ESSE NEGÓCIO DE ÉTICA E MORAL é invenção humana. Na floresta, na natureza, não existem tais coisas. E não é de espantar que nossa espécie, fazendo parte da natureza que não é moral, produzir seres morais como nós? Alguns dirão que isso é prova de que fomos criados de forma especial, por Deus. Um argumento bonito mas que para mim levanta outra questão: Como Deus pode ter uma moral? Deus é capaz então de praticar algo imoral, algo que vá contra sua moralidade? Se Deus for incapaz de fazer algo imoral, então ele não é um ser moral e se ele é capaz de fazer algo imoral, não pode ser moralmente perfeito.
E lá tô eu outra vez enveredando por filosofias e teologias. Não quero ir por aí. Mas a citação é para ilustrar a curiosa moral (ou não moral) do Cuco, esse pássaro que tem hábitos reprodutores sui generis. O Cuco pratica o Parasitismo de Ninhada: eles não constroem ninhos próprios nem criam seus filhotes. A fêmea busca ninhos de outras espécies de pássaros, como canoros, e deposita seus ovos neles.
Olha só isso! O feminismo radical contra os filhos foi inventada pela fêmea Cuco e não por alguma acadêmica progressista de cabelo azul e sovaco cabeludo. Fico pensando o que leva a fêmea Cuco fazer isso. Por quê a Seleção Natural criou nelas tal instinto nada moral pelos padrões humanos, apesar de fêmeas humanas também fazerem coisas parecidas...
E olha os requintes de imoralidade da Cuco: Para não ser descoberta, elas botam ovos que imitam a cor e o padrão dos ovos da espécie hospedeira. Existem diferentes populações de cucos com ovos de cores diferentes, cada uma especializada em um tipo de hospedeiro.
Mas o mau-caratismo não para na mãe Cuco, pois os filhos seguem o exemplo. Assim que nasce, o filhote de cuco instintivamente empurra os outros ovos ou filhotes para fora do ninho...
No alto da minha moralidade judaico-cristã eu já estou aqui a odiar os cucos. Aliás, não, odiar pode não ser moralmente justificável. A não ser que você odeie o que todo mundo odeia, tipo uva passa no arroz de Natal.
E olha como a ave que levou o golpe é tonta: a ave hospedeira, sem perceber a diferença, passa a criar o filhote de cuco como se fosse um dos seus, alimentando-o até que ele se torne independente.
Isso que é parasitismo bem sucedido!
E os filhotes cucos crescem bem rápido, em poucos dias já são maiores que seus pais adotivos e ludibriados, e migram sozinhos para o sul no inverno e voltam na primavera para reiniciar os atos nada éticos de darem seus filhos para outras criarem.
E se foi Deus também quem criou os cucos, gostaria de perguntar a Ele porque resolveu colocar neles tal prática. Mas se na natureza não há moralidade, Deus resolveu não levar a moral tão à sério assim, a não ser com a espécie humana. Eita que lá estou eu a teologizar de novo!
E olha como são bonitinhos. Bonitinhos e ordinários, diria Nelson Rodrigues.
(...)
Mas até que olhando bem, eles tem um olhar meio bizarro...
