Crentes erram ao dizer "Deus existe" e ateus acertam ao dizer "Deus não existe", mas ambos torcerão o nariz para este texto de qualquer forma.
Isto aqui é um texto teórico, conceitual, filosófico, não "científico" mas pretende alcançar uma "dimensão" onde a ciência não costuma colocar o pé.
Se Deus é (conceitualmente) criador do universo, então tudo dele emana por via das leis naturais, logo, ele não pode "estar no universo", "existir dentro do universo", logo, "ele não existe". Da mesma forma como o criador de uma mesa não pode existir "dentro da mesa", ele precisa SER "fora da mesa" para poder criá-la. A Ideia está na mente consciente que materializa o conceito de "mesa" (me apego aqui, tortamente, a Platão)
Deus "não existe" porque "existência" é uma categoria daquilo que está no nível do relativo. Tudo o que existe é relativo diante daquilo que é o Absoluto, e o Absoluto não pode estar dentro do que é relativo. Deus é o Absoluto, o universo que dele emana, o relativo. Uma mesa não pode criar a si mesma, assim como o universo não deve poder criar-se a si mesmo, senão, o próprio universo seria Deus, seria o Absoluto, e de certa forma, o é, pois no sentido de que tudo emana de Deus, tudo participa relativamente da substância divina. Tudo é Deus (me apego tortamente aqui e além, a Espinosa).
Deus não "existe", Deus É a Substância Absoluta que É fora da "existência ordinária" da qual emanam todas as demais existências-substâncias relativas a ela. O universo está "dentro de Deus"(um texto bíblico diz que "Nele tudo subsiste") no mesmo sentido que uma mesa está "dentro" do seu criador e dele foi emanada ao tomar forma.
Sem mente consciente não há realidade a ser criada, observada e interpretada (me apego aqui aos físicos idealistas)
Conclui-se que o deus bíblico ou qualquer outro deus criado pela cultura humana, não é o Absoluto. O deus bíblico é um ser relativo, que pode ser percebido "dentro das relatividades e da incompletude da existência humana", já que ele se ira, se arrepende, julga, premia, condena, guerreia, ama, dá vida, mata, exige adoração, louvor, sacrifícios, cultos, ritos, logo, não é o Absoluto, logo, não é Deus.
O Absoluto não é moral, não exige nada e nada impõe. O Absoluto se basta em si mesmo porque ele "é o que é".
Deus só é imanente("está no meio de nós") no sentido de que tudo que há, participa da Substância Divina, neste sentido, "tudo é Deus". Quer se "conectar" com Deus? Olhe pra dentro de si mesmo e olhe a natureza, olhe o universo. Sua consciência é quântica, e talvez, conceitualmente, possa se conectar à consciência divina absoluta da mesma forma que um átomo é capaz de interagir com um outro a longas distâncias entre si, trocando informações através da luz.
A luz, é tudo o que precisamos.
Eduardo, seu texto é um chamado ao pensamento não domesticado. É o tipo de provocação que não busca agradar, mas abrir rachaduras na estrutura do entendimento comum. Concordo que a palavra “existir”, quando aplicada a Deus, é por demais limitada. Deus não “existe” como uma cadeira, uma galáxia ou um conceito mensurável. Deus é e isso, por si só, já exige silêncio antes de qualquer definição.
ResponderExcluirSua analogia com o criador da mesa é poderosa. Assim como a madeira não contém em si o artesão, o universo também não abriga o Absoluto em sua inteireza, mas sim, talvez, o reflexo, o perfume, o traço Dele. Gosto da costura entre Platão e Espinosa e mais ainda da forma como você insinua que há algo em nós que, mesmo sendo relativo, intui o Absoluto. Enquanto escrevia, pensei na criança que conversa com seu anjo da guarda sem precisar de prova alguma. E também na mulher que, ao olhar para uma árvore, sente que está diante de uma centelha do Eterno. A imanência da Substância divina é como luz dissolvida em tudo, inclusive na dúvida, na dor e na busca. Seu texto não nega a espiritualidade ao contrário: ele exige uma espiritualidade que não se conforme com imagens moldadas pela cultura ou pela religião institucionalizada. E nesse ponto, talvez, seu pensamento se encontre com os místicos, mesmo sem o rótulo: aqueles que afirmaram que Deus é um “não-saber”, uma presença tão total que ultrapassa nome, forma, vontade ou moralidade.
Obrigada por essa travessia filosófica. Ela não é cômoda. Mas talvez seja isso mesmo que nos aproxima da Verdade ainda que ela nunca caiba inteira em palavras.
Com carinho,
Fernanda!