ACHO TÃO LEGAL quando alguém diz sobre alguém: "Ah, ele é meu amigo de infância". Eu não posso dizer o mesmo, pois todos os meus amigos de infância estão perdidos nas areias do tempo... Areias do Tempo é o título de um dos livros de Sidney Sheldon. Acho a expressão tão poética, tão forte, tão...areosa e temporal! Aproveitei para usar aqui...com reticências para ficar legal. Adoro reticências...
Desde que nasci em 1964, até meus 14 anos, minha família morou em Aracaju, Salvador, Angra dos Reis, outra vez em Salvador, depois definitivamente no Rio de Janeiro. Coisas de pai militar. Ou seja, um monte de amiguinhos de escola com os quais convivi nesse período, estão perdidos nas areias do tempo...olha, usei o termo outra vez. É redundância que se chama?
Dos oito aos doze, estava em Angra dos Reis. De lá lembro bem de um único amigo, meu vizinho, filho do seu Zezinho Caçador (que já apareceu por aqui na crônica Olha a Cobra!) de nome Rose. Rose era um nome bem estranho para um menino dos anos 70. Mas minha lembrança do Rose é muito mais por causa da sua irmã, Regina: Uma belíssima galega no auge dos seus 16 anos que minha mãe contratou para me levar e trazer da escola. Regina tinha cabelos amarelos encaracolados até os ombros e longas pernas que sempre estavam vestidas(ou desnudas?) em minissaias coloridas. Eu ia de mãos dadas ao seu lado. Ao lado daquelas pernas...o doce movimento do seu andar polvilhava meus sentidos de vastas emoções...
Quando fiz dez anos, me vi já um homem. Disse à minha mãe que eu não precisava mais da companhia de Regina. Tinha começado a pegar mal ir `a escola acompanhado quando ninguém mais ia. A pressão social juvenil escolar, que é uma das mais ferrenhas que existem, me fez abandonar a proximidade com as poéticas pernas de Regina. Depois soube que ele arranjara um namorado. Aquilo para mim foi uma grande traição. Minha primeira desilusão amorosa...
Eu tinha doze anos quando Soraya entrou em minha vida. Era uma belíssima morena de cabelos longos e cheios. Para mim, a garota mais linda da escola, a própria encarnação da beleza. Nem Vênus chegava aos seus pés. Soraya me fez esquecer Regina. Meu coração disparava quando a via. Ir à escola era o momento mais feliz do meu dia. Ela correspondia, pois sempre me lançava olhares e sorrisinhos cativantes...porém, trocávamos poucas palavras. Era quase amor platônico... o que eu tinha de coração agitado, tinha de tímido. Quando meu pai anunciou que íamos nos mudar para o Rio de Janeiro minha vida terminou. Chorei, arrazoei, discuti, sugeri ficar morando com seu Zezinho...Não teve jeito. Tive que me despedi de Soraya sem nem ao mesmo ter coragem de lhe dizer "eu te amo".
Soraya foi minha segundo desilusão amorosa.
* * *
Eduardo Medeiros
Janeiro de 2025
Muito boa a crônica. Eu também não tenho nenhum amigo de infância, mas o motivo é outro. Eu sofria bullying, era um bando de desclassificados, de gente pobre e sem cultura. O único que sobreviveu até a idade adulta não sobreviveu ao tiro que tomou na cara por uma discussão com um vigilante.
ResponderExcluirtrágico. Bullying? Quem nunca sofreu?
ExcluirMuito legais essas histórias de vida... Há de tudo nelas e sempre nos cativam! abração, chica
ResponderExcluirAs areias do tempo ajuda desfazer enganos.
ResponderExcluirSua crônica ficou bonitinha,meiga...como um adolescente em sua as primeiras e desastrosas experiências. Ficou mesmo poética.
Abraço
Amizade é algo em que já não creio, depois de uma amiga acabar, sem que eu consiga descobrir o motivo, uma relação de mais de quarenta anos.....~~~
ResponderExcluirAbraço e que tenha encontrado a paixão definitiva de sua vida.