ROBERVAL Amarildo de Menezes Silva Nepomucemo Congonhas Olegário era seu nome. Seu pai gostava de nomes extensos. Impositivos. Nome de senador. Sua irmã chamava-se AMARANTINA Josefina Menezes Silva Nepomucemo Congonhas Olegário. Amarantina nunca gostou do seu nome. Roberval até gostava de ostentar dizendo que só pessoas da realeza tinham nomes tão grandes. Não vê Dom Pedro? Aquilo que era nome...
Desde jovenzinho Roberval foi apelidado pelo amigo Zacarias de "O Aleatório". Bastou Zacarias ouvir o nome dito pelo pai para espalhar para todo mundo que Roberval era O Aleatório. O pai dissera:
— Roberval? Filho do Petrônio? Aquele que não fala coisa com coisa? Ele é totalmente aleatório...
— Meu pai disse que você é o aleatório.
— E o que é isso? Amanhã vamos na represa jogar xadrez na chuva?
— Aleatório é coisa sem sentido, aleatório, tendeu? Que nem tu fez agora. Que tem a vê ir pra represa jogar xadrez na chuva? Coisa mais aleatória...Aleatório é coisa que aparece do nada onde não devia aparecer. Coisa que você diz sem dizer nada. Igual tu fala!
— Você soube da professora de português e do carro do Juvêncio que bateu aquele trem de carga, precisamos entrar nele de novo. Não sei o que minha mãe fez para o almoço. Viu o vestido da Sandrinha como tava curto? Eu já passei de ano minhas notas bem altas. Eu te enganei, eu sabia que aleatório era aleatório. A amiga da Sandrinha me deu mole e o macarrão com molho da minha mãe é o melhor.
Zacarias dizia que Roberval falava assim tudo misturado, tudo aleatório para tirar onda de intelectual. Seu pai lhe dissera que intelectuais eram uma raça que não falava coisa com coisa e não serviam pra nada. Roberval não falava coisa com coisa. Era intelectual ou aleatório? Ou os dois?
— Roberval, porque você não fala igual todo mundo? Uma coisa com início, meio e fim? E uma coisa só de cada vez que tenha sentido?
— Não sei. Que sentido faz o sentido se não for sentido? No quartel eles falam "Sentido!" tem que ficar todo duro assim...meu irmão falou. Falo sério, a amiga da Sandrinha me deu mole mas faz tempo que minha mãe não faz lazanha.
— Eu que sou seu amigo quase não entendo o que tu fala!
— Eu entendo tudo o que eu falo...meu pai disse que eu sou normal, só tenho uma incrível capacidade de pensar rápido. Meu carro vermelho você ouviu aquela música no rádio? Eu gosto mais do Roberto Calhambeque bibi, o seriado novo do Tarzan deve ser bom. Me empresta dois cruzeiros?
Roberval cresceu, se formou com brilhantismo nas área da oratória e se tornou o maior senador da República do seu tempo como seu pai desejara. Os invejosos o chamavam de "intelectual aleatório" mas era exatamente isso que fazia de Roberval, um excelente senador.
Eduardo Medeiros,
Dezembro de 2024.
Faltam dois anos para as eleições...
Inspiradíssima e engraçada crônica!
ResponderExcluirBom domingo de Paz, Eduardo!
ResponderExcluirNem precisava ser senador, poderia ser prefeito, vereador ou até mesmo presidente com seu jeito aleatório de ser e de falar... quiçá?!
Excelente crônica inteligente!
Tenha uma semana pré natalina abençoada!
Abraços fraternos
Passando, lendo, e desejando um
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Feliz domingo
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