Clube de Detetives Pão de Queijo

sexta-feira, 26 de julho de 2024

O MESTRE BRASILEIRO DA XILOGRAVURA TAMBÉM NOS DEIXOU

 



NA POSTAGEM ANTERIOR lembrei de Ariano Suassuna e dos dez anos da sua partida. E hoje, um outro grande artista nordestino popular também nos deixou: J. BORGES, poeta e mestre da xilogravura. Faleceu aos 88 anos em casa, em Bezerros, no agreste de Pernambuco onde morava.

Borges foi um ícone da cultura popular brasileira e ficou conhecido pelos seus trabalhos em xilogravuras. J. Borges nasceu em 1935, na zona rural de Bezerros, em Pernambuco. As histórias contadas pelo seu pai, Francisco Borges, teve papel fundamental no envolvimento do filho com a arte, principalmente com a poesia de cordel e com a xilogravura.

A Xilogravura é uma técnica de pintura que se caracteriza por um dos métodos de impressão mais antigos. Essa técnica se baseia no corte de uma figura em superfície de madeira que, em seguida, é coberta de tinta e, assim, impressa em outro local. É feita em três etapas. Trata-se de um processo bastante minucioso, que requer atenção, habilidade e alto detalhamento.

J.BORGES era reconhecido até no exterior como um mestre da sua arte.



Xilografias de J.Borges






Um poema de Cordel de Borges.


HISTÓRIA DO HOMEM DO PORCO


        Um matuto muito otário

que nunca aprendeu a ler

criou uma casa de porco

dizendo ser pra comer

matou a porca e o porco

e foi pra feira vender.


        Chegou na feira cedinho

arranjou uma barraquinha

colocou a carne em cima

e gritou a carne é minha

um freguês pergunta o preço

da carne da bacurinha.


        Disse ele: a porca é da mulher

e o porco é todo meu

o preço do porco é o da porca

passou o dia e não vendeu

e já pela tardezinha

um comprador apareceu.


        O comprador lhe falou

a carne é do meu agrado

eu compro a porca e o porco

se o senhor vender fiado

o meu nome é Sou-Eu

o negócio está fechado.

        O matuto disse: está

você é um bom freguês

o homem disse: eu comprei

toda carne de uma vez

e garanto lhe pagar

daqui para o fim do mês.


        O pobre homem foi embora

sem a carne e sem dinheiro

em casa disse à mulher:

encontrei um companheiro

que comprou-me a carne toda

e paga no fim de janeiro>


        A mulher disse: tu és

um otário convencido

depois de tanto trabalho

dá o ouro ao bandido

mesmo assim eu quero o meu

para comprar um vestido.


        Quando passou mais de um ano

numa noite calma e fria

o matuto viajou

e passando uma travessia

na mata escura ele viu

gente que vinha ou que ia.


        E com medo gritou

de lá alguém respondeu

não tenhas medo colega

quem está aqui sou eu

o homem encostou e disse:

eu quero o dinheiro meu.


        Disse o homem: qual dinheiro

que o  senhor diz que quer

ele disse: do meu porco

e da porca da mulher

você agora me paga

dê o caso no que der.


        A quem eu vendi a carne

disse: que era sou eu

você respondeu agora

que esse é o nome seu

e por isso me pagas logo

a carne que tu comeu.


        O homem pagou a pulso

sem comer e sem beber

apertado no punhal

sem poder se defender

deu o dinheiro que tinha

pra se livrar de morre.


____________________________________________________

Foto publicada no jornal Folha de Pernambuco

Cordel publicado no site Antonio Miranda

8 comentários:

  1. Boa Noite. Obrigado por sua visita e comentário. Aproveitei a oportunidade de lhe seguir, se possível, te agradeço também. J. Borges está com uma exposição no Museu do Pontal, Barra da Tijuca. Quero vê-la antes que termine, fazer uma matéria e prestar uma homenagem para ele. Bom final de semana.

    ResponderExcluir
  2. Mais uma perda.Grande o trabalho dele e gosto dos cordéis! abraços, lindo fds! chica

    ResponderExcluir
  3. Agradeço a visita ao meu espaço e , sinceramente, gostei de conhecer o seu.

    Paz para esse artista agora falecido.

    Cordiais saudações , bom fim de semana.

    ResponderExcluir
  4. Apesar de gostar muito da técnica de execução das xilogravuras usadas nos cordéis, não conhecia desenhos multicoloridos. O cara esra mesmo um mestre. E o poema é muito divertido.

    ResponderExcluir
  5. Bom dia. Tem muitos lugares do Rio, que são desconhecidos, até dos cariocas. O mês de agosto será dedicado ao Rio. Gostaria de ter o privilégio de vc seguir o meu Blogger e acompanhar o meu simples, trabalho.

    ResponderExcluir
  6. Em Campos do Jordão tem o museu da xilogravura, muito legal, eu recomendo.
    Realmente esses artistas partindo são uma pena.

    Tenha uma linda semana Dudu.

    ResponderExcluir
  7. Oi, Edu.
    Agora ele provavelmente está onde o Ariano está. Eu gosto de pensar assim. Ainda anteontem nas homenagens prestadas devido ao falecimento do J. Borges eu vi uma foto dos dois juntinhos em preto e branco. Se houvesse o recurso de partilhar imagens nos comentários do Blogger eu partilharia aqui. São perdas irreparáveis as mortes desses que podemos dizer que são mestres. Estão deixando, não por quererem, mas seguindo o curso natural da vida, um vazio e um silêncio nas artes que representam.
    Boa semana de escrita e de leitura pra você! 💐🎈

    ResponderExcluir
  8. Edu!!!
    Amo essa Arte.
    Tenho aqui em casa
    uma coleção que retrata
    po Folclore Brasileiro.
    Não é colorido.
    Qualquer dia publico fotos delas.
    Quanto a perda de
    artistas geniais, eu sempre
    digo que são perdas irreparáveis.
    Adorei a publicação.
    Bjins de ótima nova semana.
    CatiahoAlc.

    ResponderExcluir

Pode criticar, falar mal, falar bem, falar por falar. Obrigado e volte sempre!

PING PONG

  A AUSTERA E CENTENÁRIA revista sueca, kanariefåglar que em português poderia ser traduzida por " Canários"  , insistiu tanto que...