Clube de Detetives Pão de Queijo

sábado, 31 de maio de 2025

A Cobra Deixou de Fumar

 



TEM COISAS QUE TODO MUNDO DIZ E tem coisa que todo mundo já disse e quase não diz mais. Depende da época e do lugar. Explico-me:  "Ficar a ver navios", "conversa pra boi dormir", "fazer das tripas coração". Você conhece todas elas se tem uma certa idade. São as chamadas "expressos populares" que ninguém sabe quem criou e só existem até quando haja quem as diga. Algumas já estão enterradas e só os bem mais velhos ainda lembram e até falam, mas se falam perto de alguém mais jovem corre o risco de ouvir coisas do tipo,  "Tu é velho, hein"?? Já ouvi isso do meu filho. E não gostei. Senti-me vítima de...de...como é que fala? Uma dessas fobias de hoje em dia... Alias, estamos nos tempos das expressões populares com "fobia". Homofobia, transfobia, gordofobia...Ah, lembrei! ETARISMO. Mandei na cara do moleque: "Tu não me diz isso porque é etarismo..." Coisa de véio mesmo" - confirmou ele. Total falta de respeito com um quase idoso.

Cada nova geração cria suas próprias expressões populares. Você, meu amigo, minha amiga, mais experiente, com mais quilômetros rodados, já percebeu quanta coisa que a gente dizia (eu não, ainda não sou idoso) e que saiu de uso sem a gente nem perceber? Uma expressão ficou muito famosa durante a Segunda Guerra: A COBRA VAI FUMAR" - expressão atribuída a um grito de guerra da Força Expedicionária Brasileira. Alguém ainda aí fala isso...? TU É VELHO! Olha o maldito etarismo de novo...preciso me policiar. 

De acordo com o Observatório da Língua Portuguesa, existem pelo menos 50 palavras "antigas" que têm quase desaparecido das expressões cotidianas.


Algumas delas são:


Sacripanta

Antigamente usada para designar alguém astuto, falso ou mal-intencionado, especialmente um homem. Um "homem canalha", por exemplo. Hoje, soa como xingamento de novela de época ou personagem de comédia.

Quiproquó

Uma confusão causada por mal-entendido, geralmente cômica ou absurda, originada do latim quid pro quo. 

Balela

Uma "conversa fiada" (outra expressão que já não se usa tanto), história inventada. Uma "lorota", para resumir.

Lambisgoia

Lambisgoia era uma expressão com muitos significados: de mulher fofoqueira e intrometida a brega e "fubanga" (como os jovens de hoje em dia chamam, em substituição), um sentido teatral e depreciativo.

Sirigaita

Uma mulher atirada, sem-vergonha, com julgamento moral embutido. 

Pachorra

Pode ser muita coisa. De uma falta de urgência ou cinismo à vontade admitida de fazer algo absurdo: "Não acredito que ela teve a pachorra de fazer isso!"

Safanão 

Pouca gente sequer sabe do que se trata: é um tapa ou empurrão rápido e brusco, às vezes na tentativa de contenção, às vezes de punição.

"Levou um safanão da tia".


Perguntei ao Eduardinho(14 anos) se ele já tinha ouvido ou sabia o que significava algumas dessas expressões: Ele conhecia e sabia o que significava "balela", "Sirigaita" e "lambisgoia". Não sei porquê diabos um adolescente de 14 anos saberia isso...perguntei, ele me disse que não sabe como sabia, só sabia. Entendi.

Mas eu, um quase idoso antenado no que falam os mais jovens, pedi a ele para me ensinar alguma expressão que os adolescentes hoje em dia falam, sem ser o maldito "Tá ligado" que é uma praga na boca de adolescentes. Ele me disse algumas e eu compartilho aqui com vocês, velhos  que ainda leem blogues: CORINGAR. Sabe o que é? Pois eu sei: É quando alguém ouve alguma coisa engraçada e cai na gargalhada e não consegue parar. Diz-se: "fulano coringou". 

Se você conhecia e tem mais de 60, parabéns, tu é um jovem velho antenado e tá ligado!

domingo, 25 de maio de 2025

O Quepe do Meu Pai

 




Carlos Diogo, meu pai



O CÉREBRO joga no lixo toda lembrança que não foi marcante em nossa vida e preserva as que nos marcaram de alguma forma, como por exemplo, aquelas com forte carga emocional como medo, alegria intensa, tristeza ou trauma. Essas emoções ativam regiões do cérebro como o hipocampo que reforçam o armazenamento dessas memórias. Como se o cérebro entendesse que essas memórias possam ser úteis para a sobrevivência ou para decisões futuras. Existe também a "poda sináptica. Durante a infância, o cérebro depois de uma fase de crescimento, faz uma "limpeza" chamada poda sináptica. Conexões neuronais pouco usadas são eliminadas. Memórias que foram pouco acessadas ou com pouco importância emocional tendem a ser descartadas. Incrível, não é? Todo mundo tem essas lembranças da infância mais tenra que estão preservadas ao mesmo tempo que tantas outras foram apagadas. 


4 ou 5 anos de idade.

Meu pai fardado (ele era da Marinha), saindo para trabalhar e eu segurando o seu quepe. Ele me dizendo, "me dá meu quepe, Eduardo, tô atrasado". E eu, quepe do pai na mão respondendo: "Só vô te dá se você falá 'me dá, meu filho'..." Eu gostava quando meu pai me chamava de " meu filho".  Impaciente, falou outra vez: "Eduardo, eu tô atrasado, me dá o quepe". Meu pai parado na porta de casa, minha mãe ao seu lado, e eu afastado alguns metros segurando forte o seu quepe contra o peito. "Só vô dá se falá 'me dá meu filho' ", repeti, firme como uma rocha. Então meu pai vem  em minha direção, e diz: "Meu filho, me dá meu quepe!". Sorri satisfeito. Uma alegria imensa. Meu pai não deve ter entendido o que aquele "meu filho" significava para mim. Extremamente profissional, jamais chegara atrasado ao serviço e eu ali, lhe atrasando! Não lembro se ele me deu um beijo (não era muito de beijar os filhos, em compensação, toda hora beijava minha mãe e isso eu achava muito legal). O que eu sei e o que meu cérebro achou importante registrar, foi a satisfação ao ouvi-lo me chamando de "meu filho".



quinta-feira, 22 de maio de 2025

Trem Vem

 


TEM TANTO ASSUNTO  ululando em Brasília que meu  rascunho está cheio. Tenho mais rascunhos do que textos publicados. Faço um GRANDE esforço para não escrever sobre nossa atual política, sobre nossos males sociais, os males do mundo (meu rascunho está cheio deles). Dariam crônicas infinitas. Meu sofrível senso de humor sempre me pede textos leves e meu senso de sociólogo amador sempre me pede textos mais realistas. Creio que os textos leves até aqui, estão em maior número. 

Pois então, estava tão cheio de discussões políticas nas redes que deletei todas elas. Ou quase todas. Foram embora o Facebook, o Instagram, o X, o Tik Tok. Esses dois últimos eu praticamente nunca usei. Não considero a blogosfera uma rede social apesar de ser, mas não é como um Facebook.

Por isso, tentando manter o Crônicas leve, suave, vou deixar aqui uns versinhos que me vieram de não sei de onde. Vem, vem, vem...não sei porquê isso de repente apareceu na minha cabeça. Sentei, e sai rascunhando tal qual um Chico Xavier. Saiu isso aí. Um poeminha bobinho, tão sentimentalzinho, quase infantil. Não mexi em nada, do jeito que veio vindo escrevi e ficou. Achando que daria uma musiquinha legal, pedi para a compositora Suno fazer a música para os versos e saiu isso aí. Ficou leve.

E não falei do roubo do INSS. E não falei da China e de Trump. E não falei de gaza. E não falei de Lula e nem do STF. Mas não sei até guando vou resistir...

 



Vem vem vem trem

Trem trem vem vem

Vem que eu quero ver meu amor

Vem que eu preciso viajar

Vem que preciso sarar esta dor

Que vem vem vem

e dói dói dói

Porque  longe ela vai vai vai

Eu vou atrás trem trem trem

Não me deixa esperar

Chega logo, por favor

Trem vem trem vem

Que eu preciso ver meu amor

Piuuuiiiiiii

domingo, 18 de maio de 2025

Ouça e Fique Feliz









A  MÚSICA TEM O PODER de influenciar nossas emoções e estados de espírito. Algumas  podem nos fazer chorar, outras nos traz nostalgias, mas há aquelas que têm a capacidade de nos deixar incrivelmente felizes. Segundo um estudo conduzido pelo neurocientista holandês Jacob Jolij, certas músicas têm uma combinação específica de ritmo, letra e melodia que as torna particularmente eficazes em aumentar a felicidade das pessoas. O estudo listou as 10 músicas que  são campeãs em trazer alegria e bem-estar. Claro que esse tipo de estudo é quase inútil por ter um universo de investigação muito restrito. Cadê as muitas músicas brasileiras que não estão aí? Então, fica registrado meu protesto.


1. “Don’t Stop Me Now” – Queen

Lançada em 1978, “Don’t Stop Me Now” é um dos grandes sucessos do Queen. A energia contagiante de Freddie Mercury, combinada com um ritmo acelerado e letras otimistas, fazem dessa música uma verdadeira injeção de ânimo. A batida acelerada de aproximadamente 156 batidas por minuto (bpm) e a progressão de acordes maior contribuem para a sensação de euforia.





2 - “Dancing Queen” – ABBA

“Dancing Queen” é um clássico dos anos 70 da banda sueca ABBA. Lançada em 1976, a música tem um ritmo de 100 bpm e é conhecida por suas harmonias vocais exuberantes e uma melodia que evoca a liberdade e a alegria da dança. A combinação de letra, ritmo e melodia faz com que seja quase impossível ouvir “Dancing Queen” sem querer se levantar e dançar.




3 - “Good Vibrations” – The Beach Boys

Lançada em 1966, “Good Vibrations” é um hino ao sentimento de bem-estar. A música dos Beach Boys utiliza harmonias vocais complexas e uma produção inovadora para criar uma sensação de alegria pura. Com sua melodia cativante e letras positivas, “Good Vibrations” continua a ser uma escolha popular para elevar o humor.


4 - “Uptown Girl” – Billy Joel

“Uptown Girl”, lançada em 1983, é uma das músicas mais icônicas de Billy Joel. A canção tem uma batida animada de 128 bpm e uma melodia alegre que faz com que as pessoas se sintam bem. A história leve e divertida de um homem apaixonado por uma garota da alta sociedade, combinada com o ritmo contagiante, faz com que “Uptown Girl” seja uma escolha frequente para playlists de felicidade.



5 -  “Eye of the Tiger” – Survivor

Conhecida por ser a trilha sonora do filme “Rocky III”, “Eye of the Tiger” foi lançada em 1982 e rapidamente se tornou um hino de motivação e superação. Com 109 bpm, a música tem um ritmo pulsante e letras que inspiram determinação e coragem. É frequentemente usada para impulsionar a energia e a confiança, tornando-se uma ótima escolha para aumentar o ânimo. (esta eu gosto muito)



6 - I Will Survive” – Gloria Gaynor

“I Will Survive”, lançada em 1978, é um hino de empoderamento e resiliência. A voz poderosa de Gloria Gaynor, combinada com uma melodia que evolui de forma crescente, cria uma experiência musical que eleva o espírito. Com suas letras sobre superação e autoafirmação, a música se tornou um clássico que continua a inspirar e alegrar gerações.



7 - Happy” – Pharrell Williams

Lançada em 2013, “Happy” rapidamente se tornou um dos maiores sucessos de Pharrell Williams. A música tem um ritmo acelerado de 160 bpm e uma melodia alegre que é impossível de ignorar. As letras falam sobre a felicidade e a celebração da vida, e o ritm

o cativante faz com que seja difícil ouvir “Happy” sem começar a sorrir e dançar.



8 - Walking on Sunshine” – Katrina and the Waves

“Walking on Sunshine” é uma música lançada em 1983 pela banda Katrina and the Waves. Com um ritmo energético de 110 bpm e uma melodia contagiante, a música é uma explosão de alegria e otimismo. As letras falam sobre a sensação de estar nas nuvens, e a energia da música é perfeita para levantar o ânimo e trazer felicidade instantânea.





9 - I’m a Believer” – The Monkees

Lançada em 1966, “I’m a Believer” é um dos maiores sucessos da banda The Monkees. A música tem um ritmo alegre de 160 bpm e uma melodia cativante que é difícil de esquecer. As letras falam sobre o amor e a descoberta da felicidade, e a energia positiva da música a torna uma escolha perfeita para qualquer momento em que se precise de um ânimo extra.


10 - Girls Just Want to Have Fun” – Cyndi Lauper

“Girls Just Want to Have Fun” foi lançada em 1983 e se tornou um hino feminista e de diversão. A música de Cyndi Lauper tem um ritmo animado de 120 bpm e uma melodia alegre que celebra a liberdade e a diversão. As letras falam sobre a importância de aproveitar a vida e se divertir, e a energia da música é contagiante, fazendo com que seja uma escolha popular para festas e momentos de celebração.


E já que Girls Just Want to Have Fun está aqui(merecidamente), tenho que citar essa graça coreana chamada Yoyomi, que fez sucesso enorme nas redes com esse vídeo.




E AÍ, ARRASTA O SOFÁ, DEIXA TOCAR, DANCE E SEJA FELIZ.


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Fonte da pesquisa:

AQUI



quarta-feira, 14 de maio de 2025

O Capitão do Mato

 



NO BOTEQUIM DO JOCA, os frequentadores de sempre, todos aposentados septuagenários e que não aguentavam ficar em casa o dia todo coçando saco   e ouvindo a mulher reclamar. Discutiam as questões urgentes do mundo enquanto  bebiam cerveja às 11 horas da manhã. Na mesa do canto, Tonho, Luiz, Osvaldino e Caetano, todos pretos ou pardos, depois de discutirem as viagens de Lula, a guerra na Ucrânia, a vitória do Flamengo, a condenação dos golpistas do 8 de janeiro, chegaram a questão do novo Papa.

- Viu esse novo papa? - perguntou Tonho.

- Vi quando saiu a fumaça branca...emocionante! - disse Osvaldino, o mais católico dos quatro.

- E por que tem que ser branca? Isso me cheira a racismo...

- Deixa de ignorância, Tonho, é tradição de muito tempo - explicou Osvaldino.

- Ignorante é você que não percebe o racismo estrutural! Por que a fumaça não é  amarela? Azul? Vermelha? E porque diabos você é católico, religião dos imperialistas e colonizadores que trouxeram nosso povo pra ser escravo aqui? Preto que se prese tem que ser do candomblé!!

- Tá dizendo  que o Papa é racista? -  pergunta Caetano.

Ânimos já exaltados.

- Joca, manda mais uma rodada de Brahma porque o papo ficou bom! - gritou Luiz.

Joca olhando de rabo de olho prevendo que aquela conversa não ia dar em bons termos.

- Pode ser racismo, afinal, já teve Papa preto? 

- Já teve Papa Pop...aquele que tomou um tiro à queima roupa...

- Não brinca, Luiz, o assunto é muito sério!  O Papa é branco, a fumaça é branca...pior, o Papa é americano! E quando tudo dá ruim, quando não tem Papa, a fumaça é preta...RACISMO!

- O que é que tem que o Papa é americano? Gosto dos americanos, replica Osvaldino. Adoro filme americano! Já viu o filme daquele monstrão, o Godzilla? 

- Godzilla é um personagem japonês...!

- Mas o americano foi lá e fez os melhores filmes. Viu aquele que tem o King Kong com o Godzilla? 

- São uns imperialistas! Você deveria sentir vergonha de financiar o cinema imperialista americano!

- Eu sô imperialista, desfilo todo ano na Império Serrano... pontuou, sarcástico, Luiz.

Gargalhadas geral. 

- Deixa o Papa pra lá, você também vê racismo em tudo!

- É que eu sou preto, tem que ser preto pra vê essas coisas. Vocês também são pretos, deveriam ver também! Ter consciência!  

Luiz, totalmente alheio às questões atuais do politicamente correto racial, mandou a tascada final que acabou com todo mundo expulso do bar:

- Preto quando não caga na entrada, caga na saída... 

Foi um reboliço.

- CAPITÃO DO MATO!! Capitão do Mato!! Lambedor de saco de Senhor de engenho!! Você é uma vergonha pra  raça! Preto racista!! Lambedor de bolas de brancos!! - Se esgoelava  indignado Tonho na iminência de agredir fisicamente o amigo sem consciência de classe e de cor. 

Luiz se acabava de rir, provocativo.  O Joca, dono do bar, não queria confusão, mesmo de fregueses fieis. Mandou os quatro irem discutir racismo, Papa, imperialismo, o escambau,  lá na praça e não no seu bar que isso ia acabar em ringue de rinha. 

Tempo depois, sentados em um banco da praça, já mais calmo mas não menos indignado, Tonho falava do namorado da filha. Que a filha lhe apareceu lá com um cara branco quase transparente. 

- Mandei na lata: Se tu namorar esse branquelo eu te deserdo!

- Mas pai, ele é branco mas é legal...

- Um branco só entra na minha família por cima do meu cadáver, do meu cadáver - bradava Tonho indignado.


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segunda-feira, 12 de maio de 2025

Hawking e Deus

 



Em 2010*, o físico teórico Stephen Hawking lançou um livro em parceria com Leonard Mlodinow que suscitou polêmicas por muitos acharem que ele estaria tentando provar a inexistência de Deus com base em argumentos científicos. O livro diz que agora a física pode explicar de onde surgiu o Universo e por que as leis da natureza são o que são. Diz que o Universo surgiu do “nada” como resultado da força da gravidade e  as leis da natureza são um acidente desta parcela do Universo que habitamos. Diz Hawking que “É possível responder a essas questões exclusivamente dentro do domínio da ciência e sem invocar qualquer seres divinos”.


Teólogos não gostaram do que leram pelo fato de que a existência de um criador está fora do domínio da ciência. O reverendo Robert E. Barron, professor de teologia da Universidade of. St. Mary of the Lake, ressaltou que o livro era filosoficamente ingênuo, pois a existência das leis que deram origem ao Universo devem ser anteriores ao Big Bang. Declarou também que “As leis da gravidade parecem ser algo diferente de 'nada'".

O assunto ganhou a mídia, os blogues e os tuites. Os autores reagiram dizendo que nunca pretenderam alegar que a ciência houvesse provado que Deus não existe. Hawking declarou no programa Larry King Live, da CNN que “Deus pode existir, mas a ciência pode explicar o Universo sem a necessidade de um criador”. Mlodinow disse também que “nem ao menos dizemos que provamos que Deus não criou o Universo”. Segundo ele, no que diz respeito às leis da física, alguns podem preferir chamá-las de Deus. “Se acreditam que Deus é a personificação da teoria quântica, tudo bem”.

A explicação científica da origem do Universo pode não ser tão completa quanto a apresentada por Hawking. Ela está baseada na teoria das cordas e em uma versão dela ainda mais misteriosa - e não testada – chamada teoria-M. O cosmólogo brasileiro Marcelo Gleiser declarou que “As teorias que Hawking e Mlodinow utilizam para embasar seus argumentos têm tanta evidência empírica quanto Deus”

Gleiser lembrou que não temos instrumentos capazes de mensurar toda a Natureza, e portanto, não podemos nunca estar certos de temos uma teoria final.


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* Scientific American Brasil, Dezembro de 2010

quinta-feira, 8 de maio de 2025

A Política Nos Tempos de Machado e Habemus Papam





E habemus papam!

Os católicos do mundo comemoram a eleição do seu novo líder, o Papa Leão 14. Um líder espiritual mas também político. Bom lembrar que o Vaticano é um Estado. O Papa politicamente mais ativo do século 20 foi João Paulo II, que junto com Ronald Reagan e Margaret Thatcher, trabalharam para implodir o comunismo no mundo.  

Isso não quer dizer que outros papas do século 20 foram somente iminências pardas politicamente falando. O Papa  Pio 12(1939–1958) é criticado até hoje por seu silêncio em relação ao Holocausto, porém, teve uma posição anticomunista firme e muito fez pela diplomacia do Vaticano no mundo.

Papa João 23 (1958–1963) que governou o mundo católico nos tempos quentes da Guerra Fria, convocou o Concílio Vaticano II, que trouxe impactos políticos e sociais na Igreja. Trabalhou muito pela paz e teve papel crucial na Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, ocasião em que o mundo esteve ao aperto de um botão para que começasse uma Terceira Guerra Mundial. 

Papa Paulo 6 (1963–1978) foi o primeiro a discursar na ONU em 1965, ano em que este que vos escreve nascia de parto natural no bairro da Tijuca no Rio de Janeiro... (sim, comentário totalmente desnecessário). Paulo VI travou diálogos com regimes comunistas da Europa Oriental e defendeu o desenvolvimento econômico como condição de paz mundial.

E aí chegamos a João Paulo 2 (1978-2005), sem dúvida  o papa mais politicamente ativo do século 20. Apoiou o movimento Solidariedade na sua Polônia que contribuiu para a queda do comunismo no Leste Europeu. Foi um duro crítico tanto do capitalismo selvagem quanto do comunismo marxista. Mediou conflitos tanto na América Latina quanto no Oriente Médio.

E ainda tivemos Bento 16(2005–2013), que foi menos ativo politicamente mas teve impacto nas questões culturais e das relações entre fé e razão. Não tinha vocação para Papa, sua vocação era a teologia. Foi ele quem impôs um "silêncio obsequioso" quando ainda era cardeal a Leonardo Boff  que o proibiu de falar, escrever ou ensinar publicamente sobre alguns temas. Boff era ligado à Teologia da Libertação, de cunho marxista e tinha escrito um livro chamado "Igreja, Carisma e Poder" no qual criticava a estrutura hierárquica e autoritária da Igreja Católica e defendia uma Igreja mais voltada aos pobres, como fez Francisco, que foi ativo em questões de justiça social, meio ambiente, imigração e fez críticas ao capitalismo, tinha um discurso de acolhimento à comunidade LGBT...daí ter sido taxado de "comunista". Trabalhou para a reaproximação dos EUA com Cuba.


E O MACHADO?




POIS ENTÃO, LEIAMOS MACHADO.

O que há de política? É a pergunta que naturalmente ocorre a todos, e a que me fará o meu leitor, se não é ministro. O silêncio é a resposta. Não há nada, absolutamente nada. A tela da atualidade política é uma paisagem uniforme; nada a perturba, nada a modifica. Dissera-se um país onde o povo só sabe que existe politicamente quando ouve o fisco bater-lhe à porta. O que dá razão a este marasmo? Causas gerais...

Assim Macho de Assis falava sobre nossa política em uma de suas crônicas. Incrível como de lá pra cá, nada mudou. O que há de política com P maiúsculo hoje em Brasília? Absolutamente nada, como disse Machado, "nada a modifica". Continuaremos sendo politicamente medíocres enquanto formos cidadãos medíocres.

Habemus Papam em Roma , mas cá, não habemus politicam!! (é, ficou ruim e desnecessário também)

quinta-feira, 1 de maio de 2025

ARIOVALDO - A Saga de um Detetive Particular Amigo Íntimo de Ed Mort

      



   CONHECI  ED MORT¹ em um bar em Copacabana. Estava sozinho em uma mesa próxima a uma janela, uma garrafa de cerveja e um copo meio cheio ou meio vazio, certamente absorto em algum caso complicado. Na hora senti-me taquicárdico; ali estava ao meu alcance, meu ídolo de juventude. Uma verdadeira lenda. Aproximei-me relutante mas confiante. "Ed Mort, é você mesmo?", perguntei retoricamente - claro que era ele, como eu poderia me enganar a esse respeito?  Pareceu-me que o universo tinha planejado aquele encontro, pois dizem por aí que quando queremos muito uma coisa, o universo se põe em movimento em nosso favor. Sei lá se é verdade. Não é não. Mas que seja. Só sei que ele estava ali, ao meu alcance em um ambiente etílico. Deveria estar em um bom dia pois me retribuiu o sorriso e confirmou a identidade. Êxtase dos êxtases, convidou-me a sentar. Pediu mais duas cervejas.

    Foi Ed Mort quem me influenciou à carreira detetivista. Desde adolescente sabia ser esse meu destino profissional. "Tu vai morrer de fome", sentenciou lúcido, o meu pai. Mas eu era determinado, não deixaria que um comentário totalmente realista me fizesse desistir. Afinal de contas, eu não tinha provado a ele, depois de acurada investigação que a mamãe comia doces escondido mesmo sendo diabética? Não provei também que a filha dele, minha irmã, saia escondida com o Nestor nas noites de sábado para ir para seus redenz-vous? Fiz questão de lhe mostrar minha fluência na língua de Bonaparte para valorizar minha descoberta. Depois me arrependi, ele deu um coro em Rosinha...ficou um ano sem falar comigo. Mas a investigação é como o progresso: não pode parar.

   Todos os dias procurava nos jornais alguma notícia sobre algum caso complicado que Ed resolvera. Para mim, nem Sherlock em seus melhores anos se igualava a Ed. Ed Mort.  Até os meus 20 anos já tinha lido todas as histórias que o Veríssimo tinha escrito sobre as proezas do Ed. Veríssimo foi o biografo da sumidade. 

* ** * * ** **


    Por pressão do meu pai, acabei me tornando soldado temporário do Exército. Fiquei 8 anos. 8 anos perdidos que poderiam ter sido aproveitados em campo, em investigações. Mas eu precisava dar uma satisfação pro velho. No final das contas, aprender a atirar, sobreviver na selva e cumprir uma extenuante rotina de exercícios físicos me fez bem, me faria um detetive mais preparado. Não como Ed. Ed era insuperável. Uma lenda. Nunca precisou desse negócio de exercício. Ed era cerebral. 

   Ao sair do Exército, vontade do pai satisfeita, fui laureado com louvor ao final do curso de detetive particular que eu fiz por correspondência pelo aclamado Instituto Universal brasileiro. Bendito Instituto! Tão universal mas tão brasileiro...  Peguei um empréstimo no Banco do Brasil e aluguei uma salinha em um edifício já decadente em Copacabana e coloquei na placa: Ariovaldo - Detetive Particular. Tinha consciência de que competir no mesmo ramo de Ed, na mesma cidade, e no mesmo bairro,  seria coisa difícil, mas para mim, saber que Ed estava próximo, que eu poderia me encontrar com ele na rua, na praia, no calçadão, me provocava calafrios.

     Ed me confidenciara que estava ali, bebendo, relaxando, pois precisava pensar sobre um caso difícil. Um marido que tinha desaparecido depois de ter saído para comprar cigarros. 

     - Sou um especialista em achar marido fujão, disse-me Ed.

      Claro que eu sabia. Não tinha marido fujão que não fosse encontrado pela perspicácia investigativa de Ed. Ed Mort.

    - Eu sei. Você é meu guia, meu espelho, minha inspiração... li seus casos mais complexos nos livros que o Fernando Veríssimo escreveu sobre você.

     - Implorou para que eu liberasse as publicações...

     - Não queria se expor?

     - Sou um detetive particular, gosto das sombras.

     - Sim, claro que entendo, somos homens das sombras -  respondi abaixando um pouco a voz e a cabeça numa tentativa de dissimular e esconder de ouvidos e olhos curiosos que porventura ali estivessem.

     - Só concordei porque fixamos contrato onde eu receberia 60% dos royalties, o que é uma raridade no mercado editorial.

     Imaginei-me tendo essa mesma glória: Meus casos resolvidos biografados por um autor famoso. Talvez Rubem Braga. Eu também seria uma lenda pois me espelhava em uma lenda já lendária...Ao final de quase duas horas de boa e extasiante conversa, Ed precisava ir embora. Aquele breve encontro tinha valido mais que qualquer curso por correspondência ou faculdade que eu tivesse feito. Tinha sido muito generoso. Tão famoso e tão humilde...

    Ao nos despedirmos na porta do bar, Ed me deu seu último e mais importante conselho:

    - Não se esqueça das baratas² no escritório...elas fazem boa companhia quando não temos nada pra fazer. O rato pode até ser dispensado, mas as baratas, não!

     Meus olhos lacrimejaram com tamanha sabedoria. 

     Aquele encontro foi meu start, meu "haja luz". Minha motivação detetivesca recebeu um influxo de energia nuclear que me faria chegar aos píncaros da glória na profissão. Mas nunca seria um Ed. Ed Mort. Ed é único. 

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   Na segunda-feira, dez da manhã, tocaram a campainha  do meu escritório. Estava focado em ler o Manual Pleno de Investigação Particular, escrito por Ed quando ele só tinha 15 anos. Que capacidade intelectual desmedida! O grito da campainha tirou-me da leitura benfazeja. Seria um cliente? Meu primeiro cliente? Obrigado ó céus, luz da aurora, olho universal que tudo vê! Obrigado! A conversa com Ed certamente me traria bons fluídos. Eu não tinha uma secretária(mas já tinha providenciado as baratas!).  Abri a porta e dei de cara com um sujeito pequeno, chapéu na cabeça, óculos escuros e uma barba que parecia postiça. Estaria disfarçado? 

- Você é Ariovaldo, o detetive?

- Este é o meu nome. Valdo. Ariovaldo. Está na placa. 

- Preciso urgentemente dos seus serviços...


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1 - Luís Fernando Veríssimo criou o personagem Ed Mort em 1979, inicialmente no conto "A Armadilha", que foi publicado no livro Ed Mort e Outras Histórias. O personagem é uma paródia dos detetives clássicos da literatura policial, como Philip Marlowe, de Raymond Chandler, e Dashiell Hammett. Ed Mort é um detetive particular carioca, trapalhão e sempre sem dinheiro, que se mete em todo tipo de encrenca. 

2 - Ele divide seu escritório em Copacabana, chamado de "escri" por ser muito pequeno, com 117 baratas e um rato albino chamado Voltaire

3 - Se você não conhece o personagem Ed Mort do Fernando Veríssimo a experiência desta primeira aventura de Ariovaldo poderá ficar prejudicada. Lamento pela sua falta de cultura detetivesca nacional. 

O Nascimento da WWW

 

VOCÊ SE LEMBRA DO PRIMEIRO SITE da história da internet? Ele continua no ar e com uma aparência quase idêntica de quando foi criado. Foi em 6 de agosto de 1991, portanto a mais de 33 anos que nascia o que seria a teia mundial de computadores, hoje com milhões de endereços.

Foi o físico britânico Tim Bernes-Lee, que na época trabalhava no Centro Europeu de Energia Nuclear (CERN) quem desenvolveu a "world wide web" (WWW), que originalmente tinha a intenção de tornar o acesso de informações científicas mais fácil. Ele criou o site conhecido como "The Project", no qual pesquisadores do CERN poderiam acessar rapidamente códigos e informações com procedimentos de como criar seus próprios sites. O site foi hospedado no endereço: http://info.cern.ch

A página, que permanece no ar até hoje como um documento histórico da criação da world wide web, era extremamente simples e contava apenas com um texto em HTML básico, ou seja, sem imagens ou recursos interativos e dinâmicos típicos dos websites atuais.



Tim Berners-Lee também desenvolveu o primeiro navegador para a web, chamado WorldWideWeb (mais tarde renomeado para Nexus), que funcionava como editor e navegador ao mesmo tempo. Esse navegador era executado em computadores NeXT e permitia visualizar e editar páginas da web.

Esse site transformou a comunicação pelo mundo e fez a internet ser o que ela é hoje. Em 1993, o CERN colocou o código fonte da WWW em domínio público, o que fez que pessoas e empresas começassem a criar livremente suas próprias páginas. Em apenas 1 ano, mais de 10 mil páginas foram criadas no mundo e milhões de pessoas começaram a acessá-las. 

Ou seja, esse sujeito é o responsável direto por toda bobagem, discurso de ódio, embates políticos, dancinhas do Insta que hoje proliferam pela rede. Obrigado, Tim, você nos deu uma ótima diversão.




E lembram  que no início da internet brasileira uns espertos registraram domínios de nomes já famosos de marcas, jornais e empresas antes mesmo que os verdadeiros proprietários o fizessem? Brasileiro é muito esperto...mas isso tem até um nome: "cybersquatting", ou "cibergrilagem" no Brasil.

Domínios como "globo.com" ou "oglobo.com" poderiam ter sido registrados antes da própria Globo perceber que eles precisavam de um domínio. A Globo, pelo tamanho que tem, conseguiu reverter o domínio já registrado mas outras marcas e empresas tiveram mais trabalhos pra resolver o problema.

Nos anos 90, a FAPESP(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) administrava os domínios ".br" mas fazia isso porcamente, sem muita regulamentação. Daí os espertos correram para roubar marcas famosas. Só com o tempo o registro passou a exigir comprovação de titularidade de marca ou nome empresarial.