Vez em quando me baixa uma piração. Piração no bom sentido, diga-se. Ou não. Entrei em um blog de uma autora polonesa. De repente me vi fixado na escrita. Spójrz jaki fajny blog, spodobał mi się...(1). Gostei de ler polonês. Pareceu-me uma língua forte, cheia de vida, ensolarada. Olha só essa palavra: Spodobal. Linda. Significa "gostei". SPODOBAL...dito assim, em alto e bom som, parece o nome de um esporte que ainda não inventaram.
Depois de ler algumas frases em polonês, resolvi clicar naquele botãozinho que diz "Idioma tradutor". Busquei pela última flor do Lácio, inculta e bela bilaquiana e a mágica se fez...o texto polonês transvestiu-se em português. Naquele momento, percebi que aquilo era uma puta coisa legal, com o perdão da palavra de baixo calão, que aliás, em polonês é suka. Será que a nossa velha e boa Sukita tem a ver com suka? O tio da Sukita(2) deverá saber...
Abri meu blog, estas Crônicas que ora você lê por não ter mais nada de interessante para fazer (o que não deixa de ser lamentável), e comecei uma sessão de transformismo idiomático. Fui logo naquelas línguas mais populares, que todo mundo já ouviu falar.
Pra começar meu novo passatempo em bom nível, escolhi a língua awadhi.
E assim ficou a primeira frase da minha última postagem(Sextou!) em awadhi:
मैं एक सेक्सटौ करै चाहत हउँ! सब कुछ एक साथ अऊर मिला के,
यादृच्छिक लेकिन उत्साहवर्धक अऊर सांस्कृतिक रूप से प्रासंगिक चीजन के साथ। या नाहीं
Bacana. Fiquei alguns minutos olhando os detalhes da língua awadhi, falada por um grupo indo-ariano, principalmente no norte da Índia, na região de Awadh. Não conhecia? Pô, é uma língua bem popular!
Caracteres interessantes. São escritos debaixo de uma linha horizontal. Isso que é vanguardismo!
Passei então para outra língua muito conhecida: o balinês.
O quê, não sabe sobre o balinês? (viu a aliteração? Sou muito bom em figuras de linguagem). Junção atemporal das palavras "bala" e "Inês"...? Sim, a Inês, aquela mesma que se disse que "agora é morta..." Ok, ok, ok, como diria Nelson Rubens, eu aumento, mas não invento.
Vejam só a graça desse língua balinesa:
"Tiang dot ngae SEXTOU!" - Estou decidido: Só vou escrever agora em balinês, adorei a cara dela! Calma, eduardo, contenha suas empolgações.(esse é o meu daimon(3) interior tentando me controlar). MAS VEJAM!!!
Tiang dot ngae SEXTOU! antuk sakancan sane wenten sareng-sareng tur kacampur,
antuk parindikan sane acak nanging ngangkat lan relevan ring budaya. Utawi ten...
Não é um língua belíssima? Olha essas palavras! "ring budaya" - soam muito sexy...
Como todos sabem, o balinês é uma língua falada principalmente pela população de Bali, uma das ilhas da Indonésia. Não sabia? Mas que falta de cultura...
Enfim, a experiência precisava ir avante. Próxima língua: BURIATA.
O nome da língua já soa legal. Nada a ver com "bariátrica", vou logo dizendo. Mas se você olhou para seu abdômen e crê que precisa de uma, não se reprima, vá em frente.
Би SEXTOU хэхэ һанаатайб! бүхы юумые хамта холижо,
һанамсаргүй, гэбэшье сэдьхэл хүдэлгэмэ ба соёлдо хабаатай юумэнүүдтэй. Али үгы гү.
Vejam só A BELA estética dessa frase: хэхэ һанаатайб!
Parece até um símbolo matemático! Tem um "6" ali no final o que confirma tratar-se de algo matemático. Esse "e" invertido ao lado de um x (referência ancestral indicativa do aplicativo do Elon?) que para nós soa como "Xéxé" ou inglesado "EkiseEkise", deve ser um reflexo espelhado, como em um enigma! É uma língua matemática enigmática ..."menos, Eduardo, menos..." (meu daimon outra vez).
A língua buriata é falada pelo povo buriato, um grupo étnico que vive principalmente na República da Burácia, que é uma região da Federação Russa, localizada na Sibéria, ao redor do Lago Baikal.
Não sabia? Que falta de cultura multilinguística...!!
DEIXEI buriata de lado e fui para algo ainda mais forte: BAMBARA.
Como todo mundo sabe, bambara é uma língua falada no MALI, oeste da África. Vejam como ficou:
N b'a fɛ ka SEXTOU dɔ kɛ! ni fɛn bɛɛ faralen don ɲɔgɔn kan ka ɲagami ɲɔgɔn na , .
ni fɛnw ye minnu bɛ kɛ k’a sɔrɔ u ma kɛ cogo si la nka minnu bɛ mɔgɔ dusu lamin ani minnu bɛ tali kɛ laadalakow la. Walima a tɛ kɛ ten.
Vai, na sua ignorância cultural, tente pronunciar e sinta a musicalidade africana dessa língua! Repararam nas últimas cinco palavras? Walima a tɛ kɛ ten, o que em português carioca soa bastante parecido com "Walina tem que tem..." referência provável à dona Walina. Essa nossa ligação Brasil-África é uma coisa muito orgânica, de fato!
Não conhecem a folclórica Walina, vendedora de açaí que tem ponto na Praça da República há anos? Para anunciar seu produto costuma gritar a plenos pulmões "Vem que Walina tem, tem que tem o melhor açai do Rio de Janeiro..." Linda essa conexão!
MINHA VIAGEM LINGUÍSTICA HOMÉRICA ainda passou por Alu, Amárico, Chamorro, bikol...Foi muito interessante ver meu texto transformado nessas tão belas, instigantes e edificantes línguas. E para finalizar esta crônica que longa vai, nada como terminar com um clássico: o GREGO. Meu daimon exigiu que eu terminasse a viagem linguística na Grécia.
E para efeitos performáticos de mim para mim mesmo, traduzirei este meu último parágrafo acima para a língua eterna de Aristóteles:
ΤΟ ΟΜΗΡΙΚΟ ΜΟΥ ΓΛΩΣΣΙΚΟ ΤΑΞΙΔΙ πέρασε επίσης από το Alu, το Amharic, το Chamorro, το Bikol... Ήταν πολύ ενδιαφέρον να βλέπω το κείμενό μου να μεταμορφώνεται σε αυτές τις όμορφες, στοχαστικές και εποικοδομητικές γλώσσες. Και για να τελειώσουμε αυτό το μακρύ χρονικό, δεν υπάρχει τίποτα σαν να τελειώνουμε με ένα κλασικό. Ο ΕΛΛΗΝΑΣ.
Extasiante!
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(1) Olha que blog legal, gostei...
(2) Vai dizer que não lembra do comercial do tio da Sukita? Sei que já passastes dos 40...mas se você é um jovenzinho que estás a ler isto aqui, procure saber no youtube.
(3)Na Grécia antiga, o conceito de daimon (ou demon em inglês) era bastante complexo e variava ao longo do tempo e do contexto. Em termos gerais, o daimon não era considerado uma divindade plena como os deuses do panteão grego, mas uma espécie de espírito ou entidade intermediária entre os deuses e os seres humanos. Em muitos casos, os daimons eram vistos como seres espirituais que influenciavam a vida das pessoas, mas sem a mesma magnitude ou autoridade dos deuses. Eram, por vezes, descritos como espíritos pessoais que guiavam o destino de um indivíduo, protegendo ou orientando-o.