Clube de Detetives Pão de Queijo

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Skylab

 




UMA DAS LEMBRANÇAS mais gostosas da minha infância era o momento em que minha mãe me chamava e dizia "Edu, vai na padaria comprar pão. Pede quatro bisnagas". Morávamos no bairro do IAPI, em Salvador. A dita padaria era a "Skylab" - um nome que mais parecia de TV à cabo (que não existia no Brasil naqueles tempos) ou de algum foguete da Nasa. Não sei qual foi a inspiração do dono em dar um nome tão...SKY! à sua padaria. Eu ia com gosto. Colocava os cruzeiros no bolso e fazia uma caminhada de uns cinco minutos. Ah, aquele cheiro...a Skylab tinha um cheiro indizível de pão quente que sai à toda hora. Na volta, eu quase nunca resistia e tascava um pedacinho do pão quentinho na boca e vinha saboreando... Dona Dirce, uma vizinha próxima, se me visse chegando à casa mastigando sempre me alertava: "Espera chegar em casa, menino!". Eu  tinha um pouco de medo da dona Dirce. Onde estará ela? Por certo, já passou desta pra melhor. Mas convenhamos que ela não deveria se meter no meu sublime momento gastronômico . Nem minha mãe se importava, oras! Nunca mais depois dessa época, encontrei pão francês tão gostoso quanto o pão da Skylab - um pão, verdadeiramente, dos céus!


Croniquinha levezinha pra tirar o peso da crônica-catástrofe anterior.



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Origem da ilustração: https://br.freepik.com/fotos/alimenta%C3%A7ao

12 comentários:

  1. Meu filho mais novo era um selvagem quando tinha uns trê, quatro anos. Não deixava cortar o cabelo. Um dia levamos a meninada para um salão infantil. Quando chegou a sua vez ficou igual a um cavalo de rodeio, impossível de manter sentado na cadeira-foguetinho. O barbaeiro disse para segurá-lo no colo e veio com um pente. Ao aproximar-se mais, meu filho deu um tapa no pente, que saiu voando igual àquela rocha misteriosa de 2001. O pente voador não era uma skylab, mas virou quase uma nave espacial. E o cabelo não foi cortado.

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  2. Leve e crocante! Suavizou sim, tanto o peso da última crônica como o peso dos noticiosos.
    Ousado esse dono em colocar nome tão pomposo para a época. Na minha infância eu ia buscar pão, meia bengala, era o pedido, no bar do português. O português tinha uma caneta sempre presa lá no alto da orelha, vendia de fumo em corda a pedra de sabão, rolo unitário de papel primavera, fazia o troco e enrolava a bengala num pedaço de papel. E tudo isso sem lavar as mãos. Quem é que se preocupava com isso?!
    Abraço Edu!

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  3. pão de sal gostoso é um mistério. Na padaria onde compro o pão nosso de cada dia trabalhavam três irmãos, cada um em um turno. Um dia a Covid abateu o melhor dos três. E nunca mais o pão da manhã ficou como antes. Eu não compro porque é caro pra burro, mas pão italiano é o melhor, muito melhor que o francês. Na minha infância minha mãe comprava pão de meio quilo, uma baleia de pão. Eu só comia o miolo (até hoje, a melhor parte do pão para mim).

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  4. Eduardo,

    que delícia de crônica!
    Consegui sentir o cheiro do pão quente da Skylab daqui… parece até que viajei no tempo junto com você. Essas pequenas lembranças da infância são tesouros e como você descreve bem esse sabor que vai muito além do pão, é sabor de memória, de afeto, de cotidiano simples e cheio de poesia. Fiquei com vontade de sair correndo pra uma padaria agora, mas duvido que algum pão se compare ao “pão dos céus” 😉 da sua história.

    Um abraço querido
    Fernanda

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  5. Quando eu tinha uns 17, 18, 19 anos, eu ia de sábado na boate do Jockey.
    Uma danceteria que tinha aqui em Barretos.
    Quando a gente não arruama umas meninas pra levar embora, a gente (geralmente 3 ou 4) amigos, íamos embora conversando, até que cada um fosse por um caminho.
    Logo na saída do Jockey tinha a padaria Pão de açúcar, e o padeira já estava fazendo pães e roscas.
    A gente comprava rosca, e ia comendo de madrugada na rua.
    Era a rosca mais gostosa do mundo!!
    Quente, quente, quente de queimar a mão.
    Acabara de ficar pronta.
    Hoje eu sei que o padeiro estava roubando a padaria, porque ele vendia pela porta dos fundos e ninguém sabia, mas na época eu não sabia disso.
    Era muito bom.

    Eita tempo bom né?
    Acho que nosso paladar também mudou um pouco.
    As coisas eram muito amis gotosas.

    Linda crônica Dudualdo.

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  6. Gostei do jeito como você transformou a lembrança em cenário vivo. O “cheiro de pão quente que saía à toda hora” atravessa a tela, e quase dá vontade de largar o texto no meio e ir atrás de uma padaria qualquer, mesmo sabendo que nenhuma vai bater com a Skylab.

    O mais interessante é como um detalhe tão pequeno — comprar pão com algumas moedas no bolso — vira um marco de memória mais forte que muita viagem cara ou festa grandiosa. Talvez porque o que a gente chama de infância seja justamente isso: os ritos miúdos que ganharam peso sem pedir licença.

    E confesso: me diverti com a Dona Dirce. Todo mundo tem ou já teve uma “vizinha do controle”, pronta pra nos roubar um pedaço do prazer com uma bronca preventiva. É quase um papel social obrigatório.

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  7. Pensei que título que seria um post sobre rogerio skylab.
    Sempre que eu ia comprar o pão, comia ao menos um no retorno.

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