Clube de Detetives Pão de Queijo

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

CAETANO E ELIS

 




Festa!  Alegria, alegria! chegada de 1970!  Seria a expectativa do tri canarinho, apesar do chumbo, do Dops e dos Fardados? E essa tal guerrilha, minha gente, pra quê? Vamos vencer com a poesia e a canção...

   E ai, caê, como vai indo meu rei? Tô caminhando sem lenço e sem documento, minha deusa, como sempre!. Elis, com largo sorriso na cara, abraçou o amigo e lhe afagou os caracóis. Aquela noite de dezembro estava quente e festiva. Festa da vida, da música, do encontro. O natal passara quase agora e os próximos dias anunciavam um novo velho ano. O que será, será que será desse ano que se impõe? Acho que isso dá música...! Dá sim, Caê, dá sim... 

     Alguém ali soltou uma gargalhada quase indecente. A piada foi boa? Sorrisos largos apesar dos choros de Marias e Clarices nunca esquecidas. O show de todo artista tem que continuar. Bossa Nova! Jovem Guarda! Tropicália!  

   Os homens serão melhores no futuro, Caêtano? No porvir tudo pode ser pra nascer novo ser ou não... Enquanto os homens exercem seus podres poderes, tudo se repete, não é Elis? Isso também dá música... Elis sorriu, divertida e carinhosa. Ôpa, me passa uma bebida! Preciso afogar um pouco as mágoas da rejeição... Elis pensou que o amigo poetizava.  Do que ou de quem estás falando? Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel. Uma mulher, uma beleza que me aconteceu... Caralho, Caê, isso aí já é um verso de uma música....rejeição amorosa sempre inspira... Elis, pega mais uma bebida, vou trazer o violão... Eu sei que o amor é uma coisa boa, Caê!

    Alguém no outro lado cantou Joplim seguido por outros ao redor  "A Woman left loney will soon grow tired of waiting..." 

    O que foi a passeata contra a guitarra elétrica?, perguntou o anfitrião olhando de rabo de olho pra Elis.  Amigo, não dá pra ficar impassível diante do rock! Eu só queria preservar nossas raízes!, gritou Elis do outro lado. Vocês queriam mesmo era fazer propaganda do Fino da Bossa que você ia apresentar na TV..., disse Caêtano trazendo o violão. Vamos cantar Joplim ou beetles? Ou João Gilberto? Eu achei aquilo tudo brega, muito brega querer limitar as possibilidades de experimentação musical da MPB, decretou, já dedilhando as cordas do violão.

   Viva a Tropicália!, gritou uma jovem de cabelos cheios e embolados sentada no chão e encostada na parede onde  jazia um quadro de João Gilberto num banquinho com um violão. Viva! gritaram outros. Elis não arredou. Soltou uma gargalhada debochada e vaticinou, ora, seus tontos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.. Caetano sorriu. Tu és mesmo uma pimentinha...ouve essa: Quero você com a alegria de um pássaro em busca de outro verão..

     Uma sirene lá fora. Seria bombeiro, ambulância ou polícia? 


2 comentários:

  1. Edu, que lindo e bons tempos lembraste aqui! Fiquei feliz que me encontraste, assim vim te ver e te vi ativo aqui! Coisa boa! abraços, tuuuuuuudo de bom,chica

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