NAQUELE DIA ele acordou antes de mim. Tinha uns 7 anos.
"Pai, pai, acorda..." Abri os olhos, ele em pé diante da minha cama.
"O que foi filho, já acordou"?
"Pai, vem vê, tem um passarinho na sala..."
Pensei que meu filho estava sonhando acordado, já que ele era dado a se levantar de noite e ficar falando coisas que só ele entendia, mas não parecia ser o caso.
"Vem, pai, vem, tem um passarinho na sala.."
Perguntei que história era aquela de passarinho, e ele repetindo que tinha um passarinho na sala. Pois bem, tinha mesmo. Vi o bichinho voando de um lado para o outro, se debatendo, tentando encontrar uma saída para a rua. "Ora vejam só...e aí, amiguinho, por onde você entrou?". Não costumo dormir de janelas abertas. E lá fui eu tentar ajudar o intruso. Antes, porém, vi uma movimentação na cozinha. Supressa! tinha mais dois passarinhos voando por cima do fogão e da geladeira. "Ei, como assim, de onde vocês vieram?". E como se não bastasse a surpresa dos três, vi que tinha mais um na varanda de serviço!
Abri a porta e as janelas da sala. Não foi fácil indicar o caminho da rua para os alados. Meu filho se divertia com a cena. Por fim, depois de muitos voos rasantes por nossas cabeças e batidas em cortinas, os três ganharam a rua e nunca mais os vi.
Passados já uns seis anos, ainda hoje matuto por onde foi que os passarinhos entraram. Mas foi uma manhã, diferente. Visitas inesperadas assim são até legais.