EM 1980, o compositor, escritor, produtor, roteirista, jornalista, etc, Nelson Motta, criou a casa de show "Noites Cariocas" que ficava localizado no alto do Morro da Urca no Rio de Janeiro. Aquele que pra chegar ao topo tem que ir de bondinho (ou por trilha se você tiver espírito aventureiro. Fiz uma vez a trilha mas subir de bondinho é melhor...). Antes, a casa tinha sido a badalada Dancin' Days, também aberta por Motta em 1976, antecipando a moda das discotecas que foi impulsionado pelo filme Embalos de Sábado à Noite, de John Badham de 1978 e que tinha John Travolta como protagonista. Lá também foi o palco que viu nascer o grupo musical feminino As Frenéticas que eram um furacão de ousadia e músicas dançantes. "Abra suas asas, solte suas feras, caia na gandaia, entre nesta festa..." A música, composta também por Nelson Motta e Ruben Barra se tornou tema da abertura da novela Dancin' Days de Gilberto Braga na Globo.
Pela Noites Cariocas passaram várias cantores, cantoras e bandas que tiveram vida longa como Gang 90, Blitz, Lulu Santos, Ritchie, Lobão, Barão Vermelho...Numa das noites, a casa tinha preparado uma surpresa para o público - na maior parte de jovens que queriam namorar, curtir o visual e pular ao som da chamada "Música Prapular Brasileira".
A surpresa daquela noite era o rei do funk e soul, TIM MAIA. Porém, o tempo passava e nada de Tim chegar. É sabido que Tim ganhou a fama de não comparecer a seus próprios shows. Ele tinha concordado em cantar no Noites Cariocas depois de muita insistência. A lotação estava esgotada, cheias de VIPs, roqueiros, pessoal da MPB e sambistas.
Já passava da meia-noite e nada de Tim chegar. Ainda estava em casa, na Gávea, e por telefone disse que só sairia de casa se recebesse seu cachê em dinheiro vivo - não confiava em cheques - o produtor Duda catou todo o dinheiro da bilheteria e partiu para a casa de Tim. Foi recebido por ele de calção e chinelo. Convidou Duda pra tomar um drinque, cheirar uma carreirinha e fumar um baseado. Tim confessou, contando o dinheiro e rindo, que morria de medo de andar de bondinho...bebeu e cheirou pra tomar coragem. Quando chegaram na Praia Vermelha, Tim olhou os bondinhos subindo e balançando suavemente e bradou:
"Não entro nessa porra de jeito nenhum. Só com anestesia geral".
Lá de cima, por telefone, Nelson tentou convencer o apavorado Tim a subir, pois os ânimos da plateia estavam exaltados. Em tom jovial, com aquele vozeirão, Tim falou para Nelson:
"Meu amigo Nelsomotta (a única pessoa que, apesar da intimidade, só chamava os amigos pelo nome completo), eu tenho uma ideia melhor: em vez de eu subir, você manda o pessoal aqui pra baixo e a gente faz o show na praça.."
Brincadeiras à parte, enfim, conseguiram enfiar Tim dentro de um bondinho. Subiu de olhos fechados e entrou no palco cantando "Vale Tudo". O show, claro, foi um grande sucesso.
* * * * * * **
As Frenéticas
Um pouco do Morro da Urca, Praia Vermelha e um panorama da Cidade Maravilhosa
(Canal de André Steiner. https://www.youtube.com/watch?v=aEmitWnMGlc)
Que legal, Edu. Sabia que já havia esquecido do Noites Cariocas e das histórias de Tim Maia? Nelson Mota ainda deve ter muitas histórias que nunca tomaram letra de forma para contar... E você também como um bom carioca!
ResponderExcluirUm abração!
As Frenéticas se separaram, o Noites Cariocas fechou, o Tim morreu, mas o Rio de Janeiro continua lindo. Ô cidade bonita!
ResponderExcluirEstão na história e o Rio continua sendo palcos de boas histórias.
ExcluirBons tempos, lindas lembranças e fiquei imaginando o Tim Maia dentro do bondinho,rs...Hilário! abraços, chica
ResponderExcluirDeliciosa crônica! Eduardo nos leva com leveza e bom humor a um tempo em que a música tinha alma, e Tim Maia, com seus medos e excessos, era puro espetáculo até antes de subir ao palco.
ResponderExcluirAbraço!
Fernanda
Eu esbarrei com Nelson Motta certa vez no Circo Voador, ele parecia o Fidel Castro, mas o charuto dele era estilo Bob Marley. rsrsrsrs
ResponderExcluirSPOILER ALERT! 😺
Nova tirinha publicada.
Abraços 🐾 Garfield Tirinhas.
Obrigada por dar a conhecer 👏👏👏😘
ResponderExcluirOlá Eduardo Medeiros
ResponderExcluirInteressante história. Fazia tempo que não lia a respeito de Nelson Motta. Quanto ao Tim Maia, gosto de algumas canções, mas nunca gostei do temperamento dele. Assisti ao filme de sua vida, e não me enganei.
Gostei da crônica.
Boa semana.
Não sabia desse lance do Tim Maia e as drogas, mas não me surpreendo. Os artista em geral fumavam, bebiam e usavam muita coisa. Hoje em dia querem que sejam exemplos de virtude. Nunca foram. Quando você expôs a fala dele, de querer o dinheiro vivo, fiquei pensando em quantos artistas já não acabarm levando calotes que nem puderam falar. Dizem que isso acontecia muito, e eu acredito.
ResponderExcluirQue delícia de leitura! Uma verdadeira viagem à alma boêmia do Rio dos anos 80, com sua irreverência, seu talento pulsante e essa galeria de personagens tão autênticos. Adorei saber dos bastidores do “Noites Cariocas” e desse episódio hilário com o genial e imprevisível Tim Maia. Daria um filme por si só! Obrigada por resgatares com tanto detalhe e bom humor esse momento inesquecível da nossa cultura.
ResponderExcluirCom carinho,
Daniela Silva
🌿 https://alma-leveblog.blogspot.com
Convido-te a visitar o blog para mais histórias cheias de alma e memória!
Desconheço essas noites cariocas, mas gostei muito do seu jeito de falar delas. Obrigada.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Uma viagem agradável às noites cariocas, que nunca vi mas imaginei enquanto lia o seu texto. Pensei que não conhecia o Tim Maia e as Frenéticas, mas vi que já tinha ouvido as músicas que colocou neste post.
ResponderExcluirBoa semana caro amigo.
Um abraço.
Não conhecia, mas gostei de acompanhar!
ResponderExcluirBjxxx,
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Artistas incríveis e que marcaram gerações. Gostei de acompanhar.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Oi, Edu, sempre gostei do Tim Maia, mesmo com aquele temperamento difícil.
ResponderExcluirO máximo era a voz e suas canções! Um gênio musical!
Cantava fácil! Pena ter ido cedo, de uma parada respiratória.
Show de postagem.
Uma boa semana, saúde e paz.
Abraços daqui do Sul.
Olá, Eduardo
ResponderExcluirGostei muito do seu texto através do qual fiquei a conhecer muita da realidade artística desses anos, no Brasil.
Muito obrigada.
Abraço
Olinda
Olá, Edu, essa sua ótima crônica nos levou para um tempo dourado das músicas com a presença do grande Tim Maia, que nos deixou muito cedo, e nos fez muita falta.
ResponderExcluirO bom foi que revivemos um pouco esse tempo, pela sua crônica.
Uma boa semana, para a família.
Grande abraço.