QUEM ME CONTOU FOI UM um sujeito que se sentou ao meu lado num hospital em 1995. Eu esperava uma consulta e ele também. "É a segunda vez que eu vou tentar fazer essa exame..." Olhei pro sujeito e ele não parecia bem. Estava visivelmente tenso. Talvez para desabafar e tentar controlar a ansiedade, começou a me contar...
"Então, como eu disse, é a segunda vez que vou tentar fazer o espermograma. Semana passada vim mas não consegui, acho que paguei um mico...mas veja só, esse exame é complicado de fazer. O médico disse que minha testosterona estava abaixo do normal para minha idade, e olha que eu só tenho trinta e cinco! Ele me aconselhou a tomar injeções de testosterona para que os níveis fossem para a normalidade mas perguntou se eu ainda pretendia ter filhos. Ora, eu não tinha nenhum...estava há dois anos casado e esperava sim, engravidar minha mulher, dez anos mais nova do que eu. Foi então que ele me disse que tomar suplemento de testosterona poderia mexer com minha fertilidade e que antes de tomar uma decisão de me receitar ou não, me pediu o tal do espermograma para ver como estava a qualidade dos meus espermatozoides..."
Prestava atenção no que ele dizia.
"Pois então, meu amigo, eu vim fazer o tal exame. Uma enfermeira muito bonita me deu um potinho, me levou para uma sala reservada e me disse: ' Então, o senhor precisa colher o esperma e colocar dentro do pote. Tem umas revistas ali para ajudar o senhor e o banheiro é naquela porta...' Olhei para uma mesinha e vi algumas Playboys em uma pequena pilha. Pareciam todas novas, deste ano. Fiquei meio sem jeito e ainda pensei em perguntar à bonita enfermeira se ela não podia me dar uma ajuda...mas achei que seria inconveniente..."
Fiz uma meia careta e concordei que seria inconveniente mas até que a ideia era boa. Levarmos alguém lá para dar uma força. Mas não a enfermeira do hospital, isso não...esperei que ele continuasse o ocorrido.
"A enfermeira saiu e me deixou lá com as Playboys. Olhei em volta e a sala era bastante impessoal. Fria. Branca. A primeira revista da pilha tinha a foto da Adriane Galisteu. Dei uma olhada na segunda da pilha e me aparece a capa com uma tal de Karen Matzenbacher , que eu não sei quem é...Sinceramente, eu até gosto da revista, é elegante e as fotos são quase artísticas..."
Concordei com a cabeça.
"Mas veja, pode parecer mentira mas é verdade: Eu gosto de ler as entrevistas...você sabe que nenhuma outra revista faz entrevistas como a Playboy, né? Por lá já passaram Pelé, Xuxa, Senna, Tom Jobim..."
"Li a entrevista do Senna, muito boa mesmo", concordei.
"Pois então, meu amigo, quando eu vejo a terceira revista da pilha o que me chamou a atenção não foi a modelo e sim o entrevistado: Fernando Collor de Melo. Eu tinha procurado essa edição mas esgotou logo, eu queria muito ter lido a entrevista do ex-presidente para ver a versão dele de tudo o que tinha acontecido, o confisco, a Casa da Dinda, seu impeachment, os negócios do Paulo César Farias... Aquilo foi um achado! Peguei a revista e sentei no sofá. Abri direto na entrevista. Você sabe, mais de vinte páginas de entrevista...e aí o tempo foi passando, passando e eu esqueci do exame..."
Olhei espantado para o sujeito já com vontade de rir. Perguntei, "mas então, depois que leu a entrevista, conseguiu colher o material?"
"Qual nada, o amigão não quis ajudar... Não teve Galisteu nem Karen que desse jeito... Com a cara e a entrevista do Collor na cabeça não tinha jeito da outra cabeça dar sinal de vida..."
Nessa hora não aguentei e comecei a rir. Rir não, comecei a gargalhar, o que fez eu virar alvo de olhares curiosos dos outros pacientes que estavam por ali. O sujeito começou a rir também.
"Mas então, será que hoje você consegue?"
"Sinceramente, meu amigo, eu não sei... é difícil concentrar...mas vou dar uma chance à Galisteu".