É, O TÍTULO é grande e exagerado.
O ano era 1982. Local: Vila Velha, Escola de Aprendizes Marinheiro do Espírito Santo (EAMES). Turma Bravo Uno. Doze meses de curso que pareceram levar doze anos para acabar.
Esperávamos ansiosos o final de semana depois de uma rotina exaustiva de acordar às cinco da matina para fazer ginástica, muitas vezes correndo pelas ruas desertas de Vila Velha, algumas vezes subindo o longo trajeto que ia dar no Convento da Penha (não espalha, mas eu dava um jeito de me esconder e evitar a exaustiva subida). Às seis tomar banho e formar para o café. Às sete estar em sala de aula até o meio-dia para então, formar para o almoço e ter um pequeno descanso de uma hora até as atividades da tarde, que poderiam ser aulas de ordem unida (marchar por umas 3 horas), faxina pela escola, atividades em grupos especiais, aulas de tiro, aulas de natação, etc. Às cinco, banho para a janta e estudo obrigatório das oito às nove; uma pequena ceia e depois às nove e meia, soninho da beleza para no outro dia começar tudo de novo. Isso sem falar na escala 2 x 1 do plantão.
O final de semana era nosso escape dessa rotina. A glória era ter todo o fim de semana de folga por não estar de serviço(plantão) nem sábado nem domingo, pois se estivesse, não se podia sair. Ficar na escola vazia num final de semana só para tirar serviço era deprimente. Tudo bem, tínhamos um psiquiatra de plantão.
Antes de eu fazer concurso para a EAMES, eu fazia parte do grupo de jovem de uma igreja. Tocava guitarra. Fazia retiros. Cantava em coral. Lá na escola também tínhamos um grupo de evangélicos que se reunia no tempinho entra a janta e o estudo obrigatório. Naquele sábado tínhamos combinado ir a um culto em uma igreja batista. Um bom programa para um jovem evangélico - certamente não faltaria na tal igreja, meninas bonitas e dispostas a confraternizar com uns marinheiros (já que na escola só convivíamos com homens 24 horas por dia). E quando eu digo "confraternizar", é confraternizar mesmo, não pensem em safadezas! Quem queria safadeza ia à uma boate onde havia mulheres disposta a uma confraternização, digamos, mais íntima, pelo justo valor.
Acontece que nos cinemas tinha estreado com imenso sucesso naquele ano, o filme do ET, e eu tinha lido uma reportagem em uma revista sobre o simpático visitante de outro planeta e fiquei com muita vontade de ir assistir.
Naqueles tempos não era de bom alvitre jovens evangélicos irem à cinemas. Um amigo não evangélico porém, me convidou para ir assistir ao filme. No mesmo sábado em que eu tinha combinado ir à tal igreja batista!
Parecia que um diabinho e um anjinho, um em cada lado da orelha, tentavam me convencer a ir a um lugar ou ao outro. Resolvi dar ouvidos ao diabinho. Afinal de contas, que mal teria?
Saíamos da escola fardados e tínhamos que trocar de roupa em algum lugar. O lugar escolhido por grande parte dos alunos era o Bar do Abreu que ficava estrategicamente perto da escola. Era andar alguns minutos e podíamos trocar de roupas em um quarto nos fundos do bar que o Abreu tinha reservado exatamente para os alunos - em troca de um valor módico.
Deixávamos nossas bolsas com nosso uniforme lá no quarto do Bar do Abreu e cada um tomava seu rumo ao encontro do esperado final de semana.
Tocamos para o cinema. Fiquei deslumbrado com o filme. Adorei tudo, aquilo era uma aventura muito divertida para mim aos 18 anos, viciado que eu era na Sessão da Tarde da Globo.
Terminado o filme, saímos do cinema e fomos passear por Vila Velha. Fomos lanchar, conversamos bastante sobre o filme e...esquecemos das horas...e esquecemos que o Bar do Abreu fechava às onze. Lembrei da música de Adoniran...Não podíamos perder aquele trem!
E sim, como convém às suas expectativas, caro leitor, quando chegamos, o bar já estava fechado. Com nossos uniformes dentro! Voltar para a escola com roupas civis seria uma falta muito grave.
Meio desolados, ficamos caminhando á esmo pelas ruas de Vila Velha. Eu, pensando porque não tinha dado ouvidos ao anjinho.
Mas dos males, o menor, já que nem eu nem meu amigo estávamos de plantão no domingo, logo, não precisaríamos voltar para a escola, então o jeito era dormir na rua mesmo. Um quarto de pensão até que cairia bem, mas não conhecíamos nenhuma pensão e mesmo assim, nosso dinheiro tinha acabado.
Meu amigo, então, revestido de um espírito aventureiro, sugeriu dormirmos nos bancos de uma praça. A noite não estava tão fria, o céu estava limpo com estrelas na vitrine.
Dormimos. Acordamos com o sol batendo na nossa cara, com dores nas costas e algumas pessoas nos encarando. "Só podem ser da escola da Marinha", ouvi alguém dizer.
Não gostei daquela observação, afinal de contas, não éramos vagabundos, não éramos delinquentes, nem mesmo éramos carentes por dormir na praça pensando nela...
Se alguém habitou nossos pensamentos naquele noite, sem dúvida, foi o Abreu com seu bar que fechava tão cedo.
Adorei te ler, as fotos e acho que valeu a pena essa dormida na praça pois o ET foi um filme muito legal e bonitinho! O resto vem depois, né?rs E teve muita bronca???
ResponderExcluirQue legal Dudualdo.
ResponderExcluirJá fiz umas proezas dessas.
Dormi no jardim de uma loja uma vez. Eu e um amigo.
Acordamos umas 4 horas e "recobrados", fomos embora.
Que loucura!
Outra vez foi numa calçada. Estavamo indo embora a pé, de uma festa. Começou a chover muito e nós paramos debaixo de um toldo bem grande e acabamos dormindo.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Cada uma.
Vou te falar viu... Você não engana ninguém, falando que a socialização das crentinhas era de leve.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Um abraço!
Adorei ler e conhecer um pouco mais! Lembro-me de ser pequena e ver o ET mas na televisão!
ResponderExcluirA tua opinião é muito importante, por isso gostava de pedir 3 minutos do teu tempo, para responderes ao questionário de consulta e satisfação sobre o meu blog. É muito simples, basta clicares aqui.
Obrigada!
Bjxxx,
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Olá grande Eduardo! Tudo bem? É pá... Ler-te é uma coisa maravilhosa. É espetacular a quantidade de histórias incríveis que tens para contar! Esta foi mais uma delas! Realmente o bar fechava muito cedo... ahahaha. Forte abraço! 🤗
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