Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Naquela Mesa (Crônica de Pai, Filho e Avô)



ANO PASSADO eu e meu filho conversávamos sobre o avô Diogo, meu pai. Como não teve uma relação muito extensa de neto-avô, já que meu pai faleceu quando ele tinha apenas 8 anos, eu contava  para ele como era a minha relação com o meu pai. Acho que a maior lembrança que ele tem foi quando sem querer, o avô o trancou do lado de fora do apartamento quando estavam sozinhos em casa e levou um bom tempo para perceber que o neto tinha sumido...(depois eu conto esse caso).

Eu contava para meu filho os defeitos e as virtudes do avô.  Lembranças eternas e tocantes para mim. Meu pai era um leão quando o caso era nos defender  e fazer tudo o que pudesse para nos ajudar em qualquer situação. Um pai presente. Rígido em alguns aspectos e extremamente flexível em outros. Irritantemente, gostava de repetir para nós sua máxima: "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Ou então, "coma o que sua mãe colocar no prato pois menino não tem gosto".  Contava histórias à mesa ou na sala com a família ao seu redor. Eu adorava esses momentos. Tanto das histórias folclóricas que ele conhecia quanto histórias da sua infância ou de suas viagens pelo Brasil.  E eu contava ao meu filho que tinha uma música que sempre que eu ouvia eu chorava pois me fazia lembrar dele e a saudade batia forte. 

Ele me perguntou que música era e eu abri o Youtube...

A música "Naquela Mesa" foi composta por Sérgio Bittencourt  em homenagem ao seu pai, o grande compositor Jacob do Bandolim, que havia falecido em 1969 aos 51 anos nos braços da esposa. Sérgio Bittencourt escreveu a canção movido pela dor e pela saudade; no entanto, Sérgio e o pai nunca se deram bem, tinham uma relação conturbada, ambos de personalidade  forte e gênio difícil. Sérgio nasceu hemofílico, doença que escondia do público, o que o levou a ser superprotegido pela família, o que o tornou  inseguro e arrogante. Era amado ou odiado. Sérgio faleceu aos 38 anos de infarto, igualmente ao pai em 1979. Um ano antes de falecer fez a seguinte declaração que demonstrava que apesar da difícil convivência, ele admirava o pai.

"Tenho certeza e assumo: não sou nada porque de fato, não preciso ser, me basta ter a certeza inabalável que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de um gênio".

Compôs outras músicas de sucesso, como Modinha, que foi defendida e se saiu vencedora em um festival na voz de Taiguara. Consta(mas há controvérsias) que Sérgio compôs Naquela Mesa no dia da morte do pai, no velório, escrita em um guardanapo. A mesa virou um símbolo da convivência e da perda para todos que perderam o pai ou ente querido. A canção ficou famosa na voz de Elizeth Cardoso, que era muito amiga de Jacob do Bandolim. Sérgio a entregou diretamente a ela, pedindo que fosse a intérprete da canção, o que deu ainda mais peso emocional à obra.

Naquela Mesa foi gravada por grandes cantores e cantoras da MPB como Agnaldo Timóteo, Ângela Maria, Miltinho, Cauby Peixoto, Chico Buarque e outros, mas a versão que me marcou desde criança quando a ouvi pela primeira vez, foi na voz de Nelson Gonçalves. Meu pai era fã do Nelson e também da música, pois reputava ter sido o pai dele (o avô que eu não conheci) um "cabra macho bom e trabalhador". 

Abro o Youtube, procuro a música e mostro para ele. Começamos a ouvir juntos. "Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim..." Quando a música terminou, olhei e vi meu filho com os olhos marejados. Não segurei a emoção e chorei... Nos abraçamos e ficamos ali, parados, sentindo aquela emoção da falta de um e ao mesmo tempo da presença de nós dois. Para mim, até aqui, esse foi o momento mais marcante que tivemos juntos.


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                                                                Nelson Gonçalves. Naquela Mesa




Sérgio e Elizeth Cardoso



Jacob do Bandolim



Eduardos. Eu, Carlos Eduardo; ele, só Eduardo (porque na família tem um monte de Eduardos por tradição e depois eu conto porquê)




Eu, talvez com uns 5 anos com meu pai. 








sexta-feira, 4 de abril de 2025

Love Story

 







Maria Tereza e Maria da Glória passeavam  pela calçada à beira-mar. O sol já se ia longe num belo entardecer. João Vicente vinha em sentido oposto. Logo viu Maria Tereza, apaixonou-se. Aquelas paixões imediatas, impositivas, quase perturbadoras, mas foi Maria da Glória que antes, por ele se apaixonou.  Aquelas paixões imediatas, impositivas, quase perturbadoras. O sorriso que João Vicente endereçou aos lindos olhos de Maria Tereza foram recebidos com desprezo. Não sabia (como poderia saber?) que o coração de Maria Tereza era terreno árido, impenetrável e  o olhar mavioso e receptivo que Maria da Glória endereçava ao olhar de João Vicente, da mesma forma ignorado foi. Os olhos que o moço queria eram os olhos de Maria Tereza, não os olhos de Maria da Glória. Em angustiante desconexão do acaso, os três por si passaram, João Vicente de chapéu na mão, estatuado em uma reverência decorosa para Maria Tereza que semblante fechado, o  ignorou mais uma vez. O rapaz sofreu a indiferença daquela que tinha certeza, poderia ser sua grande paixão, sem perceber que talvez a outra, essa paixão pudesse vir a ser. João Vicente quedou-se conformado, a olhar as duas se distanciando, angustiado que o amor o tinha recusado. 

O mesmo pensou Maria da Glória.

E foram infelizes para sempre.


Eduardo Medeiros.

Naquela Mesa (Crônica de Pai, Filho e Avô)

ANO PASSADO eu e meu filho conversávamos sobre o avô Diogo, meu pai. Como não teve uma relação muito extensa de neto-avô, já que meu pai fal...