sábado, 30 de agosto de 2025

Adeus a Veríssimo

 AOS 88 ANOS, um dos meus escritores preferidos, filho do meu escritor brasileiro favorito, nos deixou. Nos deixou fisicamente e nos deixou escritos memoráveis que eu nunca me canso de ler e reler. Obrigado, Luiz Fernando Veríssimo, obrigado Érico Veríssimo.





DEIXO AÍ UMA HISTÓRIA de um dos seus personagens mais marcantes: O Analista de Bagé.



Contam que Lindaura, a recepcionista do analista de Bagé (segundo ele, “mais eficiente que purgante de maná e japonês na roça”), desenvolveu um método para separar os casos graves dos que são só — como diz o analista de Bagé — “loucos de faceiros”. 

Enquanto preenche a ficha, ela dá a cada paciente em potencial uma cuia de chimarrão no formato de um seio. Depois vai anotando: “Quis chupar a cuia em vez da bomba”, “Começou a gemer e acariciar a cuia”, “Atirou contra a parede”, etc. Assim, quando recebe o paciente, o analista de Bagé já sabe o que esperar. Mas nada preparou o analista de Bagé para a entrada no seu consultório do megalômano de Carazinho. O diálogo entre os dois já começou mal. 

— Te deita no divã. 

— Não deito.

 — Te deita, bagual! 

— Não deito! 

— E por que não deita?

 — Em primeiro lugar, porque só quem mandava em mim era o meu pai, que já está no Grande Galpão do céu capando anjo pra fazer lingüiça. Em segundo lugar, que o analista aqui sou eu.


E com isto o analista de Bagé derrubou o outro com um peitaço e o segurou sobre o pelego do divã com um joelho na omoplata. Gritou: 

— Diz qual é teu problema!

 — Não digo pra qualquer um! 

— Diz senão te arranco esses bigodes dois a dois. 

— Todos dizem que eu tenho mania de ser melhor do que os outros, mas eu não acredito neles. 

— E por que não? 

— Porque é tudo gente inferior. 

O analista de Bagé saiu de cima do outro, mas deixou o facão bem à vista, para evitar incomodação. O outro continuou. 

— Eu tenho megalomania. 

— Não tem — disse o analista de Bagé, brabo. Sabia que era verdade, mas não agüentava fanfarrão.

— Quer saber mais do que eu?

 — Sei mais do que tu, teu irmão, tua mãe e teu pai, se fosse conhecido. 

Nisso o megalômano de Carazinho subiu em cima do divã, apontou um dedo para o analista de Bagé e ameaçou: 

— Olha que eu te transformo em pedra. O analista de Bagé abriu a camisa e ofereceu o peito: 

— Pois transforma. Quero ver. Transforma! O outro mudou de tática. Ergueu a mão como numa bênção e disse: 

— Eu te perdôo. 

Aí o analista de Bagé avançou.  Na sala de espera Lindaura esperou meia hora antes de entrar no consultório. Tinha ordens do analista de Bagé sobre como agir de acordo com os sons que ouvia. “Resfolego, não liga. Gemido, vai pra casa. Grito, te prepara. Mobília quebrada, entra.” Decidiu entrar. Encontrou o megalômano de Carazinho inconsciente embaixo do divã virado, com só metade do bigode. Depois o analista de Bagé explicou: 

— Doença é uma coisa. Convencimento é outra. O outro era “metido a gran cosa”. Mas ele perdera mesmo a paciência quando ouvira o outro dizer: 

— Sou o maior megalômano do mundo! 

Aparecia cada um.


LFV, 1936 - 2025


* * * * * * * * 

Publicado em: O Analista de Bagé, Editora Objetiva


quinta-feira, 28 de agosto de 2025

EX-FUTURA ESPOSA

 






Outra pérola de um texto publicado em um blog meu extinto. Creio ser um cordel. Achei tão engraçadinho! Vê se não é. 



Fala o noivo:


Que feliz sou eu, meu amor! 

Já, já estaremos casados, 

O café da manhã na cama, 

Um bom suco e um pão torrado 


Com ovos bem mexidinhos 

Tudo pronto bem cedinho 

Depois irei para o trabalho 

E você para o mercado 


Daí você corre pra casa 

Rapidinho arruma tudo 

E corre pro seu trabalho 

Para começar o seu turno 


Você sabe que de noite 

Gosto de jantar bem cedo 

De ver você bem bonita 

Alegre e sorridente 


Pela noite minisséries 

Cineminha bem barato 

Nada, nada de shoppings 

Nem de restaurantes caros 


Você vai cozinhar pra mim 

Comidinhas bem caseiras 

Pois não sou dessas pessoas 

Que gosta de comer besteiras.... 


Você não acha, querida 

Que esses dias serão gloriosos? 

Não se esqueça, meu amor 

Que logo seremos esposos! 


Fala a noiva


Que sincero meu amor! 

Que oportunas tuas palavras! 

Esperas tanto de mim 

Que me sinto intimidada 


Não sei fazer ovo mexido 

Como sua mãe adorada, 

Meu pão torrado se queima 

De cozinha não sei nada! 


Gosto muito de dormir 

Até tarde, relaxada 

Ir ao shopping fazer compras 

Com o Visa tarja dourada 


Sair com minhas amigas, 

Comprar só roupa de marca 

Sapatos só exclusivos 

E as lingeries mais caras 


Pense bem, que ainda há tempo 

A igreja não está paga 

Eu devolvo meu vestido 

E você seu terno de gala 


E domingo bem cedinho 

Prá começar a semana, 

Ponha aviso num jornal 

Com letras bem destacadas: 


HOMEM JOVEM E BONITO 

PROCURA ESCRAVA BEM LERDA 

PORQUE SUA EX-FUTURA ESPOSA 

MANDOU ELE IR À MERDA! 


autor desconhecido 



domingo, 24 de agosto de 2025

QUEM TE ENSINOU?

 


MAIS UM POEMINHA PERDIDO DE BLOGUES EXTINTOS que eu encontrei. Achei bonitinho, então, aqui publiquei. 






Quem te ensinou,  passarinho,

A fazer tão belo ninho?
Que engenharia, que perfeição!
Diga-me,  passarinho, quem te ensinou tal lição?

Quem foi teu professor
Quem te orientou
Na arte de tecer dormitórios
longe do chão?
Diga-me, passarinho, qual matemática usas
em tua construção?



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Eduardo Medeiros, Rio de Janeiro, 3 de março de 2012

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

COMO EU NASCI?

 



Estávamos juntos no quintal numa tarde só proseando sobre a vida. Ele tinha disso. Às vezes eu chegava no seu quarto e ele estava ou desenhando, ou lendo ou vendo vídeos no Youtube e eu perguntava: "Tá fazendo o quê, filho". Sabem a resposta que ele dava? "Tô só vivendo a vida...". Tinha também uns rompantes onde ele dizia: "Ah, como eu amo a minha vida...! Mas aí, naquela tarde em especial, nós dois no quintal,  ele veio com as ideias: Pai, como eu fui parar na barriga da mamãe"? Ele tinha 8 anos. Muito sério e convicto respondi que a Cegonha tinha colocado ele lá. Olhar meio desconfiado entortando a cabeça:  "Pai, eu sei que cegonha não existe..". Como assim não existe, menino, cegonha é um pássaro. É, mas não é ela quem leva os bebês! Mas você não viu o filme "Cegonhas", como elas levam os bebês...? Ah, pai, é só um filme, né..? Vendo-me acuado, resolvi falar a verdade: Quando as mamães querem muito ter um bebê, eles nascem nas barrigas delas...outro olhar desconfiado. Mas como que acontece, pai? Me fala a verdade, eu já sou grande e você não me engana. Você acha que o pai ia te enganar? Aham, você falou de cegonha....derrotado, dei a primeira aula de educação sexual ao meu filho. 

domingo, 17 de agosto de 2025

Hora da Matricula


ACHEI esse continho nos meus rascunhos.  Escrevi quando estourou a onda bebê reborn mas não publiquei. Depois publiquei um outro texto sobre o tema e deixei este esquecido. Mas agora a onda parece que passou, ninguém fala mais! Na verdade as esquisitices vão se impondo. A onda agora é adultos que chupam chupeta para amenizar o estresse. Não viram não? Eu até já comprei a minha.






* * * * * * * * * *


 MARIA TEREZA estava exultante! Seu bebê reborn fazia 4 anos e ela, ansiosa, planejava ir ao Educandário São Francisco de Assis matriculá-lo na pré-escola. Educação é muito importante desde cedo, dizia Maria Tereza a Custódia Valentina, mãe também de três crianças reborns. Custódia concordava, mas ponderou que a educação das suas três crianças era feita em casa mesmo. Maria Tereza questionou a importância da interação social das crianças reborns; elas precisavam conviver com outras crianças da mesma idade, participar das festas da escola, dos passeios, das feiras culturais...Custódia Valentina ponderou que seus filhos tinham interação com outros da vizinhança. Maria Tereza questionou se esse jeito de educação Homeschool,  não era coisa da direita. Era preciso vigilância extrema para não repetir padrões fascistas. Custódia Valentina refutou, indo à estante e retirando do meio de outros livros, o Manifesto Comunista para provar à amiga de que era comprometida com a causa operária, dos pretos, pobres, elegebetês, feministas e demais minorias oprimidas. Mal entendido resolvido, Maria Tereza absolveu a amiga mas no outro dia, arrumou  Caetano, seu filho reborn, explicando-lhe que era hora de matriculá-lo em uma escola. O Educandário São Francisco de Assis era a melhor escola da redondeza. Ela não esperava que Caetano, um menino tão tranquilo até então, fechasse a carinha plastificada, se jogasse no chão, e esperneando, começasse a gritar: "Eu não preciso ir pra escola, eu não preciso, eu não preciso, eu SOU REBORN, EU SOU REBORN, MÃÊÊÊÊEEEEE..."


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Prometo não voltar ao assunto.

Da chupeta, talvez.  A minha tem gostinho de morango do amor.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

MINHA MELHOR VERSÃO

 




PODE PARECER CLICHÊ mas de fato, ele é minha melhor versão. Quando ele nasceu eu tinha 45 anos. um amigo me disse que eu já "seria velho" para ser pai. Não discordei. Mas o que posso fazer se antes dele, eu nem queria ter filhos? De fato, não tive "filhoS", tive um só. E ele já me basta. 

Quando namorava a mãe dele, sutilmente assim como não quer dizer nada, comentei como muitos casais hoje não querem mais ter filhos por várias razões. "Eu quero muito ser mãe" - foi o comentário dela. Nunca mais toquei no assunto. Depois de 12 anos do meu primeiro fracassado casamento, eu tinha encontrado uma mulher que me fez outra vez desejar estar casado - e não ia perder a oportunidade.

Casei velho, me disse também outro amigo. Eu tinha 40 e ela 29. Aí eu discordei, pois pra casar não tem idade. Mesmo porque, me casei novo (o que reputo ter sido um dos motivos para o fracasso) aos 23 e ela 17 e não deu certo. Que posso fazer? Penei para entender que para estar casado, é preciso ter um mínimo de maturidade emocional - coisa que eu não tinha - por isso me dei um longo tempo sozinho. Curti muito a solteirice por 12 anos. Eu tinha muitos amigos. Eu era diretor de um grupo de teatro amador. Uma ficada ali, outra lá, sem nenhuma consequência mais séria. Até que a encontrei por puro acaso ou por puro destino. 

Demovido da ideia de não ter filhos, combinamos que teríamos ao menos um. Uma, eu dizia. Se era pra gerar um rebento, que fosse uma menina. Eu achava que me daria muito bem sendo pai de menina, mas qual foi minha decepção quando no exame de ultrassonografia, o médico disse: "parabéns, pai, olha lá o pintão dele..."

Depois de dois segundos de decepção, já estava apaixonado por ele. É isso aí, eu vou ser pai de um pintudo!! 

O blogueiro-cronista-escritor-desenhista-chargista Jotabê, escreveu uma crônica que achei bem legal no dia dos pais. Para ele, dia dos pais é o dia "do fã", pois se diz fã dos seus quatro filhos. Achei isso muito bacana ( https://blogsoncrusoe.blogspot.com), pois também sou fã do meu. 

Eu tive a benção de poder ver de perto seu crescimento full time, pois quando ele nasceu eu já estava reformado da Marinha. Ou seja, existem os "pais ausentes" e eu fui o oposto, fui um "pai presente até em excesso". Conto depois essa minha experiência de ficar com ele em casa desde os 7 meses para que a mãe voltasse a trabalhar - ela não seria feliz ficando em casa, pois trabalhava desde os 15. Essas coisas de mulher independente.

A foto acima, tiramos em abril passado, na páscoa. Moramos ao lado de uma igreja católica e eles estavam representando a paixão de Cristo. Quando vi a procissão passando na rua pela janela, chamei-o para ir ver a representação. Dois meses depois, fiz 60 anos. Ninguém até agora me disse "você tem 60 e um filho de 14?" - Se me perguntarem eu direi: Sim, com muito orgulho. 

sábado, 9 de agosto de 2025

PINTO CORREU COM MEDO DO GAVIÃO

 


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


ESTES VERSOS  meu pai cantarolava desde que me entendi por gente. Sempre que estava concentrado em algum serviço, fosse  limpando e capinando nosso quintal, fosse degolando, sangrando e depois depenando uma galinha para o almoço, fosse pintando a casa, tava lá ele cantarolando...


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


Essa música entrou na minha cabeça por osmose e eu criança ainda, me via repetindo..


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião... 


E assim foi durante anos e anos. Mesmo adulto, jamais procurei saber que música era aquela, ou qual era o resto da letra, já que ele sempre cantava só esses versos.


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


E como quem sai aos seus, não degenera, hoje em dia do nada, me vejo cantarolando...


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...

Até que  ano passado, o Eduardinho que já tinha ouvido antes os versos, me perguntou:

- Mas que música é essa pai? Só fica repetindo pinião, pinião, pinião...

Eu ri. 

- Eu sei lá, edu, é só uma música que seu avô cantava e eu só repito.

- Ah, entendi...(não sei porquê ele sempre repete essa frase em circunstâncias variadas: "ah, entendi.")


Então, depois de quase 50 anos, meu pai já não estando aqui conosco,  resolvi procurar que música era aquela e chamei  o Edu pra me ajudar na empreitada. Comecei problematizando a expressão "pinião". Sugeri que deveria ser algum regionalismo nordestino. (meu pai era baiano). Aí fui pesquisar "pinião" e não encontrei nada. Alguns textos corrigiam a palavra para "pinhão". Mas não era pinhão, era pinião. Foi quando o Edu disse:

- Pinião deve ser só a abreviatura de opinião...

Achei a tese interessante. Fui pesquisar "música com a palavra pinião". Nada. Coloquei os versos completos: 


Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


Então achei uma explicação que corroborava a tese do Edu: em algumas regiões nordestina, alguns diziam "pinião" ao invés de "opinião". No fim, estávamos os dois certos: Significava "opinião" e era realmente uma expressão dialética nordestina.

E apareceu o nome de um tal de AUGUSTO CALHEIROS (que os mais velhos que eu devem ter ouvido falar. Ou não.). Fui ao Youtube e pimba! Lá estava um disco completo de Augusto Calheiros. Mas eu tinha que achar uma música com os versos..

Pinião, Pinião, Pinião

Pinto correu com medo do gavião...


E TINHA!!! Acho que a terceira ou quarta música. Falei um "EUREKA" para o Edu. Depois consegui achar  a letra completa da música.   


Pinião, pinião, pinião

Oi! Pinto correu com medo do gavião

Por isso mesmo o sabiá cantô

Bateu asa e voou e foi comê melão


Essa sumana um gavião lá dos oitero

Chegou lá no meu terreiro biliscando pulo chão

E um pintinho que tava jun'da galinha

Foi correndo na cozinha com medo do gavião


No meu terreiro tinha um pé de araça

Onde um sabiá-gonga fazia seu palantão

Um dia desse ela tava descuidada

Quase morre degolada nas unha do gavião


O gavião é um bicho carniceiro

Quando bate num poleiro come os pinto qu'ele qué

Um dia desse um se trepou lá na mesa

Nunca vi tanta afoiteza, biliscou minha muié


Minha muié se assombrou-se nesse dia 

Quase morre de agonia com uma dô no coração

Gritava tanto com os dois óio abuticado

Até que eu fiquei vexado cum medo do gavião


E é um bicho mais pió do que um cão

Não há muié que se livre do bote do gavião

O gavião quando tá aburrecido

Marca o bote da muié e finda pegando o marido


** * * * * * * * * * * * * * 


Ouçam essa pérola 

do cancioneiro popular brasileiro

que escutei só agora completa 

Pois meu pai só sabia o refrão...

Pinião, pinião, pinião

Pinto correu com medo do gavião...


(não resisti a fazer esse versinho...)






E claro que ao ler a letra, Eduardinho foi logo dizendo:
- MEU DEUS, QUE LETRA DE DUPLO SENTIDO É ESSA???

Novamente, tive que rir. 

Olha o gavião, gavião, gavião...


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Augusto Calheiros, cantor e compositor, nascem em Maceió, AL, em 5/6/1891 e morreu no Rio de Janeiro no dia 11/1/1956. Descendente de índios, nasceu numa família com boa situação financeira. Aos nove anos porém, começou a passar dificuldades. Transferiu-se rapazola para Garanhuns. Ali trabalhou como dono de bar, fabricante de sapatos, hoteleiro, subdelegado e até carcereiro. Paralelamente levava sua vida musical cantando nos cinemas locais. 

Em 1923 foi para Recife, PE, onde começa a cantar na recém inaugurada (1923) e segunda rádio transmissora brasileira, Rádio Clube de Pernambuco. Em 1926 faz parte da formação original do conjunto vocal Turunas da Mauricéia. O conjunto segue ao Rio de Janeiro em 1927.
Calheiros, a partir de 1929, fez também carreira solo, mantendo um estilo próprio cantando músicas sertanejas.

No auge de sua popularidade, dividindo com Jararaca e Ratinho, Dercy Gonçalves, Arthur Costa e outros, cantava na Casa de Caboclo, famosa casa de espetáculo inaugurada em 1932, localizada na Praça Tiradentes, onde era divulgada a música regional brasileira.
Em 1936, cantou no filme Maria Bonita, da Sonoarte. Ao todo gravou 80 discos 78 rpm com 154 músicas.

Em 1955 destacou-se no Segundo Festival da Velha Guarda de São Paulo, organizado por Almirante. 
No início de 1956, Augusto Calheiros faleceu deixando uma única filha, Cleide.
"A Patativa do Norte" (ou nordeste) , apelido que recebeu por tão bem cantar. 


SE QUISER OUVIR O DISCO COMPLETO,

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

80 ANOS DA ROSA DE HIROSHIMA

 




HOJE VOU FAZER UMA POSTAGEM DIFERENTE. NÃO É UMA CRÔNICA, um conto, um poema. É uma postagem de pesquisa sobre o assunto: O ATAQUE AMERICANO AO JAPÃO COM BOMBAS NUCLEARES EM AGOSTO DE 1945. 

Deixo também umas reflexões de como vejo esses eventos, pois nesta época várias publicações COLOCAM OS EUA COMO O GRANDE IMPERIALISTA GENOCIDA, o vilão de toda a história. E não é bem assim.

* * * * 

O Japão recorda nesta quarta-feira (6) os 80 anos do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima, que até hoje ainda é motivo de forte estigmatização contra os sobreviventes do horror do ataque nuclear. 

Em 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, matando cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, uma bomba semelhante atingiu Nagasaki, causando a morte de aproximadamente 74 mil pessoas.

Hoje, Hiroshima é uma metrópole próspera com 1,2 milhão de habitantes, mas as ruínas de um edifício com a estrutura metálica de um domo permanecem no centro da cidade, como lembrança do horror do ataque. 

Esses dois ataques, que aceleraram o fim da Segunda Guerra Mundial, são os únicos casos na história em que armas nucleares foram usadas em tempos de guerra. 

* * *

A decisão foi tomada por várias razões, mas a principal justificativa oficial foi:

1. Acelerar o fim da guerra e evitar uma invasão terrestre

O Japão ainda resistia mesmo após grandes derrotas, e os EUA acreditavam que uma invasão ao território japonês (a chamada "Operação Downfall") resultaria em centenas de milhares de mortes entre soldados americanos e milhões de civis japoneses.

As bombas, segundo os EUA, teriam o objetivo de forçar o Japão a se render rapidamente, evitando esse alto custo humano.

2. Demonstrar poder militar (especialmente para a União Soviética)

A guerra estava praticamente vencida pelos Aliados, e os EUA queriam mostrar sua superioridade militar, principalmente à União Soviética, com quem já havia tensões mesmo antes do fim da guerra (isso mais tarde se tornaria a Guerra Fria).

O uso das bombas também pode ter servido como um recado geopolítico.

3. Justificar os gastos do Projeto Manhattan

O Projeto Manhattan, responsável por desenvolver a bomba atômica, foi extremamente caro e secreto.

Usar as bombas seria uma forma de mostrar que o investimento "valeu a pena", do ponto de vista militar e estratégico.

* * * 

O JAPÃO FOI A GRANDE VÍTIMA DESSA HISTÓRIA? Senão vejamos um pouco da história bélica japonesa: 

 Expansão Imperial do Japão (século XIX–XX)

Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–1895)

Japão invade a Coreia e a China, buscando se tornar uma potência imperial.

Conquista Taiwan após vencer a China.


 Guerra Russo-Japonesa (1904–1905)

Disputa pelo controle da Manchúria e Coreia.

Vitória japonesa surpreendeu o mundo.


Invasão da Manchúria (1931)

Japão invade o nordeste da China, criando o estado fantoche de Manchukuo.

Início da ocupação brutal chinesa.


Segunda Guerra Sino-Japonesa e Segunda Guerra Mundial

 Massacre de Nanjing (1937)

Após a captura de Nanjing, capital chinesa, o Exército Imperial Japonês matou entre 200.000 a 300.000 civis e prisioneiros.

Estupro em massa (estima-se 20.000 a 80.000 mulheres violentadas).

Um dos piores crimes de guerra do século XX.


Uso de Tortura e Armas Biológicas – Unidade 731

Unidade 731: instalação secreta japonesa na Manchúria.

Realizou experimentos humanos com prisioneiros chineses, coreanos e até aliados.

Vivissecção sem anestesia.

Testes com armas químicas e biológicas (antraz, peste bubônica, gás mostarda).

Tortura sistemática era prática comum.


Invasões no Sudeste Asiático (1941–1945)

Japão conquistou:

Filipinas

Indonésia

Malásia

Singapura

Birmânia (Myanmar)


Violência contra civis e prisioneiros de guerra.

Marcha da Morte de Bataan: mais de 10.000 prisioneiros filipinos e americanos mortos em marcha forçada.

O Japão se aliou à Alemanha na Segunda Guerra Mundial principalmente por interesses estratégicos, expansionistas e ideológicos comuns.

O Japão queria expandir seu império na Ásia e no Pacífico, enquanto a Alemanha buscava dominar a Europa.

Ambos os países viam as democracias ocidentais (como Reino Unido, França e EUA) como obstáculos aos seus objetivos expansionistas.


 Pós-guerra e consequências

Após a rendição do Japão em 1945, líderes japoneses foram julgados por crimes de guerra no Tribunal de Tóquio.

Muitos responsáveis, como os da Unidade 731, nunca foram punidos — alguns trocaram informações por imunidade com os EUA.


* * * *

O Japão nunca foi uma "pobre vítima" dos americanos. DESDE A ÉPOCA IMPERIAL, foi um Estado imperialista que promoveu guerras, invasões, assassinatos, estupros. Aliou-se a Hitler para partilhar o mundo com o ditador genocida alemão.

O episódio das bombas de Hiroshima e Nagasaki foi mais um capítulo negro da história da civilização humana que em momento algum da história, conseguiu viver plenamente em paz. E que isso traga reflexões a todos os líderes mundiais.


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Pesquisei os dados em: O Globo, G1, Aventuras na História, GPT

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

A Desculpa de Adão

 


HÁ POUCO PUBLIQUEI UMA CRÔNICA sobre Édipo e seu sentimento de culpa. Mas tem outro interessante personagem da ficção mitológica que tem coisas a nos ensinar e nos fazer refletir. Esse personagem é o Adão Bíblico...


A desculpa de Adão.

Ele  foi  severamente castigado por Deus que não quis saber de suas desculpas por "não saber" e por "ter sido enganado pela mulher". Diferente de Édipo, Adão não se autocondenou pois achava-se inocente. "Foi a mulher que tu me deste".

O cristianismo fundamentou aqui a culpabilidade de toda raça humana diante de Deus.  Sebastião, Anastácia, Roberto, Antônio, Claus, Richard, Pedro, Bhavya, Adongo, Esther, Mohamed... todos vocês, Humanidade, nada fizeram lá nas origens, vocês não comerem do fruto proibido, mas mesmo assim, vocês são culpados pois Adão é culpado! Herdamos sem saber, sem querer, o crime de Adão! 

E como são culpados, estão condenados e devem fazer como Édipo: reconhecer o seu erro ainda que não  tenham comido do tal fruto proibido, pois agora, como Adão, somos conhecedores do bem e do mal...

Saulo de Tarso, o maior teólogo cristão, criou um sistema onde você, condenado, pode se ver livre da culpa e da condenação divinas! Gratuitamente! Deus, em sua infinita misericórdia, oferece-se a si mesmo como sacrifício pelo pecado original (não cometido mas herdado) pela humanidade. Todos vocês, culpados, agora estão livres de condenação! 

Mas... só se reconhecerem o homem judeu Jesus de Nazaré como seu Salvador e como o próprio Deus. Todos os demais, justamente serão condenados se não reconhecerem o Salvador - único caminho para se pagar o débito não contraído mas ainda assim, estabelecido por toda a humanidade.

E é aí que a treta começa...

O Hindu dirá: "Cá acreditamos no karma, em morte e  renascimento, não acreditamos nisso de pecado original." O judeu dirá: "Cá não acreditamos que o homem judeu Jesus tenha sido o Messias que o Eterno nos enviaria." O muçulmano dirá: "Cá acreditamos que Maomé é maior que Jesus, e é a ele que devemos obediência e Jesus não é Deus, só Alah é Deus". 

Que tenho eu com Adão? 

Que culpa tenho eu do crime que ele cometeu? 

Como posso ser culpado por algo que ele fez e não eu? 

No máximo, eu seria culpado pelos meus próprios pecados, não pelo pecado de Adão. 

Devo, tal como fez Édipo, reconhecer meu erro ou devo como fez Adão, me isentar de culpa pelo erro "do destino"? Ou do erro da mulher? Ou pela astúcia da Serpente?

Nesse sentido, vejo Adão e Édipo como lados da mesma moeda. Ambos erraram mas foram vítimas de um maquinário existencial que pouco entendemos.  Édipo foi vítima da profecia; Adão, foi vítima da sua mulher, que foi vítima da Serpente,  ainda que eles pudessem rejeitar comer do fruto proibido. 

E o que teria acontecido se ele recusasse o fruto? 

Somente sua mulher seria castigada? 

Mas também ela não foi enganada pela Serpente? 

No tribunal celeste, todo mundo recebeu seu quinhão de culpa e de castigo. Adão, deveria laborar para se sustentar com o suor do seu rosto; Eva, deveria agora sofrer para parir seus filhos. E a Serpente, perdeu suas pernas a passou a rastejar no pó da terra.

Erros, acertos, intenções, destinos, culpas, condenação divina. Tudo nos pesa. Pobres Édipo, Adão e Eva, vítimas indefesas dos decretos celestiais que precisam lidar com as consequências de seus atos e que deveriam buscar mais leveza para suas almas.