Clube de Detetives Pão de Queijo

domingo, 28 de julho de 2024

VERÍSSIMO E DEZESSETE

 


O GRANDE escritor Luis Fernando Veríssimo costuma repetir em seus escritos a palavra "dezessete". Por que será? Teria algum significado oculto? Numerológico? Cabalístico? Seria uma espécie de "toque literário"? LFV não é muito de dar entrevistas. É um tímido patológico. Fala muito mansamente e não desenvolve bem em entrevistas. Mas Veríssimo gosta de tirar onda de jazzista. Ele toca saxofone ao lado de um grupo de amigos chamados JAZZ 6 que ele brincava dizendo ser o "menor sexteto do mundo" por ter apenas cinco integrantes...Ali ele se solta.

LFV sempre foi um campeão de vendas no Brasil. Houve época que só PAULO COELHO vendia mais livros do que ele. Não sei como estão as estatísticas hoje. Suas crônicas são divertidas, inventivas, leves e bem escritas. Mas vejam só, ele já declarou que já tinha escrito muita porcaria...imagina! Nunca li nenhuma porcaria dele. Mas isso me anima a continuar escrevendo, já que até ele se reconhece escrevendo coisas ruins. Da minha parte, fico feliz quando escrevo alguma coisa boa...

MAS SIM, O DEZESSETE! Então, um dia alguém perguntou ao Veríssimo porquê ele repetia tanto a palavra "dezessete" em suas crônicas e ele primeiro respondeu "dezessete é um número cabalístico e, sendo cabalístico, eu não posso revelar..." Risos. Mas ele logo completou que era brincadeira, o dezessete não tinha nenhum significado oculto, ele apenas achava a palavra "dezessete", bonita.

Concordo com ele. Dezessete soa bem...Por outro lado, "sessenta" já é meio cacofônico. Soa meio como "se senta". Outro numeral que eu acho que soa bem pra caramba é "duzentos e doze". Não soa fofo? Tem que fazer um biquinho para dizer DUzentos e Doze...acho mesmo que as palavras que te obrigam a fazer biquinho soam melhor, vejam só os franceses, cuja língua é praticamente toda "biquinhenta"! Como soa bonito o francês não é? Já alemão é uma língua dura, sem poesia sonora mas muito boa para filosofar. Querem ver? Sabem qual é a maior palavra em alemão? É..."Kraftfahrzeughaftpflichtversicherung". Isso aí. Acho que soa meio como "carafatazerafetepêfliktversocherung"... Coisa nada poética e sem biquinho. Para mim até evoca as imagens daquele homenzinho do bigodinho discursando... A palavra significa  "seguro obrigatório de automóvel". Pelo menos eles têm uma palavra só para dizer a mesma coisa que só conseguimos dizer usando quatro.

TEM PALAVRAS  em português das quais eu sempre fui fã tal qual Veríssimo com seu dezessete. Na adolescência eu tinha a mania de ficar lendo dicionários procurando palavras que me soassem legais. Quando achava alguma ou quando lia alguma em algum livro, eu anotava em uma caderneta. Era a minha "caderneta de palavras belas". Eis algumas:

"Eflúvios". "Ressonâncias". "Elucubrações". "Epifania" - esta então é divina..."Imprescindível" também é uma palavra bem legal.  Acho ela nobre, quase monárquica. E aí, alguém aí tem a sua "dezessete"?



sexta-feira, 26 de julho de 2024

O MESTRE BRASILEIRO DA XILOGRAVURA TAMBÉM NOS DEIXOU

 



NA POSTAGEM ANTERIOR lembrei de Ariano Suassuna e dos dez anos da sua partida. E hoje, um outro grande artista nordestino popular também nos deixou: J. BORGES, poeta e mestre da xilogravura. Faleceu aos 88 anos em casa, em Bezerros, no agreste de Pernambuco onde morava.

Borges foi um ícone da cultura popular brasileira e ficou conhecido pelos seus trabalhos em xilogravuras. J. Borges nasceu em 1935, na zona rural de Bezerros, em Pernambuco. As histórias contadas pelo seu pai, Francisco Borges, teve papel fundamental no envolvimento do filho com a arte, principalmente com a poesia de cordel e com a xilogravura.

A Xilogravura é uma técnica de pintura que se caracteriza por um dos métodos de impressão mais antigos. Essa técnica se baseia no corte de uma figura em superfície de madeira que, em seguida, é coberta de tinta e, assim, impressa em outro local. É feita em três etapas. Trata-se de um processo bastante minucioso, que requer atenção, habilidade e alto detalhamento.

J.BORGES era reconhecido até no exterior como um mestre da sua arte.



Xilografias de J.Borges






Um poema de Cordel de Borges.


HISTÓRIA DO HOMEM DO PORCO


        Um matuto muito otário

que nunca aprendeu a ler

criou uma casa de porco

dizendo ser pra comer

matou a porca e o porco

e foi pra feira vender.


        Chegou na feira cedinho

arranjou uma barraquinha

colocou a carne em cima

e gritou a carne é minha

um freguês pergunta o preço

da carne da bacurinha.


        Disse ele: a porca é da mulher

e o porco é todo meu

o preço do porco é o da porca

passou o dia e não vendeu

e já pela tardezinha

um comprador apareceu.


        O comprador lhe falou

a carne é do meu agrado

eu compro a porca e o porco

se o senhor vender fiado

o meu nome é Sou-Eu

o negócio está fechado.

        O matuto disse: está

você é um bom freguês

o homem disse: eu comprei

toda carne de uma vez

e garanto lhe pagar

daqui para o fim do mês.


        O pobre homem foi embora

sem a carne e sem dinheiro

em casa disse à mulher:

encontrei um companheiro

que comprou-me a carne toda

e paga no fim de janeiro>


        A mulher disse: tu és

um otário convencido

depois de tanto trabalho

dá o ouro ao bandido

mesmo assim eu quero o meu

para comprar um vestido.


        Quando passou mais de um ano

numa noite calma e fria

o matuto viajou

e passando uma travessia

na mata escura ele viu

gente que vinha ou que ia.


        E com medo gritou

de lá alguém respondeu

não tenhas medo colega

quem está aqui sou eu

o homem encostou e disse:

eu quero o dinheiro meu.


        Disse o homem: qual dinheiro

que o  senhor diz que quer

ele disse: do meu porco

e da porca da mulher

você agora me paga

dê o caso no que der.


        A quem eu vendi a carne

disse: que era sou eu

você respondeu agora

que esse é o nome seu

e por isso me pagas logo

a carne que tu comeu.


        O homem pagou a pulso

sem comer e sem beber

apertado no punhal

sem poder se defender

deu o dinheiro que tinha

pra se livrar de morre.


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Foto publicada no jornal Folha de Pernambuco

Cordel publicado no site Antonio Miranda

quarta-feira, 24 de julho de 2024

DEZ ANOS SEM ARIANO

 



E JÁ SE VÃO DEZ ANOS que Ariano Suassuna nos deixou. Um dos maiores defensores da cultura brasileira, principalmente a nordestina, notabilizou-se em várias áreas artísticas onde atuou: Foi um intelectual, escritor, filósofo, dramaturgo, artista plástico, poeta, imortal da Academia Brasileira de Letras e advogado! O autor de O Auto da Compadecida(e de outros 15 livros de poesia e romance e 18 peças de teatro), arrancava aplausos e principalmente muitos sorrisos e gargalhadas nas suas palestras e "Aulas Magnas" em universidades. Abaixo, escolhi dez frases e dois vídeos de Ariano que refletem toda sua genialidade de bom conversador, seu bom humor. Um intelectual do povo, das coisas simples da nossa terra, do nosso chão. Obrigado por tudo, Suassuna!!

Ariano nasceu em João Pessoa,  Paraíba em 16 de junho de 1927 e faleceu em 23 de julho de 2014, vitima de uma parada cardíaca.






"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso"


"Não troco 'meu fé' pelo 'sou ateu ' de ninguém" 


"Acredito que toda arte é local, antes de ser regional, mas, se prestar, será contemporânea e universal"


"É preciso reafirmar valores sem ter medo de ser chamado de arcaico"


"No meu ver o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso".


"Eu sou muito contra as pessoas falarem mal dos outros pela frente. Eu acho que é uma falta de educação muito grande. Não é? Falar, falar mal pela frente, constrange quem ouve, constrange quem fala. Não custa nada a gente esperar um pouco as pessoas darem as costas"


"Não existe arte nova ou velha, só boa ou ruim"


"Quem gosta de ler não morre só"









domingo, 21 de julho de 2024

METAMORFOSEANDO

 


PERCEBERAM QUE EU MUDEI A CARA DO BLOGUE, NÉ?

POR  VOLTA DE de 2004 por ai (sou péssimo com datas) quando descobri a "blogosfera" eu fiquei fascinado com a ferramenta. Escrever já era um hábito desde a adolescência. Fazia corações adolescentes suspirarem com meus poemas de amor. Doze anos e um caderno cheio de versos românticos e humorísticos que eu dava para minhas amigas lerem. Para os amigos, não. Com eles a coisa era outra coisa. Era futebol, bola de gude e troca de revistas em quadrinhos. 

MEU PRIMEIRO blogue se chamava SALA DO PENSAMENTO. Olha só que nome pomposo! Lá eu escrevia...meus pensamentos! Eram muitos. Eu pensava sobre tudo. Ainda penso. No final das contas, nossos blogues são isso, né? Salas de pensamentos. "Saladas de Pensamento"... Não sei porque pensei nesse trocadilho...mas até que daria um nome interessante para um blogue: Saladas de Pensamentos. Quem quiser, pode usar.

ACHEI ÓTIMO poder escrever e mostrar para qualquer pessoa na internet e ao mesmo tempo, poder ler outros blogueiros. Criei uma rede de amigos nesse tempo unidos por blogueiros que escreviam sobre teologia e religião. A amizade cresceu e depois de alguns anos, sugeri um blogue coletivo chamado CPFG (Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola), nome que eu inventei (também bem pomposo, gosto de nomes pomposos) que está no ar até hoje, apesar de só eu e outro amigo publicar nele. Mas a amizade coletiva continua, até já nos encontramos fisicamente e foi uma festa!

MUDANÇAS. Eu achava  divertidíssimo poder mexer na cara do blogue; mudar o modelo, as fontes, as cores! Eu mudava a Sala do Pensamento a cada semana...meus amigos diziam que eu tinha compulsão da metamorfose blogueira compulsiva adquirida...nome muito feio! Eu não consigo entender como alguém faz um blogue e deixa ele com a mesma cara por décadas!! Gente, isso não pode ser normal!! 

PEGUEI COMPULSÃO em criar blogues. Criei vários. Como eu pensava em muita coisa, danei a criar blogues temáticos: Um de poesia, outro de teologia, mais outro de atualidades, mais outro de-não-sei-quê-mais...Aí eu já achava que eu tinha algum problema... Depois não, me diagnostiquei como sofrendo de "explosão criativa esquizofrênica compulsiva blogueira", algo que não me traria muitos males a não ser pequenos eventos de ansiedade.

AÍ ACONTECEU UM TRECO CHATO. O Blogger deu um "bug" em alguns blogues que não se conseguia acessar, nem publicar, nem nada. meus dois principais blogues, o Sala do Pensamento e o Olhar o Tempo (sim, mais um nome pomposamente poético) ficaram inativos. Dessa época e que agora reencontrei, só lembro de já ter relações blogais com a  CHICA e com o ANDRÉ MAMSIM. O bug me deixou profundamente irritado. Tão irritado que quando tudo voltou ao normal eu desisti dos blogues e deletei-o-os. Assim na lata, sem remorso, sem compaixão...acontece que todos meus amigos blogueiros teológicos já estavam deixando de publicar em blogue e migrando para um tal de Facebook que eu demorei a aderir. Apenas o CPFG resistiu bravamente, porque esse como era coletivo, eu não deletei. Meu confrade RODRIGO ÂNCORA DA LUZ ficou sendo o principal autor da Confraria.

GOSTO DE MUDANÇAS. Talvez hoje só o que não mude mais em mim seja a profunda preguiça de sair de casa... Assim, me deu na telha, eu deixo, eu largo, eu reciclo. Não faço isso com gente, mas com coisas, sim. Até com livros!  Olho para as paredes do meu quintal, do interior da casa e penso "elas estão chatas, vou fazer uma pintura diferente", e coisas do tipo. Fiz três cursos universitários e só um deles (o de teologia) eu consegui terminar e não largar de mão por achar tudo chato. Mas deve ter sido porque lá encontrei a mulher que está comigo até hoje e que me tirou da minha solteirice acomodada.  Quem consegue aguentar as normas da ABNT...?  E também os cursos me tiravam o tempo de eu ler o que eu quisesse, eu tinha que ler os livros... do curso! (é, isso é óbvio mas eu sou estranho mesmo). Estou sempre reciclando as ideias. Aliás, "Recicle suas ideias" é o tema pomposo que eu criei para o CPFG...

Agora que larguei o Facebook e voltei à blogosfera, espero continuar por um bom tempo trocando prosa com quem quiser entrar aqui, nesta minha nova "sala do pensamento".

AH, ESPEREM UM POUCO, esqueci! Eu tive a ideia de criar esse blogue coletivo (CPFG) para deixar todo mundo perto, no mesmo espaço, discutindo os assuntos que nos gostávamos de discutir, que eram de início, teologia. Depois (olha o efeito metamorfose aí) alguns amigos já não queriam mais escrever sobre, acho que deu canseira. Aí minha "explosão criativa esquizofrênica compulsiva blogueira" veio à tona e sugeri: Então vou criar um blog coletivo para quem quiser publicar apenas temas de teologia e filosofia e a CPFG fica como um blog coletivo de assuntos gerais. Concordaram. Criei então a "Confraria Teológica Logos e Mythos" (é, mais um nome porreta como se diz na Bahia). Este blogue também está ativo, apesar de que ninguém mais dos autores originais postarem nada, nem mesmo eu. Mas às vezes me dá vontade e eu posto.

Desculpem fazer vocês leram tanto, peço perdão a SÃO BLOGGER DOS AFLITOS, padroeiro oficial dos blogueiros do Blogger.

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OS HEROIS DA RESISTÊNCIA.

https://cpfg.blogspot.com

https://https://logosemithos.blogspot.com 





segunda-feira, 15 de julho de 2024

Pedra sem poesia

 

UM POEMINHA DE ADÉLIA PRADO que eu recitei e postei no Instagram há um tempo. Tantos significados dentro de uma única estrofe! E não é assim mesmo? Quantas vezes a poesia que nos torna o viver menos efêmero, menos rude, menos concreto nos falta! Olhamos ao redor e só vemos "manchetes de jornais". Nada de elevação. Nada de conseguir olhar para além do óbvio. Para além do ordinário. Para fora de nós mesmos. Nada de ficar de peito aberto diante da infinitude do universo apenas contando estrelas... 

Ó Deus, não nos tire a poesia!! Não nos faça olhar uma pedra e ver somente...pedra!


 






Adélia Prado



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p.s - Instagram, Facebook e youtube são redes onde posto cada vez menos. Na verdade, não posto nada no meu canal do youtube e no Instagram faz mais de um ano ano. 



sexta-feira, 12 de julho de 2024

A VITROLA ALEMÃ

 


MEU PAI ERA MARINHEIRO e  ainda solteiro fez uma viagem à Europa e aos EUA  no navio Custódio de Melo. Era o navio que todo ano fazia uma viagem de instrução para os novos Guarda-Marinhas, futuros oficiais da Marinha. Hoje o Custódio de Melo já está fora de combate, foi aposentado. Fazer parte da tripulação do navio era bem concorrido, já que era uma viagem que todo marinheiro queria fazer. Além de visitar vários países europeus e os Estados Unidos, ainda recebia o soldo em dólar.

Visitando a Alemanha, ele comprou uma vitrola mas ou menos como esta da foto acima. Não tenho a lembrança nítida de como ela era mas sei que era assim, fechava como se fosse uma caixa. Uma das minhas melhores lembranças da infância é ao lado dessa vitrola. Lá pelos meus sete ou oito anos a vitrola alemã já tinha um bom tempo de uso. Já nem tinha tanto destaque assim na casa já que ficava guardada em um quarto onde ninguém dormia. Na nossa sala agora reinava imponente uma radiola da Telefunken(também alemã) parecida com essa aí da foto abaixo. 





MEU PAI GOSTAVA DA ALEMANHA, tanto que deu um nome alemão ao meu irmão mais novo: Vlanger. Se pronuncia "vlanker". 

Voltando à vitrola. Eu criança era atraído de forma irresistível por ela. Não sei como eu aprendi a mexer, acho que sozinho mesmo. Eu pegava os discos do meu pai, colocava no prato da vitrola e de repente se ouvia pela casa...

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Porque tamanha judiação...

Ou então

Quem é que não sofre por alguém?
Quem é que não chora uma lágrima sentida?
Quem é que não tem um grande amor...? 

Ou então

Velho casarão já quase tapera 
Da grande figueira sombreando o telhado
Se ela falasse contava a história
De quem te plantou há um século passado...

No início minha mãe não queria que eu mexesse na "vitrola do seu pai" mas como eu era teimoso e todo dia me sentava ao lado da vitrola para ouvir os discos, ela acabou cedendo. Acho que percebeu que eu sabia mexer direitinho e que não ia quebrar a vitrola alemã e meu pai também não se importava; como eu disse, o seu novo xodó era a radiola que parecia um móvel que ficava agora na sala.

Eram discos de LUIZ GONZAGA, TEIXEIRINHA, AGNALDO TIMÓTEO, TRIO ARAKITAN...e outros. O meu preferido era Luiz Gonzaga. Cresci gostando, admirando e cantando as músicas do Rei do Baião. Vejo que os discos de vinil e as vitrolas estão voltando ao mercado. Não tem CD, Spotify ou qualquer outra coisa digital que se compare ao clima e ao som de um disco de vinil. 

Não lembro que fim levou a vitrola, deve ter se esgotado pelo uso e pelo tempo. Tempo de um tempo onde tudo era mais feliz para uma criança que gostava de ouvir Gonzaga.













quinta-feira, 4 de julho de 2024

CRÔNICA DA CANNABIS EMPODERADA

 



- E aí, Tonho, viu que o STF liberou a maconha?

- Acho que Vi ...

- Então, agora dá pra comprar 40 gramas da bichinha de boa, sem polícia ficar te perturbando.

Odorico, que estava próximo e ouviu a conversa interpelou:

- Calma lá, Anastácio, não é bem assim..

- Como não?

- O STF resolveu legislar e aprovou que você pode carregar 40 gramas de maconha mas o tráfico continua ilegal e proibido. 

- Ué, então vou  comprar maconha onde? Na farmácia? Lá no bar do Tião?

- Não, tu vai ter que ir na Boca...

- Na Boca? Repetiu Tonho. Na Boca eu não vô, é perigoso...vai que na hora que eu tô lá pinta os poliça?

- Mas então deixa eu vê se entendi, interviu Anastácio: O meu traficante pode me vender 40 gramas, certo, Odorico?

- Bem, sim e não...

- Tonho coçou a cabeça.

- O traficante que te vende maconha ainda está fora da lei, pode pegar cana se for pego.

- Mas se me vender só 40 gramas?

- Aí ...ele deve ser usuário que vende maconha...

- Ué -  coçou a cabeça outra vez Tonho - mas quem vende maconha não é traficante...?

Os três amigos se calaram por um tempo, refletindo se podia ou não podia ir na boca comprar 40 gramas.

- Olha - por fim interviu Odorico - melhor a gente ligar lá pro Moraes para tirar essa dúvida.


segunda-feira, 1 de julho de 2024

A MAIOR AVENTURA DA MINHA INFÂNCIA

 



VOCÊS DEVEM TER VISTO PELO MENOS UM DOS FILMES DA FRANQUIA "Férias Frustradas". A história de uma família que sai em férias na maior empolgação, principalmente do pai, Clark, vivido pelo ator Chevy Chase, mas que precisam lidar com vários contratempos na viagem até chegar ao seu destino e curtir suas merecidas férias.

A maior aventura da minha infância foi uma viagem de férias com a família. Eu deveria ter uns onze anos. Morávamos em Angra dos Reis e meu pai decidiu que iríamos de carro até Natal, Rio Grande do Norte. Três dias e duas noites de viagem. Eu vibrei. Minha mãe ficou apreensiva. (não lembro das reações, mas durante os anos conversamos muito sobre essa viagem). Meus dois irmãos menores, Vlanger, oito anos e Shirlene, cinco, embarcaram na minha empolgação.

Diogo,  meu pai, tal qual o personagem do filme, era o mais empolgado. Aventura era com ele mesmo. Tinha trocado seu Fuscão por uma imponente Brasília zero quilômetros. Aquele carro para nós, crianças, parecia enorme! Aliás, espaço nunca foi problema para meu pai, um dia ele colocou dez pessoas no seu Fuscão (não me perguntem como) e vinha pisando fundo. Foi até parado pela polícia.  O policial olhou para dentro do carro, pediu os documentos e perguntou: - tá com presa? Meu pai respondeu: - Estou...(nessa hora eu pensei, putamerda, meu pai vai ser preso...). Não foi, mas depois eu conto essa história. 

Meu pai, muito meticuloso, preparou todos os detalhes da viagem. O carro estava ok, não precisava de revisão, estava novinho em folha ainda com aquele cheirinho de carro novo. A maior dificuldade seria levar três crianças em um carro em uma viagem de três dias. Meu pai resolveu isso fazendo uma cama  na parte de trás da Brasília, que era bem largo e cabia bem três crianças magrelas. O soninho estava garantido. 

Meu pai catalogou todas as paradas que fizemos. Era o momento que eu mais gostava. Almoçar nos restaurantes, ficar olhando as lojinhas dos postos e olhando o vai e vem de gente. Antes da viagem ele tinha comprado um gravador, que era um luxo lá em casa. A família toda ficou fascinada por aquele negócio que gravava nossas vozes. INCRÍVEL! Estamos falando aqui da década de 70. Minha mãe, que cantava muito bem, gravou dezenas de músicas naquele aparelho. Meu pai, falante e teatral que era, em cada lugar que parávamos ele ligava o gravador e dizia, imitando uma voz de locutor: - Chegamos às treze e trinta em ....(foram dezenas de cidades), abastecemos com vinte litros de gasolina, e vamos agora almoçar para depois continuar nossa viagem...fala aí Valda (minha mãe falava alguma coisa)...fala aí crianças...(aí era festa, nós três falávamos ao mesmo tempo na maior algazarra).

Não passamos por muitos sufocos na viagem como acontece com a família do filme mas lembro especificamente de um. Meu pai dirigia à noite, já estava cansado e com sono, minha mãe tinha a missão de não deixá-lo dormir, já que falava muito, a todo momento coisas do tipo "Filho, tá muito rápido, vai mais devagar.."; "olha a carreta grande aí na frente, cuidado, cuidado, não passa agora..." Chegava a ser chata mas meu pai não ligava, gostava até. Antes do ocorrido, eu e meus irmãos dormíamos.

 Acordamos com um baque, um freio brusco e uma balançada no carro...

Quando eu abri os olhos, o carro estava parado no acostamento, no meio do nada, um breu que só dava pra enxergar os faróis dos carros quando passavam na direção contrária. Minha mãe muito alterada, agradecia a Deus por alguma coisa; meu pai parecia extático segurando forte o volante. "O que aconteceu, pai"? Perguntei. Quem respondeu foi minha mãe. Meu pai tinha por um segundo, cochilado no volante; o carro deu uma saída para a pista oposta e logo à frente, dois faróis vindo em nossa direção apitando muito...Minha mãe deu um grito! Meu pai despertou. Foi só um nanosegundo para ele abrir os olhos, entender a situação e levar o carro de volta para sua pista num solavanco e indo direto para o acostamento.

Durante anos foi  divertido parar para ficar ouvindo todo o registro que fizemos daquela viagem e minha mãe sempre apontava que fora Deus quem não deixara a família toda morrer naquela noite. Não lembro de quase nada da nossa estadia em Natal, em casa de familiares da minha mãe, mas a viagem em si, foi sem dúvida, minha maior aventura na infância. E não ficou só nessa. Anos depois meu pai fez outra viagem similar na mesma Brasília, agora indo do Rio até Salvador. O registro está aí abaixo. Meus pais, minha irmã e irmão. Eu tirei a foto.





Meu Pet Bebê

 VOCÊS TÃO LIGADOS   nessa onda atual mas que vem de longe, de considerar animais domésticos como "Bebê". Meu bebê pra lá, meu beb...