Clube de Detetives Pão de Queijo

domingo, 3 de novembro de 2024

A MARCA DO GALO

 




ME DIGA AÍ, ME DIGA, como diria um bom baiano: Você tem alguma cicatriz adquirida na infância? Eu tenho e não é de boas lembranças...

Morávamos em Sergipe, casa antiga mas com um quintal enorme. Meu pai sempre foi "da terra", apesar de profissionalmente, ter sido "da água", já que era marinheiro... Gostava de plantar e de criar aves. Mexer com a terra, fazer buracos, caçar bichos pelos matos.  

Lá pelos 50 anos resolveu comprar um apartamento do tamanho de um ovo. Achei que ele ficaria deprimido e meio que ficou. Até então não tínhamos casa própria e apareceu a oportunidade dele comprar esse apê pela Marinha e ele aproveitou. O condomínio até que é bem arrumadinho. 

Acho que sufocado pelo pouco espaço, nenhum mato e nenhum quintal, comprou uma casa toda velha caindo aos pedaços em um pequeno município do Rio de Janeiro com um grande quintal onde ele ia aos finais de semana para plantar coisas e criar cabritos que ele trouxe da Ilha da Trindade (vou contar isso com vídeo e tudo brevemente).

Mas voltando à Aracaju: Tínhamos um grande galinheiro no quintal. Muitas galinhas de todo o tipo e tamanhos, assim como frangos e vários pintinhos amarelinhos que corriam até pela casa toda. Uma delas era a minha favorita. Dilma certa vez disse que "atrás de todo menino sempre tem um cachorro...", nem sempre, presidentA, às vezes tem uma galinha....

"Rainha" era seu nome. Eu brincava com ela e ela me seguia pra cima e pra baixo. Infância raiz com pé no barro, brincando o dia todo no quintal.  Ela era a rainha do galinheiro porque eu decretei ao meu pai que  Rainha nunca poderia ir para a panela. Eu tinha uns 8 anos.

Todo galinheiro tem um galo chefe. Nunca tivemos problemas com o "dono do galinheiro", mas um dia as galinhas devem ter dormido de calça jeans, e isso o deixou estressado, imagino. lá fui eu pra dentro do galinheiro pegar Rainha para brincar. Eu de short e sem camisa. O galo, que nunca tinha atacado ninguém, voou pra cima de mim e me cobriu de esporadas! Eu corria desesperado pelo galinheiro e foi aquela algazarra de galinhas có-có-ri-có pra todo lado. O galo não saia de cima de mim e eu não conseguia encontrar a saída. Gritei pela minha mãe que apareceu nervosa e espantou o agressor. Me tirou do galinheiro e eu pingava sangue de várias partes do corpo. 

Recebi os bons cuidados maternos e fiquei bem. O galo morreu quando meu pai chegou e não gostou de saber da agressão. Apenas uma cicatriz ficou para eu lembrar da história. Ombro esquerdo, uns 10 centímetros.

Totalmente desnecessário mostrar a cicatriz. 

Por que mostrar, por que não mostrar, mostrei-a-a!!!




NO FINAL das contas, pouco tempo depois do acontecido, meu pai foi transferido para Salvador e ele teve que se livrar do galinheiro para devolver a casa. Todo dia era galinha no almoço e no jantar, quiçá no café da manhã. Acho que minha mãe pegou trauma de cozinhar tanta galinha...

Meu pai não pôde cumprir mais o meu decreto de não levar Rainha para a panela...foi um dia triste....eu não almocei a Rainha, claro. Fiquei amuado em um canto o dia todo. Meu pai me explicou que não dava para levar a galinha na bagagem da mudança. Até hoje eu acho que dava.



15 comentários:

  1. Boa noite de domingo, Eduardo!
    Todos temos uma Rainha de estimação que achamos que não deveria ter saído da nossa vida.
    Assim é... paciência!
    Não podemos ter tudo.
    Muito boa sua crônica.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Abraços fraternos

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  2. Olá, Eduardo
    Tenho, tenho. Uma bela cicatriz na canela da perna direita de
    uma grande queda que dei.
    Na infância acontecem tantas coisas e, depois, não conseguimos
    livrar-nos das lembranças.
    Adorei o seu texto.
    Abraço
    Olinda

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  3. Eu nunca pude ter algum bicho de estimação. E por ser muito, muito preso, só tenho cicatrizes na mente.

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    1. que isso, cara, fiquei com dó de você. Por outro lado, pela parte criativa, acho que as cicatrizes fizeram bem à sua mente...

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  4. O Galo é mesmo assim. É o dono da capoeira. Quem lá for meter o nariz, leva uma bicada.
    Gostei de ler, amigo Edu.

    Abraço amigo e boa semana!

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  5. Eduardo. meu bom amigo, como não rir da cena toda do galinheiro? Deus do céu, perfeita e ainda uma baita cicatriz como prova! Triste fim O de sua Rainha. Também ganhei um pintinho e o chamei de Chiquinho. O danado me atendia quando eu chegava da escola.
    Abraços

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    1. ah, que legal, Maria. Nessa época tínhamos vários pelo quintal e pela casa.

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  6. Como a Maria Luiza, também tive que rir...
    Imaginei bem a cena,rs...
    Adorei tua crônica e quem não tem cicatrizes da infância?

    abração, linda semana! chica

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. A vida tem dessas coisas: nem sempre se compadece com os nossos afetos.
      Abraço de amizade.
      Juvenal Nunes

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  8. A morte da rainha deve ter sido traumática. Mesmo em adultos ficamos muito ligados a animais domésticos, mas em criança essa ligação é ainda maior.
    Boa semana caro Edu.
    Um abraço.

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  9. Olá, Eduardo,
    O seu conto, escrito com o talento literário
    que lhe caracteriza, é bem tocante e remete
    a muitos casos que marcam profundamente
    a nossa infância. Lembro-me de um cachorro
    que eu tinha quando criança. Era a minha
    alegria, mas roubaram-no e minha tristeza foi
    tão grande que até hoje lamento muito a doída
    perda.
    Com meus aplausos, desejo-lhe uma semana
    próspera e abençoada a você e família.
    Grande abraço.

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  10. Olá Eduardo!

    Mais uma bela história que nos conta aqui... são situações que mais tarde recordamos com carinho e graça no futuro! Apenas foi triste o seu pai não ter conseguido cumprir a promessa de manter a Rainha. Também fiquei cheio de pena só de ouvir a história...

    Abraços e uma boa semana para si! 😊

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  11. Olá Eduardo Medeiros.
    Poxa! Lá se foi a rainha.
    Galo malvado esse.
    Uma boa história.
    Boa tarde e suave semana.

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  12. Que história! Também tenho várias cicatrizes. Acredito que elas sirvam para a gente lembrar mesmo.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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