Clube de Detetives Pão de Queijo

sexta-feira, 12 de julho de 2024

A VITROLA ALEMÃ

 


MEU PAI ERA MARINHEIRO e  ainda solteiro fez uma viagem à Europa e aos EUA  no navio Custódio de Melo. Era o navio que todo ano fazia uma viagem de instrução para os novos Guarda-Marinhas, futuros oficiais da Marinha. Hoje o Custódio de Melo já está fora de combate, foi aposentado. Fazer parte da tripulação do navio era bem concorrido, já que era uma viagem que todo marinheiro queria fazer. Além de visitar vários países europeus e os Estados Unidos, ainda recebia o soldo em dólar.

Visitando a Alemanha, ele comprou uma vitrola mas ou menos como esta da foto acima. Não tenho a lembrança nítida de como ela era mas sei que era assim, fechava como se fosse uma caixa. Uma das minhas melhores lembranças da infância é ao lado dessa vitrola. Lá pelos meus sete ou oito anos a vitrola alemã já tinha um bom tempo de uso. Já nem tinha tanto destaque assim na casa já que ficava guardada em um quarto onde ninguém dormia. Na nossa sala agora reinava imponente uma radiola da Telefunken(também alemã) parecida com essa aí da foto abaixo. 





MEU PAI GOSTAVA DA ALEMANHA, tanto que deu um nome alemão ao meu irmão mais novo: Vlanger. Se pronuncia "vlanker". 

Voltando à vitrola. Eu criança era atraído de forma irresistível por ela. Não sei como eu aprendi a mexer, acho que sozinho mesmo. Eu pegava os discos do meu pai, colocava no prato da vitrola e de repente se ouvia pela casa...

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Porque tamanha judiação...

Ou então

Quem é que não sofre por alguém?
Quem é que não chora uma lágrima sentida?
Quem é que não tem um grande amor...? 

Ou então

Velho casarão já quase tapera 
Da grande figueira sombreando o telhado
Se ela falasse contava a história
De quem te plantou há um século passado...

No início minha mãe não queria que eu mexesse na "vitrola do seu pai" mas como eu era teimoso e todo dia me sentava ao lado da vitrola para ouvir os discos, ela acabou cedendo. Acho que percebeu que eu sabia mexer direitinho e que não ia quebrar a vitrola alemã e meu pai também não se importava; como eu disse, o seu novo xodó era a radiola que parecia um móvel que ficava agora na sala.

Eram discos de LUIZ GONZAGA, TEIXEIRINHA, AGNALDO TIMÓTEO, TRIO ARAKITAN...e outros. O meu preferido era Luiz Gonzaga. Cresci gostando, admirando e cantando as músicas do Rei do Baião. Vejo que os discos de vinil e as vitrolas estão voltando ao mercado. Não tem CD, Spotify ou qualquer outra coisa digital que se compare ao clima e ao som de um disco de vinil. 

Não lembro que fim levou a vitrola, deve ter se esgotado pelo uso e pelo tempo. Tempo de um tempo onde tudo era mais feliz para uma criança que gostava de ouvir Gonzaga.













12 comentários:

  1. Que lindo! Minha mãe ,de família alemã, adorava vitrolas.Não eram dessas aí, mas sempre me criei com elas. E lindo tempo mesmo, não volta mais! As vitrolas ,nem mais nada existem daquele tempo...Saudades! abração, lindo fds! chica

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  2. Even though I'm young, I love old things and I like learning about their narratives. The World of our time, even living in modernity, is undoubtedly very Vintage.
    (ꈍᴗꈍ) Poetic and cinematographic greetings.

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  3. Me gusto conocer la historia de la radio y su significado en tu familia. Te mando un beso.

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  4. Lembro que meu pai também teve uma sonata (era como chamávamos) que era uma caixa onde uma parte tinha o som e a outra tinha o prato pra colocar o disco e a agulha. Eu creio que isso, de ela virar uma caixa quando fechada, deve ter sido um padrão.
    Quando você me falou o que ouvia, eu me lembrei do que eu ouvia - tudo bem diferente de você, mas eu deixo pra falar a respeito no meu blog. Tem algum problema citar seu blog?
    Onde escreveu: "Não tem CD, Spotify ou qualquer outra coisa digital que se compare ao clima e ao som de um disco de vinil. ", isso é a boa e velha Nostalgia. Tenho momentos assim em relação aos meus gibis.
    Um abraço

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  5. Boa tarde de Paz, Eduardo!
    Nos meus 15 anos ganhei do meu pai um "toca discos "... kkk... foi um sucesso.
    Lembro-me das duas músicas primeiras.
    Conheci pessoalmente Agnaldo Timóteo, sem querer, na época de campanha eleitoral ao no RJ numa rua de calçadão .
    Recordar é viver...
    Não sei que fim levou a vitrola minha, afinal.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Abraços fraternos

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  6. Eu tenho uma vitrola e alguns discos e ... ainda hoje os escuto... 👏😘

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  7. Bom dia, Eduardo
    Linda recordação, a minha mãe tinha uma radiola e ela amava escutar música. Também amo os louvores, é um alimento singular, um forte abraço.

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  8. Olá, caro Edu, pois não é que na minha casa também tinha uma vitrola Telefunken. Meu pai comprou para agradar minha mãe, descendente de alemães. Quando fui ligá-la, na ansiedade de guri, vi que enganaram meu pai, pois só tocava disco de 78 rotações. Foi uma decepção.
    Gostei dessa excelente crônica.
    Uma boa semana,
    abraços.

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  9. Velhos e preciosos tempos. Parece que o som da música saía diferente dessas vitrolas.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  10. Oi, Edu.
    Que bom que essas relíquias estão voltando ao mercado. Apesar dos aparelhos digitais, acho que esses instrumentos não deveriam sumir do comércio e nem acabar, deixar de serem produzidos. Mesmo eu não sendo dessa época, acredito que isso é história, sem dúvida é história e fez parte da vida de muitas famílias mundo afora, tem valor sentimental pra muitas pessoas, e história deve ser preservada e passada adiante.
    Boa semana! 💐🎈

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  11. Bons tempos aqueles, Edu
    Meus pais eram alemães. Me lembro bem da vitrola na sala.
    Só não era Telefunken...rs
    Um abraço
    Verena

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