Clube de Detetives Pão de Queijo

sexta-feira, 14 de junho de 2024

ENCONTROS

 



Aquele semáforo demorava  a mudar de cor e isso deixava os motoristas diante do sinal vermelho irritados. "Mas porquê demora tanto pra abrir...? Pra fechar é rapidinho...!" Alguns mais apressados ou nervosos teimavam em buzinar como se isso acelerasse a mudança de sinal. O negócio era alimentar o caos e o estresse...Em um dia qualquer, elas que já não se viam há um tempo, se emparelharam uma ao lado da outra diante do tal semáforo vermelho. 

- Ei, ei, Kátia!

Acenos efuzivos, sorrisos. Vidros abaixados.

- Oi, amiga, que coincidência!

- E não é?

- Ontem mesmo pensei em você, precisamos marcar alguma coisa!

- O quê? 

- Eu falei "e não é"? Coincidência...e temos que marcar um encontro!

- Ah, tá. Temos sim...

- A vida tá corrida, amiga, sem tempo pra nada! É uma coisa e outra...

- É, eu também fiquei presa esse mês todo numa coisa e outra...

- Soube do Arnaldo?

- Que Arnaldo, o marido da Silvana?

- Ele mesmo.

- Soube do quê?

- Morreu...

Um impaciente que estava atrás do carro da Kátia começou a buzinar na intenção de azucrinar a conversa das mulheres.

- O quê? Oh, desgraçado desse imbecil não para de buzinar...!

Olha pra traz e grita: 

- Ô, seu corno, num tá vendo que o sinal tá fechado?

O tal lhe devolveu um sorriso sarcástico e mostrou o dedo do meio.

Indignação!

- Machista! Fascista!

Voltou a atenção para a amiga.

- Então, ninguém me avisou que o Arnaldo tinha morrido.

- Mandaram mensagem no grupo...

- Acho que não vi...quase não vejo grupo nenhum...uma coisa e outra, sabe...?

- Vamos marcar pra gente sair?

- Vamos! Que tal sábado que vem? 

- Sábado que vem vou estar em Petrópolis para uma feira de tecnologia.

- Ah, podíamos nos encontrar amanhã, depois do expediente.

- Amanhã tenho academia à noite, sabe como é, tem que malhar, idade chegando...tudo despenca.

Mais buzinas do machista fascista.

- Desgraçado...Sei como é...

- Na quarta?

- Curso de inglês.

- Quinta?

- Reunião até tarde.

O sinal abriu e as duas na frente retardando o trânsito. Buzinas, muitas buzinas. 

- O sinal abriu! Amiga, depois te ligo pra gente marcar!

O carro avança liberando o trânsito.

- Amiga, espera, espera, mudei de telefone...

Já estava longe. Parecia que ia tirar o pai da forca.

O machista fascista parou ao seu lado. Olhou para ela e sorriu. Um sorriso lindo...sedutor...

- Você não tem educação? Tá rindo do quê?

Os dois agora emparelhados impedindo o trânsito de fluir. Buzinas, buzinas, buzinas.

- Desculpa aí pelo gesto e por buzinar...Tenho uma reunião de negócios às treze horas e já são quatorze e quinze! Perdi a paciência e descontei em você.  Qual seu telefone?

- O quê?

- Seu telefone! Estou hospedado no Fasano, vim ao Rio a trabalho. Vamos marcar alguma coisa? Que tal um jantar hoje lá no hotel?

Olhou para ele...para o machista-mostrador-do-dedo-do-meio-para-mulheres! Era bonito...um carrão...hospedado no Fasano...sorriso sedutor...

Ela lhe disse seu número, ele anotou no seu próprio celular.

Buzinas! 

O sinal voltou a fechar.

11 comentários:

  1. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk.
    Dudu... Esse conto pode te trazer problemas. Kkkkkkkkkkkkkk.
    Se alguma feminazi aparecer aqui, você está ferrado!!!
    Eu respondi vc lá no blog.
    Um abraço amigo.

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  2. BAH! Acontece mesmo e nessa hora, toocar a buzina é pouco,rs...E ela, teve tempo de fazer um levantamento mental sa situação e o convite aceito!rs..Corajosa!

    Gostei de ler! abração, chica, lindo fds!

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  3. Olá, Eduardo!
    Eu não teria a coragem da audaciosa mulher.
    Mas tem homem que merece tal coragem que eu nunca quero ter.
    Se com conhecidos e amigos pode não dar certo, imagina com um estranho cheio de coisas desagradáveis...
    Um excelente conto bem narrado!
    Tenha um final de semana abençoado!
    Abraços fraternos

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  4. Muito bom!
    O tempo, e o que fazemos dele...

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  5. Olá, amigo Edu, gostei muito desta sua crônica,
    muito divertida. Gostei muito da conversa das duas amigas,
    quando o semáforo fechou. O machista que incomodava as duas amigas, com buzina e gesto agressivo, acabou se dando bem.
    É a força da grana.
    Votos de uma boa semana,
    um abraço.

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  6. Olá, Edu, rssssssss, que loucura o papo das madames, ali na confusão!
    Fiquei um pouco ansiosa, sem querer fui parar no lugar de uma delas, e com aquela fila de carros esperando, buzinando...e aquele senhor educadíssimo atrás... e com ele mesmo outro episódio!!
    Você estava inspiradíssimo nessa crônica, ri bastante, excelente!
    Uma ótima semana, muita paz e mais crônicas deliciosas pra nós.
    Grande abraço!

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  7. Oi, Edu!
    Quase que no lugar do oi eu coloco vários kkkkkkk porque eu ri demais contigo, viu?! Então, me vi aí várias vezes e dei um tapa na testa porque no fim nada mais é que prioridades. Eu e minhas amigas já falamos que vamos nos encontrar quando ficarmos bem velhinhas, porque é um tal de não poder ou de desmarcar que misericórdia, mas aí... quando menos esperamos... percebemos que no fim tudo tem a ver de fato com prioridade. Parabéns pela crônica reflexiva com excelente toque de humor.
    Beijo, beijo.

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  8. Boa tarde Edu
    Gostei demais da sua crónica.
    Muito realista e cheia de humor.
    Boa semana com saúde.
    Um beijo
    :)

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  9. Encontros com desencontros, rsss, lembrei da frase "O que dá p rir dá p chorar!". É isso mesmo que acontece no dia a dia no trânsito e nas convivências. Boa crônica e boa reflexão.
    Meu abraço

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  10. Gostei muito.
    Quantas "estórias" começam num sinal vermelho :)
    Tudo de bom para esse lado **

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A INVASÃO

EU JÁ ESCREVI  AQUI   sobre fobias. Medo de altura, de água, de avião, espaços públicos, de estar sendo observado por patos...pois é, existe...