Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 26 de junho de 2024

OUVINDO CONVERSAS SEM QUERER QUERENDO

 





UM FENÔMENO curioso vem acontecendo na rua, no ônibus, no trem: Pessoas falando sozinhas. Será um novo tipo de esquizofrenia? Uma pessoa fazendo sua corridinha com os fones ouvindo sua playlist de preferência não me parece nada anormal. Mas...

Estou no ônibus, na janela, como sempre olhando o tempo que passa lá fora e do meu lado uma jovem senhora. Percebo que ela começa a falar num tom alto. Certifiquei se era comigo que falava mas não era. Ela olhava pra frente e gesticulava as mãos de um lado para outro. Levei uns segundos para entender que ela falava ao celular que estava dentro da bolsa e com os fones nos ouvidos.

- Ah, eu não sei não, amiga, ele fez uma vez vai fazer de novo...

- ...

- Eu sei mas isso não basta, a vagabunda que ele estava pegando vai continuar atrás dele, você tem que tomar uma atitude...

Olho de soslaio para a mulher. Ô, eu não quero saber dos problemas de relacionamento de sua amiga. Nem eu nem o ônibus inteiro...pensei mas não falei.

- Tô te falando, dá um chute nesse cara e deixa ele lá com a vagabundinha dele, você merece coisa melhor.

É, deve merecer mesmo...


* * *

Estou em uma van. Doze pessoas sentadas. A conversa vinha de um cara sentado no banco da frente. Ele falava com o espaço, com um amiguinho imaginário, parecia, mas estava lá os fones nos ouvidos. também movendo as mãos em gestos decididos.

- Mas eu já falei pra ele parar com isso, ele não me ouve!

- ...

- Não faz nada, vou ter que radicalizar agora. Vou cortar mesada, internet e celular...

- ...

- Vai ser pior? Vai nada, quero ver se ele não toma jeito...

As pessoas olham umas para as outras com aquele ar de riso. E eu fico pensando em questões filosóficas e sociológicas sobre nossas esquizofrenias de cada dia.


25 comentários:

  1. O mundo ae as pessoas parecem cada vez mais loucas e maniáticas,rs...
    E cada trecho de papos que ouvimos, uns risíveis, outro dá vontade de intervir e oferecer um abraço, pois chega a dar pena! E seguimos, nós com nosssas...Seguramente as temos! abração,chica

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  2. Dudu, kkkkkkkkkkk, oitro dia eu estava caminhando e escutando musica no celular pelo fone de ouvido. Aí minha mãe me ligou e eu atendi e continuei caminhando.
    De repente um cara que passou por mim, voltou e me encarou com o punho fechado e falou:
    Repete o que você falou!!!!
    Eu falei:
    Mãe espera um pouco.
    Aí retirei o fone e falei pra ele:
    O que você falou?
    Ele olhou pra mim assustado, olhou pro fone e falou:
    Ah... nada não!
    Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

    Um abraço!

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  3. Rsss... Eita tempo moderno e tão cheio de coisas desse tipo, Edu. Às vezes a gente cumprimenta alguém e a pessoa parece que tá no mundo da lua, deixando a gente no ar. E é mesmo cada conversa que ouvimos! Tem de tudo neste Admirável Mundo Novo!
    Abçs

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  4. Boa noite de Paz, Eduardo!
    Melhor do que ficar falando e gesticulando pela rua como esquizofrênico, é ler uma crônica como a sua. Rimos e refletimos...
    Já ouvi conversas interessantes e horripilantes...
    O mundo anda mesmo doido.
    Muito melhor secaoeiveita contemplando a natureza, por exemplo.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos

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  5. Eu ando de ônibus e a pé. Quando pego ônibus, é cada conversa que acabo ouvindo... kkkkk

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  6. kkkkkk muito bom, Edu. Pelo menos estavam mesmo falando ao celular, mas já percebi pessoas falando sozinhas de fato na rua, nos estabelecimentos, caminhando sem nada no ouvido, cada doido com a sua mania, né?! A minha é criar na minha cabeça enredos com o enredo das conversas que escuto. Uma loucura!
    Abraços.

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    1. Não posso falar nada, também sou dado a falar sozinho...e isso de criar roteiros com coisas do cotidiano é bem de escritor mesmo.

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  7. Caro amigo já lhe digo que escutar conversas sem querer ouví-las e ficar com uma vontade louca de esganar quem o faz, numa longa vigem, de SP para o RJ, sem poder nada fazer e gozar do meu silêncio para dormir ou refletir, é o cúmulo! E quando tagarelam sem parar mexendo em sacolas pláticas , ah, aquele barulhinho me enlouquece seja vindo do banco da frente do meu ou atrás, ou nas laterais. Creia-me, Eduardo, não sou chata, não, mas ter compustura e educação fui criada com excesso e tive aulas de Educação Moral e Cívica que aboliram dos currículos e tá aí o resultado das pessoas! Por causa disso, não te, apertando botõeszinhos, olhando para baixo. Eu me amo e pronto! Um abraço e gratidão por comentar nos blogs! Amei sua crônica, me ensina a escrevê-las?

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    1. Maria, é assim mesmo, tem coisas que nos irritam. Te ensinar a escrever crônicas? Quando eu aprender eu te digo...eu só vou escrevendo...hahh

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  8. Muito interessante e pertinente a tua crónica, Eduardo. Não sei onde vamos parar com toda esta gente, completamente ligada aos telemóveis, seja nos transportes públicos, nas ruas e em restaurantes; alheadas do mundo e do que se passa à sua volta; a solidão é enorme, mas é errado pensarmos que ela só existe nos idosos que vivem sozinhos; os jovens e até mesmo as crianças, hoje, sofrem de solidão; os pais, para não se preocuparem, colocam os filhos com um tablet ou smartphone na mão e assim ficam, depois da escola, até à hora de dormir; são poucos os que têm a sorte de terem, com os pais, uma conversinha sobre o que aconteceu no dia, ou, então, os mais pequeninhos, de ouvirem uma estorinha antes de adormecerem. Há quem culpe a insegurança nas ruas, mas, se, em vez de assistirem a novela ou o futebol, os pais não os levem à pracinha em frente ao prédio onde moram ou então, não brincam com eles em casa, com jogos de tabuleiro, puzzles, ou mesmo vendo, juntos, um filme na televisão. O que importa é que, o pouco tempo que têm com os filhos seja de qualidade, não deixando que as crianças se sintam " abandonadas" e solitárias . Sabes, Eduardo, a mim, as redes sociais ainda não me apanharam, mas, confesso-me chocada quando vejo, num café ou restaurante, a família unida pelos smatphones, cada um com o seu, interrompendo essa " convivência" só para fazerem o pedido. Muito raramente vemos crianças a desenhar ou a pintar enquanto esperam a refeição. É tão raro que uma vez, a minha filha foi elogiada pela dona do restaurante, porque a minha neta estava a brincar com umas bonequinhas que tinha levado de casa. De vez em quando permitimos que veja videos e musiquinhas de que gosta, mas sem exageros. Para tudo na vida há que haver equilíbrio e sensatez. Muito obrigada, Eduardo, pela reflexão que nos levas a fazer. Um beijinho e saúde para todos.
    Emilia



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    1. Corrigindo...os levam........na televisão?
      Desculpas...
      Emilia

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    2. É isso mesmo, Emília. Sãos os nossos tempos, temos que conviver e procurar melhorar. Meu filho sempre gostou de telas desde muito pequeno mas eu dosava com outras coisas, brincadeiras, leituras, histórias.

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  9. rsrsrsrsrsrs, a coisa é hilária mesmo, como descreves. As pessoas não se envergonham de todos ouvirem suas conversas, ou são surdas! Sim, gesticulam na rua, eu já pensei que a mulher estava pirada, depois vi o fio...
    O pior de tudo são nas salas de espera de qualquer coisa, consultórios médicos e num elevador é terrível! Todos se olham e arregalam os olhos! As pessoas não estão mais acostumadas e nem fazem questão de privacidade. Tudo é questão de educação, e estas últimas gerações, pensam que tudo podem.
    Muito boa tua crônica, Edu, escrita leve e com muita graça e verdades. Li sorrindo! Muito agradável.
    Estou retornando após uma pequena pausa, a gripe está por aqui, ainda não foi embora, o clima, a nova estação não se decide: chove, frio, calor, frio...e derruba os desavisados.
    Abraços, boa continuação de semana.

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    1. Pois é Taís, a privacidade que tanto estimávamos antigamente hoje é artigo de luxo, todo mundo quer ser um "livro aberto para o mundo"..mesmo para quem não queira ouvir...hahh
      Melhoras!

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  10. Também já levei susto com essas pessoinhas estranhas falando na rua em voz alta ,com fios escondidos Onde anda o desconfiômetro dessa gente? tem tambem aquelas que falam gritando no celular como se o mundo todo quisesse saber como anda sua vida louca ... rs Gostei muito da sua crônica .Divertida e super comum nos dias de hoje entre os 'sem noção'... rs
    Obrigada pela gentileza nos seus comentários Eduardo
    _ bons dias e meu abraço

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  11. Caro Edu, dizem que as boas crônicas vem deste olhar sobre o cotidiano. Há um vasto campo neste sensível olhar. O mundo conectado faz estes seres estranhos, que falam com aparelhos, que gesticulam, choram e se aborrecem on line. Estar conectado e alheio ao mundo exterior é o que mais se vê.
    Bom fim de semana.
    Abraços

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  12. Tempos modernos, Edu
    Cada um no seu mundinho tendo o celular como companhia.
    Adorei a sua postagem.
    Um grande abraço
    Verena

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  13. É, caro Eduardo.
    Antigamente as pessoas falavam sozinhas na rua, talvez
    por solidão...
    Agora falam para o além :) mas vendo bem têm os fones
    ligados.
    E, assim, o mundo circundante vai passando e não há
    sinais de que deixa algum traço em nós.
    Obrigada pela visita ao Xaile.
    Abraço
    Olinda

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  14. Oi, Edu.
    É difícil segurar o riso diante de momentos como este... 😹😹😹
    Boa semana! 💐🎈

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  15. é mesmo isso que você descreve.
    ás vezes até sei o que é para o jantar, e onde está a carne para colocar a descongelar.
    é cada conversa que às vezes nem sei se choro se começo a sorrir.
    gostei do texto.
    :)

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