UMA DAS LEMBRANÇAS mais gostosas da minha infância era o momento em que minha mãe me chamava e dizia "Edu, vai na padaria comprar pão. Pede quatro bisnagas". Morávamos no bairro do IAPI, em Salvador. A dita padaria era a "Skylab" - um nome que mais parecia de TV à cabo (que não existia no Brasil naqueles tempos) ou de algum foguete da Nasa. Não sei qual foi a inspiração do dono em dar um nome tão...SKY! à sua padaria. Eu ia com gosto. Colocava os cruzeiros no bolso e fazia uma caminhada de uns cinco minutos. Ah, aquele cheiro...a Skylab tinha um cheiro indizível de pão quente que sai à toda hora. Na volta, eu quase nunca resistia e tascava um pedacinho do pão quentinho na boca e vinha saboreando... Dona Dirce, uma vizinha próxima, se me visse chegando à casa mastigando sempre me alertava: "Espera chegar em casa, menino!". Eu tinha um pouco de medo da dona Dirce. Onde estará ela? Por certo, já passou desta pra melhor. Mas convenhamos que ela não deveria se meter no meu sublime momento gastronômico . Nem minha mãe se importava, oras! Nunca mais depois dessa época, encontrei pão francês tão gostoso quanto o pão da Skylab - um pão, verdadeiramente, dos céus!
Croniquinha levezinha pra tirar o peso da crônica-catástrofe anterior.
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Origem da ilustração: https://br.freepik.com/fotos/alimenta%C3%A7ao
Meu filho mais novo era um selvagem quando tinha uns trê, quatro anos. Não deixava cortar o cabelo. Um dia levamos a meninada para um salão infantil. Quando chegou a sua vez ficou igual a um cavalo de rodeio, impossível de manter sentado na cadeira-foguetinho. O barbaeiro disse para segurá-lo no colo e veio com um pente. Ao aproximar-se mais, meu filho deu um tapa no pente, que saiu voando igual àquela rocha misteriosa de 2001. O pente voador não era uma skylab, mas virou quase uma nave espacial. E o cabelo não foi cortado.
ResponderExcluirO meu era igual.
ExcluirLeve e crocante! Suavizou sim, tanto o peso da última crônica como o peso dos noticiosos.
ResponderExcluirOusado esse dono em colocar nome tão pomposo para a época. Na minha infância eu ia buscar pão, meia bengala, era o pedido, no bar do português. O português tinha uma caneta sempre presa lá no alto da orelha, vendia de fumo em corda a pedra de sabão, rolo unitário de papel primavera, fazia o troco e enrolava a bengala num pedaço de papel. E tudo isso sem lavar as mãos. Quem é que se preocupava com isso?!
Abraço Edu!
Hah, isso não era problema.
Excluirpão de sal gostoso é um mistério. Na padaria onde compro o pão nosso de cada dia trabalhavam três irmãos, cada um em um turno. Um dia a Covid abateu o melhor dos três. E nunca mais o pão da manhã ficou como antes. Eu não compro porque é caro pra burro, mas pão italiano é o melhor, muito melhor que o francês. Na minha infância minha mãe comprava pão de meio quilo, uma baleia de pão. Eu só comia o miolo (até hoje, a melhor parte do pão para mim).
ResponderExcluirEduardo,
ResponderExcluirque delícia de crônica!
Consegui sentir o cheiro do pão quente da Skylab daqui… parece até que viajei no tempo junto com você. Essas pequenas lembranças da infância são tesouros e como você descreve bem esse sabor que vai muito além do pão, é sabor de memória, de afeto, de cotidiano simples e cheio de poesia. Fiquei com vontade de sair correndo pra uma padaria agora, mas duvido que algum pão se compare ao “pão dos céus” 😉 da sua história.
Um abraço querido
Fernanda
Quando eu tinha uns 17, 18, 19 anos, eu ia de sábado na boate do Jockey.
ResponderExcluirUma danceteria que tinha aqui em Barretos.
Quando a gente não arruama umas meninas pra levar embora, a gente (geralmente 3 ou 4) amigos, íamos embora conversando, até que cada um fosse por um caminho.
Logo na saída do Jockey tinha a padaria Pão de açúcar, e o padeira já estava fazendo pães e roscas.
A gente comprava rosca, e ia comendo de madrugada na rua.
Era a rosca mais gostosa do mundo!!
Quente, quente, quente de queimar a mão.
Acabara de ficar pronta.
Hoje eu sei que o padeiro estava roubando a padaria, porque ele vendia pela porta dos fundos e ninguém sabia, mas na época eu não sabia disso.
Era muito bom.
Eita tempo bom né?
Acho que nosso paladar também mudou um pouco.
As coisas eram muito amis gotosas.
Linda crônica Dudualdo.
Um fim de noitada perfeita!
ExcluirKkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
ExcluirMesmo eu sendo um menino lindo e espertinho, as vezes eu ia embora com os amigos, sem menina nenhuma. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Gostei do jeito como você transformou a lembrança em cenário vivo. O “cheiro de pão quente que saía à toda hora” atravessa a tela, e quase dá vontade de largar o texto no meio e ir atrás de uma padaria qualquer, mesmo sabendo que nenhuma vai bater com a Skylab.
ResponderExcluirO mais interessante é como um detalhe tão pequeno — comprar pão com algumas moedas no bolso — vira um marco de memória mais forte que muita viagem cara ou festa grandiosa. Talvez porque o que a gente chama de infância seja justamente isso: os ritos miúdos que ganharam peso sem pedir licença.
E confesso: me diverti com a Dona Dirce. Todo mundo tem ou já teve uma “vizinha do controle”, pronta pra nos roubar um pedaço do prazer com uma bronca preventiva. É quase um papel social obrigatório.
Todo mundo já conheceu uma dona Dirce...rs
ExcluirMuito bom
ResponderExcluirPensei que título que seria um post sobre rogerio skylab.
ResponderExcluirSempre que eu ia comprar o pão, comia ao menos um no retorno.
Era regra, né?
ExcluirAdorei! Leve e divertida e quem nunca atacou o pçao antes de chegar em casa, ainda com os "gadanhos" sujos e fazendo furos pra pegar bem o miolo dio pão! Adorei e voltei à infância! abraços praianos, chica
ResponderExcluirAqui tem uma lanchonete com esse nome. É de bairro, fica perto do aeroporto, bem longe daqui e em um lugar não muito amistoso: região de motéis e ploc monsters do job.
ResponderExcluirveja só, que mundo pequeno!
ExcluirBom dia de Paz, Eduardo!
ResponderExcluirHum! A8nda nso me levanter e vou ter que ir ali pertinho em busca de um pão quentinho para colocar somente manteiga...
Abriu apetite...
Padaria é uma tentação.
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos
MINHA MODESTA CONTRIBUIÇÃO!
ResponderExcluirPARA REFLEXÃO DE TODOS NÓS ANTES DA VOTAÇÃO DE LOGO MAIS NO SUPREMO TRIBUNAL. VOU FALAR SOBRE DUAS MULHERES!
ESTÁ PUBLICADO NO MEU BLOG :HUMOR EM TEXTOS E OUTROS TEXTOS SEM NENHUM HUMOR.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Adorei o post! A forma como falas do Skylab prende mesmo a atenção e faz pensar na evolução da exploração espacial. É curioso imaginar aquelas aventuras no espaço e tudo o que se descobriu naquela época.
ResponderExcluirCom carinho,
Daniela Silva 💜
alma‑leveblog.blogspot.com — espero pela tua visita no meu blog
Eduardo, não adianta, as memórias gustativas e olfativas da infância nunca mais esquecemos! Você com seu pão quentinho da Skylab e eu da grande chaleira que despejava o Toddy quentinho, fumegante na xícara de porcelana sobre a mesa posta, para as visitas, quando minha nona nos levava para as fazendas vizinhas. Uma xícara só pra mim??? Nunca ninguém havia me dado tanto afeto E o gosto do Toddy, com o puro leite tirado da vaca era de uma cremosidade indescritível e o gosto então? Talvez, espero, porque na fazenda de minha avó onde cresci, era um luxo ter chocolate, comprar maçã e guaraná. Olhe só o que hoje tudo virou gosto de nada depois da pandemia. Amei sua croniquinha tão bonitinha! Ah a tal da Dona Dirce eu também tive uma que deixava minha mãe doidinha era a Tia Ana solteirona daquelas bem rabujentas! Abração! E vivaaaaaaa nossas doces lembranças!
ResponderExcluirMemórias gustativas são as melhores!
ExcluirPS: maçã era para os doentes no hospital, guaraná, era só no Natal e Toddy nunca! Rsrs!
ResponderExcluirOlá Eduardo,
ResponderExcluirQue delicia de texto. Eu adoro um pão francês. Na minha infância também tinha uma padaria perto de casa, hoje onde eu moro não tem nada perto, Somente um posto de gasolina que vende pão de forma. Feliz sexta
Adorei a croniquinha ,Edu, no diminutivo porque é uma delícia, perfumada e
ResponderExcluircom cheirinho de casa e do café saindo na hora. E , as padarias _prefiro muito as do interior),
_ ainda com o pão saindo do forno.
Hoje temos confeitarias bem elaboradas e o cheirinho do pão quente fica na cozinha rs
Seu texto lembra os bons momentos da infância.
um abraço e boa semana.
Pão quentinho com manteiga, uma delícia!
ResponderExcluirE acompanhado com café com leite que a minha
avó fazia como ninguém. Tenho saudades desses
tempos. A infância reserva recordações que nenhuma
outra fase da vida tem.
Gostei muito, Eduardo.
Abraço
Olinda
Fala, Edu!
ResponderExcluirQue lembrança maneira, cara! Me peguei rindo com a dona Dirce tentando controlar seu “momento sublime gastronômico”, todo mundo já teve alguém assim na infância. Dá pra sentir o cheiro do pão quentinho saindo da Skylab (De volta para o futuro?!?), quase senti o gosto dessas bisnagas! É incrível como essas pequenas memórias ficam gravadas. Pão de padaria antiga tem um quê de magia que nunca se esquece.
Abração e mais uma vez, grato pelos comentários !
Daniel
Bem mais leve! Hahahaha... não tenho lembranças boas de ir em estabelecimentos assim sozinha, mas saborear um pãozinho quente é tudo de bom. Inclusive fiquei com vontade!
ResponderExcluirTenha uma boa semana!
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)
Ah, as lembranças de infância!
ResponderExcluirE pão quentinho é irresistível!
Beijos!🌺😘
Eu também não resistia ao pão quente... comia um inteiro e em casa quase nunca se apercebiam da sua falta. E nenhuma vizinha reparava...
ResponderExcluirBoa semana.
Um abraço.
Adorei esta sua memória da infância: a idade em que tudo é tão gostoso e a inocência nos acompanha. O cheiro do pão quente veio até mim. Não lhe resisto.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
O cheiro de pão quentinho é tentador. Adorei a crônica porque tenho uma certa identificação com ela.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Uma doce e bela lembrança.
ResponderExcluirAinda hoje relembro o cheiro a pão quente na casa dos meus avós. A minha avó fazia pãezinhos pequenos para mim e para a minha prima, que tempos mágicos.
Abraços