TENHO uma relação de amor e (quase) ódio com o nosso Hino Nacional. Junto com a Bandeira, o Selo e as Armas Nacionais, são os "símbolos da pátria". Fazer qualquer tipo de alteração nesses símbolos é uma contravenção, algo menor que um crime mas passível de multa que pode variar de quatro a oito mil reais. Vocês lembram de um evento do candidato Boulos à prefeito de São Paulo nas últimas eleições, em que alguém cantou um verso do Hino trocando partes da letra para a famigerada "linguagem neutra"? "verás que es filhes teus não fogem à luta"… sim, mandaram essa...coisa mais linda de inclusão e representatividade... SQN. (pra quem não sabe, "SQN" quer dizer "Só Que Não", meu filho me explicou há um tempo...). Houve protestos dos patriotas de direita e o próprio candidato apagou o vídeo das suas redes, e pôs a culpa na empresa contratada para fazer o evento. Sei, confia. Mas a verdade é que essa lei, criada em 1973, em plena Ditadura Militar, já não é tão levada em conta mas ainda está em vigor. Por exemplo, não se pode aplaudir depois que o Hino é executado, e isso é o que mais acontece em eventos esportivos.
Já na pré-adolescência, eu achava o Hino uma coisa linda, maravilhosa, uma canção contagiante. A letra eu não entendia muita coisa, aliás, eu diria que 99% dos brasileiros não saberiam interpretar todos os versos do Hino. Nas escolas, cantávamos o Hino antes do começo das aulas. Ouviram do Ipiranga às margens plácidas...Não entendíamos o que cantávamos mas era lindo! Um evento me fez ser obrigado a descobrir o significado de várias palavras do Hino por livre e espontânea pressão, fato que quase me leva a odiá-lo... De um povo o heróico brado retumbante...
Estávamos em horário de recreio. Aquele burburinho. Toca o sinal para o recomeço das aulas. fazia-se uma fila para subirmos as escadas para o segundo andar. Aquele empurra-empurra, eu ali no meio sendo vítima da balbúrdia alheia, já que eu era bem comportado até que...passa o diretor na hora e me puxa para fora da fila. Me pegou pra Cristo como se dizia antigamente. Levou-me até sua sala. O estranhamento de adentrar na sala do diretor da escola era indescritível. Tensão e suor. Quase lágrimas. Depois de ouvir um sermão de que eu tinha que me comportar na fila de entrada (meus protestos de inocência não lhe comoveram), ele me deu uma tarefa a ser cumprida em uma semana: Eu teria que escrever dez vezes a letra do Hino e procurar o significado das palavras desconhecidas (que para mim eram quase todas). Castigo desgraçado...castigo sem jeito, como diria o Chicó...munheca quase caiu....mamãe ajudou o diretor: É pra você aprender a não fazer bagunça! Mas mãe...nem mais nem menos!
Cumpri a tarefa em uma semana. Dedos quase tortos de calos. Levei o trabalho para o diretor conferir. Ele ainda criticou minha letra...mas a tarefa estava paga. Sim, eu poderia a partir de então, ter odiado o Hino; de fato o odiei enquanto o escrevia e escrevia e escrevia e procurava o significado daquelas estranhas palavras, mas como dizia minha mãe, não há males que não tragam bens, e depois de tanta labuta escriturística, eu podia me gabar de ser o único aluno da escola a saber o significado de ...O lábaro que ostentas estrelado...
* * * * * *
Bem, eu ainda não sei se vou manter o recém-criado InusitadoZ, mas deixei lá um resumo meio inusitado de como se construiu o Hino Nacional. Espia aqui.
Hoje, em 16 de Março de 1990, entrou em vigor o plano do Collor de o banco afanar o dinheiro do povo. Talvez eu ponha algo amanhã. Não é algo bom de se lembrar.
ResponderExcluirOs hinos dos países têm coisas engraçadas que não são percebidas pelo povo.
ResponderExcluirPor exemplo, no hino português:
Entre as brumas da memória
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há-de guiar-te à vitória!
Egrégios? Ninguém sabe o significado, só indo ao dicionário...
Gostei da sua crónica, é um hino à boa disposição.
Boa semana.
um abraço.
Os símbolos da Pátria. Quase toda a gente se lembra deles quando algum evento principalmente desportivo lhe agrada. Aqui nunca se cantou tanto o Hino Nacional. Sabem o que quer dizer? Penso que a maioria não saberá. Gostei desta sua crónica cheia de memórias.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Talvez para compensar as carências e todo tipo que senti na infância, eu sempre quis bancar o "gato mestre", o fodão em matéria de conhecimentos gerais. Por isso, me dispus a aprender os hinos impressos na caderneta do colégio onde meus irmão estudou o colegial. Era um colégio que mataria de inveja até o Bozo, pois os alunos perfeitamente perfilados antes do início das aulas eram obrigados a cantar o hino do colégio, o "ouvirundu" ("ouviram do...) e, creio, até o "japonês tem quatro filhos..." (para mim o mais bonito). Mas bacana mesmo era a letra do hino do colégio: "Anchieta imortal vanguardeiro, nossa escola palpita febril..." Esse colégio não perdia nenhum dos desfiles de sete de setembro, com os alunos marchando disciplinadamente ao som da fanfarra do colégio e as meninas mais gostosas fazendo a farra, ou melhor, fazendo apresentações de ginástica artística vestidas com maiôs que incendiavam a imaginação.
ResponderExcluirbu
O nosso hino é bem bonito e musicado. Adorei o post, super descontraído.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAh para Edu!
ResponderExcluirO hino tem letra complicada
mas é bonita, vai?
Tudo tem seu tempo...
Hoje é tanto desrespeito
e para ajudar a desconstrução
te gente que dá sentido
oposto a letras e a símbolos.
Sou de um tempo que ouvia
que um dia os valores seriam
invertidos. Eu só não sabia que
viveria para constatar.
Ótima publicação. Adorei.
Bjins
CatiahôAlc.
Eu não disse que era feio...rs
ExcluirO Hino tem uma mensagem muito própria! Deixamos que se mantenha assim por muitos anos! Às vezes, gostava de o alterar (o de Portugal 🇵🇹) mas provavelmente não seria o mesmo ☺️😘
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