EU JÁ ESCREVI AQUI sobre fobias. Medo de altura, de água, de avião, espaços públicos, de estar sendo observado por patos...pois é, existe fobia pra todo gosto e bolso, e todas elas possuem nomes requintadíssimos, todos com radicais gregos...Falando neles, meu professor na oitava série deixou o conselho: "aprendam o máximo de radicais gregos pois vários termos científicos são formados por eles" .
Gostei da dica e passei um bom tempo colecionando em um caderno radicais gregos, achava-os todos chiques demais: Acro, areo, agogo, algia, antropo, arquia...etc, etc, etc. Todos usados em palavras que fazem parte do nosso vocabulário. Acrobata, aeronáutica, pedagogo, antropologia, nevralgia, monarquia...
MUSOFOBIA. Sabe o que é? Talvez alguns que me leiam tenham...lá na crônica sobre fobias falei da minha(quase) superação do medo de voar de avião mas não falei de uma outra fobia que tenho e nem sei qual foi a origem: fobia de ratos, a tal da "musofobia", no caso, de radical latino "mus", rato, camundongo; e do grego "fobia", "medo", "aversão".
SABE AQUELE chiado característico que os ratos emitem? Me arrepia todo...Sabe um rato atravessando o quintal? Só não dou um gritinho porque pega muito mal para a minha frágil masculinidade, mas eu corro pra longe. Você que tá aí rindo de mim, saiba que fobia é fobia! Cuidado para não ser um (lá vem neologismo) "fobiofóbico": Aquele que tem preconceito contra quem tem fobias...
Pois então, um belo dia me meti em uma situação que testou a nível hard a minha MUSOFOBIA. A tarde já ia longe, quase noite. Estava esparramado no sofá vendo alguma coisa na TV e a porta estava aberta, dias de calor. Quando de repente, pela visão periférica esquerda, percebi um RATO entrando na sala, com aqueles saltitos característico e indo direto para minha biblioteca!
Dei um pulo do sofá já arrepiado e não querendo acreditar na minha periférica visão. Tive a ombridade de muito lentamente me aproximar da porta da biblioteca e dar uma olhada e...LÁ ESTAVA O INVASOR SE METENDO ENTRE UM MONTE DE REVISTAS QUE FICAVA NA PRATELEIRA MAIS PERTO DO CHÃO.
Meu Jezuzinho-Maria-e-José-Padim-Ciço!!! (teria eu gritado se fosse católico corola das antigas).
MINHA biblioteca é um cômodo que eu fiz de ...biblioteca! Tinha prateleiras nas quatro paredes até o teto, todas cheios de livros. Na parte de baixo (onde o INDESEJADO INVASOR) se meteu ficava centenas de revistas empilhadas. Hoje ela está bem menor devido ao incêndio que teve aqui em casa há três anos (depois eu conto).
Minha esposa não estava em casa e meu filho estava no seu quarto. O QUE FAZER? tremer as pernas...? Suar frio...? Arrepiar....? A fobia não deixaria eu entrar lá e expulsar o rato. Precisava bolar um plano para resolver o acontecido. E o que eu fiz? Fechar a porta da biblioteca foi a primeira coisa. De lá pelo menos o rato não sairia para outros cômodos. Mas o que fazer depois?
EU TINHA DOIS CACHORROS: Benji e Pequeno. Dois Cocker spaniel caçadores de ratos. tracei o plano na hora! Corri no quintal, botei os dois pra dentro de casa e falei com eles: "Entrou um rato na biblioteca e vocês vão ter que caçá-lo, ok? Benji disse "Au"; Pequeno olhou para ele e confirmou "Au, Au". Bons meninos...!
Com muita sutileza, abri um pouco a porta da biblioteca e literalmente joguei os dois lá dentro e tranquei a porta. Gritei: "Vão, peguem o rato!"
Meu filho mete a cara na porta do quarto e pergunta: "Pai, o que tá acontecendo"? "Entrou um rato na biblioteca e o Benji e o Pequeno estão lá dentro pra caçá-lo". Meu filho me olhou meio incrédulo e se trancou no quarto. Medroso pra caramba!
Durante uns dez minutos tudo o que ouvi vindo da biblioteca foram onomatopéias do tipo "CRASH", "KABUM", "ZÁS"...
Eles estavam destruindo a minha biblioteca atrás do rato. Ah, meu livros....! Ah, minhas revistas...! Mas meu amor pelos livros não era maior que o meu medo de rato. Na vida tem momentos que precisamos fazer escolhas...
Depois de meia-hora nada estava resolvido pelo o que entendi. O rato continuava vivo. Cuidadosamente abri um frestinha da porta e vi Benji e Pequeno deitados, com um palmo de língua pra fora, cansados e certamente com muita sede, já que minha biblioteca não tem janelas e devia estar uns quarenta graus lá dentro.
"INCOMPETENTES!! Dois contra um rato e nada!! Deixaram o rato cagar na cara de vocês"? Isso eu gritava inconformado pela fresta da porta. Benji me olhou e disse "Auuuu"; Pequeno concordou "Aaauuumm". Os dois estavam cansados e com sede. Com cuidado, abri um pouco mais a porta e deixei eles saírem. Meu plano tinha sido um fracasso.
Quem me salvou foi meu cunhado que bateu no portão naquele momento. "Ó, cunha, foram os deuses que te mandaram aqui! Tem um rato na minha biblioteca, vai lá e mata ele, por favor!
Obviamente, depois de rir muito, me sacanear "um-homem-desses-com-medo-de-rato"...OLHA A FOBIOFOBIA!!!!
Ele adentrou na biblioteca e em uns dez minutos abriu a porta segurando o rato morto pelo rabo. Nem era tão grande...
Minha biblioteca estava como um cenário de filme catástrofe. Vários livros espalhados pelo chão, revistas rasgadas, objetos quebrados...Benji e Pequeno se esforçaram, não posso negar, mas o rato soube se esconder bem entre revistas, o que meu cunhado de fato, confirmou.
NÃO RIA DE MIM...eu sei que você está rindo!!! Você é um fobiofóbico!
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P.S
1 - a foto que ilustra o texto é de uma cena de Indiana Jones e sim, sempre me dá um certo asco quando revejo o filme.
2 - Esta é a minha biblioteca hoje.