Clube de Detetives Pão de Queijo

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

PAIS E FILHOS # 2 - OS MALABARISTAS DO SINAL

 



TÍNHAMOS PASSADO a tarde toda no Shopping. Típico programa entre pai e filho que a gente faz de vez em quando. Nesses programas a mãe não vai. Geralmente fazemos isso em uma segunda-feira. Sim, com minha permissão, ela mata aula. A mãe trabalhando. Matar aula em uma segunda-feira deve ser o máximo para um adolescente de treze anos, quase quatorze a completar no próximo 21 de dezembro. E ainda mais com a permissão do pai! Pensando bem, não sei se seria mais emocionante para ele se matasse a aula sem eu saber....aliás, como eu de vez em quando fazia na idade dele. A questão é que o boletim dele é bem superior ao que o meu era...

Depois de um dia de cinema, sorvetes, carrinhos de bate-bate, chamo um Uber para voltarmos para casa. Logo na saída do shopping, há um sinal de trânsito e ali, em certo horário, vários adolescentes se reúnem para fazer seus números de malabares para ganhar uns trocados. Nesse dia, na hora em que saímos, lá estavam os meninos. O sinal fechava,  iam para a frente do primeiro carro e jogavam limões para cima, fazendo-os girar no ar, tudo muito rápido. Antes do sinal abrir, iam de carro em carro pedindo uns trocados como cachê pelo show.

Quando um menino franzino, vestido com uma camiseta desgastada e um short que parecia grande demais para ele olhou para dentro do meu Uber pedindo seu cachê, vi que não tinha nenhum trocado. "Pai, ajuda o menino.", pediu meu filho. "Mas filho, eu não tenho nenhum trocado..."

O sinal abre. A fila de carro começa a andar. Olho para meu filho e vejo seus olhos marejados, olhar fixo como se estivesse matutando alguma coisa. "O que foi, Eduardo?". "Pai, esse menino deveriam estar em casa, ou no shopping como eu mas está aqui no sinal pedindo dinheiro, talvez para ajudar sua família...isso é muito injusto".

Naquele momento, percebi que tenho em casa um adolescente de treze anos com  consciência social.

7 comentários:

  1. As diferenças sociais ,tão ristes, foram já bem percebidas pelo teu filho! Que bom! abraços aos dois, chica

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  2. Hoje em BH já quase não se vê meninos carentes fazendo esse tipo de coisa ou pedindo dinheiro. Não sei onde foram parar. Em compensação, há muitos jovens com formação "circense" que ficam em vários sinais exibindo sua habilidade. Como não ando com dinheiro, nunca dou nada além de algum elogio. O curioso é que alguns calculam mal o tempo disponível e quando resolvem parar, o sinal está abrindo. Sonhadores, na minha opinião.

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  3. Boa tarde, Eduardo
    Esses programas com o filho é muito gratificante. Triste demais a desigualdade social, ajudar o próximo é importante, que bom que o teu filho tem essa visão, fruto da criação de vocês. Obrigada pelas felicitações, um forte abraço.

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  4. Que legal Dudu.
    As crianças pensam com o coração às vezes.
    Pena que se tornam como nós... Que muitas vezes olhamos para essas cenas, como se elas fossem parte da paisagem.
    Muito triste isso.

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  5. Gostei da sensibilidade demonstrada pelo pedido do seu filho, Eduardo. Algo tão raro e precioso nos dias que correm...
    Um abraço a ambos!

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    1. Fiz várias tentativas e não me foi possível seguir o seu Blog.
      Estranho! Não sei o que possa ter acontecido. Tentarei mais tarde.

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  6. Os dias estão tão maus que algumas vezes esses meninos fazem-nos medo _ não conseguimos distinguir e surpresas aocntecem todos os dias. No entanto, é mesmo muito triste vê-los tendo que pedir na rua quando deveriam estar na escola ou no cinema ., curtindo o dia com o pai. Uma crônica pungente Edu, saio pensativa no tamanho da impotência ou do descaso sabendo que nossos filhos não estão nos entornos a serem julgados maltartados e a maltratar. Um abraço

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PAIS E FILHOS # 2 - OS MALABARISTAS DO SINAL

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