Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 19 de junho de 2024

A INVASÃO




EU JÁ ESCREVI AQUI sobre fobias. Medo de altura, de água, de avião, espaços públicos, de estar sendo observado por patos...pois é, existe fobia pra todo gosto e bolso, e todas elas possuem nomes requintadíssimos, todos com radicais gregos...Falando neles, meu professor na oitava série deixou o conselho: "aprendam o máximo de radicais gregos pois vários termos científicos são formados por eles" .

Gostei da dica e passei um bom tempo colecionando em um caderno radicais gregos, achava-os todos chiques demais: Acro, areo, agogo, algia, antropo, arquia...etc, etc, etc. Todos usados em palavras que fazem parte do nosso vocabulário. Acrobata, aeronáutica, pedagogo, antropologia, nevralgia, monarquia...

MUSOFOBIA. Sabe o que é? Talvez alguns que me leiam tenham...lá na crônica sobre fobias falei da minha(quase) superação do medo de voar de avião mas não falei de uma outra fobia que tenho e nem sei qual foi a origem: fobia de ratos, a tal da "musofobia", no caso, de radical latino "mus", rato, camundongo; e do grego "fobia", "medo", "aversão". 

SABE AQUELE chiado característico que os ratos emitem? Me arrepia todo...Sabe um rato atravessando o quintal? Só não dou um gritinho porque pega muito mal para a minha frágil masculinidade, mas eu corro pra longe. Você que tá aí rindo de mim, saiba que fobia é fobia! Cuidado para não ser um (lá vem neologismo) "fobiofóbico": Aquele que tem preconceito contra quem tem fobias...

Pois então, um belo dia me meti em uma situação que testou a nível hard a minha MUSOFOBIA. A tarde já ia longe, quase noite. Estava esparramado no sofá vendo alguma coisa na TV e a porta estava aberta, dias de calor. Quando de repente, pela visão periférica esquerda, percebi um RATO entrando na sala, com aqueles saltitos característico e indo direto para minha biblioteca! 

Dei um pulo do sofá já arrepiado e não querendo acreditar na minha periférica visão. Tive a ombridade de muito lentamente me aproximar da porta da biblioteca e dar uma olhada e...LÁ ESTAVA O INVASOR SE METENDO ENTRE UM MONTE DE REVISTAS QUE FICAVA NA PRATELEIRA MAIS PERTO DO CHÃO.

Meu Jezuzinho-Maria-e-José-Padim-Ciço!!! (teria eu gritado se fosse católico corola das antigas).

MINHA  biblioteca é um cômodo que eu fiz de ...biblioteca! Tinha prateleiras nas quatro paredes até o teto, todas cheios de livros. Na parte de baixo (onde o INDESEJADO INVASOR) se meteu ficava centenas de revistas empilhadas. Hoje ela está bem menor devido ao incêndio que teve aqui em casa há três anos (depois eu conto). 

Minha esposa não estava em casa e meu filho estava no seu quarto. O QUE FAZER? tremer as pernas...? Suar frio...? Arrepiar....? A fobia não deixaria eu entrar lá e expulsar o rato. Precisava bolar um plano para resolver o acontecido. E o que eu fiz? Fechar a porta da biblioteca foi a primeira coisa. De lá pelo menos o rato não sairia para outros cômodos. Mas  o que fazer depois?

EU TINHA DOIS CACHORROS: Benji e Pequeno. Dois Cocker spaniel caçadores de ratos. tracei o plano na hora!  Corri no quintal, botei os dois pra dentro de casa e falei com eles: "Entrou um rato na biblioteca e vocês vão ter que caçá-lo, ok? Benji disse "Au";  Pequeno olhou para ele e confirmou "Au, Au". Bons meninos...!

Com muita sutileza, abri um pouco a porta da biblioteca e literalmente joguei os dois lá dentro e tranquei a porta. Gritei: "Vão, peguem o rato!"

Meu filho mete a cara na porta do quarto e pergunta: "Pai, o que tá acontecendo"? "Entrou um rato na biblioteca e o Benji e o Pequeno estão lá dentro pra caçá-lo". Meu filho me olhou meio incrédulo e se trancou no quarto. Medroso pra caramba!

Durante uns dez minutos tudo o que ouvi vindo da biblioteca foram onomatopéias do tipo "CRASH", "KABUM", "ZÁS"...

Eles estavam destruindo a minha biblioteca atrás do rato. Ah, meu livros....! Ah, minhas revistas...! Mas meu amor pelos livros não era maior que o meu medo de rato. Na vida tem momentos que precisamos fazer escolhas...

Depois de meia-hora nada estava resolvido pelo o que entendi. O rato continuava vivo. Cuidadosamente abri um frestinha da porta e vi Benji e Pequeno deitados, com um palmo de língua pra fora, cansados e certamente com muita sede, já que minha biblioteca não tem janelas e devia estar uns quarenta graus lá dentro. 

"INCOMPETENTES!! Dois contra um rato e nada!! Deixaram o rato cagar na cara de vocês"? Isso eu gritava inconformado pela fresta da porta. Benji me olhou e disse "Auuuu"; Pequeno concordou "Aaauuumm". Os dois estavam cansados e com sede. Com cuidado, abri um pouco mais a porta e deixei eles saírem. Meu plano tinha sido um fracasso. 

Quem me salvou foi meu cunhado que bateu no portão naquele momento. "Ó, cunha, foram os deuses que te mandaram aqui! Tem um rato na minha biblioteca, vai lá e mata ele, por favor!

Obviamente, depois de rir muito, me sacanear "um-homem-desses-com-medo-de-rato"...OLHA A FOBIOFOBIA!!!!

Ele adentrou na biblioteca e em uns dez  minutos abriu a porta segurando o rato morto pelo rabo. Nem era tão grande...

Minha biblioteca estava como um cenário de filme catástrofe. Vários livros espalhados pelo chão, revistas rasgadas, objetos quebrados...Benji e Pequeno se esforçaram, não posso negar, mas o rato soube se esconder bem entre revistas, o que meu cunhado de fato, confirmou.

NÃO RIA DE MIM...eu sei que você está rindo!!! Você é um fobiofóbico!

* * * * * * * * * * * 

P.S

1 - a foto que ilustra o texto é de uma cena de Indiana Jones e sim, sempre me dá um certo asco quando revejo o filme.

2 - Esta é a minha biblioteca hoje. 





sexta-feira, 14 de junho de 2024

ENCONTROS

 



Aquele semáforo demorava  a mudar de cor e isso deixava os motoristas diante do sinal vermelho irritados. "Mas porquê demora tanto pra abrir...? Pra fechar é rapidinho...!" Alguns mais apressados ou nervosos teimavam em buzinar como se isso acelerasse a mudança de sinal. O negócio era alimentar o caos e o estresse...Em um dia qualquer, elas que já não se viam há um tempo, se emparelharam uma ao lado da outra diante do tal semáforo vermelho. 

- Ei, ei, Kátia!

Acenos efuzivos, sorrisos. Vidros abaixados.

- Oi, amiga, que coincidência!

- E não é?

- Ontem mesmo pensei em você, precisamos marcar alguma coisa!

- O quê? 

- Eu falei "e não é"? Coincidência...e temos que marcar um encontro!

- Ah, tá. Temos sim...

- A vida tá corrida, amiga, sem tempo pra nada! É uma coisa e outra...

- É, eu também fiquei presa esse mês todo numa coisa e outra...

- Soube do Arnaldo?

- Que Arnaldo, o marido da Silvana?

- Ele mesmo.

- Soube do quê?

- Morreu...

Um impaciente que estava atrás do carro da Kátia começou a buzinar na intenção de azucrinar a conversa das mulheres.

- O quê? Oh, desgraçado desse imbecil não para de buzinar...!

Olha pra traz e grita: 

- Ô, seu corno, num tá vendo que o sinal tá fechado?

O tal lhe devolveu um sorriso sarcástico e mostrou o dedo do meio.

Indignação!

- Machista! Fascista!

Voltou a atenção para a amiga.

- Então, ninguém me avisou que o Arnaldo tinha morrido.

- Mandaram mensagem no grupo...

- Acho que não vi...quase não vejo grupo nenhum...uma coisa e outra, sabe...?

- Vamos marcar pra gente sair?

- Vamos! Que tal sábado que vem? 

- Sábado que vem vou estar em Petrópolis para uma feira de tecnologia.

- Ah, podíamos nos encontrar amanhã, depois do expediente.

- Amanhã tenho academia à noite, sabe como é, tem que malhar, idade chegando...tudo despenca.

Mais buzinas do machista fascista.

- Desgraçado...Sei como é...

- Na quarta?

- Curso de inglês.

- Quinta?

- Reunião até tarde.

O sinal abriu e as duas na frente retardando o trânsito. Buzinas, muitas buzinas. 

- O sinal abriu! Amiga, depois te ligo pra gente marcar!

O carro avança liberando o trânsito.

- Amiga, espera, espera, mudei de telefone...

Já estava longe. Parecia que ia tirar o pai da forca.

O machista fascista parou ao seu lado. Olhou para ela e sorriu. Um sorriso lindo...sedutor...

- Você não tem educação? Tá rindo do quê?

Os dois agora emparelhados impedindo o trânsito de fluir. Buzinas, buzinas, buzinas.

- Desculpa aí pelo gesto e por buzinar...Tenho uma reunião de negócios às treze horas e já são quatorze e quinze! Perdi a paciência e descontei em você.  Qual seu telefone?

- O quê?

- Seu telefone! Estou hospedado no Fasano, vim ao Rio a trabalho. Vamos marcar alguma coisa? Que tal um jantar hoje lá no hotel?

Olhou para ele...para o machista-mostrador-do-dedo-do-meio-para-mulheres! Era bonito...um carrão...hospedado no Fasano...sorriso sedutor...

Ela lhe disse seu número, ele anotou no seu próprio celular.

Buzinas! 

O sinal voltou a fechar.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

MENTIRAS!

 



ANDA EM VOGA  discussões sobre as chamadas "Fake News" - mais uma expressão americana que nós incorporamos ao nosso dia a dia. Parece novidade mas todo mundo sabe que não é. As mentiras, principalmente aqueles ditas no meio político, já estão conosco desde que o Brasil é Brasil...quem lembra do ex-presidente Fernando Collor dizendo que o seu adversário, o atual presidente Lula, iria bloquear a poupança de todo mundo e isso foi exatamente o que ele fez quando ganhou o pleito? Fico imaginando o que o Lula teria feito se tivesse ganhado...dá arrepios só de pensar! Mas o fato é que quem fez o que disse que o outro ia fazer foi ele, o Collor de Mello.

E AS MENTIRAS QUE OS ADULTOS nos contavam quando éramos crianças? Toda mãe conta mentira para o filho na boa intenção. Minha mãe tinha medo que nós engolíssemos semente de melancia, achava que poderíamos nos engasgar com ela, então  nos contava aquele mentirinha educativa: "Se você engolir a semente vai nascer um pé de melancia em sua barriga..." O QUÊ??? Aquilo era traumatizante para mim! Tive pesadelos em que um pé de melancia começava a sair da minha boca, invadia a casa, a rua, a cidade, o país, o planeta inteiro!!! Tudo tendo origem ali, na minha barriga. 

OUTRA MENTIRINHA  que minha mãe contava era: "Não pode ficar na rua até tarde senão o Homem do Saco leva embora...". Mesmo durante o dia eu ficava alerta na rua. Qualquer mendigo que passasse com um saco nas costas para mim era ele - o temível Homem do Saco - e eu saia correndo, sem entender porquê ele já estava nas ruas procurando crianças tão cedo...

OUTRA MENTIRINHA  que minha mãe contava era sobre Deus. Ela muito religiosa, tinha um método educacional onde Deus era requisitado para ser a figura do pai severo que estava me olhando quando meu pai terreno estivesse longe. "Cuidado com o que você faz, com o que você diz, pra onde você vai...Deus tá vendo e vai te castigar". Não à toa passei minha infância com muito medo de Deus e odiava ir para a igreja. Acho que meu primeiro grande drama existencial foi o medo de algum amigo meu saber que eu era "crente". Depois que amadureci, fiz meu tira-teima com Deus e acho que hoje estamos mais ou menos resolvidos.

MENTIRAS, TANTAS MENTIRAS! Prometo ser fiel até que a morte nos separe...pode emprestar, prometo que te entrego logo...se você se esforçar mais vou ponderar lhe dar um aumento...dez passos para a felicidade...vote em mim, eu prometo cumprir minhas promessas...se você se esforçar muito será sempre vencedor...fique rico lendo o livro "Como Ficar Rico...". 

E VEJA SÓ! Se você ler esta crônica e passar para mais dez pessoas em breve você receberá uma recompensa grandiosa!


domingo, 2 de junho de 2024

Tudo Vai-se Embora!

     



TUDO VAI-SE EMBORA! O gás do fogão, a sola do sapato e o abraço do amigo.  Aquela brincadeira da infância, aquele  amor do passado e aquela série que você é fã. Tudo vai-se embora! O pneu do carro, o guarda-chuva, o ventilador e a lâmpada da sala.  A mãe vai-se embora, o pai e o avô. Também a tia Maria, o tio Zezinho e o primo Galvão. A inocência vai-se embora,  a paz , a calmaria e a caneta big. O giz vai-se embora. O fósforo e a resistência do chuveiro. Aquele vizinho querido e aquele folheado da padaria. Aquela viagem vai-se embora. A acuidade visual vai-se embora. Aquele tempo que você tinha, aquele plano não realizado e aquele sonho desfeito. Tudo vai-se embora! Mas tudo  vem e  vai, começa e acaba e começa de novo.  Como diz o Eclesiastes "tudo o que é já foi". Também a dor de dente vai-se embora, a ferida no pé e a dor de barriga. A madrugada de tempestade, a seca persistente e aquele vizinho que te perturbava. Tudo vai-se embora! A gripe terrível, a dor no corpo e as pernas cansadas. A espera vai-se embora, a decepção um dia acaba. Os dias ruins e as manhãs cinzas. A morte vai-se embora quando vejo o menino ficar vinte dias na UTI e sair de lá são e salvo!

A INVASÃO

EU JÁ ESCREVI  AQUI   sobre fobias. Medo de altura, de água, de avião, espaços públicos, de estar sendo observado por patos...pois é, existe...