Clube de Detetives Pão de Queijo

sábado, 6 de setembro de 2025

A LEI DE MURPHY

 





A FAMOSA LEI DE MURPHY é realista, mas chata: Se algo pode dar errado, vai dar errado. A frase é atribuída a um engenheiro aeroespacial americano, Edward A. Murphy na década de 1940. A frase surgiu num contexto técnico, mas de tão boa que era, ganhou fama como forma cômica de encarar certas situações da vida. A ideia parece certa: diante de várias possibilidades, o pior cenário tende a acontecer - especialmente de alguma coisa que é deixada ao acaso ou mal planejado.

Acredito que todo mundo já sentiu na pele a Lei de Murphy atuando. O pão que sempre cai com o lado da manteiga pra baixo, o semáfora ficando vermelho no exato momento que você está com mais presa, etc. Não vou dizer que a famigerada lei seja sempre verdadeira. Acontece de coisas que tem tudo para dar errado, dar certo. Mas dizem que toda regra tem exceções...


                                                                      * * * * 


O ANO ERA 2020. PANDEMIA GLOBAL. Você perdeu parentes ou amigos para o COVID? Muita gente perdeu. Minha esposa perdeu um amigo de longa data, mas diante da perda de parentes e amigos, o que perdemos nada vale, nada representa. 

Como minha esposa estava trabalhando, resolvemos dormir separados para proteger tanto o  Eduardinho quanto a mim. Se alguém tivesse que pegar o tal vírus que fosse só um de nós dois. Ela passou a dormir no quarto do Eduardinho e ele passou a dormir comigo. Foram tempos muito difíceis, especialmente com o lockdown, mas ficar totalmente em casa foi impossível. 

Naquele dia fomos dormir cedo, o que não era muito comum, já que eu costumo dormir mais tarde. Minha esposa no quarto que fica no final do corredor da casa, eu e Edu no quarto que fica mais próximo da sala. 

Lá pelas tantas, abri os olhos sentindo um certo incômodo que levei alguns segundos para entender de onde vinha. Era um calor...porque está tão quente? Foi quando vi fumaça entrando pelo quarto, pois dormimos de porta aberta. Depois de uns segundos, entendi o que estava acontecendo. Fogo! Tinha alguma coisa pegando fogo na sala! 


                                                                          * * * * 


Dei um pulo da cama e não via nada. A fumaça tomava conta de tudo. Tentei ligar a luz mas ela não acendeu. Acordei o Edu, abri a janela que tinha grades, mandei ele ficar com o rosto na janela. Ele sonolento, acordou no susto sem entender nada. Se até eu não estava entendo bem...

Saí pela porta do quarto e a sala estava em chamas. Labaredas grandes saiam do canto da sala, próximo à parede lateral. Fui correndo para o fim do corredor envolto em fumaça e acordei minha esposa. "Levanta que a casa está pegando fogo!". 

Como se acorda com uma notícia dessas? Até você captar a mensagem leva alguns segundos. Minha esposa apanhou o seu celular que estava ao lado da cama e juntos voltamos pelo corredor. Minha esposa entrou no nosso quarto e pegou Eduardinho que não estava entendendo nada e bastante assustado.

Passei ao lado das chamas tentando encontrar as chaves que sempre ficavam em uma mesinha ao lado da porta. Chamei os dois e os coloquei na minha frente, abrindo as partas de cima e de baixo da porta de ferro para que entrasse mais ar puro enquanto tateava tentando encontrar as chaves. 

Como o rebaixamento do teto era de PCV, todo ele estava derretendo e caindo sobre nós. Protegi os dois como pude já sentindo pedaços de PVC queimados nas costas. Meu vizinho da frente (Ronaldo, aquele do som alto de que falei na crônica anterior) tinha acordado e da sua janela viu fumaça saído da nossa casa. Gritei pra ele que nossa casa estava pegando fogo.


                                                                    * * * * 

Enfim, encontrei as chaves. Abri a porta e conseguimos sair e descer as escadas. Moro no segundo andar de um sobrado. Ronaldo, já estava no meu portão tentando entrar para ajudar. Abri o portão e ele, muito prestativo, foi ver como estava o cenário do incêndio. Lá fora, tossíamos um pouco e eu só me preocupava em ver se minha esposa e meu filho estavam bem, se não estavam queimados. 

Voltei correndo para chamar minha sogra e o avô da minha esposa que moravam no primeiro andar. Assustados, sem entender  o que acontecia, puxei os dois pra fora de casa. O avô da minha esposa já tinha 98 anos e como era bem magrinho, eu o peguei no colo e o levei pra fora com minha sogra vindo atrás. Minha esposa chamava a mãe pra sair de casa rápido, já que parecia que ela ainda não estava entendendo o que acontecia.

Isso já eram 5 horas da manhã. Os vizinhos de um  lado e do outro também chegaram esticando suas mangueiras para tentar aplacar o fogo. Telefonamos para os bombeiros. 

Como estava impossível entrar pela porta da frente, Ronaldo tal qual um ninja, subiu no muro muito rápido e tentava arrombar a janela do meu quarto. Voltei pra dentro do quintal e ajudei Ronaldo a subir em uma escada e ele arrombou a janela do meu quarto e pulou lá dentro e fechou a porta no intuito de isolar o incêndio na sala. Antes ele tentou fechar todas as portas mas não conseguiu, a fumaça era muita e a quentura também. Mas ele fechou a porta do meu quarto, o que acabou salvando nosso guarda-roupas.

Percebem porquê não dou a mínima para a altura em que ele ouve música...?


Depois de uns 20 minutos chegaram os bombeiros. Entraram na casa e rapidamente debelaram o fogo.

Ronaldo nos levou pra sua casa para abaixar a adrenalina. Horas depois voltamos para ver o estrago que vocês podem ver na filmagem.

O fogo ficou restrito à sala, porém, o calor das chamas foi derretendo tudo ao longo da casa. Os móveis da sala viraram pó. O pequeno quarto que eu faço de biblioteca ficou um caos de livros e prateleiras caídos no chão, pretos de fuligem e molhados pela ação dos bombeiros.

Os únicos móveis que ficaram em pé foram exatamente os do meu quarto. Tínhamos perdido praticamente tudo dentro de casa, mas nós estávamos bem. Passamos por avaliação médica e a fumaça que respiramos não chegou a queimar nossos pulmões. TOMA, LEI DE MURPHY!!!!


                                                                   * * * * 

Meus vizinhos foram todos muito solícitos. O vizinho da frente que estava com a casa fechada para ser vendida, quando soube do acontecido nos ofereceu a casa pra ficarmos lá o tempo que precisássemos. Ficamos 2 meses e mais uma vez a lei de Murphy foi contrariada. Um dos meus cunhado conhecia alguém que conhecia alguém que prestava serviços solidários nas horas vagas  para pessoas que precisavam de reformas em casa. 

Apareceu lá em casa pedreiro, pintor, eletricista. Recebemos várias doações de móveis de pessoas que eu nunca tinha visto. Meus cunhados também vieram para ajudar na limpeza. No quintal, formou-se um monturo enorme dos restos mortais dos meus móveis. Dois meses depois, a casa estava novinha em folha.

Tudo sem desespero, sem chororô, sem lamentar perdas materiais. Tudo o que foi, voltou. E ainda tivemos o bom humor para fazer piada: Com toda certeza, a casa estava totalmente livre de qualquer vírus. 






P.S. O causador do incêndio foi o estouro de um carregador que eu tinha esquecido ligado, carregando meu celular. Nunca façam isso. Não deixem celulares carregando no seu quarto ou em qualquer outro lugar da casa enquanto vocês dormem. 



2 comentários:

  1. Bah,quanta tragédia, mas ao final, ainda bem que tudo acabou bem e esses teus vizinhos valem ouro!
    ] São amigos de verdade! Isso não tem preço! Se as músicas forem muito altas, vale comprar um abafador de som, mas não reclamar deles!
    abraços praianos, chica

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  2. Lembro-me de você ter mencionado em um comentário ou postagem, já não me lembro, e ler agora o seu relato em palavras e ver o livro, é mesmo de arrepiar. Que bom que ninguém se feriu e vale demais o seu recado, que já vou novamente ressaltar para meus filhos - não durmam com celular carregando.
    Ah e mais do que justificado você não reclamar da música alta do vizinho!
    Abraço!

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