Clube de Detetives Pão de Queijo

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Não tenho amigos de infância (Desilusões amorosas infantis)

 



ACHO TÃO LEGAL quando alguém diz sobre alguém: "Ah, ele é meu amigo de infância". Eu não posso dizer o mesmo, pois todos os meus amigos de infância estão perdidos nas areias do tempo... Areias do Tempo é o título de um dos livros de Sidney Sheldon. Acho a expressão tão poética, tão forte, tão...areosa e temporal! Aproveitei para usar aqui...com  reticências para ficar legal. Adoro reticências... 

Desde que nasci em 1964, até meus 14 anos, minha família morou em Aracaju, Salvador, Angra dos Reis, outra vez em Salvador, depois definitivamente no Rio de Janeiro. Coisas de pai militar.  Ou seja, um monte de amiguinhos de escola com os quais convivi nesse período, estão perdidos nas areias do tempo...olha, usei o termo outra vez. É redundância que se chama? 

Dos oito aos doze, estava em Angra dos Reis. De lá lembro bem de um único amigo, meu vizinho, filho do seu Zezinho Caçador (que já apareceu por aqui na crônica Olha a Cobra!) de nome Rose. Rose era um nome bem estranho para um menino dos anos 70. Mas minha lembrança do Rose é muito mais por causa da sua irmã, Regina: Uma belíssima galega no auge dos seus 16 anos que minha mãe contratou para me levar e trazer da escola. Regina tinha cabelos amarelos encaracolados até os ombros e longas pernas que sempre estavam vestidas(ou desnudas?) em minissaias coloridas. Eu ia de mãos dadas ao seu lado. Ao lado daquelas pernas...o doce movimento do seu andar  polvilhava meus sentidos de vastas emoções... 

Quando fiz dez anos, me vi já um homem. Disse à minha mãe que eu não precisava mais da companhia de Regina. Tinha começado a pegar mal ir `a escola acompanhado quando ninguém mais ia. A pressão social juvenil escolar, que é uma das mais ferrenhas que existem, me fez abandonar a proximidade com as poéticas pernas de Regina. Depois soube que ele arranjara um namorado. Aquilo para mim foi uma grande traição. Minha primeira desilusão amorosa...

Eu tinha doze anos quando Soraya entrou em minha vida. Era uma belíssima morena de cabelos longos e cheios. Para mim, a garota mais linda da escola, a própria encarnação da beleza. Nem Vênus chegava aos seus pés. Soraya me fez esquecer Regina. Meu coração disparava quando a via. Ir à escola era o momento mais feliz do meu dia. Ela correspondia, pois sempre me lançava olhares e sorrisinhos cativantes...porém, trocávamos poucas palavras. Era quase amor platônico... o que eu tinha de coração agitado, tinha de tímido. Quando meu pai anunciou que íamos nos mudar para o Rio de Janeiro minha vida terminou. Chorei, arrazoei, discuti, sugeri ficar morando com seu Zezinho...Não teve jeito. Tive que me despedi de Soraya sem nem ao mesmo ter coragem de lhe dizer "eu te amo". 

Soraya foi minha segundo desilusão amorosa. 


* * * 

Eduardo Medeiros

Janeiro de 2025

25 comentários:

  1. Muito boa a crônica. Eu também não tenho nenhum amigo de infância, mas o motivo é outro. Eu sofria bullying, era um bando de desclassificados, de gente pobre e sem cultura. O único que sobreviveu até a idade adulta não sobreviveu ao tiro que tomou na cara por uma discussão com um vigilante.

    ResponderExcluir
  2. Muito legais essas histórias de vida... Há de tudo nelas e sempre nos cativam! abração, chica

    ResponderExcluir
  3. As areias do tempo ajuda desfazer enganos.
    Sua crônica ficou bonitinha,meiga...como um adolescente em sua as primeiras e desastrosas experiências. Ficou mesmo poética.
    Abraço

    ResponderExcluir
  4. Amizade é algo em que já não creio, depois de uma amiga acabar, sem que eu consiga descobrir o motivo, uma relação de mais de quarenta anos.....~~~

    Abraço e que tenha encontrado a paixão definitiva de sua vida.

    ResponderExcluir
  5. Os amigos de infância que tive foram cinco, dois deles morreram aos 41 anos, um de câncer e o outro de acidente de automóvel. Os outros três morreram depois dos cinquenta anos. Hoje não tenho mais amigos de infância.
    Caro Edu, gostei muito dessa sua crônica. Você não tem amigos de infância, mas teve
    dois amores.
    Parabenizo pela ótima crônica!
    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  6. Oi, Edu, excelente crônica, a gente vai lendo e pensando também na
    nossa infância. Não tenho "umazinha" amiga de infância, mas muitas
    lembranças de amigas queridas. Cada uma casou e foi para outras bandas.
    Ri muito dos teus amores de infância, muito show, parece uma novela rss.
    Muito bem contada tuas histórias.
    Uma bom fim de semana.
    Abraços daqui do Sul.

    ResponderExcluir
  7. Ei Edu!
    Ah para.
    Paixonite não conta , num é?
    Eu como você vivi em muitos lugares,
    meu pai trabalhava em terraplanagem
    e até os 20 anos de casados, já
    tínhamos mudado 25 vezes. Pensa aí?
    Muito, num é mesmo? Então como minha mãe,
    eu não me permitia criar laços de amizade.
    Enquanto morávamos no lugar, as amizades
    eram aquelas. Conclusão: não tenho
    como dizer que tenho amigos de infância,
    nem de adolescência. Já na juventude a
    desilusão com o ser Hu Mano, me fez
    adotar a solitude, se é que posso dizer assim.
    Mas a internet de 2004 pra cá me presenteou
    com pessoas que saíram da tela e passaram para
    minha vida presencialmente. Eu e meu esposo viajamos
    muitos anos com as famílias de amigos e amigas
    saídos de Blogs. Junto com a Internet veio meu
    trabalho atual de Editora e Assessora Editorial que
    também me apresentou pessoas que a princípio
    tínhamos contatos só via e-mail e telefone, depois
    WhatsApp e alguns pessoalmente em encontros de
    trabalho que sempre foram impregnados desse
    sentimento de respeito e amizade. Os Contratos
    de trabalho passaram, e o contato em amizade
    ficou.
    Adorei a publicação me lembrou as 1as paixonites,
    o 1º beijo... E coisas boas assim que ficam
    bem guardadinhas na gente. E aliás
    publiquei algo nessa linha lá no Espelhando.
    Valeu muito essa sua publicação.
    Bjins
    CatiahôAlc.
    entre sonhos e delírios

    ResponderExcluir
  8. Boa tarde de Paz, Edu!
    Minha única amiga de infância morreu no ano passado, com 70 anos.
    Tive mil mudanças até para fora do país e não me fixei em ninguém desde então.
    Tenho muita facilidade em fazer amizades onde moro, mas não me apego mais a ninguém de poucos anos para cá. Creio que sou bem independente agora.
    Faço de tudo enquanto posso. Não espero nada mais em troca de ninguém nem mesmo amizade.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos
    .

    ResponderExcluir
  9. Entendo o que queres dizer! Também não tenho amigos de infância, mas felizmente ainda tenho dois da adolescência!

    Bjxxx
    Teresa Isabel Silva
    Instagram | Pinterest | Linkedint

    ResponderExcluir
  10. Gostei tanto desse texto ! além de poético me fez lembrar das amigas de escola e alguns amores da juventude ...A vida leva a gente para outros caminhos, mas ainda tenho algumas amigas descobertas nas redes sociais e é sempre uma festa falar umas com as outras. Os amores era a época dos flertes e o pai que era ao mesmo tempo a mãe, não saía do pé , mesmo. assim era gostoso os namoricos furtivos e intimidade zero, rs mal davam-se as mãos. rs Foi o melhor tempo... também adoro as reticências ... Suas crônicas parece estar te ouvindo,Edu são muito leves um vocabulário corriqueiro e afetuoso . Deixando abraços.

    ResponderExcluir
  11. Adorei a tua história de vida.
    Também eu, fui escrevendo a minha, com os dedos da memória.
    De Cortegaça ( aldeia onde nasci), passando por Macau ( serviço militar do meu pai), Angola( dos 8 aos 26 anos) e Portugal desde 1975 até hoje.
    Os amigos de infância ficaram para trás...da adolescência falo com 2 de longe a longe...tenho óptimas recordações da nossa vida (pais e 5 filhos) sempre com a casa às costas..
    Tenho saudades ...
    Beijinho, Eduardo.😘

    ResponderExcluir
  12. Ei Edu!
    Hoje passando pra
    desejar um excelente
    fim de semana
    e para deixar esse
    link de sugestão de
    um ótimo
    blog:
    https://martaiansen.blogspot.com/
    Bjins
    CatiahôAlc.
    entre sonhos e delírios

    ResponderExcluir
  13. Quando eu tinha uns 13 anos eu vi uma menina na escola que me deixou apixonado. Ela se chamava Rosana. Ela devia ser uns 2 anos mais velha. Eu estudava de manhã e ela de tarde, mas ela fazia educação fisica no mesmo horário que eu.
    Ela era linda e eu nunca disse isso pra ela.
    Não precisava, porque todos os homens ficavam em volta dela dizendo essas coisas de homem, que eu ainda menino, não sabia.
    Amigos de infãncia eu tenho agora só na virtualidade.
    Eles moram em SP e eu em Barretos. Mas fizemos um grupo de watsapp e continuamos a trocar ideias.
    Confesso que alguns deles, se nos conhecessemos hoje, não seríamos amigos.

    Bela crônica Dudualdo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quem nunca? Se apaixonar com 13 anos por meninas mais velhas é um drama...elas amadurecem bem rápido do que nós.

      Excluir
  14. Si te sirve de consuelo, tampoco yo tengo amigas de la infancia, cuando me casé dejé mi tierra, mi familia y amigos, y cuando volví despues de muchisimos años, las amigas habian evoluconado de forma contraria a la mia, nada tienen que ver con mi forma de ser y acturar, así que..eché nuevas raices y con ellas comparto ....
    Me ha gustado leerte Eduardo
    Un abrazo y buen año

    ResponderExcluir
  15. Boa noite Edu,
    Uma bela crónica, com a qual me identifiquei.
    Ainda tenho amigas de infância, que vejo de vez em quando.
    Tive um amor adolescente platónico, mas tudo passou.
    Um amor verdadeiro surgiu mais tarde e vai durando após longos anos:))!
    Beijinhos e bom final de semana.
    Emília

    ResponderExcluir
  16. Que beleza conhecer fatos de sua vida tão sua! Daria um bom livro, tal qual Sidney Sheldon o fez. Percebes porque tantos comentários recebes? Crônicas ótimas! Farás um livro? Mereces! Abração!

    ResponderExcluir
  17. What a beautifully written reflection on your childhood and those early friendships. I love the way you intertwine the passage of time with memories, especially with how the sands of time metaphorically separate us from those connections. Your story about Regina and Soraya is so relatable – those first friendships and crushes that shape who we are, even if they are fleeting. It’s a poignant reminder of how life’s transitions and changes leave behind bittersweet memories.

    I just shared a new post; let me know what you think. Have a lovely weekend ahead.

    ResponderExcluir
  18. Olá Eduardo, comentei este post anteriormente mas reparo que não está aqui o comentário. Deve não ter entrado ☹️

    Lamento imenso que as amizades de infância sejam apenas areias do tempo para ti. Existe muita gente na mesma situação.

    O importante é ter boa saúde e boas amizades no momento! Se tem, pode-se considerar alguém com muita sorte 😊

    Lamento também as suas desilusões amorosas. As primeiras doem MUITO!

    Desejo-lhe um bom domingo, forte abraço! 🙏🏼

    ResponderExcluir
  19. Amigos de infância também não tive por motivos que não interessa aqui. Hoje em dia tenho alguns mas não muitos. Não é fácil para mim fazer amigos. Gostei muito da sua crónica.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderExcluir
  20. Muito boa crônica!
    Eu também adoro reticências... 🙂
    Boa semana pra você e família! 💐🎈

    ResponderExcluir

Oi. Se leu e gostou,
Obrigado e volte sempre!
Se não gostou, perdoe-me a falta de talento "escriturístico..."

A Arte Pode Salvar

  EU ACREDITO MESMO nessa frase, de que a arte pode salvar. Quem faz arte não tem tempo pra fazer arte , se é que você me entende. A banda ...