Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 19 de junho de 2024

A INVASÃO




EU JÁ ESCREVI AQUI sobre fobias. Medo de altura, de água, de avião, espaços públicos, de estar sendo observado por patos...pois é, existe fobia pra todo gosto e bolso, e todas elas possuem nomes requintadíssimos, todos com radicais gregos...Falando neles, meu professor na oitava série deixou o conselho: "aprendam o máximo de radicais gregos pois vários termos científicos são formados por eles" .

Gostei da dica e passei um bom tempo colecionando em um caderno radicais gregos, achava-os todos chiques demais: Acro, areo, agogo, algia, antropo, arquia...etc, etc, etc. Todos usados em palavras que fazem parte do nosso vocabulário. Acrobata, aeronáutica, pedagogo, antropologia, nevralgia, monarquia...

MUSOFOBIA. Sabe o que é? Talvez alguns que me leiam tenham...lá na crônica sobre fobias falei da minha(quase) superação do medo de voar de avião mas não falei de uma outra fobia que tenho e nem sei qual foi a origem: fobia de ratos, a tal da "musofobia", no caso, de radical latino "mus", rato, camundongo; e do grego "fobia", "medo", "aversão". 

SABE AQUELE chiado característico que os ratos emitem? Me arrepia todo...Sabe um rato atravessando o quintal? Só não dou um gritinho porque pega muito mal para a minha frágil masculinidade, mas eu corro pra longe. Você que tá aí rindo de mim, saiba que fobia é fobia! Cuidado para não ser um (lá vem neologismo) "fobiofóbico": Aquele que tem preconceito contra quem tem fobias...

Pois então, um belo dia me meti em uma situação que testou a nível hard a minha MUSOFOBIA. A tarde já ia longe, quase noite. Estava esparramado no sofá vendo alguma coisa na TV e a porta estava aberta, dias de calor. Quando de repente, pela visão periférica esquerda, percebi um RATO entrando na sala, com aqueles saltitos característico e indo direto para minha biblioteca! 

Dei um pulo do sofá já arrepiado e não querendo acreditar na minha periférica visão. Tive a ombridade de muito lentamente me aproximar da porta da biblioteca e dar uma olhada e...LÁ ESTAVA O INVASOR SE METENDO ENTRE UM MONTE DE REVISTAS QUE FICAVA NA PRATELEIRA MAIS PERTO DO CHÃO.

Meu Jezuzinho-Maria-e-José-Padim-Ciço!!! (teria eu gritado se fosse católico corola das antigas).

MINHA  biblioteca é um cômodo que eu fiz de ...biblioteca! Tinha prateleiras nas quatro paredes até o teto, todas cheios de livros. Na parte de baixo (onde o INDESEJADO INVASOR) se meteu ficava centenas de revistas empilhadas. Hoje ela está bem menor devido ao incêndio que teve aqui em casa há três anos (depois eu conto). 

Minha esposa não estava em casa e meu filho estava no seu quarto. O QUE FAZER? tremer as pernas...? Suar frio...? Arrepiar....? A fobia não deixaria eu entrar lá e expulsar o rato. Precisava bolar um plano para resolver o acontecido. E o que eu fiz? Fechar a porta da biblioteca foi a primeira coisa. De lá pelo menos o rato não sairia para outros cômodos. Mas  o que fazer depois?

EU TINHA DOIS CACHORROS: Benji e Pequeno. Dois Cocker spaniel caçadores de ratos. tracei o plano na hora!  Corri no quintal, botei os dois pra dentro de casa e falei com eles: "Entrou um rato na biblioteca e vocês vão ter que caçá-lo, ok? Benji disse "Au";  Pequeno olhou para ele e confirmou "Au, Au". Bons meninos...!

Com muita sutileza, abri um pouco a porta da biblioteca e literalmente joguei os dois lá dentro e tranquei a porta. Gritei: "Vão, peguem o rato!"

Meu filho mete a cara na porta do quarto e pergunta: "Pai, o que tá acontecendo"? "Entrou um rato na biblioteca e o Benji e o Pequeno estão lá dentro pra caçá-lo". Meu filho me olhou meio incrédulo e se trancou no quarto. Medroso pra caramba!

Durante uns dez minutos tudo o que ouvi vindo da biblioteca foram onomatopéias do tipo "CRASH", "KABUM", "ZÁS"...

Eles estavam destruindo a minha biblioteca atrás do rato. Ah, meu livros....! Ah, minhas revistas...! Mas meu amor pelos livros não era maior que o meu medo de rato. Na vida tem momentos que precisamos fazer escolhas...

Depois de meia-hora nada estava resolvido pelo o que entendi. O rato continuava vivo. Cuidadosamente abri um frestinha da porta e vi Benji e Pequeno deitados, com um palmo de língua pra fora, cansados e certamente com muita sede, já que minha biblioteca não tem janelas e devia estar uns quarenta graus lá dentro. 

"INCOMPETENTES!! Dois contra um rato e nada!! Deixaram o rato cagar na cara de vocês"? Isso eu gritava inconformado pela fresta da porta. Benji me olhou e disse "Auuuu"; Pequeno concordou "Aaauuumm". Os dois estavam cansados e com sede. Com cuidado, abri um pouco mais a porta e deixei eles saírem. Meu plano tinha sido um fracasso. 

Quem me salvou foi meu cunhado que bateu no portão naquele momento. "Ó, cunha, foram os deuses que te mandaram aqui! Tem um rato na minha biblioteca, vai lá e mata ele, por favor!

Obviamente, depois de rir muito, me sacanear "um-homem-desses-com-medo-de-rato"...OLHA A FOBIOFOBIA!!!!

Ele adentrou na biblioteca e em uns dez  minutos abriu a porta segurando o rato morto pelo rabo. Nem era tão grande...

Minha biblioteca estava como um cenário de filme catástrofe. Vários livros espalhados pelo chão, revistas rasgadas, objetos quebrados...Benji e Pequeno se esforçaram, não posso negar, mas o rato soube se esconder bem entre revistas, o que meu cunhado de fato, confirmou.

NÃO RIA DE MIM...eu sei que você está rindo!!! Você é um fobiofóbico!

* * * * * * * * * * * 

P.S

1 - a foto que ilustra o texto é de uma cena de Indiana Jones e sim, sempre me dá um certo asco quando revejo o filme.

2 - Esta é a minha biblioteca hoje. 





sexta-feira, 14 de junho de 2024

ENCONTROS

 



Aquele semáforo demorava  a mudar de cor e isso deixava os motoristas diante do sinal vermelho irritados. "Mas porquê demora tanto pra abrir...? Pra fechar é rapidinho...!" Alguns mais apressados ou nervosos teimavam em buzinar como se isso acelerasse a mudança de sinal. O negócio era alimentar o caos e o estresse...Em um dia qualquer, elas que já não se viam há um tempo, se emparelharam uma ao lado da outra diante do tal semáforo vermelho. 

- Ei, ei, Kátia!

Acenos efuzivos, sorrisos. Vidros abaixados.

- Oi, amiga, que coincidência!

- E não é?

- Ontem mesmo pensei em você, precisamos marcar alguma coisa!

- O quê? 

- Eu falei "e não é"? Coincidência...e temos que marcar um encontro!

- Ah, tá. Temos sim...

- A vida tá corrida, amiga, sem tempo pra nada! É uma coisa e outra...

- É, eu também fiquei presa esse mês todo numa coisa e outra...

- Soube do Arnaldo?

- Que Arnaldo, o marido da Silvana?

- Ele mesmo.

- Soube do quê?

- Morreu...

Um impaciente que estava atrás do carro da Kátia começou a buzinar na intenção de azucrinar a conversa das mulheres.

- O quê? Oh, desgraçado desse imbecil não para de buzinar...!

Olha pra traz e grita: 

- Ô, seu corno, num tá vendo que o sinal tá fechado?

O tal lhe devolveu um sorriso sarcástico e mostrou o dedo do meio.

Indignação!

- Machista! Fascista!

Voltou a atenção para a amiga.

- Então, ninguém me avisou que o Arnaldo tinha morrido.

- Mandaram mensagem no grupo...

- Acho que não vi...quase não vejo grupo nenhum...uma coisa e outra, sabe...?

- Vamos marcar pra gente sair?

- Vamos! Que tal sábado que vem? 

- Sábado que vem vou estar em Petrópolis para uma feira de tecnologia.

- Ah, podíamos nos encontrar amanhã, depois do expediente.

- Amanhã tenho academia à noite, sabe como é, tem que malhar, idade chegando...tudo despenca.

Mais buzinas do machista fascista.

- Desgraçado...Sei como é...

- Na quarta?

- Curso de inglês.

- Quinta?

- Reunião até tarde.

O sinal abriu e as duas na frente retardando o trânsito. Buzinas, muitas buzinas. 

- O sinal abriu! Amiga, depois te ligo pra gente marcar!

O carro avança liberando o trânsito.

- Amiga, espera, espera, mudei de telefone...

Já estava longe. Parecia que ia tirar o pai da forca.

O machista fascista parou ao seu lado. Olhou para ela e sorriu. Um sorriso lindo...sedutor...

- Você não tem educação? Tá rindo do quê?

Os dois agora emparelhados impedindo o trânsito de fluir. Buzinas, buzinas, buzinas.

- Desculpa aí pelo gesto e por buzinar...Tenho uma reunião de negócios às treze horas e já são quatorze e quinze! Perdi a paciência e descontei em você.  Qual seu telefone?

- O quê?

- Seu telefone! Estou hospedado no Fasano, vim ao Rio a trabalho. Vamos marcar alguma coisa? Que tal um jantar hoje lá no hotel?

Olhou para ele...para o machista-mostrador-do-dedo-do-meio-para-mulheres! Era bonito...um carrão...hospedado no Fasano...sorriso sedutor...

Ela lhe disse seu número, ele anotou no seu próprio celular.

Buzinas! 

O sinal voltou a fechar.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

MENTIRAS!

 



ANDA EM VOGA  discussões sobre as chamadas "Fake News" - mais uma expressão americana que nós incorporamos ao nosso dia a dia. Parece novidade mas todo mundo sabe que não é. As mentiras, principalmente aqueles ditas no meio político, já estão conosco desde que o Brasil é Brasil...quem lembra do ex-presidente Fernando Collor dizendo que o seu adversário, o atual presidente Lula, iria bloquear a poupança de todo mundo e isso foi exatamente o que ele fez quando ganhou o pleito? Fico imaginando o que o Lula teria feito se tivesse ganhado...dá arrepios só de pensar! Mas o fato é que quem fez o que disse que o outro ia fazer foi ele, o Collor de Mello.

E AS MENTIRAS QUE OS ADULTOS nos contavam quando éramos crianças? Toda mãe conta mentira para o filho na boa intenção. Minha mãe tinha medo que nós engolíssemos semente de melancia, achava que poderíamos nos engasgar com ela, então  nos contava aquele mentirinha educativa: "Se você engolir a semente vai nascer um pé de melancia em sua barriga..." O QUÊ??? Aquilo era traumatizante para mim! Tive pesadelos em que um pé de melancia começava a sair da minha boca, invadia a casa, a rua, a cidade, o país, o planeta inteiro!!! Tudo tendo origem ali, na minha barriga. 

OUTRA MENTIRINHA  que minha mãe contava era: "Não pode ficar na rua até tarde senão o Homem do Saco leva embora...". Mesmo durante o dia eu ficava alerta na rua. Qualquer mendigo que passasse com um saco nas costas para mim era ele - o temível Homem do Saco - e eu saia correndo, sem entender porquê ele já estava nas ruas procurando crianças tão cedo...

OUTRA MENTIRINHA  que minha mãe contava era sobre Deus. Ela muito religiosa, tinha um método educacional onde Deus era requisitado para ser a figura do pai severo que estava me olhando quando meu pai terreno estivesse longe. "Cuidado com o que você faz, com o que você diz, pra onde você vai...Deus tá vendo e vai te castigar". Não à toa passei minha infância com muito medo de Deus e odiava ir para a igreja. Acho que meu primeiro grande drama existencial foi o medo de algum amigo meu saber que eu era "crente". Depois que amadureci, fiz meu tira-teima com Deus e acho que hoje estamos mais ou menos resolvidos.

MENTIRAS, TANTAS MENTIRAS! Prometo ser fiel até que a morte nos separe...pode emprestar, prometo que te entrego logo...se você se esforçar mais vou ponderar lhe dar um aumento...dez passos para a felicidade...vote em mim, eu prometo cumprir minhas promessas...se você se esforçar muito será sempre vencedor...fique rico lendo o livro "Como Ficar Rico...". 

E VEJA SÓ! Se você ler esta crônica e passar para mais dez pessoas em breve você receberá uma recompensa grandiosa!


domingo, 2 de junho de 2024

Tudo Vai-se Embora!

     



TUDO VAI-SE EMBORA! O gás do fogão, a sola do sapato e o abraço do amigo.  Aquela brincadeira da infância, aquele  amor do passado e aquela série que você é fã. Tudo vai-se embora! O pneu do carro, o guarda-chuva, o ventilador e a lâmpada da sala.  A mãe vai-se embora, o pai e o avô. Também a tia Maria, o tio Zezinho e o primo Galvão. A inocência vai-se embora,  a paz , a calmaria e a caneta big. O giz vai-se embora. O fósforo e a resistência do chuveiro. Aquele vizinho querido e aquele folheado da padaria. Aquela viagem vai-se embora. A acuidade visual vai-se embora. Aquele tempo que você tinha, aquele plano não realizado e aquele sonho desfeito. Tudo vai-se embora! Mas tudo  vem e  vai, começa e acaba e começa de novo.  Como diz o Eclesiastes "tudo o que é já foi". Também a dor de dente vai-se embora, a ferida no pé e a dor de barriga. A madrugada de tempestade, a seca persistente e aquele vizinho que te perturbava. Tudo vai-se embora! A gripe terrível, a dor no corpo e as pernas cansadas. A espera vai-se embora, a decepção um dia acaba. Os dias ruins e as manhãs cinzas. A morte vai-se embora quando vejo o menino ficar vinte dias na UTI e sair de lá são e salvo!

terça-feira, 28 de maio de 2024

COISAS PERDIDAS

 



Já aconteceu com você, tenho certeza. 

A cena é típica. Você está escolhendo uma roupa para sair e pega aquela camisa que há tempos você não usa e aí sente que tem alguma coisa no bolso. Aí é que a mágica acontece! Você achou em um bolso aquela  nota de cinquenta ou de cem reais que você nem sabia mais que existia... Aquela nota que você deixou ali para guardar mais tarde e esqueceu completamente. Pior destino terá a nota esquecida quando a peça de roupa vai para a lavadora e só depois você percebe que lavou a roupa com a nota dentro...mas quase sempre dá para salvar. É preciso medidas de emergência: Pegar com muito cuidado a nota toda molhada e retorcida, secá-la com um secador ou deixá-la quarando no sol e depois se quiser, passar um ferro para desamassar.  Se a nota já era velha, a coisa é pior, ela pode rasgar e ficar muito prejudicada. Coisa para UTI mesmo...

Nunca achei cem reais perdido em algum bolso mas já encontrei dez, vinte e até cinquenta, sem falar nas moedas. Um dia encontrei um bilhete todo amassado e desbotado no bolso de uma bermuda. Aquele certamente tomou banho sem ser notado. Era uma lista de compras: Ovos, pão integral, leite desnatado, cebola...manchas, manchas, borrados....não dava para ler tudo. 

Não sei porquê é tão emocionante achar coisas perdidas em bolsos! Deve ser a alegria do reencontro. Mas isso não acontece só com bolsos, acontece também com gavetas quase nunca abertas, em pilhas de papéis que um dia você vai dar uma olhada e nunca dá, naquela caixa de "arquivo morto"... Um dia encontrei uma foto minha e da minha esposa de quando éramos namorados. Nossa, olha só essa foto...como você era magra....Não, melhor  não dizer isso se não quiser começar uma briga. Melhor optar pelo mais simples e comovente: Olha, amor, como éramos tão jovens nessa foto...

Essa semana mesmo encontrei no fundo de alguma gaveta, misturado com várias papéis velhos, algo que me deixou deveras emocionado. Minha mãe era uma leitora voraz. Não tinha muita cultura, tinha cursado até a antiga (muito antiga quem nem sei qual era o nome que dava!) quinta série. Mas lia muito bem e lia tudo que lhe caia às mãos. Em outra hora escrevo sobre seus hábitos literários. Mas lá estava ele: Um caderno já bem velho com todas as páginas escritas. Ela tinha o hábito de anotar o nome dos livros que ia lendo. Folheei o caderno e sorri ao ver sua letra inconfundível e dezenas e dezenas de títulos anotados. Um dia ela me disse que fazia isso para não ler um livro duas vezes...ela era meio esquecida. 

Tem coisas perdidas que precisam e merecem ser encontradas.


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Vou te contar

 



JÁ DEVE TER ACONTECIDO COM VOCÊ. Lembro-me de pelo menos três vezes que aconteceu comigo. Sentado no hospital esperando a consulta. Nesses momentos eu estou sempre lendo alguma coisa e não me apraz engendrar conversas com desconhecidos, muito menos conversas de hospital. A senhorinha sentou-se ao meu lado, parecida ter no mínimo oitenta primaveras. Simpática. 

- Sabe se o doutor Armando já chegou?

Eu lia um parágrafo tenso em um livro policial. 

- Parece que ainda não. 

Volto minha atenção ao livro.

- Qual o seu número de senha?

- Eu sou o quinto.

- Eu sou a sexta, vou depois de você.

- É...

Não sei porque,  pessoas mais idosas são pródigas em puxar conversas com desconhecidos em hospitais, bancos, dentistas, mercados... Eu geralmente gosto de conversar cm os mais idosos, eu estou caminhando célere para lá, para a eufemisticamente chamada "Melhor Idade" - melhor pra quem cara pálida? Porém, quando eu estou lendo ou escrevendo, odeio ser interrompido. Certamente esse é meu único defeito....lá rá rá rá.

- Você sabe, meu filho, já estou fazendo tratamento para artrose com o doutor Armando há um ano. Ele me explicou que eu tenho artrose nas mãos, nos joelhos, na coluna...estou toda artrorizada...

Até deu vontade de rir do bom humor da senhora. No livro, o detetive estava praticamente desvendando o mistério de um crime.

- Sabe, artrose é quando desgasta tudo. Sabe, as cartilagens? Fica tudo inflamado, meu filho! Olha, como tá inchada minha mão...dói muito, sabe? Tá até ruim para eu pegar alguma coisa...O doutor Armando me explicou que artrose também é chamada de osteoartrite - que é um nome muito feio, não acha? É doença de velho, meu filho. Ainda mais porque estou acima do peso...dá pra vê, né meu filho? Eu tenho três filhos, sabe, uma mulher e dois homens. Tenho seis netos! Pois é. Todos adultos mas nenhum me deu um bisneto...esses jovens não querem mais ter filhos, um dia vai acabar as gentes do mundo... Um filho meu, o Gustavinho trabalha da Receita Federal. Eu moro com minha gata Vitória...Mas acho que vou precisar de companhia, essas artroses não estão me deixando fazer mais nada... Se você tiver algum problema com a Receita pode falar com ele que ele resolve. O Gustavinho, olha, anota aí o número dele...

Eu para não ser mal educado, com um olho mirava a senhora e soltava alguns monossílabos e com o outro tentava ler o desfecho do caso. Faltavam cinco páginas, momento crucial de revelações inesperadas. 

- Sabe, meu filho, eu tenho um neto muito inteligente. O nome dele é Noah. É, foi a mãe que escolheu, eu acho horrível esse nome, acho que nem é nome de gente...dizem que é "Noé", acho Noé mais simpático. Aquele que salvou os animais do dilúvio,  você conhece a história, né meu filho? Mas veja, a artrose começou mesmo na mão esquerda, depois foi para a mão direita ao mesmo tempo que chegou no joelho direito...um inferno!! Será que o doutor Armando ainda demora? Você gosta de ler? Eu gosto de ver Doramas, você sabe? Aquelas séries lá dos coreanos? O doutor Armando não costuma se atrasar...você sabe que no verão passado eu fui conhecer a Itália! Veja só, nesta idade e só agora fui conhecer a terra dos meus bisavós...O doutor Armando sempre me manda fazer ginástica. Eu faço!! Dou meus passeios pela praça e faço alongamentos com uma professora de Pilates. Sabe Pilates...? O que é que você, tem filho? Artrose também?

Desisti de ler o desfecho da história. Fechei o livro, guardei na minha bolsa e fique todos ouvidos para senhorinha simpática. 


* * * * * 









domingo, 19 de maio de 2024

Da Janela

 


Fim de expediente.  Mais um dia de trabalho e ainda é segunda. Aquela onda de gente voltando para casa. Rotina. Pelo menos pego meu ônibus no ponto final. A janela é o lugar onde gosto de viajar, olhar a paisagem. Uma mãe segurando a mão da filha com algumas bolsas na outra mão. Dia de compras? Espero que o passeio tenha sido divertido. Muitos camelôs nas calçadas. Eles também logo, logo, vão fechar suas barracas e voltar para casa. Um homem sentado na calçada pedindo esmolas. Um engravatado com uma pasta 007 faz sinal para um taxi. Uma ciclista vestida a caráter pedala sua bike. Li ontem notícia  que um ciclista tinha sido atropelado no dia anterior. Um artista de rua faz piruetas no meio de uma pequena aglomeração. Olha, não esquece de colocar uma nota no chapéu do artista! O ônibus dá uma freada brusca que me tira do meu devaneio e ouço o motorista gritar furioso: QUER MORRER, DESGRAÇADO?! Por favor, atravessem a rua na faixa e no sinal, é mais seguro! Quase fui atropelado na infância. Coisa de correr atrás de pipa. Mãe proibiu, se visse ia largar a chinelada. Foquei no futebol. Tirei uma lasca do dedão jogando descalço. Tudo bem, não teve risco de morte. Ainda faltam uns quarenta minutos para eu chegar no meu ponto, se o trânsito não der um nó. Olho o céu pela janela e ainda bem que não vai chover. Com chuva tudo piora. O ônibus ultrapassa um fusquinha 67. Nossa, que raridade! Bem cuidado! Meu pai teve um fusca. Cabia um monte de gente no fusca, um mistério que ainda hoje não decifrei. Ah, que sono...trabalho foi duro hoje...fecho os olhos. Durmo. Sonho que acordo atrasado para ir trabalhar, saio de casa, vejo uma pipa avoada e quase sou atropelado por um fusca 67.  Perai motorista, vou soltar nesse ponto!!!!!





quinta-feira, 16 de maio de 2024

Olhai Os Lírios do Campo

 


Terminei de ler esse livro do Érico Veríssimo que eu tinha há anos em minha biblioteca e nunca tinha lido. Depois que ele se foi no incêndio, por fim, li a edição digital no meu Kindle. 

Érico Veríssimo é um dos meus autores brasileiros prediletos desde que li a trilogia O Tempo e o Vento que eu reputo ser uma das maiores obras de literatura em nosso país. Em Olhai Os Lírios do Campo, Veríssimo nos apresenta Eugênio, um personagem que desde a infância busca superar uma vida de pobreza e humilhação; o seu desprezo pela falta de ação e atitude do pai alfaiate e a condescendência da mãe à situação.  Eugênio empreende uma busca de si mesmo em sua batalha interior de superar uma vida medíocre e seu complexo de inferioridade. Mas a que custo?

O livro foi publicado em 1938 e foi grande sucesso de vendas o que possibilitou a Veríssimo se dedicar profissionalmente à literatura. O foco narrativo também é interessante já que presente e passado se alternam na jornada de Eugênio.

Eu gosto de fazer anotações em um caderno de tudo o que eu leio. Frequentemente escrevo citações do livro. Aqui, deixo algumas dessas citações que foram para o meu caderno.


" Era como essas meninas ricas que para fazerem publicidades adotam órfãos nos asilos e possam ao lado deles para os fotógrafos dos jornais..."

"Um amigo meu costumava dizer que a vida é como uma travessia transatlântica...os passageiros são dos mais variadas espécies. Uns passam a viagem a preparar-se para o desembarque no porto do seu destino e desprezam as festas de bordo, o simples prazer de viajar. Outros não sabem do seu destino, não têm nenhuma esperança no porto de chegada e procuram passar da melhor maneira possível a travessia..."

"A vida começa todos os dias"

"Não tenho nenhuma prevenção contra os ricos, seria tola se tivesse. Há os que sabem empregar humanamente sua riqueza. Elogiar a pobreza seria também doentio. O mundo foi feito para que todos nele tivessem um lugar decente. (Mas há os que) vivem às cegas, só pensam em dinheiro, esquecidos de que são mortais e de que existem o sol, os campos e as cigarras. O ideal seria um mundo em que as cigarras(que só cantam no verão) e as formigas(que só trabalham para garantir o inverno) vivessem em harmonia inteligente.."

* * * * *

"Olhai os Lírios os Campos" é uma frase do Evangelho dita por Jesus ao falar sobre as preocupações excessivas sobre a vida. "E quanto ao vestuário, por que andas solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam...E eu lhes digo que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como qualquer deles.." (Mateus 6. 25-34)

* * * * * *

sábado, 11 de maio de 2024

Olhar o Tempo - 3

 




PARE!!! 

Olá, se estiver chegando por aqui agora,

esta é a terceira e última parte desse conto.

Leia as primeiras partes abaixo para se inteirar

do que está acontecendo no tempo...


Parte 1: Aqui 

Parte 2: Aqui


* * * * * * * * * * * * * * * * * * 

O TEMPO

Dez anos desde o encontro na biblioteca. Agora eles tinham uma filha, Giovana. Linda menina,  tinha os olhos de Dora. Quatro anos.  Num segundo ele estava em uma livraria tentando tomar uma decisão importante, dois anos depois, se casando. Percebeu  o olhar dela em sua direção. Percebeu seu desvio de olhar. O tempo de meio segundo. Um minuto depois ela estava sentada ao seu lado. Aquela mesma Dora que ele admirava de longe na faculdade. Se ele imaginasse  que ela o achava atraente pelo ar de mistério que ele carregava... Ele se retraiu um pouco com a impulsividade da moça. Oi, achei que você estava tendo algum ataque de paralisia. Você estava tão estático olhando para o teto da livraria...você está bem?

 E agora já se foram dez anos. A filha crescia em um ritmo alucinado. Mamãe já passei da marca que você fez mês passado! Mas você está crescendo muito rápido, meu amor!  Na livraria, falaram sobre o tempo. Sobre a falta de tempo e sobre contratempos. Um era quase inércia, a outra era quase raio. Se viram em outro dia e outro dia e mais outro, como tinha que ser como cantava Renato. 

Trinta anos desde a livraria, estavam sentados na varanda de casa. Uma noite tépida  de outono. Giovana mandara avisar que chegaria na segunda e que Rodrigo estava louco para rever os avós! Que bom, o neto era a alegria daqueles tempos que antecedia  artroses e artrites.  Há trinta anos naquela livraria, o magnetismo contagiante de Dora tinha laçado de forma indelével o coração de Francisco. Depois de algum tempo juntos, se via mais confiante, mais decidido, menos dado a depressões e elucubrações pelo sentido da vida. Ela tinha lhe dado uma dose forte de imanência que acabou por equilibrar sua fugaz transcendência. O sentido da vida está na própria vida! Tempos de descobertas.

Cinquenta  anos desde a livraria,  Rodrigo cursava medicina, tal qual a vó. Sentado em sua poltrona, quieto,  Francisco se viu outra vez naquela livraria. ..Tinha ido  pensar, folhear livros e resolver uma questão existencial. O que era ele no mundo, no tempo? Naquele dia estava profundamente deprimido. Via-se  com vinte e três anos e sem perspectivas para o tempo futuro. Agora, aos setenta e três anos, olhava o tempo passado com Dora e tal qual Deus na criação, viu que era bom. 

Ela nunca soube. Por quê tinha escondido aquilo?  Ela deveria  saber que naquele dia, naquela livraria, a decisão que ele tinha que tomar era de interromper seu tempo neste mundo? A vida lhe parecia tal banal, tão sem sentido. Uma bobagem. Era isso, a vida era uma bobagem. O raio que lhe aqueceu o coração chamado Dora mudou seus planos.   Mudou seu tempo. A mesma Dora que tinha terminado com um namorado que vivia em matafísicas apaixonou-se por um homem trágico. Ele! Por quê? O mundo é tão misterioso... Afinal, a partir de Dora, o mundo e o tempo já não lhes pareciam tão banais. Misterioso sim, banal, não.  Com Dora, depois de tanto tempo, a vida já não era uma bobagem.

FIM. 






terça-feira, 7 de maio de 2024

OLHAR O TEMPO - 2

 



Olá, se chegou aqui agora,

leia antes a primeira parte desse conto 

Aqui 



FRANCISCO

 Dora não tinha tempo para ficar olhando o tempo. Vida corrida. Fazia o que tinha que fazer. Pragmática.  Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje era um dos seus lemas.  Tinha várias boas amigas e gostava de festa, de dançar, de rock e de Assis. Capitu era sua personagem predileta. Qual mistério ainda guarda Capitu...?  Terceiro semestre da faculdade de Medicina. Queria ser médica desde criança quando ficava brincando de clinicar com as bonecas...tá com tosse, toma xarope... machucou o dedão, tem que fazer curativo...toma um remédio para dor de cabeça...A mãe ria e dizia Não tem jeito, vai ser médica.

Teve um namorado metido a filósofo. Gostava dos metafísicos que Dora não chegava nem perto. Dora era uma existencialista. Existência vinha antes da essência e esta era construída na vida, no labor contínuo da caminhada e das experiências. Mandou o namorado passear mas que cara mais chato! Era um sábado e resolveu visitar a maior livraria da cidade. Queria comprar uma biografia de Sartre que vira resenhada em uma revista. Não quis comprar "em um click" como sugeria a Amazon, iria aproveitar o dia passeando e se desligar um pouco das mitocôndrias, citoesqueletos, lisosomas...

Estava em pé, absorta em folhear alguns exemplares na sessão de biografias quando viu aquele rapaz de óculos, calça jeans velha, não aquelas da "moda" mas realmente velha. Tinha um olhar vago, parecia que encarava o teto da livraria. No colo um livro que ela não conseguiu identificar. Estava sentado em uma das poltronas que decorava a livraria. De repente o olhar de Francisco foi do teto diretamente para o rosto de Dora que desviou o olhar meio sem graça. Será que ele percebeu que eu estava olhando para ele...? 


Continua...

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p.s a foto que ilustra a postagem é a livraria Menina e Moça, que fica em Lisboa, Portugal






sexta-feira, 3 de maio de 2024

OLHAR O TEMPO

 



DORA


Tinha a mania de olhar o mundo, de olhar o tempo enquanto estava sendo conduzido pelo tempo. Desde muito jovem evitava se abrir muito para o mundo. O mundo lhe causava certa apreensão. Não sabia porquê estava no mundo e nem sabia porquê deveria estar no mundo e nem sabia qual sua função no mundo. Um passageiro observador do tempo. Quando jovem gostava dos livros, das revistas e evitava as festas. Tinha poucos amigos mas até estes o viam como um "cara meio esquisito". Havia nele, porém, algo que atraia. Talvez seu rosto contemplativo de quem está sempre "olhando para cima" ou talvez seu falar manso que contrastava com a algazarra vocal dos poucos amigos. Mais velho apaixonou-se por Dora. Dora era como uma estrela, pensava ele. Brilhante, atraente mas distante...muito distante. Não tinha jeito com mulheres mas Dora tinha curiosidade de tecer conversas com aquele rapaz tão diferente que ela conhecera em uma livraria. Era até bonito, pensava ela. Dizem que o acaso não existe,  o que existe é "sincronicidade". E foi em uma dessas tais sincronicidades que a vida do Observador do Tempo mudou totalmente de rumo.

continua. 

domingo, 28 de abril de 2024

Olha a Cobra! parte 2






Chegou aqui e se deparou com essa coisa de cobra parte 2? Então leia a primeira parte logo abaixo desta e vamos ao causo.


...Mamãe deu um gritinho "Ai, meu Deus, é uma cobra mesmo, e agora...?"


E agora reinava na cozinha aquele clima de terror. Papai não estava em casa pra matar a cobra porque matar cobra era com ele mesmo (depois conto mais sobre isso). Com o burburinho a bicha deu uma mexida, levantou a cabeça e deu uma olhada ao redor... Mais interjeições de medo da minha mãe, minha e dos meus irmãos menores. "Ela tá se mexendo, ela tá se mexendo...!!!" Naquela hora dei graças a Deus por cobra não voar...

Minha mãe fez a coisa mais óbvia: Foi chamar seu Zezinho, vizinho e companheiro de caçada do meu pai. Bateu à sua porta, Zezinho veio ver. "Seu Zezinho tem uma cobra no armário da minha cozinha, pode ir lá vê por favor", pediu aflita. Prontamente Zezinho vestiu uma camisa e veio ao nosso socorro.

"Ela está numa posição bem ruim", ponderou Zezinho ao analisar o cenário do problema. "Vai ser difícil matar sozinho, vou precisar de ajuda. Vou chamar Juvenal". Saiu e voltou não só com Juvenal, nosso outro vizinho mas com mais três homens que ouviram o caso e quiseram também ajudar.

Agora o cenário era esse: A cobra lá enrolada no armário; minha mãe, eu e meus irmãos bem afastados e cinco homens confabulando o melhor jeito de matar a bicha. Sim, naqueles tempos não tinha isso de "chamar o IBAMA nem bombeiros". O plano foi exposto por Zezinho: "Vamos pegar dois paus grandes. Um prende a cobra com um pau e o outro esmaga a cabeça dela com o outro". O plano foi aceito. Não foi difícil encontrar no nosso quintal dois paus grandes.

Juvenal com um pau, Zezinho com o outro. Os outros três ficariam na "comissão de apoio".

Lentamente os dois se aproximaram do armário. A bicha lá com a cabeça levantada querendo compreender  o que estava rolando...Agradeci de novo a Deus de não ter dado asas a cobras... Não sei como, Juvenal conseguiu prender a cobra com o pau no fundo do armário. A bicha se revoltou com aquela agressão gratuita e começou a se mexer freneticamente. "Segura, Juvenal, segura firme, não larga, não larga!" gritou Zezinho que na mesma hora começou a espetar o pau na cabeça da bicha. 

Foi uma batalha épica na visão do Eduardo menino. Ao final de não sei quanto tempo, enfim, a cobra estava morta; certamente morreu não entendendo aquela  falta de hospitalidade...Eu cá, idólatra que era do meu pai, falei para os vizinhos: "Se meu pai tivesse aqui tinha matado a cobra mais rápido..." os homens riram e minha mão me deu um beslicão pela minha falta de reconhecimento do trabalho dos vizinhos.

Cobra morta, cobra tirada do armário, cobra levada não sei pra onde. E aí Zezinho vem com uma informação que voltou a deixar todo mundo tenso: "Vizinha, toma cuidado. Esse tipo de cobra sempre anda em duas, a companheira dela deve estar por aí". Pronto, minha mãe quase teve outro colapso. Junto com Zezinho e os outros vizinhos, foram revistar cada cantinho da casa para certificar que a outra cobra não estaria por lá. Depois de muito procura, Zezinho deu o ultimato: "fique tranquilo, dona Valda, aqui dentro ela não está mas amanhã quando Diogo chegar certamente deve procurar pelo quintal...".

Dormir naquela noite foi tenso. Acho que sonhei com cobras voadoras...E a outra cobra? Bom, esse vai ser um causo para outro dia, como eu disse, minha família tem uma relação tensa com cobras.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

OLHA A COBRA!

 



Desde pequeno tenho uma relação não desejada com cobras. A primeira que me deixou abalado foi a "serpente do paraíso" quando eu lia o Gênesis aos 11 anos de idade. Estava tudo tão perfeito lá no jardim que Deus tinha plantado mas...tinha que ter um serpente astuta pra (piiiiiiii) f*der com tudo. 

Morávamos em Angra dos Reis(RJ) no início dos anos 70. Uma casa grande mas velha que quando chovia a cozinha virava uma piscina. Meu pai, tadinho, tantas vezes subiu no telhado pra consertar as telhas  mas as goteiras sempre voltavam. Era começar a chover e lá ia minha mãe espalhar panelas pelo chão.  

O bom era que meu quintal dava para uma grande floresta. Era  sair pelos fundos da casa, subir por espécie de porão e chegar no meio da mata. Brinquei muito de Tarzan...Meu pai, que gostava de caçar, tinha na floresta um lugar perfeito. Estava sempre se embrenhando pela mata nas madrugadas junto com o vizinho também caçador. Tanto que quando criança eu comi coisas que as crianças de hoje nem sabe o que são: Tatu, paca, lagarto, gavião, gambá...é, gambá era prato especial lá em casa quando meu pai trazia um. Aliás, certo dia ele matou uma gambá que estava pra parir. Foi meio traumático ver os gambazinhos mortos.

Mas deixa eu voltar para o eixo: cobras. Por morar à beira de uma floresta, cobras eram bichos corriqueiros lá em casa. Muitas desciam do morro e iam passear lá em casa. 

Uma noite quente de verão, estávamos eu, minha mãe e meus dois irmãos em casa jantando. Meu pai, que era militar, estava trabalhando nesse dia (aliás, meu pai sim tem um histórico com cobras nível hard, depois eu conto).

Alguém deixou cair suco na mesa e minha mãe pediu: "Eduardo, pega aquele pano que está em cima da prateleira no armário".  Era um armário de parede e eu, pequeno, tinha que subir em uma cadeira para alcançar o tal pano. Fiz como minha mãe pediu. Mesmo em cima da cadeira, precisei esticar o pescoço para ver o pano e meti a mão pra pegá-lo.

Toquei uma coisa macia e esticando o pescoço, vi não o pano...mas uma cobra toda enrolada no cantinho do armário.

O susto me fez dar um pinote da cadeira e já cai no chão meio pálido e gritando: "Mãe, é uma cobra, uma cobra, não é pano não!!!!" 

Minha mãe, que era um poço de nervoso me olhou incrédula. "Menino, o que foi isso"? "Tô falando, mãe, é uma cobra!!"

Ainda sem acreditar, ela foi chegando devagarinho perto do armário para olhar melhor. Aí a bichinha levantou a cabeça e disse: "Achô, sou eu mesmo...."

Mamãe deu um gritinho "Ai, meu Deus, é uma cobra mesmo, e agora...?"

Bem, o que se seguiu foi um pandemônio que eu escrevo na próxima crônica. 



sexta-feira, 19 de abril de 2024

O Homem Morto Na Cadeira de Rodas (ou A Banalidade da Vida Nas Redes Sociais)

 



Seria um bom tema para um conto macabro: Mulher leva tio idoso morto a uma agência bancária na tentativa de conseguir um empréstimo que  o idoso queria fazer enquanto ainda vivia. Seria uma ótima ideia nas mãos de um bom escritor. Porém,  isso aconteceu mesmo, não é literatura. Todo mundo ficou sabendo do caso macabro. A bem da verdade, a polícia ainda investiga se o idoso morreu antes de chegar ao banco ou se foi levado para lá já morto. Quero dar o benefício da dúvida à mulher e crer que a primeira hipótese seja a verdadeira. 

Não, não vou escrever um conto sobre o caso mas quero refletir sucintamente sobre como a vida nos tornou banal. A filósofa judia Hanna Arendt , uma grande pensadora do século XX que teve que fugir da Alemanha por causa do nazismo, conseguiu a cidadania americana e  se tornou professora universitária,  escreveu um livro marcante sobre o tema:  "A Origem do Totalitarismo" , onde buscou analisar as origens do nazismo e de governos autoritários. 

Karl Adolf Eichmann foi um oficial nazista responsável pela deportação de milhares de judeus alemães. Eichmann foi um dos principais colaboradores de Hitler, responsável pela morte de inúmeros judeus e fugiu para a Argentina depois que a Alemanha perdeu a guerra. Enfim capturado, foi julgado e sentenciado à morte em Jerusalém. Arendt foi convidada a assistir ao julgamento e escreveu suas impressões sobre Eichmann. 

Arendt chegou à conclusão que o mal que Eichamann praticava não era um "mal demoníaco", pelo contrário, era um mal constante, fazia parte do seu trabalho. Eichamann nunca se considerou culpado, defendeu-se dizendo que apenas cumpria ordens, seguindo a lei do Estado vigente à época. A ausência de uma reflexão ética do nazista de que apenas cumpria a lei sem se importar com o bem coletivo, Adrendt chamou de a "banalização do mal". 

Voltando ao nosso caso do idoso morto na cadeira de rodas, o que se viu depois da divulgação das imagens foi uma total falta de ética por parte das redes sociais. Começaram a pipocar memes jocosos com a triste figura do idoso morto e da mulher querendo fazê-lo  assinar um papel. Quem criou tais memes, e nós, que vimos e achamos graça, agimos apenas pelo impulso que as redes nos dá em compartilhar coisas, sejam elas éticas ou não. 

Sou um defensor ferrenho da liberdade de expressão e opinião nas redes. Sou contra qualquer projeto que tente controlar o pensamento das pessoas; sou contra que se instale uma "comissão da verdade" que julgue o que cada um pode ou não postar, mesmo porque, qualquer crime que se cometa  fora das redes, vale também para qualquer crime praticado nas redes. Dito isso, cabe a cada um de nós filtrar o que é relevante ou não, o que é ético ou não. Cabe a cada um de nós não nos rendermos à banalidade do mal. 


segunda-feira, 15 de abril de 2024

BRINCANDO DE FAZER MÚSICA COM A IA

 



A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) chegou com tudo provocando várias discussões na sociedade. Uns temem o poder da IA e preveem um futuro nebuloso para humanidade; outros, veem nela um salto quântico para novas tecnologias que já estão mudando completamente o mundo. Eu cá tenho meus receios. Certamente a IA vai acabar com muitos empregos que  serão obsoletos na sua presença, e ainda pior, ela pode ajudar a acabar de vez com a criatividade humana. A IA já pode escrever poemas, romances, teses e compor músicas. Tudo com uma qualidade muito boa e a tecnologia está apenas em seus primórdios. Como será o amanhã? Responda quem puder...

Como se diz, se não pode vencê-los, una-se a eles. O site SUNO é um site IA que é capaz de compor músicas a partir de uma letra que você dê a ele ou mesmo é capaz de escrever uma letra e compor a música. Eu não conhecia, meu filho (13 anos), ligado em novas tecnologias que me apresentou. Então rabisquei uns versos e mandei a IA compor uma música, uma em estilo de rock, outra em bolero. Eis o resultado: 





sexta-feira, 5 de abril de 2024

Acumuladores

 



Existem pessoas que são acumuladoras. Convivi com alguns na minha família. Uma tia que era especial,  tinha a compulsão de esconder e acumular coisas debaixo da cama. Tinha de tudo: panelas, pratos, panos, garrafas, tudo velho, sem valor e inúteis, a não ser para reciclagem, coisa que não era muito falada lá nos anos 70. Ela acumulava até frutas.  Um dia o cheiro de manga podre tomou conta da casa e fui dar uma olhada debaixo da sua cama. Comecei a tirar as coisas de lá pra achar as frutas podres e isso a deixou profundamente raivosa. 

Não se sabe bem o que leva uma pessoa a acumular coisa inúteis, talvez fatores genéticos ou eventos estressantes na vida da pessoa. Minha mãe tinha mania de acumular panos. Uma parte do seu guarda-roupa era tomado por panos e retalhos de todos os tipos, todos inúteis. Um dia eu ameacei jogar alguns fora por falta de espaço e ela só faltou chorar: "Deixa meus paninhos aí, não joga fora não..." Fiquei com pena e deixei pra lá. Mas fico matutando: qual a diferença de um acumulador para um colecionador?

Fui buscar respostas, já que  desde adolescente sou um "colecionador". Fiquei até em dúvidas se eu não era na verdade, um acumulador. Eu colecionava algumas coisas: Tampinhas de garrafas, latas de refrigerantes e de cervejas, potes de leite em pó, moedas, selos e principalmente, revistas de todos os tipos. Na adolescência o foco era nos quadrinhos; colecionava vários. Todo dinheiro que me caia às mãos iam para comprar revistas do Batman, Homem-Aranha, Brasinha, Gasparzinho...depois vieram os livros. Desde adolescente sou um leitor compulsivo. Quando comecei a ganhar meu dinheiro, todo mês eu comprava pelo menos uns três livros (fora os quadrinhos que eu não abandonei). Cheguei a ter uma biblioteca de mais de 3 mil exemplares.  Evidentemente, a velocidade para ler os livros e comprá-los não era igual...Um dia entrei numa livraria e saí de lá com vinte livros em algumas sacolas. Acho que foi meu record até hoje.

Pelo que entendi da pesquisa que eu fiz, a principal diferença do "acumulador" para o "colecionador" é que o colecionador sabe exatamente o que está comprando. Eles cuidam muito bem dos seus objetos colecionáveis. Limpam, emolduram, usam. Os "acumuladores" ao contrário, juntam qualquer coisa, inclusive coisas sem nenhum valor. Eles não usufruem do que guardam, apenas acumulam, acumulam, acumulam...como o homem na foto acima.

 E aí, você é colecionador ou acumulador? 


sexta-feira, 29 de março de 2024

A Mensagem

 

"A Descida da Cruz" - Jacopo Pontormo
pintor italiano do período do maneirismo (1494-1557)





NÃO IMPORTA   quem você é ou onde esteja, a mensagem de Jesus é UNIVERSAL. Sim, a princípio era uma mensagem profundamente enraizada nas categorias de pensamento do seu próprio povo, os judeus do século I, mas as consequências dela teriam efeitos universais. 

Muitas foram as interpretações sobre Jesus. Centenas  de livros foram escritos sobre sua vida e missão, muitos em flagrante oposição uns aos outros. Quem é dono da interpretação certa sobre Jesus? O apóstolo Paulo, que praticamente definiu a dogmática cristã sobre a vida e morte de Jesus? Ou os cristãos gnósticos estavam certos? Orígenes tinha uma melhor compreensão ou seria Tertuliano? Quem é "dono" de Jesus?

A ESSÊNCIA  HUMANA  deve ser construída ao longo da existência humana. Nada está pré-estabelecido por Deus (apesar desse ser um pensamento comum no meio cristão e eu acreditar que algumas coisas em nós são inatas). É desejo humano que se vê  consciente da própria inconcretude, da própria fragmentalidade, da própria vida que incessantemente se confunde com morte.

A essência humana a ser construída a partir do  pensamento de Jesus, deve ser formada ao longo do caminho, em cada passo, em cada encontro e desencontro, em cada momento de alegria ou de dor. Em cada momento de confronto ou de harmonia. É uma construção que se quer, que se busca, uma construção de uma humanidade melhor a partir de cada indivíduo de boa vontade.   "Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça".

Nesse sentido, "Reino de Deus" é aquela condição onde as injustiças  seriam abolidas. Onde ninguém mais teria que morrer de fome ou morrer de guerra provocada pela ambição de poderosos. Não uma condição perfeita, sem dor, sem males, sem perigos. Isso já existiu no Éden e não deu certo e só tinham duas pessoas vivendo lá...O Reino de Deus que se pode construir é contradição que busca simetria.  É trabalho tijolo a tijolo.  Não é trabalho  de um só, de um "Messias", de um escolhido; o trabalho é individual, migalha a migalha, mas com pretensões totalizantes, universais.

Jesus mostrou o seu caminho. É o caminho do confronto, da tensão entre ter e ser; entre não ter e ter que ter; entre não ser e ter que ser. O caminho do "tira a trava do teu olho ao julgar o cisco no olho do teu próximo"; o caminho do "Tive fome e me deste de comer"; o caminho do Samaritano que se solidariza com a dor alheia; o caminho que destrói falsas convicções de privilégios - "até de pedras o Pai pode suscitar filhos de Abraão...". É o caminho que se faz na existência, é um caminho que todos podem buscar a trilha. O alvo pode não se concretizar mas a caminhada é grávida de alegrias.

Feliz páscoa a todos.



Gustave Doré, pintor e ilustrador francês(1832-1883)



"Cenas da Paixão de Cristo", Hans Memling (1433-1494)


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Pinturas retiradas DAQUI

quinta-feira, 21 de março de 2024

Um Dia de Chuva

 



Estava atrasada. Não que fosse incomum mas naquela manhã estava realmente atrasada. Deveria estar na reunião às nove e às oito ainda estava no banho. Até se arrumar, tomar um gole de café e enfrentar o trânsito e..."Nem se eu me teletransportasse daria tempo...mas enfim, o que não tem remédio, remediado está" Relaxou e sentiu a água morna descer pelo seu corpo e ficou pensando na noite anterior...

De como o Destino nos prega peça. "Destino? Há tal coisa? Nunca achei que houvesse..." Ontem, estava parada em frente ao balcão da farmácia com uma cara meio torta. "Como eu fui esquecer o nome do remédio"? Era dada a ter azias. E esquecimentos. Queimações horrendas constantemente lhes assaltavam o estômago, a garganta, a boca. Sentia-se como  uma dragoa pronta a atacar...melhor fazer piada do que chorar. Tinha até marcado uma endoscopia com o doutor Honório. Mas como era mesmo o nome...? O balconista tentando ajudar: "Omeprazol"? "Não"..."Pantoprazol"? "Esse eu nunca ouvi falar..."Fumarato de Vonoprazana"? "Quê? Isso é nome de remédio ou palavrão"? Olha, é um com nome de fantasia, um nome de homem..."

Nesse momento, um homem alto, cabelos encaracolados, meio grisalhos, porte físico de atleta, usando óculos com armação de tartaruga veio lá de dentro da farmácia com uns papéis na mão. Chegou perto do atendente e perguntou: "o pedido de aspirina chegou"? "Sim, senhor Philips, chegou hoje cedo" Era isso!! Seu remédio para azia, era Leite de Magnésia Phillips...!  

Os dois se olharam, se cumprimentaram, conversaram, marcaram de se encontrar mais tarde. E tudo o que aconteceu depois foi o motivo totalmente justificado para que ela chegasse atrasada à sua reunião. Encontrara um ótimo remédio para apagar seu fogo de dragoa... Sem falar que naquela manhã caia uma chuva à baldes.

segunda-feira, 11 de março de 2024

O Sequestro do voo 375 (Quero matar o Sarney!)

 



O voo 375 tinha como destino final a cidade do Rio de Janeiro; antes, havía saído de Porto Velho (em Rondônia) ainda de madrugada, e faria quatro escalas ao longo da viagem, passando por Cuiabá (MS), Brasília (DF), Goiânia (GO) e Belo Horizonte (MG) até, enfim, chegar ao Rio. 

Em sua última escala, no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, a história do voo mudou completamente. Um passageiro embarcou com intenções bem diferentes, como conta o livro “Caixa-preta: o relato de três acidentes aéreos brasileiros”, de Ivan Sant’Anna, publicado em 2000. 

O maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, um tratorista desempregado, embarcou no voo 375 em Confins, mas seu objetivo não era ir para o Rio, e sim obrigar o piloto a voar para Brasília com a intenção de jogar o avião contra o Palácio do Planalto, a sede do governo federal. 

Seu objetivo era matar José Sarney, o presidente brasileiro na época, o primeiro civil a tomar posse do cargo após anos de Ditadura Militar no país. Por consequência, o atentado também mataria todos a bordo. 

Raimundo Nonato estava abalado por como as condições econômicas do país o haviam atingido pessoalmente. No final dos anos 1980, o Brasil vivia uma situação econômica crítica, com uma inflação média de 17% ao mês e uma taxa de desemprego variando de 9 a 11%, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Naquele momento, Nonato se via totalmente sem recursos para sustentar a própria família.

O filme estreou nos cinemas em dezembro de 2023 e chegou ao site do Star Plus. Tenso do início ao fim e fiel à realidade, vale muito a pena assistir.


Reportagem completa em:  https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2024/02/sequestro-de-aviao-no-brasil-qual-e-a-historia-por-tras-do-voo-375)

terça-feira, 5 de março de 2024

Five Nights at Freddy's

 



DESDE O ANO PASSADO  meu filho de treze anos tinha me intimado a ler uma trilogia baseado em um game que ele é fã. 

Comecei 2024 na metade de Crime e Castigo de Dostoiévski, livro que achei sensacional! E ele me cobrando: "Pai, acaba de ler esse crime e castigo logo..." impaciência juvenil.

Depois de me inteirar do universo dos livros que é baseado em um jogo de mistério e terror, parti para a leitura. Ano passado  lançaram no cinema um filme da franquia do jogo e eu fui "intimado"(outra vez!) a acompanhá-lo ao cinema junto com mais quatro amigos...e lá vou eu como babá de adolescentes ver um filme de um jogo que eu nem sabia bem do que se tratava!

Depois que meu filho me fez um resumo do universo do jogo, pois realmente é um "universo", já que a história abarca jogos eletrônicos(dez temporadas) cinema e livros e a história muda de uma plataforma para outra, me senti mais familiarizado com o mundo dos "animatrônicos". Não foi difícil, também era aficionado por livros e filmes de mistérios e terror na adolescência.

 Só para ninguém ficar boiando,  aí vai uma síntese do universo dos livros, jogos e filme: Dois amigos criaram uma empresa que fabricava bonecos robóticos muito avançados, que se moviam, falavam, e mudavam as expressões. Porém, um dos amigos tinha inveja  por ser menos talentoso e  suas criações não terem a mesma qualidade do outro. Doente pela inveja, ele mata a filha do amigo e por uma razão inexplicável, a alma da criança entra em um dos seus bonecos e ele se torna praticamente humano! A partir daí, em busca do sucesso e dando vazão à sua natureza criminosa, ele mata mais cinco crianças cujas almas também entram em bonecos chamados de "animatrônicos". Meio pesado, né, mas a franquia tem uma legião de fãs adolescentes pelo mundo.

Evidentemente, já o intimei daqui a dois anos,  ler Dostoiévski.




segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

TAPAUER

 




Quase certo que aí na sua casa você tenha alguns ou muitos desses potinhos de plásticos . Eles são o xodó de muita gente. São práticos e funcionais. Não estou bem certo do nome, até pesquisei. Achei textos discutindo a grafia certa do nome dos tais potinhos. Escolhi a mais simples: TAPAUER. Eles são de várias cores e tamanhos. Práticos, certamente são. Porém, cá tenho eu uma teoria de que os tapaueres possuem alguma força caótica misteriosa atuando em suas moléculas. Qual outra explicação teria para que um potinho de plástico nunca ser encontrado na gaveta com a sua devida tampa?

Eu sei que aí na tua casa deve ter vários potinhos sem tampa. Aqui tem vários...e tem aquelas pessoas viciadas nesses potinhos. Já tem uns três mil em casa (a maioria sem tampa!) mas aí passa em algum lugar, vê lá os potinhos e diz "Ah, que bom, tô precisando de uns potinhos..." 

Aqui em casa tem uma gaveta grande no armário da cozinha com várias tampas que perderam seus potes. Ou seria o contrário? Como eu disse, é uma força estranha que esses potes possuem. Primeiro essa força de atração. Parece que o pote (ainda mais quando é uma coleção com vários tamanhos) te olham nos fundos dos olhos e te sussurram calidamente..."compre batom, compre....", ops, perdão, isso é outra coisa, a propaganda antiga dos chocolates Batom entrou aqui na minha cabeça e escrevi....então deixa aí, meu inconsciente pode querer me dizer alguma coisa! 

Como eu dizia, o potinho tá lá e te sussurra..."Olha eu aqui, essas minhas cores, meus vários tamanhos, eu sei que você precisa de mim...você sabe de como eu seria útil na sua casa..." Irresistível. E lá vai você acrescentar mais alguns potinhos que durante uns meses te servirão bem mas logo, logo, aquela força caótica começa a atuar e...é pote para um lado é tampa para outro e nunca mais se consegue juntar os dois. 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

sábado, 17 de fevereiro de 2024

VELOZES E FURIOSOS 10








Velozes e Furiosos 10 foi lançado ano passado, em maio de 2023 mas só fui ver ontem, no Telecine (está também no Prime Video).  É longo, quase duas horas e meia. Eu gosto muito de filmes de ação e quando vejo um, não quero ficar fazendo críticas do tipo "ah, olha que mentira!". Claro que vai ter muita "mentira" não é? Mas essa é a magia. Você se desliga do real e entra na ação sem nenhuma pretensão de tirar dali reflexões sobre a vida ou questões existenciais. E esse décimo V&F extrapola tudo!! Cenas impossíveis? Tem e muitas, seguindo o padrão dos anteriores mais recentes. A coisa das corridas de carro (pegas ilegais!) do primeiro filme quase já não existem. 

Tirando o fato esquisito que o filho do Dom Toretto (Van Diesel) que era branco e agora é preto (acho que sofreu o processo inverso do Michael!) o filme é pura diversão nas cenas de ação, porque as falas e desempenhos da maioria dos atores são ruins demais, tirando talvez, o personagem vilão do Jason Momoa que se diverte muito fazendo seu personagem psicopata e afetado.

Essa foi a primeira parte da trilogia que enfim, irá concluir a saga. O primeiro filme é de 2001


Direção: Louis Leterrier | Roteiro Dan Mazeau, Justin Lin

Elenco: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Jason Momoa

Título original Fast X


Sinopse

Dom Toretto (Vin Diesel) e sua família foram mais espertos e superaram todos os inimigos em seu caminho. Agora, eles devem desafiar o adversário mais letal que já enfrentaram. Alimentada pela vingança, uma ameaça terrível emerge das sombras do passado na forma de Dante (Jason Momoa), para destruir o mundo de Toretto e destruir tudo - e todos - que ele ama.



Retornamos aos eventos de V&F 5: Operação Rio (2011) para conhecer o vilão de Jason Mamoa. Na trama do quinto filme, Dominic Toretto e sua equipe eliminaram o traficante brasileiro Herman Reis (Joaquim de Almeida), desmontando seu império de operações ilegais no Rio de Janeiro. O ator famoso pelo papel de Aquaman na DC rouba a cena como um vilão excêntrico que deseja destruir a família de Dom como vingança. O personagem é apresentado como uma "retcom" (alterando algo estabelecido antes) de V&F 5, filho do traficante Herman Reis.




quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

FOBIAS

 



Olha, tem fobia de tudo que é jeito. Quando eu tinha uns seis anos, um amiguinho da onça mais velho fez o balanço em que eu estava brincando ir tão alto que eu cai e machuquei o joelho. Tempos depois peguei uma fobia de altura. Com  cinco anos, lembro também de ter viajado de avião com meus pais e fiquei deslumbrado em olhar pela janela e ver os telhados das casas como se fossem feitas de lego. Mas anos depois, eu me vi com um medo intenso de altura e consequentemente, de voar de avião ou de qualquer outra coisa. Sonhava que estava voando e isso para mim era pesadelo. Acordava esbaforido, tenso, suado! Era fobia!!

Depois dos seis anos, só entrei em um avião quarenta anos depois! Foi meio na marra, na coragem, na cara...tive que fazer uma autoanálise e me convencer de que medo de avião era bobagem, os aviões são o meio de transporte mais seguro que existem. Mas quem  disse que a fobia é racional...? 

Tem gente que tem fobia  de praças públicas, de baratas,  ratos...fobia é uma doença, é um transtorno que precisa de tratamento, não é comparável a um medo comum. 

Tem gente que tem fobia de vegetais, de palavras grandes(!!!!), de pelos e cabelos...e os nomes são os mais estranhos também: Lachanofobia, caetofobia, bromidofobia...e por aí vai. Os nomes das fobias chega a dar fobia!!

Das fobias mais esquisitas, uma para mim é insuperável, é a rainha das fobias, é a cereja do bolo das fobias. Qual? A fobia de quem acha que está sendo observado por patos...

É isso que você leu: fobia de estar sendo observados por patos. Não é fobia do pato em si, é a fobia de estar sendo observado por ele. Convenhamos que pato é um bicho esquisito. Já viu bem a cara de um pato? Não transmite boas intenções... 

O nome da dita é "ANATIDAEFOBIA".

Estou escrevendo em tom jocoso mas a coisa é séria. Imagina a vida de uma pessoa que a todo momento está tenso porque um pato pode estar lhe observando atrás de uma moita? Eu já levei corrida de pato...patos não são amigáveis. Apesar disso, não fiquei com fobia de patos nem nada, meu problema era altura. Imaginei  aqui alguém que tenha uma fobia de patos lhe observando enquanto voa de avião...

A quem tem anatidaefobia, eu daria um conselho terapêutico-gastronômico: tenta comer uma vez por mês um bom Pato com Laranja, quem sabe a fobia não vai embora? 



quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Vida e Morte

 



Diz o poeta que a vida é um sopro.

Veloz, vai-se escapando pelos dedos

Buscando enfim,  seu destino final.

A morte é um sono do qual você não acorda,

Outro poeta já disse.

Então a morte deve ser boa...

Quem dispensa um tranquilo sono?

Mas um sono eterno? 

Sem sol a nascer?

Sem vozes a ouvir,

Sorrisos a compartilhar?


Um sono assim... ausências tantas…

Mas quem saberá das ausências?

Apenas dorme-se...


O afã da vida nos fez criar o além.

Nirvana... karma... paraíso...

Ausência de todo desejo

Ponte para novo despertar

Ressurreição. 


Ingrata vida!

Nos cria,

Nos molda, nos faz sentir

Olhar

Desejar

Amar

Odiar

E de repente, 

Nos toma tudo,

E nos faz dormir sem sonhar.


Abençoada vida! 

Sem nada sermos 

Nos torna tudo

Nos dá presente

Nos dá labuta

Nos dá vitórias

Nos dar céu, chão e mar.

Nós dá sorrisos, afetos, presenças e 

Festa!

Ah, satisfações tantas!

Ah, desilusões outras!

É no fluir dos opostos que nos faz

Caminhar,

E como se dissesse, "basta", decreta o apagar 

Das luzes.

Hora de descansar...


Perguntava outro poeta: O que é a vida?

Não responda, era apenas uma pergunta retórica. 


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Eduardo Medeiros, Rio de Janeiro, 13/03/2012


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

JANEIRO

 




PUBLICAM-SE  nas redes muitos memes que se referem à demora do mês de janeiro passar. Este ano entrei na brincadeira e escrevi esse versinho...


Vai-te, Janeiro

Prolixo, distendido, sufocante, arrastado 

Mês...

E atentai, ó delongado!

Atentai!

Só voltes ano que vem.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

PASSARINHOS NA SALA

 



NAQUELE DIA ele acordou antes de mim. Tinha uns 7 anos. 

"Pai, pai, acorda..." Abri os olhos,  ele  em pé diante da minha cama. 

"O que foi filho, já acordou"?

"Pai, vem vê, tem um passarinho na sala..."

Pensei que meu filho estava sonhando acordado, já que ele era dado a se levantar de noite e ficar falando coisas que só ele entendia, mas não parecia ser o caso. 

"Vem, pai, vem, tem um passarinho na sala.." 

Perguntei que história era aquela de passarinho, e ele repetindo que tinha um passarinho na sala. Pois bem, tinha mesmo. Vi o bichinho voando de um lado para o outro, se debatendo, tentando encontrar uma saída para a rua. "Ora vejam só...e aí, amiguinho, por onde você entrou?". Não costumo dormir de janelas abertas. E lá fui eu tentar ajudar o intruso. Antes, porém, vi uma movimentação na cozinha. Supressa! tinha mais dois passarinhos voando por cima do fogão e da geladeira. "Ei, como assim, de onde vocês vieram?". E como se não bastasse a surpresa dos três, vi que tinha mais um na varanda de serviço!

Abri a porta e as janelas da sala. Não foi fácil indicar o caminho da rua para os alados. Meu filho se divertia com a cena. Por fim, depois de muitos voos rasantes por nossas cabeças e batidas em cortinas, os três ganharam a rua e nunca mais os vi.

Passados já uns seis anos, ainda hoje matuto por onde foi que os passarinhos entraram. Mas foi uma manhã, diferente. Visitas inesperadas assim são até legais.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

CONSTRUÇÃO

 


Tenho um acordo com meu filho de 13 anos: Ele me apresenta o que ele e os amigos estão ouvindo, vendo e falando, e eu lhe mostro o que eu ouvia, via e falava "no meu tempo". Tem sido uma parceria muito produtiva. Aprendo as gírias novas da molecada, os jogos que eles jogam, as músicas que eles gostam; isso me atualiza, não me deixa ficar cheio de teias de aranha em relação ao universo deles. 

Na área musical, já apresentei pra ele vários cantores ícones da nossa música, de vários estilos musicais. Desde o Rock-Jovem-Guarda, passando pela Bossa Nova, a era do rock dos anos 80 e chegando à "MPB". Ele já ouviu Tim Maia, Jorge Benjor, Roberto Carlos, Elis Regina, Cazuza, Legião Urbana...entre outros. Ele tem gostado de tudo. Esses dias coloquei "Construção" do Chico para ele ouvir e a experiência foi chocante, segundo ele mesmo.

No meu tempo, meus pais não me apresentavam cantores, mas eles compravam discos (de vinil, evidentemente). Meu pai gostava de Luíz Gonzaga, Agnaldo Timóteo, Teixeirinha, Trio Arakitan e similares. Minha mãe, que era evangélica, ouvia muito músicas religiosas de Feliciano Amaral, Mara Dalila, Luiz de Carvalho, Oseias de Paula e outros. 

Os discos tocavam na vitrola e eu ouvia. Ninguém me dizia nada sobre os cantores, ninguém me dava a ficha completa deles. Então eu não sabia os nomes mas gostava de ouvi-los. Um em especial me encantava: Luiz Gonzaga! Era o Rei do Baião mas eu não sabia disso. Nem o que era baião eu sabia...só sei que eu pegava os discos dele, levava para um quarto vazio onde meu pai deixava uma vitrola portátil que ele trouxera da Alemanha,  e ali, um por um, eu ia ouvindo as músicas do Gonzaga. Cresci fã do forró raiz, da música sertaneja raiz. O que fizeram com ela (a música sertaneja) depois foi um crime! (desculpem ao fãs do chamado Sertanejo Universitário)

Voltando ao Chico e à Construção, meu filho me disse que aquela era a melhor música que eu tinha apresentado para ele. Que a construção dos versos, que mudam e trocam de lugar, era muito legal. Que a melodia era bonita e a mensagem da letra era uma boa história. Conversamos sobre a letra da música, o estilo, sobre Chico. O autor de A Banda tinha ganhado um novo fã.

 




A INVASÃO

EU JÁ ESCREVI  AQUI   sobre fobias. Medo de altura, de água, de avião, espaços públicos, de estar sendo observado por patos...pois é, existe...