Cinco da matina ele já estava lá, indo de um lado a outro da rua completamente bêbado. Vestido de andrajos, cabelo desgrenhado, descalço e sempre carregando um punhado de fotos. Gostava de discursar com grandes gestos, fala meio enrolada devido ao álcool e todo mundo lhe conhecia. Era professor de inglês. Coitado, ficou assim depois que a mulher lhe pôs um chifre. Ele é um ótima pessoa, só que não consegue largar a cachaça, eram frases que se ouviam no ponto de ônibus onde ele buscava sua plateia. Às vezes ele passava dias sem aparecer e eu me perguntava onde estaria e quando menos se esperava, lá estava outra vez com sua fotos e com seus discursos:
"Aquela bandida...aquela bandida me deixou...olha aqui, olha aqui, é ela nas fotos...foi embora e me deixou...aquela bandida...eu não bebo porque eu gosto, eu bebo por causa daquela bandida...eu sou professor de inglês....parei de lecionar por causa daquela bandida... perdi tudo por causa dela...
E eu com meus botões ficava matutando como uma desilusão amorosa podia acabar com um homem. Isso é muito raro acontecer com mulheres. Não sei de nenhum caso de uma mulher ter sido abandonada e ter-se tornado alcóolatra e ter passado a viver nas ruas bradando que "aquele bandido me deixou, estou assim por causa dele..".
Já vi mulher bêbada depois de festas, baladas, comemorações mas nunca vi mulher bêbada sofrendo por um homem que a deixou. Nessas questões do coração, precisamos aprender com elas.
Melhor de tudo é nenhum dos dois, ficar bêbados assim, rs...
ResponderExcluirBem escrita mais essa crônica! abraços, chica
Oi, Eduardo! Vi seus comentários lá no meu cantinho e vim conhecer seu blog, não me lembro se já estive aqui antes. Se já, perdoe meu lapso de memória.
ResponderExcluirGoste muito da sua crônica e tenho uma pequena teoria sobre não ver mulheres bêbadas largadas na rua por terem sido abandonadas: somos ensinadas desde cedo a ter mais resiliência. Mesmo sofrendo, levamos a vida em frente,embora não sem traumas. Conheço mulheres que não bebem como conta sua crônica, mas que depois de uma desilusão amorosa se fecharam, ou descuidaram da saúde, deixaram de fazer coisas que gostam, por exemplo.. Ou seja, modos diferentes de se abandonar. Enfim.
Vou acompanhar mais seu blog daqui em diante!
Abraços!
pois é, Marina, formas diferentes de lidar com a dor da rejeição. valeu, obrigado pelo comemtário.
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