domingo, 19 de outubro de 2025

Surreal

 



- Papai, papai, vem vê!

- Tô indo.

- Vem rápido, papai, você vai perder!

- Calma, filho, estou terminando o almoço.

- Deixa o almoço aí e vem cá! Por favor!

- Tá bom, tá bom, tô indo.

- Olha, pai. Olha.

Apontava o dedo para o céu azul de uma manhã de dezembro.

- O quê? 

- Não está vendo?

- Tô, tô vendo é muito sol e céu azulzinho, olha que bonito!

- Bonito é mas tô mostrando outra coisa!

- Mas o quê?

- Aquele elefante com asas nas orelhas que vai passando ali...

-É o quê?

- Não tá vendo?

- Filho, elefantes com asas não existem, muito menos elefantes voadores...

- Claro que existe, eu estou vendo! Não consegue ver? Olha bem, bem ali...

O pai para. Deixa a racionalidade inútil de adulto de lado. Entra na onda e diz:

- Filho, consigo ver agora, que legal! Mas olha,  vê, ali atrás, tem a senhora elefanta cor de rosa com asas e dois elefantinhos, um cor de rosa e outro azul, olha que família de elefantes voadores linda!

Ele para. Olha para o pai com uma carinha traquina e diz.

- Pai, menos, era só o elefante azul mesmo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Eu Dormi Na Praça Por Causa do ET e Porque Não fui Pra Igreja

 





É, O TÍTULO é grande e exagerado.


O ano era 1982. Local: Vila Velha, Escola de Aprendizes Marinheiro do Espírito Santo (EAMES). Turma Bravo Uno. Doze meses de curso que pareceram levar doze anos para acabar.

Esperávamos ansiosos o final de semana depois de uma rotina exaustiva de acordar às cinco da matina para fazer ginástica, muitas vezes correndo pelas ruas desertas de Vila Velha, algumas vezes subindo o longo trajeto que ia dar no Convento da Penha (não espalha, mas eu dava um jeito de me esconder e evitar a exaustiva subida). Às seis tomar banho e formar para o café. Às sete  estar em sala de aula até o meio-dia para então, formar para o almoço e ter um pequeno descanso de uma hora até as atividades da tarde, que poderiam ser aulas de ordem unida (marchar por umas 3 horas), faxina pela escola, atividades em grupos especiais, aulas de tiro, aulas de natação, etc. Às cinco,  banho para a janta e estudo obrigatório das oito às nove; uma pequena ceia e depois  às nove e meia,  soninho da beleza para no  outro dia começar tudo de novo. Isso sem falar na escala 2 x 1 do plantão.

                                                    

O final de semana era nosso escape dessa rotina. A glória era ter todo o fim de semana de folga por não estar de serviço(plantão) nem sábado nem domingo, pois se estivesse, não se podia sair. Ficar na escola vazia num final de semana só para tirar serviço era deprimente. Tudo bem, tínhamos um psiquiatra de plantão.

Antes de eu fazer concurso para a EAMES, eu fazia parte do grupo de jovem de uma igreja. Tocava guitarra. Fazia retiros. Cantava em coral. Lá na escola também tínhamos um grupo de evangélicos que se reunia no tempinho entra a janta e o estudo obrigatório. Naquele sábado tínhamos combinado ir a um culto em uma igreja batista. Um bom programa para um jovem evangélico - certamente não faltaria na tal igreja, meninas bonitas e dispostas a confraternizar com uns marinheiros (já que na escola só convivíamos com homens 24 horas por dia). E quando eu digo "confraternizar", é confraternizar mesmo, não pensem em safadezas! Quem queria safadeza ia à uma boate onde havia mulheres disposta a uma confraternização, digamos, mais íntima, pelo justo valor. 

Acontece que nos cinemas tinha estreado com imenso sucesso naquele ano, o filme do ET, e eu tinha lido uma reportagem  em uma revista sobre o simpático visitante de outro planeta e fiquei com muita vontade de ir assistir. 

Naqueles tempos não era de bom alvitre jovens evangélicos irem à cinemas. Um amigo não evangélico porém,  me convidou para ir assistir ao filme. No mesmo sábado em que eu tinha combinado ir à tal igreja batista!

Parecia que um diabinho e um anjinho, um em cada lado da orelha, tentavam me convencer a ir a um lugar ou ao outro. Resolvi dar ouvidos ao diabinho. Afinal de contas, que mal teria? 

Saíamos da escola fardados e tínhamos que trocar de roupa em algum lugar. O lugar escolhido por grande parte dos alunos era o Bar do Abreu que ficava estrategicamente perto da escola. Era andar alguns minutos e podíamos trocar de roupas em um quarto nos fundos do bar que o Abreu tinha reservado exatamente para os alunos - em troca de um valor módico. 

 Deixávamos nossas bolsas com nosso uniforme lá no quarto do Bar do Abreu e cada um tomava seu rumo ao encontro do esperado final de semana. 

Tocamos para o cinema. Fiquei deslumbrado com o filme. Adorei tudo, aquilo era uma aventura muito divertida para mim aos 18 anos, viciado que eu era na Sessão da Tarde da Globo.

Terminado o filme, saímos do cinema e fomos passear por Vila Velha. Fomos lanchar, conversamos bastante sobre o filme e...esquecemos das horas...e esquecemos que o Bar do Abreu fechava às onze. Lembrei da música de Adoniran...Não podíamos perder aquele trem!  

E sim, como convém às suas expectativas, caro leitor, quando chegamos, o bar já estava fechado. Com nossos uniformes dentro! Voltar para a escola com roupas civis seria uma falta muito grave. 

Meio desolados, ficamos caminhando á esmo pelas ruas de Vila Velha. Eu, pensando porque não tinha dado ouvidos ao anjinho. 

Mas dos males, o menor, já que nem eu nem meu amigo estávamos de plantão no domingo, logo, não precisaríamos voltar para a escola, então o jeito era dormir na rua mesmo. Um quarto de pensão até que cairia bem, mas não conhecíamos nenhuma pensão e mesmo assim, nosso dinheiro tinha acabado.

Meu amigo, então, revestido de um espírito aventureiro, sugeriu dormirmos nos bancos de uma praça. A noite não estava tão fria, o céu estava limpo com estrelas na vitrine.

Dormimos. Acordamos com o sol batendo na nossa cara, com dores nas costas e algumas pessoas nos encarando. "Só podem ser da escola da Marinha", ouvi alguém dizer.

Não gostei daquela observação, afinal de contas, não éramos vagabundos, não éramos delinquentes, nem mesmo éramos carentes por dormir na praça pensando nela...

Se alguém habitou nossos pensamentos naquele noite, sem dúvida, foi  o Abreu com seu bar que fechava tão cedo.




EAMES 

EAMES

CONVENTO DA PENHA







       Algumas fotinhas do meu tempo por lá


segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Nós, Os Pobres.

 




NOSSO PRESIDENTE, LUÍS INÁCIO, declarou recentemente: 

"Pobre e trabalhador só tem valor na época das eleições porque todo mundo trata pobre bem porque ele é maioria. Depois que ganha as eleições, o pobre é esquecido mais uma vez. (...) Nós somos a maioria, e se nós somos a maioria e a gente usar a consciência da gente, a gente consegue fazer a maior revolução pacífica e democrática que esse país precisa que seja feita. É preciso acabar com os privilégios desse país para garantir que todos tenham direitos".

Que fala linda! Chego a ficar arrepiado de emoção! Que sensibilidade tem nosso presidente! Ele, que já está em plena campanha disfarçada, disse que pobre e trabalhador só tem valor na época de eleição. Ele mesmo confirma o que diz...Uma outra fala me deixou totalmente afônico. Sobre os pobres, ele disse:  "Nós somos a maioria". Esta é uma frase digna de um grande estadista, vejam  como ele se identifica conosco, pobres, ao dizer que "nós somos a maioria". INÁCIO É POBRE TAMBÉM! Sim, ele nos entende, porque é um de nós, pobres. 

Luís Inácio disse que é preciso acabar com os privilégios. Deixa eu fazer as contas aqui...é... três mandatos seus e quase dois da sua pupila Dilma. Ao todo, quase 20 anos de governos petistas e eles ainda não conseguiram acabar com os tais "privilégios".  E nem com os pobres. Mas eu desconfio que se acabar com os pobres  deste país, ninguém mais vota no PT...Tudo bem, meu presidente, eu sei que é difícil lutar contra os poderosos! 

É difícil o Executivo parir uma reforma do Estado Brasileiro que acabe com tantos privilégios? Sim, Inácio,  porque antes de querer caçar privilegiados que enriqueceram com dinheiro privado, é preciso acabar com os privilegiados que enriqueceram com dinheiro público. Mas eu sei que você sabe disso, né Inácio, és um dos tais que enriqueceram com dinheiro público. Mas o importante, e eu sei e atesto, é que sua alma ainda é de pobre. Será que em mais um mandato dá pra fazer sua revolução?




sábado, 11 de outubro de 2025

Elevação

 


Milan Kundera escreveu em A Insustentável Leveza do Ser, "que aquele que deseja continuamente 'elevar-se' deve esperar um dia pela vertigem. A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados". Para alguns, não basta subir a montanha que há próximo de casa, é preciso chegar ao topo do Everest. Admiro tais pessoas mas também tenho pena delas. Elas querem sempre a elevação. Estar no maior topo possível. Olhar o mundo do alto e contemplar seus contornos gozando na alma a satisfação de ter chegado lá. Mas quando se chega lá não há mais para onde ir. O topo é o limite da caminhada pra cima. E diante da ausência da continuidade, o que vem é a vertigem. Talvez eu diga isso porque em qualquer caminhada minha para o alto, nunca ambicionei chagar ao topo. Estabelecer-me no meio da coisa para mim já era satisfatório. Acredito que a energia que você gasta para chegar ao topo, seria melhor aproveitada se você a gastasse ali mesmo, no meio. É como o conquistador Alexandre, o Grande, da Macedônia. Ele elevou seu império até onde poderia ir. Conquistou o império persa, o Egito, a Palestina, chegou até à Índia. E então ele viu que não tinha mais nada para conquistar, sentou e chorou.


                                                                  * * * * ** 

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Dizer Adeus

 "Não aprendi dizer adeus

Mas deixo você ir, sem lágrimas no olhar..."


Esses são versos da chorosa música de Leandro e Leonardo de autoria de Joel Marques que explodiu nas rádios e nos programas de TV em 1991. Anos depois, em 1998, após a morte de Leandro, Leonardo a gravou novamente sozinho, o que provocou comoção nos fãs. Não é fácil mesmo dizer adeus. E como não é fácil dizer, difícil também é deixar ir, mas quando enfim se deixa ir, é difícil não ter lágrimas no olhar. Quem nunca teve tal experiência, seja numa perda amorosa ou numa perda familiar?  Eu levei quase 5 anos "pra deixar ir", mesmo depois que já tinha ido e não sem muitas lágrimas no olhar. Foi uma perda amorosa mas não vou provocar vossas paciências com detalhes. A letra é sábia e nos conta que o "inverno vai passar e apaga cicatriz". Certamente o inverno passa, mas não sei se a cicatriz não fica.




sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Jogos Eletrônicas e Redes Sociais

 




LI NO JORNAL O GLOBO do Rio de Janeiro, uma interessante matéria sobre redes sociais e jogos eletrônicos - quais dos dois causam mais danos ao cérebro? Oh! my god! DANOS AO CÉREBRO? Como assim...? 

Os jogos eletrônicos ainda hoje são vistos como "alienantes da realidade", "perigosos", "induzem à violência" e que poderiam deixar o "cérebro atrofiado" com adolescentes parecendo zumbis trancados no quarto.

Eu nunca concordei que jogos eletrônicos fossem nada disso. Induzir à violência? Ora, um exemplo aqui e ali que mostram jovens que resolveram sair por aí com uma metralhadora matando pessoas que supostamente foram "influenciados pelos jogos" não pode representar o universo de jovens que jogam tais jogos - que são milhões ao redor do mundo. Temos "milhões" de jovens assassinando velhinhas nas ruas? Pois é.

A matéria do jornal traz pesquisas onde ficou demonstrado cientificamente que o vilão da juventude (e da velhotude) - PREPARAM-SE -  são as REDES SOCIAIS. Como diria o Chaves, "pois é pois é pois é".

 Diz a matéria: 

No cotidiano, os elementos dos jogos ajudam a estimular a concentração e aumentar a atividade da região do córtex pré-frontal dorsolateral. ...destaca o fato do jogador receber uma resposta imediata — seja visual ou auditiva — em relação ao seu desempenho. 

Em contrapartida, as redes sociais, por serem caracterizadas por seu consumo imediato, aumentam a produção de dopamina e ativam no cérebro mecanismos de condicionamento, que incentiva o consumidor a continuar procurando conteúdos.

Parece-me óbvio. 

E está explicado porque quando você entra no quarto do seu filho, do seu neto, e ele está com um fone de ouvido jogando, pode cair o telhado na cabeça que ele nem percebe, tal a concentração que o jogo promove.

Como a grande maioria dos nascidos na era digital, Eduardinho é aficionado por jogos. Joga desde muito novinho e eu nunca vi problemas nisso, mesmo porque, sempre procurei misturar jogos eletrônicos com jogos de tabuleiro. Ensinei a ele a jogar Ludo, Damas, Xadrez, Dominó, Uno...Já tivemos partidas homéricas de xadrez! 

Na primeira infância eu lhe oferecia jogos principalmente educativos. Jogos onde ele aprendia palavras em inglês, cores, números, alfabeto....era muito engraçadinho vê-lo aos 3 anos declamando o alfabeto em inglês: Ei, Bi, Ci, Di, I, Éf...

Ele não gosta muito de rede social. Não tem Face, nem Insta, TikTok (como a maioria dos amigos têm). Fizemos juntos um canal no Youtube onde publicamos vídeos dos seus 6 aos 8 anos, até o dia que ele chegou e me disse que não queria mais brincar de gravar vídeos. Eu falei ok. (mas confesso que fiquei triste, pois gravar vídeos engraçados com ele era muito divertido).

E também tem o problema que agora aos quase 15 anos, tem uma imensa vergonha de tudo o que gravou quando era pequeno...por isso foi lá no canal dele e colocou a maioria dos vídeos em modo restrito. Entendo, vergonha adolescente das coisas que fazia e dizia quando era pequeno. Quem nunca?

Mas quando o vejo no computador, jogando algum jogo online junto com amigos online, eu não vejo isso como ruim - pelo contrário - e a matéria do jornal me confirmou isso. É claro que tudo precisa de equilíbrio. Desde muito pequeno também o incentivo a se exercitar em casa. Não pode ficar horas sentado jogando malhando  o cérebro e o foco e esquecer do corpo. Virou hábito. Ainda hoje de vez em quando ele faz treinos comigo mas não deixa de fazer se eu não fizer junto. Eu sempre cobrando: Não vai treinar hoje? Ás vezes a preguiça juvenil lhe abraça e ele diz "hoje não, pai.." ..." tudo bem, mas amanhã eu quero ver você suando"

Então, amigos, vocês que costumam ler, fazer palavras cruzadas, como estimulante cerebral, pondere colocar no cardápio um bom joguinho eletrônico. Vale até o clássico PacMan. 



terça-feira, 30 de setembro de 2025

ERÓTICA

 




- Calma, abre mais um pouco.

- Não tenho muita abertura.

- Você está nervosa, não é a primeira vez, é?

- Claro que não, mas estou nervosa sim!

- Mas se você ficar assim, fechando toda hora, vai ser impossível...

- Tudo bem, vou abrir...mas não se empolga, vai devagar.

- Assim, muito bem. Vou introduzir agora, não vai doer nada.

O som  da broca do dentista soou pelo consultório. Amanda fechou os olhos e imaginou estar numa praia do Havaí com um nativo lindo e charmoso. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

POUCAS E BOAS # 01

 



RIR É O MELHOR REMÉDIO. Já ouviu essa frase, certamente. Mas como rir se tudo vai mal? E como rir com o país do jeito que está? Como rir se o salário acaba bem antes do mês acabar? Como rir se não vejo graça em nada? Mas a questão é essa. Se rir é remédio, deve ele ser tomado na hora da doença. Na hora da dor, da desesperança. Não se trata de negar a realidade, se trata de construir uma nova realidade apesar da realidade imediata. Sorria mesmo sem vontade. Ouça uma boa piada, veja um filme de comédia. Use de artifícios para que o riso venha. Mas sorria. Aliás, não, vá além: Gargalhe. Nada fica igual depois de uma boa gargalhada.


                                                                  



O PROFESSOR CLÓVIS DE BARROS conta de uma frase que seu pai sempre lhe dizia: VAI PRA FRENTE, GAROTO, PRÁ TRÁS NEM PRA PEGAR IMPULSO!!!

Meu pai também me deixou frases marcantes. A melhor delas era "FAÇA O QUE EU DIGO, NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO". 




EU TIVE UM CACHORRO  lá pelos anos 1973 que se chamava TANG. Em 1976 lançaram por aqui o refresco em pó TANG. Eu dizia pra minha mãe que o refresco roubou na cara dura o nome do meu cachorro. 


DÉCADAS DEPOIS, tínhamos um cachorro chamado BOB. Bob era estressado. Tinha ido lá pra casa sobre protestos do meu pai levado filhote pela minha irmã. Meu pai nunca engoliu o Bob. Quando minha mãe estava em estágio avançado de alzheimer, Bob  mordia minha mãe sempre que ela tocava nele. Meu pai indignado levou o Bob para uma praça distante e largou o Bob por lá. 


NOS ANOS 90, eu e uns amigos, gostávamos de ficar altas horas na rua batendo papo. gostávamos também de ir jogar conversa fora em algum McDonald's, mas quando a grana estava curta, íamos ao McSkina. Não conhece? Era uma kombi que vendia um sanduba muito bom e que ficava na esquina da igreja. 


ESTOU LENDO TRÊS LIVROS. O Fã Clube, de Irwing Wallace, um livro que eu li algumas páginas quando eu tinha uns 19 anos mas achei chato e larguei. Outro dia vi um exemplar em uma feira de livros no calçadão do meu bairro e comprei. É a história de um grupo de amigos fascinados pelo maior símbolo sexual do cinema. 

LEIO o rascunho da nova história que o Eduardinho escreveu e que ele diz que será o primeiro de uma série que ele escreverá em formato pocket. Claro que é de fantasia juvenil, sobre uma menina que faz um pacto animal e se transforma numa perigosa tigresa, sobre deuses que criam mundos só pra sua diversão, sobre um país onde todo mundo tem algum tipo de poder e outras coisas fantasiosas saídas da sua cabecinha imaginativa.  

LEIO A Biblioteca de Paris, de Janet Skeslien Charles. O livro é sobre como uma biblioteca internacional em Paris é afetada pela chegada dos alemães durante a Segunda Guerra.



Escrevendo sobre o incêndio que teve aqui em casa, lembrei-me de um pequeno livro que li de um filósofo que dizia "se minha casa pegasse fogo, eu salvaria o fogo". UMA FRASE PRÁ LÁ DE PORRETA! (porreta, no linguajar baiano quer dizer "legal", "bacana", "Da Hora"). Evidente que é uma metáfora. Pegou a ideia? Não deixe seu fogo, aquele fogo que esquenta a vida se apagar.


E MORREU AOS 87 ANOS A DEUSA CLAUDIA CARDINALE.

A atriz, nascida na Tunísia e símbolo da era dourada do cinema europeu, brilhou em clássicos como 'O Leopardo', 'Fellini 8 e meio' e 'Era uma Vez no Oeste'.

MAS AS DEUSAS NUNCA MORREM DE VERDADE.





* * * * * * 


É isso aí. Poucas e Boas volta em breve com mais notinhas indispensáveis que você não poderia deixar de LER.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

E TENHO DITO

 


EU GOSTO DE COLECIONAR coisas. Memes, vídeos interessantes, ditos populares... Não chego a ser um "acumulador" mas gosto de colecionar coisas legais. Legais para mim, claro. Por exemplo, eu gostava de colecionar todo tipo de revista. De Seleções à Playboy. Esta eu colecionava só pelas grandes entrevistas que ela fazia...sério, nunca ouviu a expressão "ninguém faz entrevista como a Playboy"? Já leram a crônica do dia em que tive que fazer um espermograma e me deram umas Playboys como incentivo e fiquei lá, distraído lendo as entrevistas...? Quando casei, a minha coleção de Playboys foi problematizada e não tive escolha: Foram todas para um sebo, assim como a maioria da minha coleção restante foram embora no incêndio. Tudo certo, acho que estava na hora de fazer uma reciclagem pois já não tinha tanto espaço disponível. Uma prova que não sou um sociopata acumulador é que não tive nenhuma reação mórbida com a perda. Como diz o ditado popular, "se a vida lhe der um limão, faça uma limonada".


Os chamados ditos ou provérbios, estão ligados à sabedoria popular transmitida oralmente ao longo das eras. Nascem da observação do cotidiano, de experiências coletivas, da necessidade de comunicar ideias de forma simples. E nunca saberemos quem foi o primeiro que pensou e disse...

“Em terra de cego, quem tem um olho é rei” - isso não é fantástico? Ponderem bem na sabedoria dessa simples frase! E no complemento excepcional que Zé Ramalho acrescentou ao verso de sua música, "...imagina quem tem os dois..."

E o que dizer desse outro dito muito sábio:  “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”? Isso é filosofia pura! 

A Bíblia, o livro mais vendido e lido no Ocidente, registra muitos provérbios. Aliás, ela tem até um livro chamado "Provérbios", como você bem deve saber. Não sabe? Fugiu das aulas do catecismo? Que feio!

Por exemplo, vejam a profundidade desse provérbio bíblico: 

"Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe" - tem provérbio mais sábio que este? Quantas vezes nos demos mal na vida por não seguir a orientação segura de pais e mães?

Quando iam cortar a grama que circundava as casas em um condomínio da Marinha onde morávamos na minha adolescência,  minha mãe sempre me dizia: Não fica perto que é perigoso. Mas os cortadores eram uns carrinhos com uma grande lâmina debaixo deles (eu nunca mais vi nada igual) e eu achava legal. Até o dia que eu, mesmo a uma boa distância, fui atingido por um pedaço de plástico que veio voando de debaixo do carrinho em minha direção e quase corta minha perna em duas. 


Muitos provérbios populares tem a proposta de serem educativos, como "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura". Ou seja, não desista, persista, continue batendo que um dia pedra quebra! Ou ignoramos a sabedoria do dito "quem tudo quer, tudo perde"? Ou a crítica que se faz em "casa de ferreiro, espeto de pau"?


E claro, tem aqueles ditos populares

que são pura comédia (os meus preferidos). 


Se corno voasse a gente não via o céu


mas cansado que o padre da Gretchen


mais por fora que estepe de jipe


mais preguiçoso que o cara que fez a bandeira do Japão


mais sem cabeça que mula de folclore


mais inútil que buzina de avião


quem vive de amor é dono de motel 


é muita areia para o caminhãozinho


pra baixo todo santo ajuda

(...)


E aí, qual dito popular você gosta muito?


quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Skylab

 




UMA DAS LEMBRANÇAS mais gostosas da minha infância era o momento em que minha mãe me chamava e dizia "Edu, vai na padaria comprar pão. Pede quatro bisnagas". Morávamos no bairro do IAPI, em Salvador. A dita padaria era a "Skylab" - um nome que mais parecia de TV à cabo (que não existia no Brasil naqueles tempos) ou de algum foguete da Nasa. Não sei qual foi a inspiração do dono em dar um nome tão...SKY! à sua padaria. Eu ia com gosto. Colocava os cruzeiros no bolso e fazia uma caminhada de uns cinco minutos. Ah, aquele cheiro...a Skylab tinha um cheiro indizível de pão quente que sai à toda hora. Na volta, eu quase nunca resistia e tascava um pedacinho do pão quentinho na boca e vinha saboreando... Dona Dirce, uma vizinha próxima, se me visse chegando à casa mastigando sempre me alertava: "Espera chegar em casa, menino!". Eu  tinha um pouco de medo da dona Dirce. Onde estará ela? Por certo, já passou desta pra melhor. Mas convenhamos que ela não deveria se meter no meu sublime momento gastronômico . Nem minha mãe se importava, oras! Nunca mais depois dessa época, encontrei pão francês tão gostoso quanto o pão da Skylab - um pão, verdadeiramente, dos céus!


Croniquinha levezinha pra tirar o peso da crônica-catástrofe anterior.



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Origem da ilustração: https://br.freepik.com/fotos/alimenta%C3%A7ao

sábado, 6 de setembro de 2025

A LEI DE MURPHY

 





A FAMOSA LEI DE MURPHY é realista, mas chata: Se algo pode dar errado, vai dar errado. A frase é atribuída a um engenheiro aeroespacial americano, Edward A. Murphy na década de 1940. A frase surgiu num contexto técnico, mas de tão boa que era, ganhou fama como forma cômica de encarar certas situações da vida. A ideia parece certa: diante de várias possibilidades, o pior cenário tende a acontecer - especialmente de alguma coisa que é deixada ao acaso ou mal planejado.

Acredito que todo mundo já sentiu na pele a Lei de Murphy atuando. O pão que sempre cai com o lado da manteiga pra baixo, o semáfora ficando vermelho no exato momento que você está com mais presa, etc. Não vou dizer que a famigerada lei seja sempre verdadeira. Acontece de coisas que tem tudo para dar errado, dar certo. Mas dizem que toda regra tem exceções...


                                                                      * * * * 


O ANO ERA 2020. PANDEMIA GLOBAL. Você perdeu parentes ou amigos para o COVID? Muita gente perdeu. Minha esposa perdeu um amigo de longa data, mas diante da perda de parentes e amigos, o que perdemos nada vale, nada representa. 

Como minha esposa estava trabalhando, resolvemos dormir separados para proteger tanto o  Eduardinho quanto a mim. Se alguém tivesse que pegar o tal vírus que fosse só um de nós dois. Ela passou a dormir no quarto do Eduardinho e ele passou a dormir comigo. Foram tempos muito difíceis, especialmente com o lockdown, mas ficar totalmente em casa foi impossível. 

Naquele dia fomos dormir cedo, o que não era muito comum, já que eu costumo dormir mais tarde. Minha esposa no quarto que fica no final do corredor da casa, eu e Edu no quarto que fica mais próximo da sala. 

Lá pelas tantas, abri os olhos sentindo um certo incômodo que levei alguns segundos para entender de onde vinha. Era um calor...porque está tão quente? Foi quando vi fumaça entrando pelo quarto, pois dormimos de porta aberta. Depois de uns segundos, entendi o que estava acontecendo. Fogo! Tinha alguma coisa pegando fogo na sala! 


                                                                          * * * * 


Dei um pulo da cama e não via nada. A fumaça tomava conta de tudo. Tentei ligar a luz mas ela não acendeu. Acordei o Edu, abri a janela que tinha grades, mandei ele ficar com o rosto na janela. Ele sonolento, acordou no susto sem entender nada. Se até eu não estava entendo bem...

Saí pela porta do quarto e a sala estava em chamas. Labaredas grandes saiam do canto da sala, próximo à parede lateral. Fui correndo para o fim do corredor envolto em fumaça e acordei minha esposa. "Levanta que a casa está pegando fogo!". 

Como se acorda com uma notícia dessas? Até você captar a mensagem leva alguns segundos. Minha esposa apanhou o seu celular que estava ao lado da cama e juntos voltamos pelo corredor. Minha esposa entrou no nosso quarto e pegou Eduardinho que não estava entendendo nada e bastante assustado.

Passei ao lado das chamas tentando encontrar as chaves que sempre ficavam em uma mesinha ao lado da porta. Chamei os dois e os coloquei na minha frente, abrindo as partas de cima e de baixo da porta de ferro para que entrasse mais ar puro enquanto tateava tentando encontrar as chaves. 

Como o rebaixamento do teto era de PCV, todo ele estava derretendo e caindo sobre nós. Protegi os dois como pude já sentindo pedaços de PVC queimados nas costas. Meu vizinho da frente (Ronaldo, aquele do som alto de que falei na crônica anterior) tinha acordado e da sua janela viu fumaça saído da nossa casa. Gritei pra ele que nossa casa estava pegando fogo.


                                                                    * * * * 

Enfim, encontrei as chaves. Abri a porta e conseguimos sair e descer as escadas. Moro no segundo andar de um sobrado. Ronaldo, já estava no meu portão tentando entrar para ajudar. Abri o portão e ele, muito prestativo, foi ver como estava o cenário do incêndio. Lá fora, tossíamos um pouco e eu só me preocupava em ver se minha esposa e meu filho estavam bem, se não estavam queimados. 

Voltei correndo para chamar minha sogra e o avô da minha esposa que moravam no primeiro andar. Assustados, sem entender  o que acontecia, puxei os dois pra fora de casa. O avô da minha esposa já tinha 98 anos e como era bem magrinho, eu o peguei no colo e o levei pra fora com minha sogra vindo atrás. Minha esposa chamava a mãe pra sair de casa rápido, já que parecia que ela ainda não estava entendendo o que acontecia.

Isso já eram 5 horas da manhã. Os vizinhos de um  lado e do outro também chegaram esticando suas mangueiras para tentar aplacar o fogo. Telefonamos para os bombeiros. 

Como estava impossível entrar pela porta da frente, Ronaldo tal qual um ninja, subiu no muro muito rápido e tentava arrombar a janela do meu quarto. Voltei pra dentro do quintal e ajudei Ronaldo a subir em uma escada e ele arrombou a janela do meu quarto e pulou lá dentro e fechou a porta no intuito de isolar o incêndio na sala. Antes ele tentou fechar todas as portas mas não conseguiu, a fumaça era muita e a quentura também. Mas ele fechou a porta do meu quarto, o que acabou salvando nosso guarda-roupas.

Percebem porquê não dou a mínima para a altura em que ele ouve música...?


Depois de uns 20 minutos chegaram os bombeiros. Entraram na casa e rapidamente debelaram o fogo.

Ronaldo nos levou pra sua casa para abaixar a adrenalina. Horas depois voltamos para ver o estrago que vocês podem ver na filmagem.

O fogo ficou restrito à sala, porém, o calor das chamas foi derretendo tudo ao longo da casa. Os móveis da sala viraram pó. O pequeno quarto que eu faço de biblioteca ficou um caos de livros e prateleiras caídos no chão, pretos de fuligem e molhados pela ação dos bombeiros.

Os únicos móveis que ficaram em pé foram exatamente os do meu quarto. Tínhamos perdido praticamente tudo dentro de casa, mas nós estávamos bem. Passamos por avaliação médica e a fumaça que respiramos não chegou a queimar nossos pulmões. TOMA, LEI DE MURPHY!!!!


                                                                   * * * * 

Meus vizinhos foram todos muito solícitos. O vizinho da frente que estava com a casa fechada para ser vendida, quando soube do acontecido nos ofereceu a casa pra ficarmos lá o tempo que precisássemos. Ficamos 2 meses e mais uma vez a lei de Murphy foi contrariada. Um dos meus cunhado conhecia alguém que conhecia alguém que prestava serviços solidários nas horas vagas  para pessoas que precisavam de reformas em casa. 

Apareceu lá em casa pedreiro, pintor, eletricista. Recebemos várias doações de móveis de pessoas que eu nunca tinha visto. Meus cunhados também vieram para ajudar na limpeza. No quintal, formou-se um monturo enorme dos restos mortais dos meus móveis. Dois meses depois, a casa estava novinha em folha.

Tudo sem desespero, sem chororô, sem lamentar perdas materiais. Tudo o que foi, voltou. E ainda tivemos o bom humor para fazer piada: Com toda certeza, a casa estava totalmente livre de qualquer vírus. 






P.S. O causador do incêndio foi o estouro de um carregador que eu tinha esquecido ligado, carregando meu celular. Nunca façam isso. Não deixem celulares carregando no seu quarto ou em qualquer outro lugar da casa enquanto vocês dormem. 



terça-feira, 2 de setembro de 2025

Dance Sozinho

 O que significa 

quando uma pessoa dança sozinha em casa, segundo a psicologia? Foi essa pergunta que eu li em uma matéria em um site outro dia. Dizia o autor que o ato de dançar sozinho em casa pode refletir aspectos significativos do bem-estar emocional de uma pessoa. Achei interessante e logo me identifiquei: eu danço sozinho em casa...

Acontece que meu vizinho da frente tem um gosto musical muito parecido com o meu. Ele tem uma caixa de som muito poderosa e vez em quando deixa tocar uns rock e MBD (MBD foi uma sigla, creio, inventada pelo Nelson Motta para significar Música Brasileira pra Dançar). 

Como o som reverbera quase por todo o quarteirão, às vezes me atrapalhando a ver meus filmes diários, não tem como ficar impassível. Não vou lá dizer "Ronaldo, abaixa esse som que eu quero ver filme" - mesmo porque, odeio ter qualquer tipo de rixa com vizinho e o Ronaldo é muito gente boa - eu simplesmente entro na onda sonora. 

E aproveito o som pra dançar...

Segundo informações publicadas pelo portal Ciudadano News, dançar na privacidade do próprio lar e sem companhia não é apenas uma expressão de liberdade pessoal, mas também uma forma de canalizar emoções reprimidas e promover a autorregulação emocional. Ótimo!

Isso significa que a dança tem um efeito direto no humor e no equilíbrio psicológico.

MAS GOSTO DE DANÇAR também na companhia de pessoas que dançam tal mal quanto eu! Eu já falei aqui que não tenho problemas em pagar mico. Pra provar isso, vou deixar aí um dia em que amigos e cunhados foram lá pra casa. Devia ser 2006 - 2008 (sou péssimo com datas). Minha casa ainda estava em construção. Não tínhamos móveis na sala. E uma sala sem móveis pede o quê? 

Bagunça!!!


Esse vídeo tem mais de duas horas (começamos de tarde e acabou de noite), portanto, só vou deixar um pedacinho pra cês vê, como diria um bom mineiro. 

E essa gargalhando no fundo é minha esposa, que registrava a bagaça toda.

Até queria postar mais pedaços desses vídeos...mas acho que vocês não suportariam tanta coisa ridícula junta.




sábado, 30 de agosto de 2025

Adeus a Veríssimo

 AOS 88 ANOS, um dos meus escritores preferidos, filho do meu escritor brasileiro favorito, nos deixou. Nos deixou fisicamente e nos deixou escritos memoráveis que eu nunca me canso de ler e reler. Obrigado, Luiz Fernando Veríssimo, obrigado Érico Veríssimo.





DEIXO AÍ UMA HISTÓRIA de um dos seus personagens mais marcantes: O Analista de Bagé.



Contam que Lindaura, a recepcionista do analista de Bagé (segundo ele, “mais eficiente que purgante de maná e japonês na roça”), desenvolveu um método para separar os casos graves dos que são só — como diz o analista de Bagé — “loucos de faceiros”. 

Enquanto preenche a ficha, ela dá a cada paciente em potencial uma cuia de chimarrão no formato de um seio. Depois vai anotando: “Quis chupar a cuia em vez da bomba”, “Começou a gemer e acariciar a cuia”, “Atirou contra a parede”, etc. Assim, quando recebe o paciente, o analista de Bagé já sabe o que esperar. Mas nada preparou o analista de Bagé para a entrada no seu consultório do megalômano de Carazinho. O diálogo entre os dois já começou mal. 

— Te deita no divã. 

— Não deito.

 — Te deita, bagual! 

— Não deito! 

— E por que não deita?

 — Em primeiro lugar, porque só quem mandava em mim era o meu pai, que já está no Grande Galpão do céu capando anjo pra fazer lingüiça. Em segundo lugar, que o analista aqui sou eu.


E com isto o analista de Bagé derrubou o outro com um peitaço e o segurou sobre o pelego do divã com um joelho na omoplata. Gritou: 

— Diz qual é teu problema!

 — Não digo pra qualquer um! 

— Diz senão te arranco esses bigodes dois a dois. 

— Todos dizem que eu tenho mania de ser melhor do que os outros, mas eu não acredito neles. 

— E por que não? 

— Porque é tudo gente inferior. 

O analista de Bagé saiu de cima do outro, mas deixou o facão bem à vista, para evitar incomodação. O outro continuou. 

— Eu tenho megalomania. 

— Não tem — disse o analista de Bagé, brabo. Sabia que era verdade, mas não agüentava fanfarrão.

— Quer saber mais do que eu?

 — Sei mais do que tu, teu irmão, tua mãe e teu pai, se fosse conhecido. 

Nisso o megalômano de Carazinho subiu em cima do divã, apontou um dedo para o analista de Bagé e ameaçou: 

— Olha que eu te transformo em pedra. O analista de Bagé abriu a camisa e ofereceu o peito: 

— Pois transforma. Quero ver. Transforma! O outro mudou de tática. Ergueu a mão como numa bênção e disse: 

— Eu te perdôo. 

Aí o analista de Bagé avançou.  Na sala de espera Lindaura esperou meia hora antes de entrar no consultório. Tinha ordens do analista de Bagé sobre como agir de acordo com os sons que ouvia. “Resfolego, não liga. Gemido, vai pra casa. Grito, te prepara. Mobília quebrada, entra.” Decidiu entrar. Encontrou o megalômano de Carazinho inconsciente embaixo do divã virado, com só metade do bigode. Depois o analista de Bagé explicou: 

— Doença é uma coisa. Convencimento é outra. O outro era “metido a gran cosa”. Mas ele perdera mesmo a paciência quando ouvira o outro dizer: 

— Sou o maior megalômano do mundo! 

Aparecia cada um.


LFV, 1936 - 2025


* * * * * * * * 

Publicado em: O Analista de Bagé, Editora Objetiva


quinta-feira, 28 de agosto de 2025

EX-FUTURA ESPOSA

 






Outra pérola de um texto publicado em um blog meu extinto. Creio ser um cordel. Achei tão engraçadinho! Vê se não é. 



Fala o noivo:


Que feliz sou eu, meu amor! 

Já, já estaremos casados, 

O café da manhã na cama, 

Um bom suco e um pão torrado 


Com ovos bem mexidinhos 

Tudo pronto bem cedinho 

Depois irei para o trabalho 

E você para o mercado 


Daí você corre pra casa 

Rapidinho arruma tudo 

E corre pro seu trabalho 

Para começar o seu turno 


Você sabe que de noite 

Gosto de jantar bem cedo 

De ver você bem bonita 

Alegre e sorridente 


Pela noite minisséries 

Cineminha bem barato 

Nada, nada de shoppings 

Nem de restaurantes caros 


Você vai cozinhar pra mim 

Comidinhas bem caseiras 

Pois não sou dessas pessoas 

Que gosta de comer besteiras.... 


Você não acha, querida 

Que esses dias serão gloriosos? 

Não se esqueça, meu amor 

Que logo seremos esposos! 


Fala a noiva


Que sincero meu amor! 

Que oportunas tuas palavras! 

Esperas tanto de mim 

Que me sinto intimidada 


Não sei fazer ovo mexido 

Como sua mãe adorada, 

Meu pão torrado se queima 

De cozinha não sei nada! 


Gosto muito de dormir 

Até tarde, relaxada 

Ir ao shopping fazer compras 

Com o Visa tarja dourada 


Sair com minhas amigas, 

Comprar só roupa de marca 

Sapatos só exclusivos 

E as lingeries mais caras 


Pense bem, que ainda há tempo 

A igreja não está paga 

Eu devolvo meu vestido 

E você seu terno de gala 


E domingo bem cedinho 

Prá começar a semana, 

Ponha aviso num jornal 

Com letras bem destacadas: 


HOMEM JOVEM E BONITO 

PROCURA ESCRAVA BEM LERDA 

PORQUE SUA EX-FUTURA ESPOSA 

MANDOU ELE IR À MERDA! 


autor desconhecido 



domingo, 24 de agosto de 2025

QUEM TE ENSINOU?

 


MAIS UM POEMINHA PERDIDO DE BLOGUES EXTINTOS que eu encontrei. Achei bonitinho, então, aqui publiquei. 






Quem te ensinou,  passarinho,

A fazer tão belo ninho?
Que engenharia, que perfeição!
Diga-me,  passarinho, quem te ensinou tal lição?

Quem foi teu professor
Quem te orientou
Na arte de tecer dormitórios
longe do chão?
Diga-me, passarinho, qual matemática usas
em tua construção?



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Eduardo Medeiros, Rio de Janeiro, 3 de março de 2012

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

COMO EU NASCI?

 



Estávamos juntos no quintal numa tarde só proseando sobre a vida. Ele tinha disso. Às vezes eu chegava no seu quarto e ele estava ou desenhando, ou lendo ou vendo vídeos no Youtube e eu perguntava: "Tá fazendo o quê, filho". Sabem a resposta que ele dava? "Tô só vivendo a vida...". Tinha também uns rompantes onde ele dizia: "Ah, como eu amo a minha vida...! Mas aí, naquela tarde em especial, nós dois no quintal,  ele veio com as ideias: Pai, como eu fui parar na barriga da mamãe"? Ele tinha 8 anos. Muito sério e convicto respondi que a Cegonha tinha colocado ele lá. Olhar meio desconfiado entortando a cabeça:  "Pai, eu sei que cegonha não existe..". Como assim não existe, menino, cegonha é um pássaro. É, mas não é ela quem leva os bebês! Mas você não viu o filme "Cegonhas", como elas levam os bebês...? Ah, pai, é só um filme, né..? Vendo-me acuado, resolvi falar a verdade: Quando as mamães querem muito ter um bebê, eles nascem nas barrigas delas...outro olhar desconfiado. Mas como que acontece, pai? Me fala a verdade, eu já sou grande e você não me engana. Você acha que o pai ia te enganar? Aham, você falou de cegonha....derrotado, dei a primeira aula de educação sexual ao meu filho. 

domingo, 17 de agosto de 2025

Hora da Matricula


ACHEI esse continho nos meus rascunhos.  Escrevi quando estourou a onda bebê reborn mas não publiquei. Depois publiquei um outro texto sobre o tema e deixei este esquecido. Mas agora a onda parece que passou, ninguém fala mais! Na verdade as esquisitices vão se impondo. A onda agora é adultos que chupam chupeta para amenizar o estresse. Não viram não? Eu até já comprei a minha.






* * * * * * * * * *


 MARIA TEREZA estava exultante! Seu bebê reborn fazia 4 anos e ela, ansiosa, planejava ir ao Educandário São Francisco de Assis matriculá-lo na pré-escola. Educação é muito importante desde cedo, dizia Maria Tereza a Custódia Valentina, mãe também de três crianças reborns. Custódia concordava, mas ponderou que a educação das suas três crianças era feita em casa mesmo. Maria Tereza questionou a importância da interação social das crianças reborns; elas precisavam conviver com outras crianças da mesma idade, participar das festas da escola, dos passeios, das feiras culturais...Custódia Valentina ponderou que seus filhos tinham interação com outros da vizinhança. Maria Tereza questionou se esse jeito de educação Homeschool,  não era coisa da direita. Era preciso vigilância extrema para não repetir padrões fascistas. Custódia Valentina refutou, indo à estante e retirando do meio de outros livros, o Manifesto Comunista para provar à amiga de que era comprometida com a causa operária, dos pretos, pobres, elegebetês, feministas e demais minorias oprimidas. Mal entendido resolvido, Maria Tereza absolveu a amiga mas no outro dia, arrumou  Caetano, seu filho reborn, explicando-lhe que era hora de matriculá-lo em uma escola. O Educandário São Francisco de Assis era a melhor escola da redondeza. Ela não esperava que Caetano, um menino tão tranquilo até então, fechasse a carinha plastificada, se jogasse no chão, e esperneando, começasse a gritar: "Eu não preciso ir pra escola, eu não preciso, eu não preciso, eu SOU REBORN, EU SOU REBORN, MÃÊÊÊÊEEEEE..."


* * * * * * * * * * * * * * * 

Prometo não voltar ao assunto.

Da chupeta, talvez.  A minha tem gostinho de morango do amor.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

MINHA MELHOR VERSÃO

 




PODE PARECER CLICHÊ mas de fato, ele é minha melhor versão. Quando ele nasceu eu tinha 45 anos. um amigo me disse que eu já "seria velho" para ser pai. Não discordei. Mas o que posso fazer se antes dele, eu nem queria ter filhos? De fato, não tive "filhoS", tive um só. E ele já me basta. 

Quando namorava a mãe dele, sutilmente assim como não quer dizer nada, comentei como muitos casais hoje não querem mais ter filhos por várias razões. "Eu quero muito ser mãe" - foi o comentário dela. Nunca mais toquei no assunto. Depois de 12 anos do meu primeiro fracassado casamento, eu tinha encontrado uma mulher que me fez outra vez desejar estar casado - e não ia perder a oportunidade.

Casei velho, me disse também outro amigo. Eu tinha 40 e ela 29. Aí eu discordei, pois pra casar não tem idade. Mesmo porque, me casei novo (o que reputo ter sido um dos motivos para o fracasso) aos 23 e ela 17 e não deu certo. Que posso fazer? Penei para entender que para estar casado, é preciso ter um mínimo de maturidade emocional - coisa que eu não tinha - por isso me dei um longo tempo sozinho. Curti muito a solteirice por 12 anos. Eu tinha muitos amigos. Eu era diretor de um grupo de teatro amador. Uma ficada ali, outra lá, sem nenhuma consequência mais séria. Até que a encontrei por puro acaso ou por puro destino. 

Demovido da ideia de não ter filhos, combinamos que teríamos ao menos um. Uma, eu dizia. Se era pra gerar um rebento, que fosse uma menina. Eu achava que me daria muito bem sendo pai de menina, mas qual foi minha decepção quando no exame de ultrassonografia, o médico disse: "parabéns, pai, olha lá o pintão dele..."

Depois de dois segundos de decepção, já estava apaixonado por ele. É isso aí, eu vou ser pai de um pintudo!! 

O blogueiro-cronista-escritor-desenhista-chargista Jotabê, escreveu uma crônica que achei bem legal no dia dos pais. Para ele, dia dos pais é o dia "do fã", pois se diz fã dos seus quatro filhos. Achei isso muito bacana ( https://blogsoncrusoe.blogspot.com), pois também sou fã do meu. 

Eu tive a benção de poder ver de perto seu crescimento full time, pois quando ele nasceu eu já estava reformado da Marinha. Ou seja, existem os "pais ausentes" e eu fui o oposto, fui um "pai presente até em excesso". Conto depois essa minha experiência de ficar com ele em casa desde os 7 meses para que a mãe voltasse a trabalhar - ela não seria feliz ficando em casa, pois trabalhava desde os 15. Essas coisas de mulher independente.

A foto acima, tiramos em abril passado, na páscoa. Moramos ao lado de uma igreja católica e eles estavam representando a paixão de Cristo. Quando vi a procissão passando na rua pela janela, chamei-o para ir ver a representação. Dois meses depois, fiz 60 anos. Ninguém até agora me disse "você tem 60 e um filho de 14?" - Se me perguntarem eu direi: Sim, com muito orgulho. 

sábado, 9 de agosto de 2025

PINTO CORREU COM MEDO DO GAVIÃO

 


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


ESTES VERSOS  meu pai cantarolava desde que me entendi por gente. Sempre que estava concentrado em algum serviço, fosse  limpando e capinando nosso quintal, fosse degolando, sangrando e depois depenando uma galinha para o almoço, fosse pintando a casa, tava lá ele cantarolando...


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


Essa música entrou na minha cabeça por osmose e eu criança ainda, me via repetindo..


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião... 


E assim foi durante anos e anos. Mesmo adulto, jamais procurei saber que música era aquela, ou qual era o resto da letra, já que ele sempre cantava só esses versos.


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


E como quem sai aos seus, não degenera, hoje em dia do nada, me vejo cantarolando...


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...

Até que  ano passado, o Eduardinho que já tinha ouvido antes os versos, me perguntou:

- Mas que música é essa pai? Só fica repetindo pinião, pinião, pinião...

Eu ri. 

- Eu sei lá, edu, é só uma música que seu avô cantava e eu só repito.

- Ah, entendi...(não sei porquê ele sempre repete essa frase em circunstâncias variadas: "ah, entendi.")


Então, depois de quase 50 anos, meu pai já não estando aqui conosco,  resolvi procurar que música era aquela e chamei  o Edu pra me ajudar na empreitada. Comecei problematizando a expressão "pinião". Sugeri que deveria ser algum regionalismo nordestino. (meu pai era baiano). Aí fui pesquisar "pinião" e não encontrei nada. Alguns textos corrigiam a palavra para "pinhão". Mas não era pinhão, era pinião. Foi quando o Edu disse:

- Pinião deve ser só a abreviatura de opinião...

Achei a tese interessante. Fui pesquisar "música com a palavra pinião". Nada. Coloquei os versos completos: 


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


Então achei uma explicação que corroborava a tese do Edu: em algumas regiões nordestina, alguns diziam "pinião" ao invés de "opinião". No fim, estávamos os dois certos: Significava "opinião" e era realmente uma expressão dialética nordestina.

E apareceu o nome de um tal de AUGUSTO CALHEIROS (que os mais velhos que eu devem ter ouvido falar. Ou não.). Fui ao Youtube e pimba! Lá estava um disco completo de Augusto Calheiros. Mas eu tinha que achar uma música com os versos..

Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


E TINHA!!! Acho que a terceira ou quarta música. Falei um "EUREKA" para o Edu. Depois consegui achar  a letra completa da música.   


Pinião, pinião, pinião

Oi! Pinto correu com medo do gavião

Por isso mesmo o sabiá cantô

Bateu asa e voou e foi comê melão


Essa sumana um gavião lá dos oitero

Chegou lá no meu terreiro biliscando pulo chão

E um pintinho que tava jun'da galinha

Foi correndo na cozinha com medo do gavião


No meu terreiro tinha um pé de araça

Onde um sabiá-gonga fazia seu palantão

Um dia desse ela tava descuidada

Quase morre degolada nas unha do gavião


O gavião é um bicho carniceiro

Quando bate num poleiro come os pinto qu'ele qué

Um dia desse um se trepou lá na mesa

Nunca vi tanta afoiteza, biliscou minha muié


Minha muié se assombrou-se nesse dia 

Quase morre de agonia com uma dô no coração

Gritava tanto com os dois óio abuticado

Até que eu fiquei vexado cum medo do gavião


E é um bicho mais pió do que um cão

Não há muié que se livre do bote do gavião

O gavião quando tá aburrecido

Marca o bote da muié e finda pegando o marido


** * * * * * * * * * * * * * 


Ouçam essa pérola 

do cancioneiro popular brasileiro

que escutei só agora completa 

Pois meu pai só sabia o refrão...

Pinião, pinião, pinião

Pinto correu com medo do gavião...


(não resisti a fazer esse versinho...)






E claro que ao ler a letra, Eduardinho foi logo dizendo:
- MEU DEUS, QUE LETRA DE DUPLO SENTIDO É ESSA???

Novamente, tive que rir. 

Olha o gavião, gavião, gavião...


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Augusto Calheiros, cantor e compositor, nascem em Maceió, AL, em 5/6/1891 e morreu no Rio de Janeiro no dia 11/1/1956. Descendente de índios, nasceu numa família com boa situação financeira. Aos nove anos porém, começou a passar dificuldades. Transferiu-se rapazola para Garanhuns. Ali trabalhou como dono de bar, fabricante de sapatos, hoteleiro, subdelegado e até carcereiro. Paralelamente levava sua vida musical cantando nos cinemas locais. 

Em 1923 foi para Recife, PE, onde começa a cantar na recém inaugurada (1923) e segunda rádio transmissora brasileira, Rádio Clube de Pernambuco. Em 1926 faz parte da formação original do conjunto vocal Turunas da Mauricéia. O conjunto segue ao Rio de Janeiro em 1927.
Calheiros, a partir de 1929, fez também carreira solo, mantendo um estilo próprio cantando músicas sertanejas.

No auge de sua popularidade, dividindo com Jararaca e Ratinho, Dercy Gonçalves, Arthur Costa e outros, cantava na Casa de Caboclo, famosa casa de espetáculo inaugurada em 1932, localizada na Praça Tiradentes, onde era divulgada a música regional brasileira.
Em 1936, cantou no filme Maria Bonita, da Sonoarte. Ao todo gravou 80 discos 78 rpm com 154 músicas.

Em 1955 destacou-se no Segundo Festival da Velha Guarda de São Paulo, organizado por Almirante. 
No início de 1956, Augusto Calheiros faleceu deixando uma única filha, Cleide.
"A Patativa do Norte" (ou nordeste) , apelido que recebeu por tão bem cantar. 


SE QUISER OUVIR O DISCO COMPLETO,

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

80 ANOS DA ROSA DE HIROSHIMA

 




HOJE VOU FAZER UMA POSTAGEM DIFERENTE. NÃO É UMA CRÔNICA, um conto, um poema. É uma postagem de pesquisa sobre o assunto: O ATAQUE AMERICANO AO JAPÃO COM BOMBAS NUCLEARES EM AGOSTO DE 1945. 

Deixo também umas reflexões de como vejo esses eventos, pois nesta época várias publicações COLOCAM OS EUA COMO O GRANDE IMPERIALISTA GENOCIDA, o vilão de toda a história. E não é bem assim.

* * * * 

O Japão recorda nesta quarta-feira (6) os 80 anos do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima, que até hoje ainda é motivo de forte estigmatização contra os sobreviventes do horror do ataque nuclear. 

Em 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, matando cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, uma bomba semelhante atingiu Nagasaki, causando a morte de aproximadamente 74 mil pessoas.

Hoje, Hiroshima é uma metrópole próspera com 1,2 milhão de habitantes, mas as ruínas de um edifício com a estrutura metálica de um domo permanecem no centro da cidade, como lembrança do horror do ataque. 

Esses dois ataques, que aceleraram o fim da Segunda Guerra Mundial, são os únicos casos na história em que armas nucleares foram usadas em tempos de guerra. 

* * *

A decisão foi tomada por várias razões, mas a principal justificativa oficial foi:

1. Acelerar o fim da guerra e evitar uma invasão terrestre

O Japão ainda resistia mesmo após grandes derrotas, e os EUA acreditavam que uma invasão ao território japonês (a chamada "Operação Downfall") resultaria em centenas de milhares de mortes entre soldados americanos e milhões de civis japoneses.

As bombas, segundo os EUA, teriam o objetivo de forçar o Japão a se render rapidamente, evitando esse alto custo humano.

2. Demonstrar poder militar (especialmente para a União Soviética)

A guerra estava praticamente vencida pelos Aliados, e os EUA queriam mostrar sua superioridade militar, principalmente à União Soviética, com quem já havia tensões mesmo antes do fim da guerra (isso mais tarde se tornaria a Guerra Fria).

O uso das bombas também pode ter servido como um recado geopolítico.

3. Justificar os gastos do Projeto Manhattan

O Projeto Manhattan, responsável por desenvolver a bomba atômica, foi extremamente caro e secreto.

Usar as bombas seria uma forma de mostrar que o investimento "valeu a pena", do ponto de vista militar e estratégico.

* * * 

O JAPÃO FOI A GRANDE VÍTIMA DESSA HISTÓRIA? Senão vejamos um pouco da história bélica japonesa: 

 Expansão Imperial do Japão (século XIX–XX)

Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–1895)

Japão invade a Coreia e a China, buscando se tornar uma potência imperial.

Conquista Taiwan após vencer a China.


 Guerra Russo-Japonesa (1904–1905)

Disputa pelo controle da Manchúria e Coreia.

Vitória japonesa surpreendeu o mundo.


Invasão da Manchúria (1931)

Japão invade o nordeste da China, criando o estado fantoche de Manchukuo.

Início da ocupação brutal chinesa.


Segunda Guerra Sino-Japonesa e Segunda Guerra Mundial

 Massacre de Nanjing (1937)

Após a captura de Nanjing, capital chinesa, o Exército Imperial Japonês matou entre 200.000 a 300.000 civis e prisioneiros.

Estupro em massa (estima-se 20.000 a 80.000 mulheres violentadas).

Um dos piores crimes de guerra do século XX.


Uso de Tortura e Armas Biológicas – Unidade 731

Unidade 731: instalação secreta japonesa na Manchúria.

Realizou experimentos humanos com prisioneiros chineses, coreanos e até aliados.

Vivissecção sem anestesia.

Testes com armas químicas e biológicas (antraz, peste bubônica, gás mostarda).

Tortura sistemática era prática comum.


Invasões no Sudeste Asiático (1941–1945)

Japão conquistou:

Filipinas

Indonésia

Malásia

Singapura

Birmânia (Myanmar)


Violência contra civis e prisioneiros de guerra.

Marcha da Morte de Bataan: mais de 10.000 prisioneiros filipinos e americanos mortos em marcha forçada.

O Japão se aliou à Alemanha na Segunda Guerra Mundial principalmente por interesses estratégicos, expansionistas e ideológicos comuns.

O Japão queria expandir seu império na Ásia e no Pacífico, enquanto a Alemanha buscava dominar a Europa.

Ambos os países viam as democracias ocidentais (como Reino Unido, França e EUA) como obstáculos aos seus objetivos expansionistas.


 Pós-guerra e consequências

Após a rendição do Japão em 1945, líderes japoneses foram julgados por crimes de guerra no Tribunal de Tóquio.

Muitos responsáveis, como os da Unidade 731, nunca foram punidos — alguns trocaram informações por imunidade com os EUA.


* * * *

O Japão nunca foi uma "pobre vítima" dos americanos. DESDE A ÉPOCA IMPERIAL, foi um Estado imperialista que promoveu guerras, invasões, assassinatos, estupros. Aliou-se a Hitler para partilhar o mundo com o ditador genocida alemão.

O episódio das bombas de Hiroshima e Nagasaki foi mais um capítulo negro da história da civilização humana que em momento algum da história, conseguiu viver plenamente em paz. E que isso traga reflexões a todos os líderes mundiais.


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Pesquisei os dados em: O Globo, G1, Aventuras na História, GPT