HÁ DOIS ANOS a escola do Eduzinho promoveu um festival de vídeos de animação. A tarefa era: Cada turma deveria formar grupos e criar uma animação com a temática sobre educação. Um mês depois, a escola promoveu a mostra dos vídeos de todos os grupos da escola. Me surpreendi com vídeos bem legais. Aqui em casa o grupo do Edu era formado por ele e mais dois colegas. E o pai, claro, poderia ajudar. Então criamos uma historinha sobre livros e educação. O Edu e os amigos fizeram os bonequinhos de massinha e depois eu e ele fizemos a pior parte: Movimentar os bonecos e colocar as falas. Deu um trabalhão danado! Mas valeu à pena, o vídeo foi escolhido como o melhor da turma dele. Mas o Edu disse que nunca mais que fazer nada igual por causa da trabalheira.
Clube de Detetives Pão de Queijo
segunda-feira, 28 de julho de 2025
quinta-feira, 24 de julho de 2025
Artista de Rua
O artista de rua é um sobrevivente.
Vai onde tem povo.
Se alguém para e contempla sua arte, já se sente feliz.
Como todo artista,
Quer o aplauso,
A admiração,
O sustento;
Mas ele não tem palco no Teatro Municipal.
O palco dele é a rua.
Qualquer rua onde haja povo.
E fala,
E canta,
E faz mágica,
E se equilibra em corda bamba.
Pinta quadros,
Toca flauta,
Toca blue,
Toca jazz,
Toca samba.
Faz pirotecnia,
Declama.
É um sobrevivente.
É um artista.
De rua. Qualquer rua
Que tenha povo.
Foi assim,
Milton já cantou que era assim.
18 de maio de 2012
************
Achei esse poeminha que escrevi em 2012 em um blog meu que eu nem sabia que ainda estava no ar, pois para mim já estaria morto como outros que já criei. Mas depois eu conto essa história.
domingo, 20 de julho de 2025
Cenas Do Nosso Cotidiano
MARIA TEREZA, logo após tomar seu primeiro café na copa da empresa onde trabalhava, dirigiu-se ao departamento de pessoal para resolver logo pela manhã uma demanda legal. Pediu licença ao entrar e dirigiu-se à mesa da secretária Judite Gonçalves. Antiga no cargo. Conhecida e admirada pelo vasto conhecimento de leis, portarias e regras relativos ao mundo do trabalho.
— Vim dar entrada em meu pedido de licença-maternidade, disse sorrindo Maria Tereza.
— Ora, enfim você conseguiu a adoção que estava buscando?
— Sim, saiu ontem, estou muito feliz!
— Muito bem, Maria Tereza, está com os documentos da adoção?
— Sim, claro.
Maria Tereza passa às mãos da secretária um documento.
— É...eu preciso da certidão de nascimento atualizada da criança ou a sentença de adoção.
— Então, tá aí.
A secretária olha melhor o documento.
— Mas isso é um certificado de nascimento inválido...
— Como inválido se sou mãe adotiva?
—Você adotou quem?
— Ora, meu bebê. Adotei ontem mesmo. Preciso dessa licença que toda mãe tem direito para passar mais tempo com ele.
Era nítido a expressão de felicidade materna no rosto de Maria Tereza e o olhar de desconfiança e indagação da secretária Judite Gonçalves.
— Você não adotou uma criança...isso aqui é uma certidão fictícia de adoção de um bebê... reborn...! Comprovante de compra de um boneco!
Foi nítida a expressão de contrariedade no rosto de Maria Tereza.
— Como boneco? Como ousa me ofender assim?
— Maria Tereza, bebês reborn não dão direito à licença maternidade...
— Como não? Isso é um total desrespeito aos meus sentimentos! Eu me sinto mãe, EU SOU MÃE!
— Você pode até ser, mas sem licença.
Maria Tereza tomou rispidamente o documento das mãos da secretária, deu meia-volta, muito contrariada e lançou a ameaça virando-se ao chegar à porta:
— Isso não vai ficar assim! Me senti desrespeitada, humilhada, vítima de preconceito cruel e desumano. Meu bebê não merece isso, eu vou processar esta empresa. VOU PROCESSAR!
* * * * *
Maria Tereza, pela segunda vez, sentiu-se aviltada com a opinião do advogado que ela contatou para explicar sua demanda. O advogado disse ser causa perdida, nenhum juiz iria lhe conceder licença-maternidade por causa de um bebê reborn.
Maria Tereza não se intimidou. Criou uma ONG chamada "Bebês Reborn Importam" (BRI). Fez contato com deputada do PSOL, conseguiu uma verbazinha pública para tocar sua ONG. Fez palestras, vídeos no youtube, Instagram e Tiktok. Não criou um blog pois lhe disseram que a audiência era muito baixa. Foi uma comoção de início, ganhou muitas seguidoras e apoio, porém, com o passar do tempo, a onda reborn foi arrefecendo e outras pautas tomaram seu lugar, como a nova onda de bonecas adultas reborn criadas para satisfação libidinosa de homens inseguros, frágeis emocionalmente e fascistas - segundo opiniões de feministas. Então a ONG BRI, passou a atacar o comércio dessas bonecas sexualizadas e ultrarrealistas que homens machistas e opressores começaram a divulgar nas redes.
De tanto militar de um lado e de outro, recebendo críticas de todos os lados, inclusive dos homens com mulheres reborn - se vocês podem ter bebê porque nós não podemos ter mamães? - indagavam eles - Maria Tereza tomou uma atitude drástica: anunciou o filho nos classificados do site Enjoei e comprou um boneco homem reborn, musculoso e bem dotado. Talvez esse lhe fosse de maior serventia.
***********************
Qualquer coincidência com a realidade não é coincidência. De fato, na Bahia, uma mulher tentou pedir licença maternidade por causa do seu bebê reborn. E as bonecas mulheres reborn estão se encaixando (ou sendo encaixadas!!) no mesmo contexto dos bebês. O cotidiano nosso está muito interessante.
quinta-feira, 17 de julho de 2025
Pobres Veganos
OS AMIGOS conversavam animados em uma mesa de uma lanchonete:
- Meu nutricionista na última consulta, teceu loas ao leite.
- Quem fala "loas"? Isso é coisa de velho metido a intelectual!
- Olha quem se acha garotão...
- Deixa ele falar! Fala, então o seu nutricionista...aliás, tu tem um nutricionista? Chique isso...
- Sim, chique e metido a intelectual.
- E queria que eu falasse como? Não tenho culpa se gosto do bom português.
- Só disse que "tecer loas" é expressão de velho metido a intelectual. Mas fala, aí, fala.
- É isso. Leite é bom, tem muito nutriente, cálcio...a gente que é velho precisa de cálcio.
- Tá vendo? Até tu reconhece que é velho....mas me inclua fora dessa. Você faz setenta antes de mim...
- Mas o doutor Enzo já disse em seu canal no Instagram que leite é inflamatório. Isso sem falar que é uma judiação contra as vaquinhas que precisam estar sempre prenhas para que lhes tirem o leite!
- Deixa de ser racista e fascista, não pode mais falar "judiação", é antissemitismo!
- E tu é judeu por acaso? Tem algum judeu aqui? Que besteira.
- Temos que ser politicamente corretos, e ser politicamente correto culinário hoje em dia é ser vegano!
- Eu ouvi uma nutricionista ontem defendendo a dieta carnívora. Adorei! Só se come carne. Qualquer bicho tá valendo. Teve duas ou quatro patas, pode ir pra panela. E até se não tiver patas! E ainda tem um bônus: pode ovo e leite de boa procedência e seus derivados em pequenas doses. Nada de planta que é cheia de oxalato que inflamam nosso corpo e fibras não digeríveis que te dá caganeira!
- Você não devia falar "caganeira", que termo mais vulgar!
- Eu sou um cara vulgar, tu sabe, ó guardião da língua portuguesa...
- Ah, não dá pra comer só carne, já viu o preço da picanha?
- Ora, bolas, mas não foi você quem votou no cara que prometeu picanha pra todo mundo?
- Não tenho problemas com o preço da picanha ou de qualquer carne. Vantagens de ser vegano, e politicamente correto, em favor da defesa dos bichinhos que são comidos sem dó nem piedade...O veganismo é o futuro!
- Tá doido? Viver comendo planta? Eu lá sou boi? Eles pelo menos têm quatro estômagos para dar conta de digerir toda a merda que é digerir uma planta...e se o boi come planta e eu como o boi, tecnicamente eu tô comendo planta também...
O amigo não gostou de ouvir sua dieta ser chamada de "merda". O convertido ao carnivorismo enfatizou:
- Tu sabe a dificuldade que um estômago humano tem para digerir e lidar com toda toxina que as plantas possuem? Procure saber, meu amigo, procure saber...
- Lavamos bem e deixamos de molho por 12 horas nossos vegetais. Isso ajuda a retirar os oxalatos e diminuir os antinutrientes que sabemos bem que as plantas possuem como defesa.
- "Ajuda", mas não tira. Eu que já tive três pedras nos rins de oxalato de cálcio não quero ver nada verde no meu prato. É só picanha!!! E se a planta tem defesa contra quem quer consumi-la pra quê entrar em contenda com elas...? Tu é hipócrita! Defende os bichos mas não defende as plantas!
- Mas a picanha tá cara, viu?
- O presidente disse que picanha era só uma metáfora...
- E aquele lá sabe o que é metáfora??
Eu que ouvia tudo em outra mesa do restaurante, fui pesquisar no GPT esse negócio de planta ser ruim para digestão humana pois bicho que come planta tem mais de um estômago pra dá conta, e só no primeiro parágrafo já fiquei convencido que o amigo carnívoro estava certo. Olha o que diz:
"Nem todos os animais que só comem plantas (herbívoros) possuem mais de um estômago, mas muitos deles têm sistemas digestivos mais complexos justamente porque digerir plantas é mais difícil do que digerir carne"
Olha quem diria que digerir um brócolis é mais complicado do quem digerir um bife!
E sabe, me convenceu, agora eu só vou comer picanha, mas só quando ela deixar de ser metáfora, por hora, me contentarei com cortes menos nobres.
Sinto muito, pobres veganos.
*************************************
sábado, 12 de julho de 2025
A Vergonha de Édipo
Estou terminando de ler o livro A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera. A história se passa nos anos 60 em uma Checoslováquia governada por uma ditadura comunista. Um dos personagens, Tomas, confrontando o governo e o povo, escreve um artigo onde argumenta que costumamos dar desculpas para não fazermos nada em relação ao arbítrio. Que os comunistas fecharam os olhos para as atrocidades do regime porque o culpado foi Stalin. Que o assassino procura se desculpar pelos seus crimes, dizendo que a culpa foi da família, da mãe, que não lhe deu a devida atenção e amor quando criança. E então ele dá o exemplo de Édipo como alguém que apesar de ser inocente, não deixou de reconhecer o próprio erro.
* * * * * * * * * * *
Conforme nos conta Sófocles, Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha da cidade de Tebas. O casal recebe uma profecia do Oráculo de Delfos que dizia respeito ao destino do filho. A profecia trágica era: Édipo matará o próprio pai e se casará com a mãe. Assustados, Laio e Jocasta entregam o filho para um servo para que ele o mate para que a desgraça profética não aconteça.
Porém, o servo fica com pena do garoto e deixa-o pendurado pelo pé em uma árvore. Logo ele é encontrado por um camponês, que o leva para a cidade de Corinto, e lá ele é adotado por Pólibo e Mérope, rei e rainha dessa cidade. Édipo cresce então acreditando ser filho biológico deles.
Passa o tempo...
Anos depois, Édipo vai ao oráculo de Delfos e recebe a mesma profecia que seus pais receberam anos atrás: ele será o responsável por matar o próprio pai e desposar a própria mãe. Para fugir de seu destino, Édipo sai de Corinto e se muda para Tebas, mal sabendo ele que está indo ao encontro da concretização da profecia...
No caminho de Tebas, ele encontra seu pai, Laio(evidentemente sem saber que era seu verdadeiro pai) e um servo, ambos indo ao oráculo de Delfos, pois Laio estava preocupado com alguns presságios de que a profecia recebida anos antes, estava para se concretizar.
Acontece uma discussão entre Laio e Édipo, pois este está atrapalhando seu caminho e acaba lhe agredindo. Édipo fica enfurecido com a agressão e assassina Laio e seu servo. Sem saber, Édipo mata o próprio pai.
O Destino é implacável...
Quando Édipo chega a Tebas, encontra a cidade sendo atacada pela esfinge, um ser monstruoso que apresenta um enigma a todos os viajantes que chegam lá. Os que não sabem a resposta do enigma são mortos por ela.
Édipo consegue desvendar o enigma da esfinge, e esta, envergonhada, comete suicídio ao lançar-se em um precipício. A população de Tebas fica profundamente grata por Édipo libertar a cidade daquele monstro e em gratidão, oferece a ele o trono da cidade e a mão da viúva rainha Jocasta(sua mãe!) em casamento. Édipo aceita tanto o trono quanto o casamento, tornando-se rei de Tebas e marido de sua própria mãe, tendo com ela quatro filhos, chamados Etéocles, Ismênia, Antígona e Polinices.
Anos depois, uma praga atinge Tebas, e Édipo procura ajuda de adivinhos para conseguir livrar sua cidade desse mal. Um adivinho chamado Tirésias desvenda a verdade a Édipo e conta que este é o responsável pela tragédia que afeta seu reino. (uma história bem parecida com a tragédia bíblica de Jonas).
É quando Édipo e Jocasta entendem o que aconteceu. Jocasta, em profundo desespero, tira a própria vida. Édipo ordena que ela receba um funeral digno, abdica o trono de Tebas e passa a vagar como um mendigo.
A vergonha de Édipo.
Édipo e Jocasta fizeram certo ao se autocondenarem mesmo sendo inocentes, pois todos foram vítimas da roda do Destino?
No livro citado no início, Milan Kundera faz seu personagem Tomas defender a atitude de Édipo, proclamando ao povo tcheco a fazer o mesmo e não impor a outros a culpa pela sua omissão. Mesmo sendo inocente ao cumprir a profecia, Édipo fez o certo em autocondenar-se e não colocar apenas a culpa na profecia.
Porém, tempos depois, ativistas procuram Tomas para que ele assine um manifesto criticando as prisões arbitrárias que o governo fazia contra intelectuais que criticavam o regime. Tomas, porém, tinha sido destituído da sua função de médico pelo governo exatamente pelo texto que ele publicara anteriormente onde citava o exemplo de Édipo. Tomas agora era apenas um simples limpador de janelas e não quer mais assinar manifestos.
Ele já foi perseguido pelo governo, não podia mais medicar e agora ponderava porque Édipo deveria se autopunir por um crime que cometeu inocentemente? Agora, Tomas diz que fazer isso seria algo bárbaro. Porque ele deveria se por em risco novamente sabendo que poderia ser castigado de uma forma ainda pior?
Mas Tomas não se sente confortável com sua atitude. Ele foi covarde? Ele já não sabe se deveria ou não ter assinado o manifesto. É justo levantar a voz quando se tenta reduzir um homem ao silêncio? SIM. Mas não era exatamente isso que o governo queria? Que ele assinasse para poder puni-lo outra vez?
E então o autor faz Tomas elucubrar sobre a questão: Será melhor gritar e precipitar o próprio fim, ou calar-se e barganhar uma agonia mais lenta?
Existirá uma só resposta para essas perguntas?
Édipo foi justo consigo mesmo ou cometeu uma barbárie contra si mesmo?
* * * *
sábado, 5 de julho de 2025
O Vovô e o Trem
QUEM ME CONTOU disse que foi assim:
Na estação, o trem para e um idoso entra pela porta à sua frente. Por acaso era o vagão feminino. O vagão estava cheio. De mulheres, visto ser um vagão feminino...(não me diga!). Criaram tal vagão para proteger a honra das mulheres que eram constantemente assediadas por homens machistas com síndrome de Don Juan. Mas acho que a lei precisa ser atualizada, visto o aumento exponencial de mulheres que assediam mulheres...
Ele foi entrando, se esgueirando, empurrando as mulheres em busca de um lugarzinho pra ficar. Não havia lugarzinho algum e até ficar em pé no meio de tanta mulher foi difícil. Algumas foram condescendentes, outras, nem tanto.
- Meu senhor, isto aqui é um vagão feminino, não viu a placa não?
- Minha filha, a porta que abriu mais perto de mim eu entrei, tô atrasado para minha consulta!
Algumas mostraram-se preocupadas com a idade avançada do senhor.
- Senhor, precisa se segurar pra não cair....
- Mas como é que eu vou cair se não consigo nem me mexer, minha filha?
De fato, o idoso tinha estacionado no meio de duas mulheres com alto teor de gordura corporal.
Outra, do grupo das preocupadas:
- Mas senhor, não tem ninguém que possa te levar de carro pra consulta não? Quantos anos o senhor tem?
- Vou fazer 89 semana que vem, minha filha. Tenho consulta hoje, não posso faltar!
- Sim, mas ninguém poderia lhe acompanhar?
- Marquei a consulta há três meses e ainda tô atrasado. Vou ficar aqui quietinho, pode deixar.
Outra, da turma legalista argumentou:
- Mas o senhor tinha que entrar em outro vagão, não neste...
E aí começou uma pequena discussão entre condescendentes e legalistas. O idoso se viu objeto daquela discussão e só repetia:
- Tenho consulta, tô atrasado. Faço 89 semana que vem! Não vou assediar ninguém. Já faz uns 30 anos que não assedio ninguém...fiquem despreocupadas, minhas filhas.
Uma legalista com cabelo pintado de azul:
- Então quer dizer que o senhor era assediador quando era mais novo...?
Não se sabe se foi a agitação, o aperto ou a pressão arterial, o idoso começou a dizer que estava passando mal.
- Ai, que tô suando frio...ai, minha filha, tô passando mal...tenho consulta...tá marcado....tô atrasado....
Se tivesse espaço, o idoso cairia no chão, mas pendeu o pescoço de lado, fechou os olhos e desmaiou ali mesmo, no meio das duas Avantajadas.
Preocupação geral. Até das legalistas.
- Olha, acode o vovô, ele tá desmaiado!
- Gente, alguém assopra aí a cara dele, deve estar sem ar.
- Mas o ar-condicionado tá ligado.
De uma forma ou de outra, conseguiram colocar o vovô sentado.
Apareceu uma garrafinha de água.
- Dá pra ele beber!
- Como ele vai beber se tá desmaiado?
- Joga na cara dele que ele acorda.
- Cuidado que ele pode se assustar e ter um infarto.
- Mas depois que ele acordar tem que ir pro vagão certo.
- Não seja tão insensível.
- Lei é lei. Temos que ter todo o cuidado com essa raça de homens mesmo velho, mas que já foi assediador...
- Tu não está exagerando, não?
- Gente, dá água pro vovó!
** * * * * *
Quando o vovô abriu os olhos o trem estava parado com as portas abertas e um funcionário da estação tentava retirá-lo do vagão para lhe prestar atendimento.
O vovó protestou.
- Me deixa aqui, me deixa aqui! Já estou bem, já estou bem! Foi só a pressão que caiu. Não quero sair não, manda o trem andar, tenho consulta, tenho consulta, tá marco há três meses...!
Até as legalistas não conseguiram segurar o riso e não ter simpatia pelo vovó.
-Deixa o vovô aí, moço, ele já tá bem. Ele tem consulta, tá marcado há 3 meses e ele tá atrasado!
- E semana que vem ele faz 89 anos...
* * *
Só mais uma cena do cotidiano carioca nos trens da Supervia.
terça-feira, 1 de julho de 2025
A Bola, Coitada!
GOSTO DE ASSISTIR ESPORTES NA TV. Tênis e vôlei, principalmente. Futebol só os grandes eventos: Copa do Mundo, Copa Libertadores da América, Champions league. E agora, essa nova Copa do Mundo de Clubes. Nem o mais otimista torcedor de Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Fluminense (os clubes brasileiros participantes) esperavam uma participação tão positiva, com os quatro times indo para as oitavas de final. E dois - Palmeiras e Fluminense - nas quartas! Chegar à final é quase utopia, mas futebol é esporte onde nem sempre o mais forte vence no final.
Todo mundo sabe que os clubes europeus são os mais ricos, logo, compram os melhores jogadores. Seus clubes parecem na verdade, seleções nacionais, de tantos estrangeiros! Porém, os times brasileiros estão mostrando nesta copa, como se joga com um time superior: Uma defesa compacta, errar o mínimo possível, e buscar sempre a oportunidade do gol.
Mas na verdade eu queria falar dela, da bola...ou das muitas bolas usadas em todos os esportes com bola. E saiu esse poeminha bobo, infantil, com métrica sofrível até. Mas é a minha homenagem a essa desejada e sofrida personagem.
*************************
A bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
Se é amarelinha e felpuda
Leva raquetadas sem restrição
De um lado pro outro, de um lado pro outro,
Numa tonteira aflição!
A bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
Se é listrada, leve e simpática,
Vive a levar bofetadas por cima de uma rede
A torcida pedindo "ace, ace, ace"
Sempre acabando com a cara no chão!
A bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
Se é de gramado, vinte e dois pés
Estão a chutar-lhe a face
Com o desejo de colocá-la
Dentro de traves e travessão.
Que alegria isso provoca
Todos vibrando com o tal do gol
Mas a bola, coitada, só torce pra que acabe logo a competição!
A Bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
Se é mais pesada e rechonchuda,
Vejam só que piração
Teimam em enfiá-la numa cesta
Sempre a quicar-lhe o lombo no chão!
A Bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
E a bolinha pequena, sólida e branquinha?
Essa vive a levar tacadas em toda direção
A querem sempre dentro de um buraco,
Mas cadê a consideração?
A Bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
E se tem três furinhos,
Metem-lhe os dedos
Libidinosamente
E a arremessam ao encontro
Dos pinos - também estes coitados - como apanham
E nunca os querem de pé!
Inocente nisso, Pinos, saiba
Que a bola é!
A Bola, coitada, não tem descanso, não tem paz.
Se oval é a bola,
Coisa de americano que acha que aquilo
É futebol,
Sofre demais sendo agarrada, lançada,
Disputada e maltratada no touchdown !
Mas por que te queixas, bolinha,
Seja pequena, leve, oval ou gordinha?
Nunca viu o sorriso de uma criança
Quando você chega?
Nunca viu a felicidade delas
Quando estão com você?
A bola respondeu-me: Sim!
A estes me dou com alegria, pequenos ainda são
E me tratam com mais calmaria.
Mas quando crescem, ó dor que me provocam
Viro saco de pancadas em correrias!
Mas ao lembrar do saco de pancadas,
A bola passou a meditar sobre a sua serventia.
Também o saco de areia, coitado, é esmurrado todo dia...
* * * * * * * * * * * * * * * *