Milan Kundera escreveu em A Insustentável Leveza do Ser, "que aquele que deseja continuamente 'elevar-se' deve esperar um dia pela vertigem. A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados". Para alguns, não basta subir a montanha que há próximo de casa, é preciso chegar ao topo do Everest. Admiro tais pessoas mas também tenho pena delas. Elas querem sempre a elevação. Estar no maior topo possível. Olhar o mundo do alto e contemplar seus contornos gozando na alma a satisfação de ter chegado lá. Mas quando se chega lá não há mais para onde ir. O topo é o limite da caminhada pra cima. E diante da ausência da continuidade, o que vem é a vertigem. Talvez eu diga isso porque em qualquer caminhada minha para o alto, nunca ambicionei chagar ao topo. Estabelecer-me no meio da coisa para mim já era satisfatório. Acredito que a energia que você gasta para chegar ao topo, seria melhor aproveitada se você a gastasse ali mesmo, no meio. É como o conquistador Alexandre, o Grande, da Macedônia. Ele elevou seu império até onde poderia ir. Conquistou o império persa, o Egito, a Palestina, chegou até à Índia. E então ele viu que não tinha mais nada para conquistar, sentou e chorou.
* * * * **
Concorso que podemos esperar chegar a um bom lugar, mas não fazer disso bandeira de vida. Aproveitar o caminho, a subida e até eventuais descidas! Adorei! abraços praianos, chica
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa noite Eduardo!
ResponderExcluirQue texto potente e de uma lucidez quase melancólica. Eduardo, aqui se toca num ponto que poucos têm coragem de admitir: a vertigem não nasce do fracasso, mas do sucesso absoluto, daquele instante em que não há mais o que subir. O vazio, então, nos chama. Concordo que há uma sabedoria silenciosa em “ficar no meio”. O meio é o lugar do ar, da respiração, da observação. O topo é bonito, sim, mas é também solitário, sem vento, sem, sem barulho. No meio, há vida, movimento e continuidade.
Talvez a verdadeira elevação não seja a de quem chega ao cume, mas a de quem encontra sentido no caminho e aprende a amar o chão onde os pés ainda tocam.
PS: precisei intensificar por isso exclui o oitro comentário.
Um abraço amigo
Fernanda
é verdade, do topo a vista é bem bonita, mas muitas vezes o quanto você deixou de viver realmente apenas para chegar ao topo e aí? Talvez isso cai bem com os atletas de alto rendimento. Eles de fato, precisam tentar chegar ao topo. Ou ao topo onde eles podem chegar. Ninguém dá crédito a quem ficou em quinto ou quarto lugar. Nem mesmo o terceiro ou o vice são lembrados...Mas há situações outras que o esforço pra chegar ao topo não compensa o remédio pra ansiedade, muitas vezes a perda da família, a falta de tempo para os filhos...
ExcluirAcho que sou bem parecida com você nesse aspecto. Chega num ponto, o meio, que me sinto bem e dali não tenho desejo de sair. Quero trazer mais pessoas para onde estou, para que todas sintam o mesmo conforto, quanto ao topo, posso observá-lo, sem necessariamente desejá-lo.
ResponderExcluirTenha uma boa semana!
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)
Bom dia Edu,
ResponderExcluirUma excelente Crónica!
Há um ditado que diz "quanto maior a subida, maior a queda".
Fico-me também pelo meio, onde penso ter mais establidade física e emocional.
As fotos do meu blogue sou eu que tiro, sim, com o meu telemóvel. Muito o brigada por ter apreciado.
Um beijinho e bom domingo.
Emília
Oi, Eduardo! De maneira geral, os indivíduos que afirmam não almejar a ascensão ao ápice de suas potencialidades estão, em verdade, enganando-se a si mesmos. O ser humano, por sua própria essência, é dotado de uma ambição intrínseca; enquanto não alcançarem a cúpula de suas aspirações, não se contentam com o caminho intermediário. Essa característica é especialmente evidente entre os atletas de alto rendimento, embora não se restrinja a eles, sendo uma propriedade que permeia a grande maioria da humanidade. A ânsia e o ímpeto de atingir o cume impulsionam-nos em nossa jornada. Não vislumbro qualquer impropriedade nessa busca, pois todos nós, sem exceção, deveríamos aspirar ao topo até que a sensação de realização nos envolvesse. Contudo, é inegável que uma considerável fração da população enfrenta dificuldades em lograr tal proeza, especialmente em um contexto como o brasileiro, onde a parcela mais carente e desfavorecida sequer tem acesso ao básico, o que torna ainda mais árdua a conquista do ápice. No que tange à vertigem, esta é provocada pela mente, gerando um desconforto, muitas vezes extremo, como uma forma de proteção contra um risco real. Abraço!
ResponderExcluirOi, Luciano. Creio que a provocação do Kundera (nem a minha) é no sentido de limitar a evolução das potencialidades humanas. A questão é o que fazer quando essas potencialidades chegam ao ápice, ao topo. É preciso estar preparado para o ar rarefeito. É preciso estar preparado com a disputa lá no topo. É preciso questionar o modo de se ver quem está tentando chegar lá e não consegue. Porque os humanos não são iguais. Minhas potencialidades não são as suas, ninguém possui exatamente as mesmas potencialidades. Não vejo como fraqueza alguém que tem a potencialidade de chegar ao topo, mas chega em um lugar alto(mas não no topo) e ali coloca seu descanso. É uma questão existencial. Qual preço você está disposto a pagar para ficar no topo? E ainda assim, não há nenhuma certeza que lá se permanecerá.
Excluirvaleu, abraços
Oi, Eduardo! De modo geral, são raras as pessoas que se preocupam com o que farão ao atingir o ápice; a grande maioria anseia tão somente por alcançar tal cume, inclusive muitas o fazem mediante caminhos de índole controversa. Certamente, cada indivíduo é diferente, e aquilo que para mim figura como a mais profunda fraqueza pode, para outrem, representar a mais excelsa virtude, e vice-versa. Tal fenômeno é comum a todos nós. No meu íntimo, recuso-me a arcar com qualquer custo para atingir o cume, pois não o conquistei e, sendo perfeitamente sincero, nem mesmo sei se tal ascensão me é desejada. Contudo, se porventura eu lá chegar, jamais retornarei à superfície, disso tenho convicção. Abraço!
ExcluirPenso como você. O Cazuza e Lobão cantaram que é melhor viver dez anos a mil que mil anos a dez. Eu prefiro pensar que o ideal seria viver cem anos a cem (o produto é o mesmo).
ResponderExcluirUma crônica com dizeres muito profundos Edu!
ResponderExcluirObrigada por trazer temas que nos colocam para refletir.
Alexandre, o Grande, tinha uma ambição sem limites em conquistar tudo. Mas há um limite para tanto. E a que custo ele construiu o seu gigantesco império, subjugando as nações...
No nosso caso seria construir úlceras doloridas no estômago em razão da ansiedade crescente. Não vale a pena chegar tão alto e a que custo...
Abraços querido amigo!!
Tem ocasiões que ficar no meio "é preciso", mas querer ir ao topo faz parte.
ResponderExcluirNão que para isso, se use caminhos tortuosos demais. Penso assim.
Subir o Everest, por exemplo, para mim é exibicionismo puro. Tô fora até de assistir.
Caminhos tortuosos demais não é para mim.
Meu Kindle é mais antigo que o seu. O defeito do meu é que não grifa.
E grifar é preciso.
Abraço.
Adorei ler a sua reflexiva e excelente crônica, Edu.
ResponderExcluirNão sejamos apressados, Devemos aproveitar a riqueza do momento.
Um grande abraço
Verena
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEdu,
ResponderExcluirSua publicação me lembra que tenho esse
livro aqui em casa e não li. Vou separar e
ler, mas não esse ano.
Valeu a análise que me serve de dica.
E me lembrou que me filho
presenciou um grande artista
e músico, que sonhou em conhecer
uma lenda da música traçou muitos
planos para conhecer o ídolo, foi
até para o exterior e não conseguiu
conhece-lo pessoalmente. Voltou pro Brasil,
seguiu sua carreira, fez fama com sua Banda
e um dia, recebeu o convite para com sua Banda abrir
o Show de seu ídolo no RJ, no Circo Voador.
Foi, abraço seu ídlo, realizou seu sonho.
Meu filho que era da Banda dele, após o show
o viu desolado no camarim. Meu filho perguntou
a causa e ele disse: -Realizei meu sonho, e agora?
E diz meu filho que ele chorou. Meu filho que é
prático disse pra ele: -Agora Cara é hora de sonhar
outros sonhos. Se não conseguir sonhar outros
sonhos, arruma um amor, casa e vai ter seu filhos
e se prepara pra sonhar juntos com eles".
Sua matéria sobre o livro , me lembrou essa historia.
Bjins
CatiahôAlc.
É no meio que está a virtude...
ResponderExcluirMas há quem esteja sempre à procura de topos. Lembro-me do Cristiano Ronaldo, por exemplo, que procura o topo dos 1.000 golos... mas faltam cerca de 50 ele já tem 40 anos.
Boa semana.
Um abraço.
Também li há muito tempo "A insustentável leveza do ser". Gostei dez ler o seu texto. E lembrei Miguel Torga: "Só quem sobe à montanha toca o céu" Mesmo que seja interiormente e com vertigens.
ResponderExcluirUma boa semana. meu Amigo Eduardo.
Um beijo.
Quis dizer: Gostei de ler
ResponderExcluirBeijo.
Belíssimo texto e reflexão.
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
Jovem Jornalista
Instagram
Até mais, Emerson Garcia
Acredite ou não essa reflexão fez muito sentido para mim! Obrigada!
ResponderExcluirA tua opinião é muito importante, por isso gostava de pedir 3 minutos do teu tempo, para responderes ao questionário de consulta e satisfação sobre o meu blog. É muito simples, bsta clicares aqui.
Obrigada!
Bjxxx,
Pinterest | Instagram | Subscreve a nossa newsletter
Tenho na minha estante Milan Kundera _ seu texto instiga nova leitura , ele aborda a leveza e o peso ,ou seja a responsabilidade e a liberdade. É bem reflexivo seu texto. Geralmente ,quando temos um alvo almejamos alcança-lo na totalidade. Ficar no meio nunca satisfaz . Kundera é tcheco e lembrei que escreveu o livro em Praga . Estive em Praga , Edu _ belíssima cidade da Chéquia _ recomendo conhecer a cidade das cem cúpulas, vai gostar muito .
ResponderExcluirUm abraço e boa semana. Dei um recuo mas já estou voltando aos costumes.
Olá, Eduardo
ResponderExcluirCita Milan Kundera e Alexandre, o Grande, neste seu texto o que nos leva
a recordar e a reflectir sobre a ânsia de chegar ao topo e das vertigens
que isso nos pode causar. Há pessoas cuja ambição não tem limites.
As campanhas de Alexandre, o Grande, que morreu aos 32 anos, eram tão
frequentes que só de ler a vida dele nos dá vertigens.
Há um certo ponto que, se tivermos um certo equilíbrio, convém não
ultrapassar.
Abraço
Olinda
Excelente crónica.
ResponderExcluirPara os atletas sim, faz sentido ter como objetivo chegar ao topo, pois só os que lá chegam são homenageados. Mas pessoalmente acredito, que "no meio é que está a virtude" como diz o ditado popular. O importante é aproveitar ao máximo cada etapa da nossa caminhada.
Abraços