sexta-feira, 14 de novembro de 2025

O Carteiro

 





     QUANDO CRIANÇA eu olhava o carteiro chegando. "Toma, é pra tua mãe". Tinha essas intimidades, o carteiro conhecia todo mundo na rua pelo nome. Eu pegava  a carta e aquilo me trazia imensa felicidade. Como deveria ser empolgante receber uma carta! "Mãe, mãe, tem carta pra você!". Era da tia Valdira que morava em outro Estado. Eu gostava muito dela. Tinha uma linda voz, compunha belas canções com seu violão. Na carta ela contava feliz o nascimento do terceiro filho.

     O carteiro deveria ser feliz. Ele era livre. Andava daqui prá lá a pé ou de bicicleta, entregando mensagens para as pessoas. Uma carta de um amigo distante. Um telegrama dizendo que a filha chegaria no sábado. Um telegrama sobre uma herança recebida...assim eu pensava no meu jeito sonhador de criança. Decidi ser carteiro quando crescesse. Levaria muitas cartas para muitas casas e deixaria todo mundo mais feliz, com boas notícias. Mas um dia entendi que o carteiro não só levava mensagens boas e alegres, mas também tristes. "Candinha faleceu. Infarto fulminante" - foi o telegrama que Dona Norma, a vizinha do fim da rua, recebeu naquele dia. O carteiro então, era como a vida. Nos fazia sorrir ou nos fazia chorar. Eu não queria mais ser carteiro, vai que eu teria que entregar um telegrama ruim para minha mãe!

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