Clube de Detetives Pão de Queijo

sábado, 28 de junho de 2025

Enquanto Isso em Brasília...

 



SESSÃO DE UMA COMISSÃO DO parlamento brasileiro. Com a palavra, um deputado que  diz ter a alcunha de "Doido". Um ser pitoresco. Nos tempos de Bolsonaro queria ajudar o Capitão a governar, pois "um doido entende outro doido...". Hilário. 

- Senhores deputados e deputadas desta comissão, começa o Doido com uma bíblia enorme na mão. Quem nasce com bigulim, pinto, pênis é homem e quem nasce com xereca, pepeka, vagina, é mulher...Eu acredito na Bíblia e é assim que está escrito. Se todo mundo morrer e só restar dois homens ou duas mulheres, a raça humana estará extinta!! 

Dando ênfase no "extinta". 

Burburinhos na comissão. Lá atrás, ouve-se uma deputada  dirigindo-se ao presidente da comissão:

- Presidente, presidente, olha o respeito, temos uma mulher trans nesta comissão!!

Pessoas que visitavam a comissão começam um burburinho.

Continuava o Doido:

- Eu respeito qualquer pessoa fazer o que quiser com seu corpo, respeito todas as religiões, mas não posso negar a realidade, homem é homem, mulher é mulher...

macaco é macaco, político é político e viado é viado...acrescentaria o pop star cearense, Falcão.

- Presidente! Isso é transfobia, isso é crime! Gritou outro deputado de um partido que diz misturar socialismo com liberdade. Paradoxos da nossa política.

Vozes exaltadas de todos os lados.

- Presidente, olha o respeito com a opinião do parlamentar, pede um deputado de um partido conservador nos costumes que está em seu quarto casamento. Paradoxos da nossa política.

- Opinião, não, meu amigo, a realidade! A realidade! Um homem se vestir de mulher não faz ele ser uma mulher!

- Presidente, olha o absurdo, olha a transfobia...! Grita a tal deputada trans.

Falação de todos os lados. Gestos veementes. A citada deputada trans emenda: 

- Presidente, olha o absurdo do Doido dizer que homem nasce homem e mulher nasce mulher....!!

- Me prove, me prove que tô errado, respondeu Doido em largos gestos teatrais.

Mais falação, mais protestos, mas pedidos de respeito à opinião do parlamentar Doido, ânimos exaltados de todos os lados, os visitantes que acompanhavam comissão entram no balaio das reclamações...

Sem condições de continuar a reunião, o presidente da comissão interrompe a sessão. 


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Ilustração publicada em : https://www.wsj.com/

Qualquer semelhança com a realidade não terá será sido mera coincidência.

Se você não tem a mínima noção de quem é o pop star cearense Falcão, é esse cara aí ao lado do  Capitão Bolsonaro e ouça a obra prima musical filosófica "Homem é Homem".





6 comentários:

  1. Dudualdo, ainda bem que você só escrevu o acontecimento e não tomou lado nenhum.
    Esse vespeiro é maior do que não colocar pontuação em poesia.
    Cada um tem uma posição e ela costuma ser inegociável.

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  2. “Todo mundo é doido, mas aquele que consegue analisar o próprio delírio é chamado de filósofo.”

    Ambrose Bierce, Epigramas

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  3. Eu acho os políticos engraçados, eles chamam uns aos outros de Vossa Excelência e depois insultam. rsrsrsrs

    Nova tirinha publicada.

    Abraços 🐾 Garfield Tirinhas.

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  4. Escolaridade não é sinônimo de cultura. Inteligência não é sinônimo de lucidez.
    Mas ideias pré-concebidas são, sim, indicadoras de ignorância — e de falta de bom senso.
    Posso crer no que quiser, até no Coelhinho da Páscoa, se assim me convier. O problema começa quando tento impor ao outro minha visão de mundo estreita e retrógrada — aí reside a verdadeira tragédia.
    Quando um “doido” — que talvez devesse ser chamado de “burro” — lança mão da Bíblia para fundamentar sua visão estreita de mundo, ele apenas revela sua ignorância sobre um livro religioso escrito por vários autores, em diferentes épocas, repleto de alegorias (para dizer o mínimo). Usar esse texto para embasar preconceitos primitivos é, no mínimo, ridículo. Ridículo e perigoso, porque parte da suposição absurda de que todos compartilham da mesma fé e da mesma leitura da realidade.
    Um homem ou uma mulher trans é muito mais do que alguém que passou por cirurgias para alinhar o corpo ao gênero com que se identifica. Não é a presença ou ausência de um pênis que define o que é ser homem ou mulher — é a essência do que isso representa.
    Conheço um rapaz que nasceu menina. Iniciou tratamento hormonal, desenvolveu barba, retirou os seios e casou-se com sua namorada. É justo insistir em chamá-lo pelo nome de batismo? Está ele preocupado em ter filhos, como se isso fosse critério para definir seu gênero? Um detalhe relevante: sempre manifestou sua fé no catolicismo.

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    1. o drama do trans masculino é que ele não consegue ter o artefato fálico que ele tanto queria. Não deve ser fácil. Ou não. Pode ser que um trans masculino queira ser homem mas não queira um pênis.
      Mas negar que todo ser humano ou nasce com pinto ou com vagina (se assim não for é erro genético) e querer politizar isso, também acho ridículo tanto quanto querer ler a realidade completamente a partir da Bíblia.

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  5. Eduardo,

    Seu texto é um espelho fiel daquilo que a gente vive nas repartições públicas brasileiras: uma comédia de erros em loop infinito. Humberto é o retrato do cidadão comum mingênuo, esperançoso, munido de um sorriso simpático e de uma fé que só os tolos ou os corajosos têm. E ainda assim, é atropelado por um sistema feito para testar a paciência de santos ou transformar qualquer um em réu por desacato.
    Bom mais a cena continua…
    Sabe o que é o mais triste? O mais triste dessa cena não é o absurdo isolado é a naturalização dele. Um deputado que se autointitula “doido”, empunha a Bíblia como escudo e ataca a existência de uma colega trans em pleno plenário, com microfone aberto e plateia. Tudo isso enquanto diz que “respeita todo mundo”. É o retrato perfeito de um país onde ignorância virou argumento e violência virou opinião. E o pior: ele não está só. Está cercado de risos, aplausos e omissões. O circo está montado só esqueceram da parte séria: governar.
    E a pergunta que fica, entre um “me prove que tô errado” e um “isso é crime”, é: até quando vamos normalizar a loucura travestida de poder?
    Doido por doido, o Brasil já teve muitos. Mas agora parece que é regra.
    Aff!

    Abraço
    Fernanda!

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